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JEFF fala de "Rei de Lata", inspirações, animação e mais!

Ao longo do mês de dezembro, publicamos aqui no blog, uma série de resenhas de mangás nacionais (ou seja, aqueles que tem uma veia/inspiração no mangá japonês), como forma de celebrar a produção brasileira. Estamos na reta final do mês e temos algumas resenhas por publicar ainda, mas hoje, um dia depois do lançamento da resenha dos dois primeiros volumes de “Rei de Lata” no blog, lançamos uma pequena entrevista com o JEFF, autor da obra!

O JEFF, e “Rei de Lata” por consequência, foi um dos autores a reinaugurar a publicação de quadrinhos nacionais em uma das maiores editoras do mercado brasileiro no ramo de mangás, isso lá em 2021. Passados 4 anos desde o início da publicação da obra e a consolidação da série, mas também de outros trabalhos, como verdadeiros sucessos, achamos a ocasião perfeita para conversar com o autor e sua obra!

A resenha publicada pelo blog vocês conferem no link abaixo:


Em janeiro de 2021, uma das principais editoras do mercado brasileiro de mangás estava realizando um evento comemorativo online. No dia 30/01, a editora em questão dedicou o dia para falar de quadrinhos nacionais e anunciar duas novas obras, que marcariam o grande retorno à produção brasileira. Uma das anunciadas foi “Lebre & Coelho” (que em breve lançamos resenha) e “Rei de Lata“, do JEFF (Jefferson Ferreira). A obra está em publicação desde janeiro de 2018 no Tapas, possuindo quase 80 capítulos publicados. Os volumes físicos ainda estão em publicação, possuindo 6 lançados e previsão de ser concluído com 8 no total (ainda não tem previsão de lançamento para o 7º volume).

Blog LD – JEFF, primeiramente, gostaria de agradecer por ter aceitado a entrevista com o blog. “Rei de Lata” foi um dos primeiros nacionais que a gente noticiou aqui junto com “Lebre e Coelho“, do Alec, lá no começo de 2021, e ficamos muito contentes. Uma pergunta que temos feito para os autores que estamos propondo entrevistas e fazemos para você também: Qual a origem de “Rei de Lata“? De onde nasce a ideia e como foi os primeiros passos do desenvolvimento da trama?

JEFF – É meio confuso até pra mim entender exatamente onde surgiu a ideia, mas acredito que a primeira faísca foi lá em 2010, enquanto fazia um dever da escola e me deparei com uma imagem em um livro de duas crianças abraçadas sorrindo em meio a um cenário destruído de guerra. Na época essa imagem mexeu bastante comigo, mas cheguei somente a fazer um desenho e alguns esboços sem nomes. Posteriormente desenvolvi outras histórias em quadrinho para Internet e concursos, e em 2013 acabei dando um tempo, retomando com a vontade de criar novamente só no final de 2016, quando vi meu irmão mais novo, também quadrinista, todo empolgado tentando participar de vários concursos de mangá. Lembro que tentei participar usando a ideia que retirei do livro lá em 2010, acrescentei poderes, pois é o que sempre gostei e então surgiu a primeira versão do que seria Rei de Lata. O problema é que o concurso tinha um limite de páginas, e as ideias que estavam na minha cabeça não caberiam em um one-shot curto. Foi aí que decidi fazer uma série e postar por conta própria na Internet, com o único intuito de compartilhar a história que estava na minha cabeça enquanto me divertiria a contando e interagiria com eventuais leitores. Então dia 10 de março de 2017 postei o primeiro capítulo.

Blog LD – Rei de Lata está em publicação no Tapas desde 2018 e hoje ela acumula mais de 1 milhão e meio de visualizações na plataforma. Como foi a recepção da obra no começo? E você sente que houve uma mudança na maneira do público em receber e interagir com as obras nacionais, principalmente durante e pós pandemia?

JEFF – A recepção foi ótima para minhas expectativas, pois eu não tinha muitas referências de outros quadrinhos postados de graça na Internet. Já surgiu um público antes mesmo do primeiro capítulo, porque postei algumas fichas dos personagens e o pessoal que me seguia no Twitter gostou bastante, e cheguei a receber mais de 50 fanarts antes da estreia.
Acho que durante a pandemia o público estava bem mais engajado. Com fim dela e a retomada de suas rotinas, a interação deu uma caída, o que era de se esperar, mas de 2024 pra cá sinto que o engajamento das obras nacionais no geral deu uma crescida considerável.

