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Discussões sociais para dar e vender!

Olá pessoal. Voltei depois de algumas semanas para comentar mais uma leva de episódios de “Senpai wa Otokonoko” por aqui. Acabou demorando mais tempo do que eu imaginava para voltar a falar do anime no blog, porque estou no final do semestre e estava com trabalhos para dar e vender. Felizmente, essa parte já passou e restam apenas duas provas e um relatório para fazer. Enfim… Fato é que essa demora acabou por ser positiva, pois acabou que esse conjunto de episódios formaram uma tríade interessante para comentar. No momento que esse post estiver indo ao ar, o episódio #10 já foi lançado, no entanto ainda não o vi e preferi escrever esse texto primeiro para depois ver o novo capítulo. Com tudo isso posto, podemos começar as impressões de fato 🙂


O episódio #7 retoma os eventos finais do episódio anterior com o Makoto deixando a carteira do Ryuji cair e revelando a foto que ele tem do Makoto dormindo. O Ryuji logo se preocupa com ele ter visto alguma coisa e o Makoto rapidamente se faz de tonto dizendo que não viu nada. Isso abre brecha para vermos o passado do Ryuji e dos eventos na perspectiva dele, coisa que até então não havia acontecido (vimos um pouco do passado da Saki e do Makoto, mas não do Ryuji). O que vemos aqui é todo o começo do amor do Ryuji pelo Makoto e como isso foi desenvolvendo ao longo dos anos, além da maneira como ele lidou (ou melhor, não soube lidar) no passar de todos esses anos. Começa apenas com ele prestando atenção no Makoto enquanto ele brincava na sua casa, depois reparando no Makoto enquanto dormia e ele próprio não conseguindo dormir, para depois, já um pouco mais velho, encontrar colegas de sala tirando sarro do outro ao descobrirem que um acha o Makoto bonito e “haha, que coisa estranha”. Já naquele ponto, começam os pensamentos de que ele não queriam que coisas daquele tipo acontecessem com ele, rindo dessas zoações entre colegas, disfarçava e a obra mostra que sempre que o Ryuji começa a pensar demais no Makoto, se aproximar muito, ou ele não sair da sua cabeça, o seu ‘mecanismo de defesa’, por assim dizer, era se afastar. E de certa forma, Ryuji faz isso inconscientemente, porque em um dado momento, ele comenta que percebe ter se afastado e começado a evitar o Makoto.

O reencontro seguinte entre os dois é no Fundamental II, com o Makoto começando em uma nova escola por intermédio do pai para que ele pudesse se vestir ‘de garota’. A relação entre os dois segue mais ou menos como antes, com o Ryuji apenas não se envolvendo. A essa altura, questões homossexualidade já impactam o personagem, mas o que segue na cabeça dele é de não querer aceitar, porque ele quer continuar numa tida ‘normalidade’, o que é muito cruel, realmente. É uma realidade que quem é LGBTQIA+, de certo já deve ter se defrontado em algum momento, mesmo que não em uma ótica de pensamento de “normalidade”, mas de evitar querer se entender como LGBTQIA+ (em quaisquer campos, sexualidade, gênero…), o que por sua vez, também atinge o Ryuji, já que o que vemos há alguns episódios e continuaremos a ver em alguns outros momentos no futuro, é que ele tem uma dificuldade grande de assumir para si que ele gosta do Makoto, ou mesmo que está tudo bem ele gostar de garotos (coisa que ele não fez até o momento). Porém, é no momento em que o Makoto é descoberto, que a movimentação do Ryuji muda. Ao ver o amigo em uma situação de exposição e de vulnerabilidade, ele faz um gesto muito bonito (e que eu achei genial) que a sua maneira, é se “tornar igual” ao Makoto. Como o Makoto passa, a partir daquele momento, a ser visto como estranho e problemático de certa forma, o que o Ryuji faz é colocar piercings/brincos, que é outra coisa vista como problemática dentro daquele contexto. Foi a forma que ele viu de demonstração de apoio (sem precisar dizer nada) e de que ele estaria ali, ao lado do amigo e é naquele momento também, que ele assimila, mesmo que pouco, que tudo bem ser diferente ou fugir da regra.

