O resultado parecia ser bem pior.

Bora lá pessoal, comentar a penúltima estreia que estou responsável por escrever aqui no blog. E como eu disse na chamada do texto, estava esperando um desastre completo essa adaptação animada de Hoshi no Samidare. Muitos amigos e conhecidos amam a obra e o trailer de lançamento do anime foi um balde de água fria para todos que curtem o título. Beirando uma animação em flash, com fluidez de apresentação de PowerPoint, Hoshi no Samidare sofreu com a falta de investimento tanto dos produtores, como da limitação da própria staff que estava disponível para produzir o anime. Mas perto das baixas expectativas, podemos dizer que saímos no lucro. Vai, não foi TÃO RUIM assim como aparentava.

SINOPSE: Um lagarto falante. Um mundo em perigo. Um feiticeiro maligno. Uma grande aventura! Fonte: Crunchyroll

Sempre reforço em várias oportunidades, que sou daqueles otakus que não se importam tanto com a beleza visual extravagante ou animes com vários momentos sakugas durante sua exibição. Priorizo muito mais o roteiro e direção do que aspectos relacionados ao que vemos graficamente na tela. Óbvio que se a composição visual estiver linda e ainda casar com a narrativa, maravilhoso, pois melhora muito a minha imersão na história, como Yofukashi no Uta dessa temporada está fazendo. Quanto mais elementos e coisas relacionadas à produção estiverem nos ápices técnicos, mais eu comemoro pelo resultado que verei em tela. Quem não quer melhor qualidade em tudo que consome? Só que se for para sacrificar qualquer coisa de um anime e eu tiver que escolher qual prefiro, claramente iria escolher a animação. Tenho vários animes que eu adoro que apresentam visuais tenebrosos. Só que graças a experiência ou aos personagens cativantes, acabou me marcando de tal forma, que eu relevo os defeitos na animação. Estou explicando e dando a minha visão de como avalio um anime a partir da minha opinião, para servir como argumento que terei que fazer enquanto eu citar a qualidade dos frames desenhados de Hoshi no Samidare.

É impossível eu fazer esse texto sem citar a péssima animação de Hoshi. Até mesmo para mim que não liga muito para a feiura dos desenhos, a produção daqui se esforçou (com certeza não foi intencional) em evidenciar o quão precário está sendo a adaptação do mangá. Sério, não existe nem a utilização de técnicas para movimentar personagens, como linhas de ação. É literalmente um frame desenhado apenas uma vez, e deslizando na tela para mostrar o personagem andando, pulando e atacando. Sequer existe o redesenho do mesmo objeto de cena em que estava longe do foco no segundo anterior e quando a câmera se aproxima, mostra o mesmo com os mais traços e detalhes. Normalmente, para agilizar o tempo, se o personagem X estiver em uma perspectiva distante, os animadores desenham de maneira simplista, pois ele não é o foco daquela cena, e quando necessário uma troca de ângulos mais aproximada, o animador redesenha o personagem com muito mais informações visuais. Só que em Hoshi no Samirade é foda-se a isso. Desenhou o personagem de tal forma, só aplica um zoom e dane-se se tiver quadriculado ou com resolução baixa. É perceptível que houve falta de tempo e pessoas para finalizar as cenas. Entregaram o projeto da forma como dava. E mesmo que você seja igual a mim quanto a não ligar muito para a ‘feiura’ e ignorar defeitos visuais, existe uma boa chance da animação chamar sua atenção no sentido ruim. Não tem como ignorar a falta dela em Hoshi no Samidare.

