Bom filme, mas poderia ter sido melhor...

Bom filme, mas poderia ter sido melhor…

Já tem algum tempo que venho me aventurando no mundo dos doramas. Tive meu primeiro contato com a mídia com “Life ~ Senjou no Bokura“, ao qual vocês podem ler minha review aqui, passei para “Cherry Magic!” – este eu preciso terminar comentar aqui no blog -, até que passei a ver doramas de outros países. Para a minha grata surpresa, eles são viciantes, então vira e mexe eu tenho boas surpresas, mesmo com as histórias mais básicas, clichês para dar e vender e propostas que já vejo comumente em animes, mangás e afins, ainda consigo tirar proveito, visto que a mídia em si é muito nova para mim (é possível que eu escreva mais sobre essas produções aqui).

Já estou há mais ou menos 1 ano assistindo doramas e hoje, venho comentar de “Light” (小光), um filme taiwanês que estreou no dia 13 de Agosto (ontem) no GagaOOLala e que prometeu mais do que entregou, portanto, falemos mais de seus erros e acertos ^^

NOTA: lançamos a postagem com um “dorama” entre parênteses, mudamos para “drama” porque nos apontaram que “dorama” é usado para produções nipônicas (a pronúncia de ‘drama’ lá sua como ‘dorama’) e para outros países, se e usado “drama” mesmo. Não sabia disso, uso dorama para tudo que é produzido no Leste Asiático, pois é como ficou popularizado por aqui. Então fica de aprendizado para as próximas postagens que devo fazer sobre essas produções e, se caso eu use dorama (já que ainda é o mais conhecido), provavelmente usarei com aspas (“dorama”) ^^

AVISO: O texto terá spoilers (não muito pesados) dos eventos do filme, sugerimos que assista ao filme primeiro antes de ler a postagem. Caso deseje ler mesmo sem ter assistido, vá por sua conta e risco.

Sinopse: “『 Mesmo que não seja real, por favor, diga que me ama』
Light foi agredido sexualmente pelo padrasto e sempre foi falta de amor em sua infância. Depois que sua mãe, a única família relacionada ao sangue foi morta, ele nunca poderia escapar daquele lugar onde dificilmente pode ser chamado de lar e foi forçado a se prostituir desde então. Naquele dia, ele conheceu um novo cliente que o espancou na rua. Shuo era um policial disfarçado que estava tentando alcançar o chefe do cartel de drogas trabalhando em uma alfaiataria. Durante a missão, Light chamou sua atenção de relance. Ele trouxe Light inconsciente e providenciou-lhe um abrigo. Mas a Light pode realmente enfrentar seu trauma e viver com isso? Ou ele vai voltar para a rua eventualmente e continuar perseguindo o falso amor dos clientes?”


Como dito na sinopse acima, “Light” vai contar a história de Light :), um garoto que se prostitui para conseguir dinheiro para se manter, bancar o pai abusivo, ao mesmo tempo que precisa lidar com os traumas gerados por esse estilo de vida e abusos cometidos pelo pai. Até que ele encontra o Shuo (ou melhor, o Shuo encontra ele) e passa a abrigá-lo em sua casa e a relação dos dois passa a se desenvolver a partir desse momento de convivência dos dois. O Shuo é um policial e guardem essa informação, porque ela deveria ser importante.

Um pouco antes disso, o filme começa com uma cena erótica BDSM do Light com um dos clientes dele e é por aqui que começo a reclamar. Assim, vocês devem ter visto na tumb do post uma cena dessa. Pois bem, esse é um visuais liberados pela produtora do filme, quando eu vi ele, achei que o BDSM estaria maior relacionamento com a narrativa e não é bem isso que acontece. Essa cena inicial é a maior e praticamente a única demonstração da prática no filme inteiro. Você começa o filme sem entender o contexto da cena, então eu já fiquei meio “Opa! Vem coisa aí hehehe”, só que não, já que o conteúdo BDSM presente na narrativa é aquela cena isolada e ponto. Morre. Foi uma quebra de expectativa enorme, porque querendo ou não, usaram isso como um chamariz para o filme, foi um dos visuais que mais chamaram atenção (minha inclusive), logo, era de se esperar que fosse mais presente. Ainda mais que o Light se utiliza do BDSM como uma espécie de escapismo para seus traumas (falarei mais deles à diante). Havia muito potencial e expectativa para o aprofundamento da prática sexual e o filme só joga aquela informação ali e acabou. Não é desenvolvido nem trabalhado como é a relação do personagem com aquilo, como ele lida com o prazer e a dor… Um grande potencial que é desperdiçado, infelizmente.