Outro momento importante (e bárbaro!) é quando os colegas de sala do Ryuji, já com o Makoto tendo sido exposto e naquele momento usando peruca, pega uma foto do Makoto dormindo (a que o Ryuji guarda na carteira) e diz que conseguiu com um outro cara e que se os colegas quisessem, ele poderia conseguir outras. O Ryuji explode e parte para cima do garoto e o espanca. Achei lindo. Eu, como pessoa em formação de um curso de licenciatura, não deveria ver desta forma, mas eu, como pessoa vitima de uma série de violências dentro da escola ao longo de uma década, não posso não ver dessa forma. Mas o ponto aqui é que após isso, retornamos ao ponto de que o Ryuji foi levando essa questão de estar apaixonado de uma forma a não se envolver profundamente. Mesmo no começo do anime, o que parece é que antes da chegada da Saki, ele mantinha certa proximidade, mas a uma “distância segura” para não se envolver demais, sem claro, deixar o amigo completamente sozinho.

Voltamos ao presente e na verdade, o Makoto tinha sim, visto a foto, mas fingiu que não viu nada por não saber como reagir. Eu gosto muito dessas histórias de amor adolescente, porque tem um gesto simbólico, bonito e até meio inocente nesse processo de descoberta que acho muito gostoso e lindo de ver. O Makoto nunca cogitou ver o Ryuji como um possível pretendente amoroso, mas a partir do momento que ele descobre que o amigo tem sentimentos por ele, passa a não saber como reagir, fica tímido, desconcertado, gagueja e até fica nervoso na frente dele. Acho fofo demais. Mas como o Makoto não sabe como agir, não demora nada para o Ryuji perceber e ligar os pontos, o que gera uma das cenas mais lindas que o anime fez até então, que é a declaração do Ryuji para o Makoto. A cena em si não tem nada de muito ‘wooow’, mas vale pelo simbolismo dela, do personagem superando coisas que ele internalizou ao longo de anos e também, há uma acabamento muito bom na feição do personagem que torna a composição do momento linda.

O que nós vamos ver após essa declaração e nos episódios seguintes, em vários momentos diferentes e em situações distintas, é como todos os personagens centrais estão ferrados da cabeça. Após a declaração do Ryuji, a primeira reação do Makoto foi pensar que a culpa era dele, porque ele se vestia como garota e isso teria “confundido” os sentimentos do amigo, o que reflete diretamente no Ryuji que passa a se achar como o esquisito da situação, já que não seria “normal” ele gostar de garotos (e a cara de dor que ele faz nesse momento é tão 😭).

No dia seguinte, na última cena importante do episódio, é quando eles começam um “relacionamento”. O grande X aqui é que temos uma situação em que o Makoto estava desesperado com a possibilidade de perder o amigo (e a única pessoa que nunca fez julgamentos dele em todos esses anos). Todas as ações ali são muito apressadas, impulsivas e até desesperadas. O grande problema é que esse “relacionamento” que eles decidem ter, em momento algum é chamado de namoro e não é estabelecido ali o que aquilo eles têm é. Tanto que se for reparar, eles tiveram seus momentos, mas ‘nunca’ soou como namoro real. E nesses casos, para mim, por mais que eu quisesse negar (e neguei por 2 episódios), era claro que estava fadado a terminar.

No episódio 7, o anime volta a sua atenção para a Saki. A sua avó passou mal, elavai até o hospital e descobre que aparentemente, não é nada de muito grave, mas que ficaria lá por um tempo. Eu desconfio desses casos, porque acho que pode ser algo sério e ela bata as botas deixando a personagem totalmente só. Digo totalmente só, porque é quase como se ela estivesse assim. O pai sai para trabalhar na sua pesquisa sobre baleias e negligencia totalmente a filha. Tanto que o desespero da Saki fica maior, pois ela não consegue falar com o pai pelo telefone quando precisava e, embora ele tenha voltado para casa, não é por muito tempo. E mesmo nesse tempo, as coisas que os dois combinaram de fazer no período que ele estaria, o pai não consegue cumprir. Retomo o que disse um pouco mais atrás sobre todos os personagens centrais estarem com a mente ferrada em algum grau, pois do lado da Saki, o abandono familiar é a ponta principal. Ela veste uma couraça de garota extrovertida e que está alegre e feliz (o que também tem a ver com ela não conseguir se conectar com as pessoas verdadeiramente por medo de se machucar), repetindo constantemente para os outros e para si, que ela está bem e que não há nada para se preocupar, sempre acompanhado de um sorriso, quando na verdade, a realidade é bem o oposto. Uma cena que ilustra muito bem é quando, saindo do hospital, ela escorrega e cai, se machuca e começa a chorar. Uma enfermeira vai até ela, pergunta se está bem e o que ela diz é “tudo bem”. O choro não é pelo macucado, mas pela situação como um todo. A avó ter ido para o hospital tão repentinamente, gera uma preocupação de ter algo grave e morrer, o que a deixaria ainda mais sozinha. Embora ela não possa contar com os pais e isso por si só faz muita falta para a personagem, pelo menos ao chegar em casa, ela sabe que a avó está lá esperando por ela. A possibilidade disso deixar de acontecer a assusta. O pai não ter atendido a ligação quando ela mais precisava, também reforça o quão sozinha ela está ou vai ficar.