E quanto ao roteiro? Pior que nem isso me surpreendeu de fato. Como eu conhecia uma galera que enaltece o mangá, fiquei com altas expectativas quanto a sua história. Tanto que assisti os 2 primeiros episódios, só para ter uma dimensão do que a narrativa irá trabalhar tanto para o protagonista masculino, Yuuhi, como a protagonista feminina, Samidare. E os dois tem uma boa dinâmica, com uma química bem chamativa graças às suas personalidades contrastantes. O Yuuhi é mais cético e tal, não acredita que exista poderes ou seres além da nossa compreensão científica humana, ao mesmo tempo que a Samidare é a sonhadora megalomaníaca, que mesmo em seus desejos absurdos, sua crença nas coisas fortalece sua força vital, abrindo novos horizontes de percepções e sonhos para a personagem. Basicamente temos um cara que não crer em nada, descrente da vida, enquanto a outra quer conseguir tudo, mesmo que isso signifique a destruição do mundo. A Samidare é a reencarnação da princesa, mas não significa que ela seja uma heroína altruísta, que deseja salvar o planeta. Se o planeta for destruído por um martelo gigante, então ela destruirá seu planeta de origem com suas próprias mãos. Adorei a personagem e sua visão da realidade.

Até os momentos cômicos funcionam bem, principalmente as interações do Yuuhi com o Noi, em que um tenta convencer o outro quanto ao que cada um deseja. O Noi quer que o Yuuhi se torne o cavaleiro da princesa, e o Yuuhi não está nem aí para isso. Quer uma vida sossegada de estudante, sem essa pressão de salvar todo o mundo. Boa parte das piadas irão ter o Noi como central, visto que tanto o Yuuhi quanto a Samidare não agem como esperado. Os 2 estão fora do padrão de suas expectativas, gerando dúvidas no coitado do Noi de que se é possível mesmo salvar a população mundial com aqueles dois humanos. É bem divertido. Para mim, os únicos momentos que não acho graça nenhuma é quando envolve a irmã da Samidare, a Hisame. Envolve aquele estereótipo de irmã mais velha possessiva, que quer proteger a caçula do “homem malvado”, que ela é a parceira ideal para a Samidare para o resto da vida, que é o foco das piadas sexuais… Essas cenas são muito chatas, tendo até momentos de eu revirar os olhos tamanho é o clichê que envolve as participações da personagem. Dos 4 do elenco apresentados com mais destaque nos 2 primeiros episódios, a Hisame é a que está sobrando na história, fácil. Podia tirar ela que não faria falta alguma.

E mesmo eu elogiando bastante o anime, por que não consegui apreciar totalmente Hoshi no Samidare? Vou ser bem sincero. Apesar de conseguir ver qualidades que citei antes, não consegui ficar envolvido com a história. Talvez porque as expectativas de amigos falando para mim que o negócio é muito bom, possa ter contribuído, mas o anime foi resultado de algo que não despertou minha atenção. Eu esperava que seria um enredo de ação que fugisse dos alicerces básicos do gênero, ou que apresentaria ideias novas ou personagens mais chamativos, entretanto não foi isso que eu vi. Tirando a dupla de protagonistas que apresentam diferenciais em comparação a de outros animes, Hoshi no Samidare não trabalha outros aspectos além do que se costuma esperar desse tipo de história. Além de que o roteiro está muito acelerado. Muita coisa acontece, sem respiro ou desenvolvimento devido. O lance do avô do protagonista é mostrado tão brevemente e solucionado de maneira tão rápida, que não gera aquela emoção devida que devíamos ter ao vermos seu passado trágico. É tudo no piloto automático. A direção (também graças a limitação de produção) não consegue ir além do básico, sendo apenas mais um anime sem grandes destaques se comparados a outros lançamentos da mesma temporada. Até mesmo os inimigos esquisitos, não são explorados ou representam uma ameaça à integridade de qualquer um do elenco. E olha que o roteirista do anime é o próprio autor do mangá. Não tem uma pessoa melhor para adaptar essa história se não o próprio criador da porra toda, que conhece ela tão perfeitamente. Hoshi no Samidare até faz algo, mas não entrega tudo que é necessário.

Assim, recomendar Hoshi no Samidare é um risco. Vai que seja igual Reborn, em que só lá na frente da história que o bagulho melhora de forma magnífica, sendo um anime divertido de acompanhar. O lance é que se você ainda está curioso com a adaptação e está disposto a arriscar para ver o que acontece a partir daqui, vai por sua iniciativa. Eu diria para você esperar e perguntar para outras pessoas se melhorou, ou ir logo para o original, pois o mangá é muito elogiado. A segunda opção parece a mais segura.

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