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O jogo ao qual (ainda) não sei o que quer me contar...

O jogo ao qual (ainda) não sei o que quer me contar…

“GAME – Jogo Proibido” (GAME ~スーツの隙間~) é um mangá escrito e ilustrado por Mai Nishikata. Está em publicação desde 2015 na revista Love Jossie (revista Josei), da editora Hakusensha. Possui 4 volumes publicados no Japão e segue em andamento. A informação de que o mangá seria publicado pela Panini vazou por meio do registro no ISBN. O mangá foi anunciado oficialmente pela editora em julho de 2019 no Anime Friends. O lançamento da obra aconteceu no mesmo mês do anúncio. Foi publicado em periodicidade bimestral, encostando no Japão em Janeiro de 2021.

O anúncio da obra no Brasil me deixou interessado a princípio. Por algum motivo eu achei o mangá atrativo e realmente acreditei que seria um bom título, além de ser uma série Josei, o que é bem raro de se ter no país. No entanto não demorou muito até aparecer as resenhas/reviews do volume 1 e bem… Acabou que a maior parte não falava bem do título. Mesmo assim, algo me dizia que eu iria gostar. Lá no meu interior dizia: “Confia!”. Eu não consegui comprar os volumes no lançamento (falta de dinheiro), mas depois de mais de 6 meses desde a publicação do volume 1, enfim tenho o título em mãos! Cá estou eu para resenhar o tomo inicial de “GAME – Jogo Proibido”, que é a própria sinestesia de: “É horrível, mas ao mesmo tempo é bom”.

Sinopse:Sayo Fujī, 27 anos, é uma executiva de uma empresa de contabilidade. Tão brilhante quanto eficaz, ela sofre o olhar de desaprovação da maioria dos homens ao seu redor, que têm ciúmes dela ou não aceitam que uma mulher seja tão dedicada à sua carreira profissional. Debaixo de sua máscara profissional, porém, Fujī sofre com a solidão que governa sua existência em sua intimidade. Mas a chegada de um novo funcionário na empresa onde ela trabalha começa a mudar a situação. Ryôichi Kiriyama propõe à jovem mulher dormir com ele. A princípio chocada com a proposta, Fuji acaba concordando em ir além dos limites de um relacionamento profissional simples, sem sentir sentimentos por ele. Então começa um jogo estranho entre os dois colegas, um jogo de dominação e prazer …


História e Desenvolvimento

Antes de começar a falar do mangá propriamente, eu usar – É horrível, mas ao mesmo tempo é bom – não chegar a ser no sentido tão literal da frase. Ele não é a pior coisa do mundo, horrível… Ele só é ruim. Quero dizer, me encontro conflitante em diversos aspectos da obra e acho que esse é um dos motivos de eu ter adorado tanto esse negócio hahaha. A começar que não entendo muito bem o que a Mai Nishikata (autora) quer fazer propriamente no mangá. A forma que ela trabalha na apresentação das suas ideias, em que ora parece uma crítica, ora me parece uma ‘normalização’ beirando romantização.

Mas bem, no começo somos apresentados inicialmente a Sayo, que é uma mulher viciada em trabalho e está sempre tomando à frente nos projetos da empresa que trabalha, buscando trabalhos extras e priorizando completamente o esforço. Não é atoa que a introdução do mangá é ela transando com o seu namorado (até então), tudo muito intenso até que ela atende um telefonema do trabalho no meio do ato e a partir disso começam os dilemas da Sayo. O que me chama atenção na personagem na introdução é o dedo podríssimo para homem. Deus do céu, tem esse cara com quem ela estava namorando no começo e ainda tivemos alguns flashs de outros relacionamentos dela e é tudo farinha do mesmo saco. Basicamente todos eles repetem a mesma coisa “Você [Sayo] trabalha demais. Parece um homem“.

E é a partir disso que começam minhas dúvidas quanto ao tom que a autora quer dar ao trabalhar isso. Porque assim, a Sayo claramente não consegue separar vida pessoal do trabalho. Se ela receber uma ligação de madrugada com um chefe falando que precisa de X, ela vai ir fazer. Só que o mano chegar e falar que: “Ai, você trabalha demais, parece um homem” revelando o lado machista. Então é melhor que tenha terminado mesmo. Porém tirando essa fala do moço (considerando que o namorado aparece em 5 páginas), a Sayo também tem um leve sentimento de “culpa” por não dar atenção para o mano. Relacionamentos são vias de mão dupla. Então se ela propõe a estar em um namoro, tanto a protagonista como o parceiro precisam tirar um tempo para si. Uma relação não se sustenta sem conversa, sem passar um tempo juntos e mais para frente é evidenciado que ela sente falta de estar com alguém, ao mesmo tempo em que reconhece que o trabalho sempre será a prioridade dela. Confesso que me sinto um pouco culpado por não estar dando atenção para o meu namorado 🙁

Porém até nisso eu meio que entendo certas decisões tomadas pela Sayo, porque a indústria do trabalho, em quase qualquer campo, vai oferecer desvantagens para mulheres. Ela ficar onde está, em uma puta posição de respeito dentro da empresa que trabalha, é um feito que pode ser considerado bem raro. Ainda tem questões de assédio moral, com alguns colegas de trabalho (homens) falando dela pelas costas. Frases essas que vão no mesmo estilo dos ex-namorados, sempre comparando ela com um homem, como se só um homem pudesse fazer tanto trabalho, sendo que ela é muito mais competente e eficiente que qualquer um deles ali. Sinal de que essas falas também estão atreladas ao ego ferido deles. Portanto não é completamente julgável, porque os caras com quem ela saía não pareciam ser lá bons partidos. Chamaremos de livramento então, rs.

