Como transformar um jogo tedioso, em uma das melhores experiências dos animes vistas nos últimos anos
SINOPSE: continuação da jornada de conseguir atingir o topo e se tornar os melhores jogadores de Karuta do Japão. Chihaya e Taichi agora vivem no dilema de como focar no esporte e nas responsabilidades escolares, ao mesmo tempo que almejam o topo da competição nacional japonesa de Karuta.
Ainda vou jogar Karuta, podem ter certeza
Vocês já viram uma partida real de Karuta? Tem vários vídeos no Youtube (inclusive de partidas inteiras) de como são REALMENTE uma disputa desse jogo de “ROUBA MONTE JAPAN”. Verão o quão CHATO é uma competição dessas ao vivo. O silêncio, as partidas de HORAS e HORAS de duração, a percepção do espectador, de ficar perdido e não saber o que houve ou quem pegou a carta…tudo só corrobora para o sono pegar forte e dormir nos primeiros 10 minutos de qualquer jogo de Karuta iniciada. Se eu tivesse conhecimento de como era esse esporte, ou ter visto esses vídeos antes de assistir a primeira temporada do anime há anos atrás, jamais teria dado essa chance para a adaptação. GRAÇAS A DEUS fui ver Chihayafuru sem expectativa negativa e fico feliz por ter dado uma oportunidade para o anime.
E como a animação retrata um esporte mais “regional”, entender as regras e suas particularidades, vai necessitar de um tempo e atenção do espectador. Nem estou falando em compreender os 100 poemas japoneses (até porque é bem especifico da literatura nipônica) presentes nas regras e sim aprender o funcionamento das partidas, os ritos, a passagem das cartas, gestos, posições, estratégias de jogadas…mesmo não parecendo, o Karuta tem partidas complexas em que dependendo das habilidades, do reflexo e da memorização do jogador, pode ser determinante para atingir a vitória do competidor. Porém, como já escrevi anteriormente, o Karuta em si, é MEGA TEDIOSO. O anime transformou essas competições em uma gigantesca montanha russa de emoções. Empolgante, ansiedade, apreensão, torcida, emocionante/tocante…todos os sentimentos possíveis sendo passados na adaptação. É um puta acerto dar esse dinâmica mais “acelerada” para o esporte, não só pensando em ritmo, mas em como ele colabora para os ápices emocionais de todos os personagens no anime nos campeonatos.
Um exemplo foi o Harada-sensei na final e no desafio do título de Mejin anual. Em como o desenvolvimento e jornada desse personagem para chegar lá é muito bem estabelecido, dando um peso dramático e intenso a cada reviravolta nas partidas. E olha que ele é um personagem secundário, que fica mais de suporte para Chihaya e Taichi crescerem como competidores do que tendo seu próprio destaque nas temporadas anteriores. As duas melhores partidas dessa terceira season, foram protagonizadas pelo Harada-sensei. Suas atitudes grosseiras e nada convencionais, sua gana de vitória o impulsionando a táticas “sujas”, e a superação das limitações como a idade e de seu problema nos joelhos, dão um charme maior para um carismático (e doido) professor de Karuta de uma associação local de Karuta. Cheguei a me emocionar genuinamente nesses momentos, graças ao excelente trabalho do roteiro em te preparar até esse clímax. E não posso esquecer da Haruka que mesmo perdida e cheias de dúvidas depois que ganhou dois filhos, ela ainda teve coragem em provar para si mesma que ela ainda pode competir de igual para igual com a nova geração de jogadores de Karuta.
