É bom ter Mengo Yokoyari de volta em produções animadas... ah, o Aka está ali também :)

Tem alguns bons meses que não comento algum anime no blog (as últimas produções audiovisuais que comentei foram dramas BLs tailandeses), mas essa temporada estão com animes bem interessantes e chamativos (caso de “Raeliana”, “Yamada-kun” ou “Skip to Loafer”). MAS, dentre todos esses, um de fato merecia minha atenção que é 【Oshi no Ko,】 que muitos ficam eufóricos por ser “do mesmo autor de Kaguya-sama”, mas eu, por outro lado, estou empolgado por outro motivo: é o retorno de uma obra da Mengo Yokoyari tendo adaptação em anime, 6 anos depois de “Kuzu no Honkai”! E não há nada que poderia me deixar mais feliz!!

Sinopse: ” ‘No mundo do showbiz, mentiras são armas’
Goro trabalha como ginecologista no interior, uma vida distante da indústria do entretenimento. Enquanto isso, sua idol favorita, Ai Hoshino, começou sua escalada para o estrelato. Os dois se encontram da “pior maneira possível”, colocando as engrenagens do destino em movimento! Os incríveis Aka Akasaka e Mengo Yokoyari se unem para retratar o mundo do showbiz de uma perspectiva completamente nova nesta série chocante!”


“【Oshi no Ko】” fez sua estreia no Japão na revista Shuukan Young Jump (Shogakukan), há pouco mais de 3 anos. Lembro-me que na época, eu tinha ficado extremamente animado com o início da série, pois a Mengo Yokoyari é minha autora favorita. Fazia um bom tempo que ela vinha lançando apenas capítulos únicos (saudade dessa época, aliás) e a série seria em parceria com o Aka Akasaka que estava em alta por conta de “Kaguya-sama”. Tendo uma ideia inicial bem provocativa (ponto de vista nunca antes visto na Indústria do Entretenimento), as experiências estavam muito altas e a certa altura, foram bem satisfatórias na época. Mas fato é que, muito embora Oshi no Ko evidentemente tenha ideias e contribuições da Mengo Yokoyari no roteiro (desenvolverei melhor isso logo mais), ainda não é um mangá dela propriamente, então fui deixando de lado. No entanto, o anime é uma ótima oportunidade de revisitar a série e comentar os erros e acertos desse começo e divagar um pouco sobre os rumos da história ^^.

Oshi No Ko GIF - Find & Share on GIPHY

Dada essa introdução geral, o que achei da estreia? Achei boa, envolvente, mas poderia ser melhor e esse “melhor” está diretamente ligado ao roteiro. Indo por partes e começando pelo início, o Aka sabe fazer comédia muito bem, isso é um dos pontos fortes de “Kaguya-sama”. A introdução do episódio tem diversas alfinetadas com o Goro se comportando como um lolicon e esse segmento dos primeiros minutos acompanha com uma sequência de piadas sarcásticas quanto aos comportamentos de otakus obcecados com figuras de Idols e afins, o que inclui o próprio Goro. No entanto, o que realmente merece atenção nesse trecho é a Ai. Como diria Isabela Boscov: A mulher com tudo isso tem um carisma, enche a tela e aquele vozerão também. Acho a personagem muito interessante, muito cativante e a certa altura, mal aproveitada.