Contudo ainda acho extremamente necessário a Sayo estabelecer limites entre vida pessoal x trabalho. Só que segue envolvendo mais questões, porque não deve ser algo que depende completamente dela, visto que está falando com seus chefes e considerando todo o contexto machista da sociedade. É bem fácil ela ser descartada e substituída por um homem que não deve chegar nem perto da dedicação dela. Mas quem se importa, né? É um homem. Dá até para fazer uma inversão de papéis considerando essas mesmas situações: se a Sayo fosse um homem, ela teria um papel de prestígio, sendo reconhecido e usado como modelo para os demais funcionários. A própria definição de empregado exemplar. Mesmo que desse preferência a trabalho ao invés de sua vida pessoal, isso seria elogiado. “É um homem trabalhador”. Tudo é prestígio. Até mesmo trocar de namorada corriqueiramente seria o “pegador”. Mas como é uma mulher, tudo isso se converte em críticas e ofensas (por vezes, escondidas) à sua pessoa. E separar vida pessoal do trabalho, não só pelos relacionamentos que ela pode vir a ter, mas também por ela mesmo. Tanto trabalho assim não vai fazer bem. Inclusive acredito que ela deva ficar doente em algum momento dos próximos volumes. É preciso ter limites para o próprio bem dela.


Bom, falei bastante da Sayo, mas também é importante falar sobre a outra peça importante nesse jogo: Kiriyama, que as vezes é lindo e as vezes parece um ET! E de primeira impressão do personagem o que temos é: macho escroto. A Sayo fica responsável por apresentar a empresa e como funcionam os negócios de lá para ele. Logo de cara o Kiriyama já começa a dar investidas na Sayo e até assedia ela. São cenas rápidas que são incômodas, mas que a Sayo já corta o barato dele e não dá abertura para as “gracinhas” dele. O problema vem no decorrer disso, em que você tem a Sayo passando por problemas de relacionamento, como comentei. É evidente que ela fica mal toda vez que acaba terminando um namoro por priorizar seu trabalho, com todos esses caras falando sobre ela parecer um homem, deixando ela muito magoada e até instável. Acaba dando brechas para o lixo se aproximar e dar a proposta de fazer sexo com ela, o que viria a se tornar o dito “Jogo Proibido”.

O restante do volume é o decorrer desse jogo em que basicamente eles vão criando pequenas apostas/desafios, tentando ganhar ou fazer o outro se render, como fetiches sexuais ou provocar o outro a sentir ciúmes. O jogo acaba no momento em que um deles se apaixonar por alguém. É duro engolir a possibilidade dos dois se tornarem um casal no futuro (coisa que eu acredito que vá acontecer). A dinâmica deles pode ficar melhor em cenas específicas, principalmente nas de sexo. Isso se você ‘ignorar’ o lixo que o cara é. Como disse para alguns amigos, o Kiriyama é um ‘bom homem’, mas de boquinha fechada, rs.


Voltando ao assunto de me sentir em dúvida sobre o que Mai Nishikata quer me contar, é muito conflitante para mim, porque eu realmente não tenho ideia tendo esse volume como referencia. O que a autora quer trabalhar mesmo? Ela quer ser apenas um mangá sensual (que ela faz muito bem por sinal), um tanto descompromissado? A autora quer trabalhar questões como machismo e dominação dos homens que tentam e se acham no direito de ter sobre as mulheres? Ou ela quer fazer um romantismo dessas relações, até porque, durante a minha leitura desse tomo inicial, eu senti que ela dá umas passadas de pano, do tipo: “Olha, ele (Kiriyama) pode ser um escroto, MAS ele tem suas qualidades. Ele se importa com a Sayo”, coisas do gênero (e que são bem ruins). E na própria sinopse no verso do volume você tem a seguinte frase “Ela [Sayo] era indiferente às cantadas de Kiriyama, um novato conquistador, mas acabou abrindo seu coração ao perceber uma inesperada gentileza em seus atos”. Essas palavras me dão receio e “medo” de como a autora vai abordar essa relação um pouco diferente do convencional, dado que tudo tem limite e pelas cenas de sexo desse volume, acredito que os personagens possam tentar algumas práticas de BDSM, e cair na questão de Sayo ser forçada a fazer o que não quer, mas não vai dizer por ser um jogo e tudo mais. Pode até ser que a autora esteja perdida também, mas para ter certeza disso, terei que ler os próximos volumes.