Todos os sentimentos ao mesmo tempo valendo um título no nacional
E por falar em roteiro, diversos acontecimentos dessa terceira temporada mudaram completamente status quo do elenco. A começar pela Chihaya que está dividida entre suas obrigações/carreira de professora, quanto a sua paixão pelo esporte que se dedicou tanto durante toda a sua juventude. Ou o Taichi que está uma encruzilhada se deve alçar voos sozinho, sem ficar na sombra na Chihaya durante as suas conquistas, ou se deve se permitir a se abrir com seus companheiros e de seu grande amor. E como todas essas questões são desenvolvidas fazendo associações com o que acontece durante as partidas de Karuta, ficam mais coesos e sólidos quando determinados temas vem à tona. Chihayafuru nunca foi um anime focado somente no enredo, entretanto, somado ao clímax sentimental com os desenvolvimentos de todo elenco, deixam tudo exponencialmente espetaculares toda essa narrativa alternando momentos dramáticos com os esportivos.
O que eu senti falta nessa última temporada foi a participação maior do clube escolar de Karuta que a Chihaya participa. Tirando o Taichi, todo o resto dos integrantes viraram figurantes na história, coisa que era mais equilibrado nas temporadas anteriores. Depois que eles venceram o torneio de equipe, todos esses personagens ficaram de lado, tendo funções ou participações esporádicas para momentos cômicos. Uma pena dada que a competição em equipe da segunda temporada foi o auge da série até o momento. Entendo que deram foco em outras linhas de narrativas e que a maioria deles já atingiram o seu ápice emocional ali. Entretanto não temos mais o peso devido para esses personagens que passei a admirar/gostar apresentados nos primeiros 50 episódios. Como vem do mangá, o original pecou em não saber dosar sua abordagem para a equipe principal e trabalhar de forma igualitária o restante do time de apoio. Uma pena.
Pequenos deslizes
Também teve uma outra parada que não gostei, que foi o ritmo de narrativo de alguns episódios. Como já tinha lido o mangá, senti que eles atropelaram vários eventos que tinham certa importância e que não deram o devido destaque para eles. Parece que queriam pular todos os trechos mais “chatos” que tinham no roteiro e focar somente nas partidas. Os dois primeiros episódios dessa temporada são os maiores exemplos. Tudo que acontecia na tela aparentava ser de um anime de comédia escrachada graças ao ritmo frenético que empregavam em todas as cenas. Se vocês derem uma olhada nas temporadas anteriores, irão notar que tem algo diferente nessa atual em questão. Parecia que a equipe de produção queria chegar em um ponto da história no final dessa season, que começaram a sacrificar os detalhes que aprofundam algumas relações e justificativas de ações no futuro. A formação do clube em que o Arata formou foi toda “triturada” e resumida no episódio final. No original, toda a criação e problemas enfrentados pelo protagonista, foi muito mais cadenciado e a narrativa deu embasamento para todas as ações do Arata dado seu estado mostrado naquele instante. Nesses momentos foi que eu senti que faltou um trabalho mais apurado em delimitar melhor a ordem dos fatos e como iriam ser mostrados.
Nos quesitos mais técnicos, o anime continua mantendo a mesma excelência das temporadas anteriores. A direção é sólida, fotografia maravilhosa, uma animação consistente (mesmo sendo bem estática) e com uma trilha sonora que realça com exatidão os momentos mais emocionais. E dou o destaque da vez para o dublador Mamoru como Taichi. Quem me conhece, sabe que eu não gosto dele como dublador por achar ele exagerado e um overacting do caralho. Para personagens mais “normais”, ele costuma não prestar. Porém como Taichi, ele está se saindo muito bem e está atuando na medida certa. Não sei dizer se foi o diretor controlando os exageros, no entanto, o Mamoru Miyano está perfeito no papel e não imagino ninguém além dele dublando o Taichi.
Conclusão
Se vocês leram o meu texto e ainda NÃO VIRAM O ANIME, VÃO ASSISTIR AGORA. Não pensem que são 75 episódios lançados, e sim que vale a pena acompanhar essa obra por suas qualidades de sobra. Podem ter certeza que assistir à animação vai valer a pena, mesmo tendo que gastar um considerável tempo para alcançar os episódios atuais. Agora fica a minha torcida para o anúncio da próxima temporada.