Eu digo isso porque bem, esse enorme prólogo é basicamente sobre a Ai, mas boa parte dele, não é na perspectiva dela. É sobre como o Goro e, posteriormente, o Aqua enxerga ela. Como vemos basicamente tudo na ótica dele, não sobra muito espaço para saber o que ela pensa, sente, a maneira que se comporta, como chegou ali e porque quer (ou não) estar ali. Tanto que acredito que o trecho mais bem executado do episódio para mim é o bloco final do episódio, ali próximo dos últimos 20 minutos, que é quando de fato direcionam os holofotes para a Ai e deixam ela falar o que pensa e sente. Eu gosto muito da personagem e de obras que tragam Idols que escondem o que realmente anseiam, sendo verdadeiras mentirosas (algo repetido bastante ao longo do episódio). Tanto que gosto da Yumemi de “Kakegurui”, e, a certa altura, acho essa faceta dela melhor estabelecida que a da Ai até. Ela é quebrada e eu gosto muito de personagens assim. São interessantes de observar e até onde estão dispostos a ir, pois em geral, não tem muito o que perder. Então queria ter visto mais disso. Não estou dizendo que a parte do Aqua observando a personagem e tirando suas conclusões seja ruim, ainda mais que com a Ai fora, entrariam as crianças e precisamos criar algum vínculo com eles agora, especialmente porque eles quem são os protagonistas da história, mas acredito que esses dois pontos da história poderiam ter sido melhor entrelaçados, tendo espaço para ambos os núcleos. Tirar algumas coisas, deixar para depois e trabalhar com maior profundidade deixaria melhor ao meu ver.

Há três pilares nesse episódio basicamente: A Ai, as críticas à indústria e a reencarnação do protagonista junto da Sarina. A Ai, no seu segmento final, é o que acho melhor estruturado e mais emotivo no episódio, o grande ponto alto. O enorme miolo do episódio focado no Aqua e na Ruby, é ok. Tem bons momentos, alguns bem divertidos, e outros que exploram um pouco desse mundo do entretenimento. Gosto particularmente da cena com o Aqua atuando. A direção fez um ótimo trabalho para deixar ele expressivo e com uma cara assustadora, junto do ótimo trabalho do seyuu. É um trecho bem envolvente e, embora não tenham grandes cenas marcantes, o personagem consegue prender sua atenção o tempo todo e serve de conexão entre o começo que tem um ritmo, junto com o fim mais dramático. Queria ver mais da Ruby. Ela como Sarina era muito envolvente, pois a doença a deixava debilitada, não podia sonhar e estava presa a um sofrimento contínuo. A Ai, de certo modo, servia como uma luz no fim do túnel antes da sua morte. Quero ver como ela vai ser desenvolvida nos próximos episódios. Agora quanto ao Aqua querer vingança, entendo o ponto, acho compreensível, mas ele ligou os pontos tão rapidamente e tão do nada que me soou… estranho. Veremos como vão trabalhar nos próximos episódios, espero que não forcem muito essa ‘habilidade’ dele e seja algo mais gradual. E quanto ao ponto das críticas à indústria, irei desenvolver agora.

Eu lembro que adorei o primeiro capítulo de Oshi no Ko quando saiu (ele termina com a morte do Goro e ele reencarnando como filho da Ai). E essa parte continua muito boa. No entanto, eu não me lembrava que o texto da obra era tão… não sutil. Tudo é muito “dedo na sua cara”, ao mesmo tempo que eu sinto que o texto não chega lá. A obra tem como uma de suas propostas criticar a indústria do entretenimento japonês, porém a grande sensação que tive é que alfinetam a indústria, mas voltam atrás aliviando o alvo da crítica, alfinetam mais uma vez e voltam de novo. Não vejo eles sendo incisivos naquilo que estão apontando. Por isso a obra não ter sutiliza não me convence muito e me desagrada um bocado, visto que embora estejam ali falando “Hey, isso acontece!!!”, eles não dão nomes aos bois, não chegam no fundo do porquê das coisas serem daquela forma. Por exemplo, há uma cena muitíssimo interessante que o Aqua conversa com o diretor de uma série sobre o motivo das cenas com a Ai serem cortadas, mesmo estando boas. A resposta dele é que as cenas da Ai roubariam a atenção de outra atriz que os agentes pagaram para ter destaque. Até mesmo na escolha do elenco eles demarcam: há quem esteja ali por talento, mas há também tem as figuras que estão ali porque tem dinheiro envolvido. Logo, na indústria do entretenimento TUDO é dinheiro. Só que esse tema é encerrado e não tem mais trabalho nessa visão pessimista, além de só uma menção do fato. E isso é um ponto extremamente importante, pois demarcam gostos, comportamentos e ações. Tudo é forjado. As ações da Ai são de uma atriz: ela decora milimetricamente cada detalhe, desde o sorriso, a menor expressão de seu rosto. Tudo é calculado nos detalhes.