Mostra quem manda nessa porra!!!

Mesmo não tendo certeza sobre quais rumos a obra vai tomar, eu adorei essa bagaça! Já tenho o volume 2 comigo e em breve devo adquirir os volumes 3 e 4. Essa história tem potencial para eu acabar odiando ela no final, porém vamos ver até onde isso vai. O mangá não deve ir muito mais longe, então apenas vou ver no que dá ^^


  • Arte

Nas cenas do cotidiano, trabalho e tudo mais, a arte e quadrinização do mangá é ok,. É uma leitura fluida e com leves toques de humor. O design da Sayo é muito consistente. Evidente que a autora tem um cuidado maior ao desenhar ela, porém não sei o que acontece que o Kirimiya fica bem inconsistente. Tem quadro que o homem fica com uma cabeça muito estranha, parece mesmo um ET. Embora tenham outros quadros que senhor, que homem.

Do pescoço para baixo é ó, perfeito.

Agora, quando chega na parte sexual do mangá, Mai Nishikata do céu, que coisa maravilhosa. A autora tem uma mão excelente para fazer essas cenas, parece que ela poupa as energias no decorrer do capítulo, para gastar TUDO nessas cenas, porque são muito boas. O enquadramento que ela faz, com closes em olhos, boca, mãos (atenção nisso daqui), é tudo muito sensual. Não tem nada muito explícito. As cenas acontecem muito corriqueiramente, porém nada de vagina ou pênis das personagens. É muito mais focado na sensualidade das cenas mesmo e em como os personagens estão sentindo no ato sexual. A Mai consegue transmitir muito bem a intensidade em que eles estão durante o sexo. Até por isso eu acho o enquadramento e os closes dados muito bons. É uma montagem maravilhosa. Nisso a autora está de parabéns. Não tem do que reclamar nesse aspecto.


  • Edição nacional

No que diz respeito a edição nacional, ela veio no formato padrão da editora: 13,7 x 20 cm, papel Offwhite 66g e capa cartonada. Não tem páginas coloridas e o volume veio acompanhado de um marca página de brinde. O preço de capa é de R$ 22,90 (sentirei saudade desse valor). A editora já publicou os 4 volumes existentes até o momento da obra.

Sobre a tradução e adaptação do texto, ambas estão muito boas. Não usam honoríficos e “estrangeirismos” desnecessários, tornando a leitura muito fluida, o que só ajuda nas cenas que precisam de maior dinamismo. Preciso elogiar a adaptação do título, porque eu amo muito!!! Gosto muito da tipografia (fonte) usada no título com o “Jogo Proibido” ‘interagindo’ com o “GAME”. Foi um trabalho muito bem feito ^^


  • Conclusão

“GAME – Jogo Proibido” é uma leitura que tem muito potencial para suavizar pautas como machismo, deixando tudo mais brando. A Sayo que tem seu carisma e vem muito de sua personalidade forte, coisa que não posso dizer o mesmo do Kiriyama que bem, é aquilo. E apesar de seus problemas, eu adorei! Recomendo? Depende. Assim, ele pode ser uma leitura mais proveitosa dependendo de que expectativa e da “forma” que você irá consumir a obra. Ela é boa para passar tempo, tem seu toque picante e faz isso muito bem. Se você for esperando algo mais equilibrado de ambas as partes ou críticas, provavelmente será a mais pura decepção e pode até odiar o mangá (não julgo). É um título ruim, mas que entretém e para mim, está ótimo. Enquanto esses traços machistas ou problemas maiores não surgirem (como estupro, nunca se sabe), está bem tranquilo ^^


  • Ficha Técnica
  • Título original: GAME – Swit no Sukima (GAME ~スーツの隙間~)
  • Título nacional: GAME – Jogo Proibido
  • Autora: Mai Nishikata
  • Serialização no Japão: Love Jossie
  • Editora japonesa: Hakusensha
  • Editora nacional: Panini
  • Quantidade de volumes: Em andamento com 4 volumes
  • Formato: 17,3 x 20 cm
  • Preço de capa: R$: 22,90
Eu adoro ela hahahaha.

3 thoughts on “Resenha: GAME – Jogo Proibido (volume 1)

  1. Eu adorei o traço da história

    Sinceramente na minha coleção, até para combater o preconceito, preciso ter mais mangás de Harém é Josei picantes assim rs

    Cara, gostei muito do traço, infelizmente eu já sabia que o conteúdo seria problemático. Vou olhar por Scan é ponderar sobre essa compra.

    Posso dizer que um Josei bem legal vai chegar aí é esse eu vou comprar cegamente : Paradise Kiss

    1. Eu queria que a Panini trouxesse “Switch me On”, é um josei porn Soft. O casal é um completo amorzinho e é nessa pegada de ter bastante sexo. Está em andamento com 6 volumes, muito melhor que “GAME” Hahahaha.

      Adoro o traço da Mai Nishikata, isso eu não tenho muito o que reclamar mesmo.

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