Essa falsa bravata que a Saki veste permanece até em momentos sérios, como vemos mais adiante no episódio 8, quando o cara suspeito aparece olhando pela janela do banheiro enquanto a personagem tomava banho. O Ryuji aparece lá para ajudar, mas mesmo estando nervosa e com medo, está constantemente tentando manter a impressão de que ela está bem fazendo até piadas. Quando o Ryuji chega, ela agradece ele com uma voz animada, mas ele percebe que o cabelo dela está molhado, mostrando que se vestiu rapidamente; depois ela diz que ficaria bem até que o pai dela chegasse no dia seguinte, mas ao fazer um gesto, as mãos estão tremendo. São nuances e detalhes interessantes, tal qual ela verbalizar que não chamou nenhuma das colegas, porque tem medo delas a verem como um incômodo ou problema e deixarem de gostar dela, retomando essa questão da solidão da personagem.

Com a chegada do pai da Saki, o que vemos é ela extremamente feliz no momento que os dois passam juntos, aproveitando cada momento ao máximo e, no entanto, é o pai deixar ela de lado para focar no trabalho que a deixa magoada. E isso vai sendo refletido quando ele se compromete a fazer algo com ela e não cumpre. Os dois iam jantar juntos, ela vai e prepara o jantar, mas encontra um antigo amigo e vai beber com ele, chegando em casa totalmente bêbado (um completo irresponsável, ainda por cima). E o outro ponto é no Natal que os dois iam no planetário juntos, mas ele tem que voltar para o trabalho. Tipo, nem em um momento especial que é o Natal, com um programa legal para fazer com a filha, ele consegue honrar o que promete. Vamos em flashback que quando ele passou a trabalhar muito, já na infância dela, a Saki ficou muito mal. E depois que a mãe deixou o lar (aparentemente por causa do marido) tudo ficou pior. Recentemente, eu li “Boku no Papa to Papa no Hanashi” (tem texto aqui no blog) e lá, um dos personagens cresceu sem a mãe, porque ela saiu de casa. O que gostei na obra é que existe uma certa complacência com a mãe do personagem e na sua decisão, porque ela não estava conseguindo lidar com a maternidade, porém o pai do personagem também diz que embora ele entenda o lado dela, deve estar sendo difícil do filho ter que lidar com aquela ausência e acredito que seja mais ou menos esse o rumo que a obra terá no caso da Saki. A mãe vai voltar e, aparentemente, muito em breve ela entrará em cena. Estou bem curioso para ver o que o anime vai abordar com a personagem.

No episódio 9, temos dois pontos principais, o primeiro sendo a Saki indo atrás da sua mãe que ela acredita ter visto dentro de um táxi (e de fato era ela) e o encontro entre o Ryuji e o Makoto (que foi um fiasco). Indo pela Saki que é mais fácil, toda a perseguição que ela faz não traz resultados, porque ela não consegue alcançar o carro. Dentro do carro, a mãe da Saki realmente estava indo visitar a filha, mas o que parece é que ela desistiu no caminho por medo da reação que a Saki poderia ter. Do lado da Saki, enquanto ela vagava deprimida, ela encontrou o Makoto (que estava indo para o seu encontro) e ele a conforta, algo que ela realmente precisava naquele momento e, querendo ou não, o Makoto era a pessoa ideal.

Do outro lado dessa história, o Ryuji decide procurar o Makoto, porque estava demorando e vê toda a cena na praça. Assim, são amigos? São amigos. PORÉM, a certa altura, o Ryuji ainda tem problemas em aceitar que está em um relacionamento, no sentido de ser muito inseguro, como algo muito frágil que pode se quebrar a qualquer momento (e da forma que os dois constituíram esse relacionamento, era mesmo). Então ver o parceiro ali, abraçando outra (e ainda uma garota), deixa ele deprimido. Tanto que ele inventa qualquer desculpa para cancelar o encontro dos dois naquele dia. Daquela cena em diante no episódio, eu entrei no modo negação HARD. Não queria por nada aceitar que o fim estava iminente, sendo que estava bem ali na esquina. Queria pensar que ia ser só uma crise, que ia dar tudo certo no fim, e a sequência seguinte, com eles tendo um encontro (super bonitinho, por sinal), me deu esperança. Isso foi muito a autora esticando o braço para dar o doce e tirando logo em sequência (e dando um tapa ainda por cima).