O Light é uma pessoa solitária que quer ser amada, ele busca esse “amor” nos clientes dele, o que ele não encontra, muito pelo contrário, acaba sendo mais pelo momento de prazer e as vezes nem isso, já que pelo que nos é mostrado, alguns desses clientes são bem agressivos e não necessariamente consentido pelo Light. Tudo isso poderia ter sido amarrado com a questão do BDSM e como isso pode gerar um certo conforto no personagem e de certa forma, ao mesmo tempo que ele busca esse amor, tem o lado dele que não acredita numa ação de bondade sincera, acreditando que ele precisa fazer uma troca/retribuição. Falando um pouco do Shuo, eu mencionei que ele é um policial e que isso deveria ter sido importante, então… Não é. Eu não costumo ler sinopses antes de assistir ou ler algo, gosto de ir na surpresa e ver o que a obra tem a me oferecer, indo o máximo possível nas escuras. A única coisa que eu sabia desse filme é que ele abordava temas pesados (e realmente o faz, embora com ressalvas). Eu estava lá vendo o filme, o Shuo trabalha numa loja como alfaiate e tudo certo, vai seguindo até que o Light acha algo e pergunta para ele se ele é um policial, na hora eu esbocei um belo “OI? Como assim?!?!”. Não havia até então, qualquer menção ao Shuo ser um policial, que por sinal, estava investigando tráfico de drogas. E PIOR: isso acaba não representando nada para o personagem e até mesmo para a história em si. Já que a investigação não da em nada e o trabalho dele como policial é deixado para terceiro plano, até mesmo quando a profissão da criatura poderia ajudar o Light, ela é “negligenciada”.

Eu acho que a história tenta fazer algo como no subtexto, como se fosse um livro aberto e nós chegássemos com a história já andando, então algumas dessas informações, como o fato do Shuo ser um policial, não são ditas para você, nós que temos que ir colhendo essas informações e compreendendo elas conforme a carruagem anda. É um pouco parecido com o filme “Beijos Escondidos” que assisti recentemente, é um filme francês que é basicamente isso, começa a história, ela se desenvolve e o filme termina em aberto, como uma vivência de alguém e essa pessoa está contando para você e simplesmente para de contar aquela parte da vida dela. É uma ideia que pode até ser interessante, entretanto, narrativamente eu não gosto, por justamente deixar muitas pontas soltas e estamos falando de uma narrativa fechada, ou seja, o que é apresentado ali, precisa ser encerrado ali. As ideias apresentadas, precisam de uma conclusão. É diferente de um final como o de “A Voz do Silêncio” (mangá/anime) que termina te dando aquele ar de que existem muitas possibilidades para o futuro dos personagens e soa até como uma mensagem. Aqui acaba sendo mais como um problema na construção do roteiro mesmo.

As cenas sexuais são uma maravilha!

A relação do casal parte da ideia de que o Shuo seria o herói do Light, aquele que vai ser a luz no fim do túnel para o guri, o grande salvador dele. Eu gosto da ideia, eu mesmo “me seguro” no meu namorado como sendo um apoio emocional bem forte para mim (graças aos problemas dentro de casa), gosto de você ter alguém com quem pode contar e essa pessoa ser um apoio emocional, alguém que te inspire e não deixe desistir ou perder as esperanças, acho bonito. Porém, é preciso tomar um pouco de cuidado com a forma que isso é feito. Aqui eu acho que eles perdem um pouco a mão ao tratar o Light as vezes como uma criança, como na cena do banho, há toda uma situação que faz parecer que o Light é como uma criança, embora tenha a questão do cuidado do Shuo com o guri, fica parecendo mais uma infantilização dele do que outra coisa realmente. Além de que por vezes ele foi trabalhado como sendo um tanto imaturo e infantil e o Shuo como sendo o responsável, aquele que é confiável, maduro etc. Não gosto disso. E curiosidade, os BLs de Taiwan adoram colocar cenas de banho, cenas um tanto longas dos caras tomando banho, acho uma coisa muito curiosa hahaha (continuem, por favor).