Blog LD – Hoje seu mangá é publicado por uma editora e é um grande sucesso, não é à toa, o primeiro volume está esgotado. A publicação oficial mudou algo no seu âmbito profissional? Você nota alguma diferença entre o autor JEFF de antes da publicação impressa de Rei de Lata e o JEFF após ela?

JEFF – Acredito que só a cobrança em fazer o melhor possível em cada página. O engraçado é que não existe nenhuma cobrança nesse sentido por parte da NewPOP. É algo que vem de mim. O fato de estar saindo por uma editora grande me faz imaginar que serei julgado pelos leitores como um mangaka profissional do Japão é.

Blog LD – Falando da obra em si, o que temos é um universo pós guerra, em que um grupo de pessoas (os adultos) miram sua atenção e tem como alvo um outro mais vulnerável (as crianças), ao qual eles se reivindicam como “os bons” e que querem “expurgar o mal”. Infelizmente, nos encontramos em um contexto muito complexo com conflitos e guerras aparecendo em diferentes locais do planeta, com grupos minoritários frequentemente sendo o alvo desses conflitos. O quanto da nossa realidade, seja a nível nacional ou internacional, você se inspira para contar essa narrativa? Ou ainda, estou enganado em fazer esse tipo de paralelo?

JEFF – É um tipo de paralelo inevitável. O começo de Rei de Lata teve inspiração totalmente nos Shounens que consumi durante minha vida, porém no decorrer da história e no desenvolvimento do enredo, eu faço questão de criar analogias com a vida real, já que Rei de Lata é um pouco de tudo que absorvi até hoje e continuo absorvendo.

Blog LD – O José é um personagem muito complexo e difícil de lidar, sendo até complicado de digerir no começo. Ele acaba sendo fruto de uma realidade muito opressora e naquela maneira de agir (arrogante, pensando exclusivamente nele), foi o que ele encontrou como meio de sobrevivência. Do outro lado, temos o Arthur e companhia, que são o total oposto do José. O quão interessado você está em “quebrar” o personagem e o que você, como autor, pensa do personagem e a maneira como ele se comporta?

JEFF – O ser humano é egoísta por natureza, e podemos ver esse egoísmo sem filtro nas crianças. A ideia de compartilhar é ensinada, assim como outros valores importantes. Agora em um contexto de sobrevivência onde a maioria das crianças crescem sem seus pais e em um ambiente hostil, a única figura de referência será pessoas mais velhas egoístas. O mundo de Rei de Lata é terrível, e o José é o reflexo desse mundo, sendo mais um ser corrompido. Arthur e os “corações” são a exceção, aqueles que mesmo em meio ao mal e sem leis, caminham pelo caminho do amor e compaixão carregando valores comumente vistos em protagonistas. José foi criado para ser falho e personificação do mundo em que vive, e sua jornada por seu objetivo um meio para encontrar um coração que o falta. A desconstrução e o auto compreendimento de seus sentimentos é a principal jornada do José em Rei de Lata.

Blog LD – A obra apresenta uma gama muito grande e variada de crianças, tanto em termos étnicos, mas também de físico e principalmente, de poderes. De onde você se inspira ou como nascem as ideias para criar esses personagens? Esse é um aspecto que particularmente me encantou enquanto lia os volumes.

JEFF – Normalmente saem do completo nada dependendo do que o roteiro está pedindo no momento kkkkk. Claro que com tudo que já li é impossível dizer que não tem inspiração, mesmo que indireta, mas na maioria das vezes simplesmente crio. Mas também surgem em momentos inesperados, quando estou ouvindo música ou assistindo algum filme e, em momentos mais raros quando me deparo com um personagem que acho legal acabo me inspirando mais diretamente.

Blog LD – Em julho de 2025, o Kimera Estúdio anunciou uma adaptação animada de “Rei de Lata” para 2027 e até já divulgou um trailer piloto. Gostaria de saber os seus sentimentos com relação à essa adaptação, como você recebeu essa notícia, bem como se você está envolvido de alguma forma com essa produção.

