Uma produção deslumbrante não salva este roteiro que força a barra em muitos momentos.

“Dance Dance Danseur” foi um dos animes da Temporada de Primavera de 2022 cujo minha intenção era escrever review logo que terminasse. Por uma série de fatores, isso não foi possível. Então aproveito o mês de agosto de 2024, mês que o blog estará completando seu 5º ano de existência, para falar do anime.

Vale dizer, estaremos publicando uma review de anime diariamente aqui no site durante o mês, com animes que gostamos e daqueles que não gostamos também! Afinal, não é só de coisas boas que se vive e “Dance Dance Danseur” entra na categoria de animes ruins da lista. A seguir, destrincho melhor o porquê. ^^

PS: a quem interessar, temos um texto de Primeiras Impressões do anime aqui no blog 🙂

Sinopse: “Quando jovem, Junpei Murao era fascinado por balé, mas teve que abandonar a dança com a morte de seu pai e as responsabilidades de chefe de família. Certo dia, a jovem e bela Miyako Godai percebe seu amor pela dança e o convence a investir na carreira profissional de bailarino, e a perseguir o título máximo de “Danseur Noble”! Apenas aqueles dispostos a se sacrificar de corpo e alma podem sobreviver no belo e exigente mundo do balé clássico.”


Quando soube da existência de “Dance Dance Danseur”, isto é, cerca de um mês antes da temporada de Primavera (2022) começar, fiquei muito interessado nele pela autora da obra ser tradicionalmente de demografias que gosto e consumo muito (Shoujo e Josei), também sua temática da obra ser sobre balé e adoro MUITO da dança, além de ter uma aparente produção lindíssima (o que de fato teve), o que é relativamente raro para produções envolvendo esse assunto. Eu queria gostar muito dele e fui com a expectativa de que seria uma das melhores animações da Temporada. Porém, não demorou nada para ver que não só ele era um tanto diferente do que eu esperava, como iria para um caminho “potencialmente desastroso”, o que realmente aconteceu.

“Desastroso” é um pouco exagero meu. Sou eu sendo dramático, porém é preciso dizer que o todo da série é ruim. Uma das primeiras coisas que quero comentar sobre o anime é que ele TENTA parecer movimentado e que está sempre discutindo algum tema. Quando você olha por cima o roteiro, de uma certa ótica mais abrangente, realmente parece ter tudo isso, mas basta olhar um pouco mais de perto, com um pouco mais de atenção, para perceber que esse roteiro nada mais é do que uma enorme bagunça de ideias, que muitas vezes sequer são concluídas. O anime começa muitas coisas, mas não concluí nem metade de tudo que ele traz para a roda. Começamos a animação com 3 temas sendo discutidos: o Junpei e seu interesse por balé na infância, logo em sequência o temor de sofrer bullying por praticar balé (e ele sequer tinha começado a praticar) e logo em sequência ainda temos a morte do pai dele. Esse é só o começo de toda essa lambança de temas, entretanto é importante mencionar isso, porque esses 3 eventos acontecem num espaço de 8 minutos mais ou menos e nenhum desses assuntos são bem explorados. Na verdade, são parcialmente pulados por um time skip de anos, saltando da infância do Junpei para o momento atual dele no colégio. Todo esse material renderia facilmente 3 episódios, um para cada assunto, mas tudo passa rapidamente em 12 minutos. No fim das contas, o começo já mostrava muito de como seria todo o andamento do anime.

Apesar dos episódios 2 e 3 terem dado uma boa desacelerada em relação à estreia, eu acho que a obra adotou uma “outra postura”. No meu modo de ver, o anime passou a “camuflar” e até “maquiar” aquilo que estava sendo adicionado a história. A direção consegue ser imersiva ao ponto de colocar mais e mais coisas, assuntos e personagens, sejam inseridos na história e, de primeiro momento, eu não percebi muitos atalhos. No entanto, notei que tinha algo errado quando o anime gira a chave, passa a tratar de outros assuntos, em outros ambientes, um novo arco que inicia, mas sem fechar as arestas abertas no momento anterior. Por isso que disse que quando você olha de cima, parece estar sempre movimentado, mas que basta um pouco de atenção e perceber que falta algo. Dance Dance Danseur não escolhe um assunto X, desenvolve ele e encerra para poder passar para outro. O que ele faz é pegar W, X, Y e Z, ir intercalando (muito mal, diga-se de passagem), até passar para outro assunto sem resolver nada ou quase nada do anterior. Ele se perde muito fácil naquilo que quer nos contar e o resultado não poderia ser outro: é mal feito, vazio e é até ofensivo em certo grau.