Outra cena muito gracinha foram os três saindo juntos para ver a chuva de meteoros. De novo, é algo que a autora vem trabalhando ao longo dos episódios, mostrando que apesar de tudo, de relacionamentos que derem certo ou não, acima de tudo isso, os três são amigos e isso não vai mudar.

Na sequência final do episódio, foi uma sucessão de tragédias. Começa com o Makoto indo acordar o Ryuji e ele, inconscientemente, estica o braço para abraçar e o Makoto grita com ele. A impressão que deu ou que passa foi de nojo da parte do Makoto e acho que isso ressoou muito no Ryuji. Os dois saem juntos para o cinema, o Ryuji pede para que eles fiquem de mãos dadas, mas nunca mostrando a expressão facial que ele estava fazendo e ali, já estava bem claro para onde ia, mas acabou saindo bem pior do que pensei e que poderia imaginar. O filme acaba, a plateia começa a sair e eles ficam… ficam… e ficam mais um pouco, até que eles se levantam e o Ryuji diz para eles terminarem. Ele fala que se acha nojento e que está tudo bem se o Makoto também achar. O que pegou principalmente foi o Makoto gritar com ele por achar que o Ryuji iria beijá-lo (quando ele só estava dormindo).

Eu entendo que eles são adolescentes e adolescentes fazem merda mesmo, é normal. Mas o Ryuji estava começando a quebrar preconceitos e barreiras que ele tinha consigo mesmo e com esse trecho, ele regrediu TUDO de novo. Voltou a se achar nojento, adeus possibilidades de ser feliz e constituir um relacionamento com um garoto. O Makoto precisa fazer algo urgentemente, porque o Ryuji vai ir para o buraco…


Um “à parte”: eu comentei no perfil do blog no Blue Sky sobre como os três personagens trazem, cada um, uma constituição de família, na maneira como cada uma lida com seus filhos e suas particularidades. Na família do Makoto, por exemplo, a mãe só o reprime e faz chantagem emocional, enquanto que o pai que demonstra estar do lado do filho e tenta buscar soluções ou medidas que sirvam de intermédio para que o filho se entenda e encontre meios para ser feliz, porque isso é tudo que o pai deseja, que é a felicidade do filho. Na família da Saki, o que temos é algo totalmente destruído, com o pai abandonando a filha para trabalhar e priorizando sempre o serviço em detrimento da filha, enquanto que a mãe deixou o lar. Então o que temos é uma criança que basicamente cresceu sozinha. E na família do Ryuji, o que se deu a entender nesses episódios mais recentes é que todos (pai, mãe e irmã) sabem que ele gosta do Makoto e todo mundo está ali para demonstrar apoio do seu jeito. É algo bem bacana de ver, porque mostra uma diversidade de percepções e que ilustram desde algo do que seria o mais ideal de se ter na vida real (como a família do Ryuji) a até o mais reprovável (mãe do Makoto) e o desamparo familiar (o caso da Saki).

Quando fiz esse post lá no Blue Sky, uma pessoa até apareceu para dizer que o pai do Makoto não era ‘perfeito’ (eu falei que ele era), porque ele colocaria pressão no filho em vários momentos. Minha fala era mais no sentido de fazer um contraponto em pai e mãe, mas mesmo que assim não fosse, o que deve-se entender e perceber é que tudo bem, porque ninguém não comete erros, pelo contrário. Todo mundo é falho e a própria obra mostra isso. O ponto é que o pai do Makoto TENTA fazer algo pelo filho, ele se preocupa com o que ele deseja. Há uma cena belíssima do pai compreendendo que se o filho quiser ser uma menina, tudo bem. Se ele quiser ser um menino, tá ótimo também, porque não é isso que importa para ele, mas sim que o filho se sinta bem consigo mesmo e que ele seja feliz.


Esse post acabou sendo beeem longo, mas acho que comentei tudo que tinha para comentar. Espero voltar mais rápido para comentar os próximos, ainda mais agora na reta final.

Por fim, deixo o link para um vídeo (tem versão podcast também) que fizemos para o cana do blog no YouTube com o @rubnesio e eu comentando os episódios 2 a 9 do anime. Está bem legal, pois é mais uma pessoa trazendo percepções que eu posso ter deixado passar ao longo dos posts. ^^

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