Eu acho que dá para resumir o teor crítico de Oshi no Ko em pequenas alfinetadas e nada muito além disso. Tem diversos momentos que haviam margem para ir mais fundo no que a obra quer criticar, mas acaba ficando somente no comentário ‘senso comum’. Um momento aqui e ali que poderia ter feito uma coisa a mais que mudaria a forma como vemos a cena, mas ele se contém. Vou deixar aqui a recomendação de quatro vídeos do O Algoritmo da Imagem que falam sobre a figura da celebridade. O primeiro deles fala sobre a construção de imagem de uma celebridade. O segundo falará sobre a “gaiola de ouro”, que se manifesta pelo contrato, sendo estes feitos com as agências e que são os grandes responsáveis por de trás de grandes nomes. E os outros dois (que é um único vídeo dividido em duas partes) vão falar sobre algumas celebridades da sociedade brasileira e o ponto principal disso tudo: dinheiro. Se você quer ser o número um, você precisa de grana. Não há como ter dois números um. Perceba, essas coisas estão aí, mas ficam mais soltas no ar do que de fato são destrinchadas, apontadas, exploradas. São sementes jogadas no ar, nós aqui, podemos até pegar para discutir, mas a série em si, pode não discutir sobre elas realmente.

Eu entenderia se Oshi no Ko não quisesse ser profundo nisso, mas como ele se propôs a ser uma obra que iria expor as problemáticas da indústria, eu não acho que ele seja exatamente competente. Na verdade, o texto do Aka Akasaka é bem superficial.

O ponto alto do episódio! Adoro uma tragédia bem feita ^^

Quando eu digo que a Mengo colabora com esse roteiro, não há nada dito oficialmente pelos autores até onde sei, no entanto, há aspectos do texto e até algumas cenas envolvendo personagens que soam muito mais parecidos com o estilo da Mengo de escrever do que com o Aka propriamente. Para quem nunca leu uma obra dela (ou não assistiu “Kuzu no Honkai“), eu diria que a Mengo Yokoyari é particularmente excelente fazendo duas coisas: personagens de carácter e moral duvidosas (para dizer o mínimo) e introspecção de personagem. Essas duas pontas aparecem nos personagens da série ao longo do prólogo. Não é meramente pelo texto das cenas, mas como todo o ar que esses momentos trazem, a forma como são expressados nos mínimos detalhes… Tudo me relembra a ela. Por exemplo, a Ai querer se convencer sobre felicidade e amor, o ponto de que a mentira possa se tornar real, relembra uma das personagens de “Kuzu no Honkai”. As preocupações da Ai de ser apropriada ou não, também é outro aspecto muito similar a uma outra personagem de Kuzu. O momento de flashback da Ai, mostrando um pouco do passado dela, também é um grandiosíssimo momento que parece com o jeito de escrita da Mengo. E quanto à introspecção, bem, a Mengo gosta bastante de escrever personagens de moral duvidosa e que tem algum sentimento depressivo e são levemente fodidos da cabeça. Frequentemente nas obras dela nós visitamos a mente desses personagens e o caos de sentimentos que se passa no interior de cada um. Ela sabe fazer isso muito bem. A psique dos personagens ou o quão quebrado e conflitante eles podem ser e, especialmente, o ponto de se agarrar a alguma coisa e se convencer daquilo na esperança de que se torne real, que é basicamente o que vimos no final do episódio com a Ai.