Me irrita particularmente quando a obra vai trabalhar com o Luou (um dos personagens centrais) e mostrar que ele sofria bullying no passado por praticar balé, além de sofrer horrores na mão da avó super rígida (aos que conhecem, é um pouco como a relação do Kousei com a mãe em “Shigatsu wa Kimi no Uso”). O episódio que mostram ele sofrendo bullying é perfeito, de longe, o melhor do anime. É angustiante, doloroso, bem feito, ótimo plot! Mas o que me irrita é que a conclusão do arco é muuuuito superficial e o anime relativiza o que aconteceu. Os ‘amigos’ do Junpei zoam e agridem o Luou, ele nada faz, porque é mais fácil ficar quieto e aquela altura, ele não queria que os amigos soubessem que ele praticava balé, afinal, é coisa de “mulherzinha”. Depois que esses ditos amigos assistem o Junpei dançando balé, os amigos dele veem que ele se diverte dançando e deixam para lá, aceitam. Responsabilidade? Culpa? Pedidos de desculpa AO LUOU que foi a vitima da história? Não tem. Tem pedido de desculpa para O JUNPEI, mas não para o Luou. Me estressa um bocado o Junpei (e a obra em si) querer a todo custo tornar aquela história SOBRE ELE, mesmo quando outro personagem é o ponto principal.

Uma outra tristeza do anime é a Miyako, que em tese é a outra protagonista da história. Digo em tese, porque ela é totalmente apagada nessa história. Ela não tem muita personalidade e a principal função dela na história é, infelizmente, ser uma peteca para o Junpei e o Luou ficarem jogando. Ela só está lá para servir como interesse amoroso dos dois e é sempre nessa dinâmica de ficar indo de um lado para o outro com os dois personagens. Tem um ponto absurdo em que ela se estabelece com um dos personagens, aí esse cara termina com ela, o outro protagonista vai atrás dela e o que terminou com ela volta a ir atrás da garota e tudo isso num espaço de uns 4 episódios. Ela não tem desejos, medos ou anseios. Há momentos que parece que a obra vai desenvolver ela, por a Miyako ter alguns problemas de pressão e expectativa com o balé por causa da sua mãe (que foi uma grande bailarina), mas recuam. Quando assume um tom melancólico por conta de coisa x, voltam atrás e fica por isso mesmo. Fica sempre aquela impressão de que poderia ser uma personagem que tinha muito a mostrar e que no entanto, é reduzida a par romântico de personagem masculino (e pior ainda é que ela não funciona como casal com nenhum dos dois, sem química alguma).

O último episódio do anime é pavoroso. Faz quase 2 anos desde que o vi e lembro como se fosse ontem. Eu estava indo para a UFSCar, de ônibus, entrei no ônibus e comecei a ver o episódio. A viagem no 1º ônibus (de dois) dura cerca de 1 hora e por incrível que pareça, eu estava quase chegando no terminal para pegar o outro ônibus e ainda estava vendo o episódio. São 20 minutos que passaram TÃO DE-VA-GAR. Talvez os 20 minutos mais longos (e tortuosos) da minha vida. É um dramalhão que aquela altura do campeonato não me convencia nem um pouco. Os personagens, com exceção do Luou, odiava todos ou simplesmente não importava. Uma situação com um drama que socorro… enfim, um pavor.

Às vezes eu tenho a sensação de ter visto o anime errado ou de ter visto outro anime, porque tenho amigos que adoraram a animação e não veem esses problemas que vi e assim, por causa do trabalho no blog, eu acompanho mercados de outros países e a bolha francesa que acompanho é completamente louca pelo anime e até hoje clama pelo mangá na França. Eu, de primeiro momento, cogitei que o anime poderia ter rushado o material original, mas não parece o caso. Adaptaram até o volume 5, o que daria cerca de 2 episódios por volume. Acho que é o mangá que seja ruim mesmo, o que me deixa triste, pois como eu disse lá atrás, eu queria gostar muito dele. Apesar disso, ainda tenho curiosidade para ler outros mangás da George Asakura (autora da obra original).

A animação é do estúdio MAPPA e embora tenha sido uma produção que pediu socorro por causa do cronograma apertado (padrão do estúdio), eles conseguiram sustentar bem. A época do lançamento dos episódios, eu comentei que achava as danças muito bem executadas, porém parando para pensar hoje em dia, elas não são tão boas assim… tirando a dança do episódio 6, que é riquíssima, com um trabalho de arte impecável e que consegue transmitir toda a intensidade que precisava, as demais não chegam naquele ponto. A maioria delas, especialmente a que tem no último episódio, são muito…hum… “monótonas”, com uma sensação de que falta alguma coisa. Não sei se uma trilha sonora mais impactante ou mesmo uma forma de trazer de forma visual esse fascínio que os personagens sentem enquanto dançam.

Ele (Misaki) é um personagem até interessante, mas não o suficiente para me prender na obra

No fim das contas, se tirar o Luou, a melhor coisa do anime todo é OPENING que é linda e com uma música excelente da YUKI.

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