Que vista…

Sobre as temáticas, caso você ainda não tenha visto, tem 2 momentos de abusos sexuais e a forma que foi representada foi boa. A direção conseguiu deixar as cenas muito carregadas sem mostrar muito delas. É angustiante e até dei uma choradinha em um desses momentos. O primeiro deles, principalmente, tem um trabalho maior do medo do Light, como ele recua diante de homens que ele não conhece ou demonstram ser mais agressivos, o medo dele do pai e tal, é bem feito. Só que a solução do problema é deixada em aberto. O pai do guri não é incriminado pelos crimes que cometeu com o filho e fica por isso mesmo. Já a outra cena ele é igualmente bem executada, só que o problema vem depois. O Light chega em casa chorando e o Shuo duvida dele, desacredita dele. O cara é um policial, o guri chega falando que foi estuprado e o cara duvida, o Light claramente abalado psicologicamente e ele não acreditou. Achei muito complicado essa questão e o filme sofreu do mal de ter um time skip de 1 mês, comendo completamente o desenvolvimento dos sentimentos do Light durante esse período, como ele viveu. E tudo é solucionado com um “Sinto muito”. Para um evento daquela magnitude, da forma que foi, ficou ruim. Bem ruim.


Eu acredito que o filme poderia ter sido melhor se tivesse se dado tempo para contar sua história. Acredito que se tivesse 1:30 de filme, ao invés de 50 minutos, a narrativa seria melhor. Ou até mesmo se fosse uma série curtinha, de uns 6 episódios de 20 minutos cada, já que potencial para isso tinha. Talvez ainda tivesse seus problemas porque tem bastante ponta solta ali, mas certeza que seria melhor que o resultado final.

Esse filme com certeza seria pior se não fosse a boa direção. A Adiamond Lee (diretora) salvou demais, porque apesar de todos os problemas de construção de roteiro, a direção consegue tornar tudo mais simpático, o casal é bom, eu gosto deles apesar daquilo que mencionei parágrafos acima, eu gosto da dinâmica deles e chega a ser bem triste que o filme acaba assim que eles se resolvem. Tem algo ali que eu não sei bem explicar o que é, que torna eles bons juntos. Provavelmente é o efeito da direção + atores, que são bons, sendo que um dos atores principais está até fazendo a estreia como ator. Queria muito que o filme tivesse mais momentos fofos (e até quentes…) dos dois. Eu entendo que a proposta do filme é solucionar as pendências dos personagens até eles ficarem juntos no fim, mas fica aquele gostinho de quero mais e muito provavelmente não terá. O filme é bem redondo e não acho que farão uma sequência, a não ser que dê dinheiro, aí eles tiram plot até de onde não tem para fazer. Aceitaria de bom grado se fosse para ver mais do casal vivendo juntos e lidando com os traumas do Light, coisa essa que ficou de lado durante boa parte do filme. E por sinal, fico bem impressionado em como os atores se pegam mesmo nas cenas, não estou acostumado com isso e não canso de me surpreender (a direção dessas cenas é 10/10 também).


“Light” tem um sabor bem agridoce, ele prometeu bem mais do que pôde entregar, resultando em um roteiro um tanto vazio. Apesar das críticas, eu ainda gosto dele. E se recomendo? Não sei, depende. Se você estiver esperando um roteiro bem desenvolvido, pode ser que você saia frustrado, porém, se você quiser ver e tentar ver se cola contigo, acho que pode valer. Ele não chega a ser horrível e tem menos de 1 hora de duração, separando uma parte pequena do teu dia, você assiste rapidinho. Eu mesmo vi ontem antes de dormir. Só tomem cuidado com os gatilhos, porque há cenas de abuso então vão ver sabendo disso, se é um tema sensível para você, não veja. O filme está disponível oficialmente com legendas em português na GagaOOLala ^^

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