Não estou dizendo que acho o Aka incapaz de escrever cenas do tipo, não li o suficiente dele para poder dizer isso, no entanto, são aspectos que vejo muito mais a Mengo dando uma mão na forma de se fazer do que o Aka produzindo inteiramente. A Mengo e o Aka são amigos de longa data, portanto não acho que seria estranho ela ter a possibilidade de contribuir com o roteiro. Mas independente disso, o desenho também é uma forma de narração, uma forma de expressar o que os personagens estão sentido e, portanto, também é uma forma de escrever o roteiro. Indo mais longe: muitas vezes, o desenho que vai nos contar o que não precisa ser verbalizado. E algo que tem me deixado muito puto é a maneira que pessoas e sites estão colocando o Aka como O AUTOR DE “Oshi no Ko”, enquanto que a Mengo é esquecida. Quando se fala em “Death Note”, SEMPRE falam NA DUPLA Ohba e Obata. Entretanto com Oshi no Ko, tratam o Aka como sendo A MENTE BRILHANTE por de trás da obra, enquanto que a Mengo fica de escanteio. Isso quando não é simplesmente esquecida e não é creditada como uma das autoras da obra. Até mesmo o MyAnimeList fez isso. O machismo no ar entorno disso está muito alto e sinceramente, nojo.

Vou parafrasear o que eu mesmo disse no meu Twitter pessoal assim que terminei de assistir o episódio: “Emocionado. Não por “Oshi no Ko” em si, mas pelo que a Mengo Yokoyari representa para mim. É tão maravilhoso ver a essência dela na construção visual, no texto, no ar da série, nos diálogos, nos detalhes e nuances mais simples. Não desmerecendo a equipe, longe disso. A direção, roteiro, design… todos ali estão fazendo suas próprias obras em cima do original. Kuzu no Honkai é também uma criação do Masaomi Andou com suas concepções e escolhas. Mas nossa, absolutamente belo poder reencontrar a Mengo Yokoyari dessa forma, neste momento, neste ano, nas sua essência mais pura. Presente aqui e ali e não é à toa sua felicidade [da autora]. É mais que merecida. Enfim, lindo <3

A Mengo Yokoyari segue o blog no Twitter. Não acho que ela vá ver esse post, mas em todo caso, queria deixar registrado que amo muito ela e seu trabalho. Acho a Mengo brilhante em diversos aspectos e tem uma importância descomunal no meu processo de construção de senso crítico.

A segunda imagem é um quadro da (maravilhosa) abertura de “Kuzu no Honkai”

A direção de Daisuke Hiramaki é boa, envolvente e consegue te prender no episódio, algo que se não tiver mão, é fácil de perder dado o tempo de duração. Eu tinha receio da direção, pois um de seus animes anteriores, “Koisuru Asteroid”, também na DogaKobo, era um horror de chato. No entanto, tive uma boa surpresa aqui. Mas meu destaque vai para o trabalho absolutamente impecável da Kanna Hirayama, vulgo Kappe, a character design dos personagens e foi a diretora chefe de animação do episódio. Além dos designs belíssimos, o polimento dos quadros, a arte lindissíma, tudo no mais absoluto primor! A direção de arte criativa junto do Daisuke, formam um todo muito bom visualmente falando. Diversos quadros que por si só rendem vários wallpapers.


“【Oshi no Ko】” teve uma estreia consistente e envolvente. A direção consegue te prender ao ponto de me fazer esquecer desses probleminhas que apontei no post e ainda assim, sair com um sentimento muito satisfatório ao final do episódio. Dizer que esta é “a melhor estreia da temporada” é meio desonesto com os demais animes dado que aqui, temos o equivalente a quatro episódios em um, é quatro vezes mais tempo que os outros animes tiveram. O estupendo seria o mínimo a se esperar dele dado o tempo de tela que teve.

Vejamos então como será o decorrer da série. Farei o possível para voltar ao final do anime com a review, pois tenho mais alguns comentários para fazer, mas preciso ver o miolo para poder afirmar e ter uma base sólida para poder dizer. Nos encontramos futuramente para a review e espero que em breve, para mais posts de primeiras impressões ^^.

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