JEFF – Sempre quando alguém faz alguma fanart de Rei de Lata me deixa bem feliz. A primeira abordagem do Estúdio foi muito por esse lado. Fiquei meio desacreditado que um grupo de pessoas estava interessado em dedicar tanto tempo para produzir algo derivado do meu trabalho. É lindo ver meus personagens se mexendo.

Blog LD – Se fôssemos fazer um paralelo com os mangás e as demografias que existem, Rei de Lata perfeitamente caberia dentro de um mangá Shounen. Dito isso, o que você pensa sobre e se existe alguma referência direta com essa segmentação do mercado nipônico quanto ao estilo da sua obra?

JEFF – Sem dúvidas nenhuma meu estilo é influenciado por vários animes e mangás que consumi durante minha vida, e acredito que parte é até inconscientemente, mas dos que eu tenho certeza que me inspiro estaria Naruto [nota do editor: mangá de Masashi Kishimoto, completo em 72 volumes, publicado em várias edições pela Panini] e My Hero Academia [NDE: de Kohei Horikoshi, em 41 volumes, publicado integralmente pela JBC], sendo minhas duas obras favoritas, e alguns outros como One Punch Man [NDE: de ONE e Yusuke Murata, em andamento, publicado pela Panini], Jujutsu Kaisen [NDE: de Gege Akutami, em 30 volumes, publicado pela Panini], One Piece [NDE: de Eiichiro Oda, duas edições em publicação pela Panini] e BAKI [NDE: de Keisuke Itagaki, em 31 volumes, inédito no Brasil]. Não acho que tenha nenhuma referência direta, porém essas obras me inspiram na hora da criação de personagens, desenvolvimento de roteiro ou em ideias mais pontuais.

Blog LD – E, ainda no estilo da pergunta anterior, que artistas você se inspira profissionalmente? Existe algum mangá que você “beba da fonte” quando pensou na criação de Rei de Lata?

JEFF – Meus artistas favoritos são Masashi Kishimoto e Kohei Horikoshi. Porém a inspiração fica mais na parte das lutas ou tropos usados por eles.

Blog LD – Rei de Lata tem 6 volumes lançados atualmente e deve ser concluído no 8º. Portanto, já estamos na reta final da obra. Se aproximando do fim, você sente que contou tudo o que queria contar? E você já pensa em projetos futuros, posteriores ao fim da série?

JEFF – Seria impossível eu conseguir contar tudo que queria, pois eu me empolgo muito quando estou pensando no roteiro. Fora o que vejo como obrigatoriedade para o desenvolvimento da trama, ainda tem muitas cenas que vi em outras obras e queria reproduzir em Rei de Lata. Como o mercado aqui no Brasil é imensamente menor que no Japão, obras muito longas não se sustentariam, pelo menos por agora. A decisão de ser mais direto ao ponto no roteiro é uma forma de não ver os leitores diminuindo drasticamente. Já que a tendência é essa, com isso muita coisa acaba ficando de fora. Mas mesmo nessas condições sinto que Rei de Lata é muito melhor do que imaginei que seria quando comecei a história.
E também quando finalizar Rei de Lata, seguirei expandindo o universo com spin-offs e quem sabe uma continuação.

Blog LD – Finalizando… tem algum recado que gostaria de deixar para os leitores? Gostaríamos de agradecer enormemente ter aceitado o convite da entrevista, ainda que meio em cima da hora.

JEFF – Só queria agradecer a todo mundo que lê Rei de Lata, ter um público lendo e comentando minha obra é uma das coisas que mais me motivou a não desistir algumas vezes. Prometo continuar me esforçando na produção da história, e espero que continuem comigo até o final, que inclusive está próximo \o/
Obrigado pelo espaço <3


Reiteramos o agradecimento ao JEFF por ter aceitado participar da entrevista! Relembramos que a obra está em andamento com 6 volumes e deve ser concluída com 8 no total.

Por fim, deixo o aviso que fizemos uma série de resenhas de trabalhos nacionais ao longo desse mês e ainda há mais alguns por publicar. ^^