É bonito, é divertido, mas falta algo...

É bonito, divertido, mas falta algo.

Estou completamente atrasado e atrapalhado com as primeiras impressões dos animes, tendo feito pouquíssimos posts até agora. Mas vamos falar de “Dance Dance Danseur”, que era uma das minhas maiores apostas dessa temporada quando falamos de estreia. Ainda mais que tirando as continuações, poucos dos novos animes me despertaram interesse ao ponto de pensar “Uau, isso daqui será a minha aclamação.”. E embora a estreia de “Dance Dance” tenha sido legal em diversos aspectos, lhe falta algo…

Sinopse: “Quando jovem, Junpei Murao era fascinado por balé, mas teve que abandonar a dança com a morte de seu pai e as responsabilidades de chefe de família. Certo dia, a jovem e bela Miyako Godai percebe seu amor pela dança e o convence a investir na carreira profissional de bailarino, e a perseguir o título máximo de “Danseur Noble”! Apenas aqueles dispostos a se sacrificar de corpo e alma podem sobreviver no belo e exigente mundo do balé clássico. A adaptação da famosa mangaká George Asakura sobre a adolescência ardente dos dançarinos de balé será adaptada pelo MAPPA e dirigida por Munehisa Sakai!” Fonte: Crunchyroll


“Dance Dance Danseur” é um mangá escrito e ilustrado por George Asakura. Sua adaptação em anime está vindo como parte das comemorações dos 100 anos da Shogakukan, editora detentora dos direitos da obra. E estando nas mãos da MAPPA, já esperava algo de boa qualidade técnica (mesmo que para entregar isso, eles precisem ‘torturar’ seus funcionários e que trabalhem além do limite humano). O meu interesse pela obra vem de algo bem particular, já que desde criança, sempre gostei de coisas que remetiam a classicismo, roupas rebuscadas, danças, músicas clássicas e arquitetura europeia. Sempre me fascinaram muito. A elegância, a ideia de remeter a algo luxuoso e até um pouco a realeza, achava (e ainda acho) tudo brilhante e encantador. Nesse contexto, esportes ‘elegantes’ me interessavam muito. Desde ginástica, balé e dança no gelo estavam sempre no meu olhar de admiração, que eu gostaria de tentar praticar, mas que nunca tive oportunidade e nem desenvoltura para isso :’). Portanto, eu me sentia na obrigação de ver Dance Dance. E não só isso, como o fato da autora do mangá (George Asakura) ser tradicionalmente ligada as demografias Shoujo e Josei, me despertava muito mais interesse. Fui ver o episódio com boas expectativas, mas não foi bem como eu esperava e é isso que irei falar aqui.

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O que me interessou e até me tirou um sorriso nesse comecinho de episódio, é que o protagonista estava na apresentação de balé com os pais. Depois da apresentação das garotinhas e ele dormindo, aí no momento que entra o bailarino musculoso, suado, é o momento que ele acorda, fica interessado, com uma cara de: “Meu deus, é um deus grego”. Poderia ter alguma relação com a sexualidade dele? Poderia sim e seria maravilhoso se fosse, mas é um mangá Seinen. Não vamos criar esse tipo de expectativa com a obra (ainda mais com o clima que a série já quis consolidar durante o episódio). E a partir dessa apresentação que o Junpei fica fascinado pelo balé e passa a querer praticar a dança. A proposta do anime é acompanhar o Junpei em sua retomada aos treinos do balé, que foi interrompida após a repentina morte de seu pai e a pressão social sofrida por balé ser visto como algo não apropriado para homens, dado que “não é masculino”. E é partir disso que começo a ter problemas com a série.

Acredito que o que mais me incomodou na estreia é a velocidade em que tudo acontece. Começamos o episódio com o protagonista fascinado com o balé, beleza. Ao invés de desenvolver esse lado, uma pequena introdução do garoto a dança, equipamentos necessários, um pouco das atividades que são feitas, não foi isso que aconteceu. Eles já partem para uma abordagem de preconceito. A mãe do Junpei faz a matrícula dele e antes mesmo do garoto começar a fazer as aulas, ele já encontra amigos da escola, começam a zoar por ter um menino num pôster usando meia-calça e isso já assusta o guri. Então ok, pularam uma parte que poderia ser interessante de apresentar sobre o balé para introduzir uma visão de preconceito por “balé não ser apropriado para garotos”. O episódio poderia ter focado mais nesse aspecto. O contraponto entre o desejo do protagonista, mas o medo dos amigos descobrirem e começarem a caçoar dele, e por consequência, o bullying. Mas novamente, não foi isso que tivemos. NO MESMO DIA que ele faz a matrícula na escola, o pai dele morre do nada… Não há espaço para estabelecerem esses aspectos que foram rapidamente introduzidos! E tudo isso em uma questão de 7 minutos. Isso é apenas o começo do episódio.

E de novo, tinha a abertura para mostrar um contraponto entre o desejo e o receio dele. O pai dele não tinha nada contra de seu filho praticar balé, o que dá a entender é que ele temia mais pela reação de terceiros, de como parentes e “amigos” da escola e de como iriam reagir com isso. A morte do pai era uma abertura para mostrar a relutância em desistir da dança, para praticar o Jeet Kune Do, que foi a vida do pai do Junpei. Como seria deixar aquilo que você deseja para incorporar um papel que a sociedade espera de você? O que sua família espera de você? Estou seguindo este papel, mas estou feliz? Eu me sinto confortável? Percebam que há uma série de brechas que, por si só, poderiam render episódios inteiros, mostrando complexidade e dualidades que poderiam serem sentidas pelo protagonista. Mostraria não só uma história mais complexa, mas também uma maior riqueza para o personagem. Foi inevitável não pensar que tudo que foi passado foi absurdamente superficial e vazio.

Eu não acho que ele seja totalmente atropelado. Se você consegue se envolver bem com o roteiro, você consegue ir levando o episódio. Só que chega em um momento que é muita coisa acontecendo e foi o momento que percebi que estavam correndo com a adaptação. Eu não tenho certeza, mas acredito fortemente que adaptaram 1 volume inteiro do mangá ou algo bem próximo disso. Me toquei disso quando lembrei que a obra original tem mais de 20 volumes publicado. Faria sentido quererem adaptar o máximo de conteúdo possível. Não faço ideia de que como seguirá daqui para frente, porém pelo ritmo que esse episódio levou, os próximos não vão ser muito diferentes. Já espero sequências bem aceleradas…


No restante do episódio, anos se passaram e vemos mais do Junpei já no colegial. Vemos o que aconteceu na lacuna de tempo entre morte do pai e o presente? Não. Vida que seguiu. Vimos pequenos flashs logo após a morte do pai, com um parente dizendo que agora ele é o ‘homem da casa’ e meio que precisa fazer jus a isso, protegendo a mãe e a irmã. O bichinho cortou o cabelo (tentando se encaixar mais no conceito de masculinidade) e ficou feio. Espero que ele deixe o cabelo crescer de novo. Combina bem mais com o personagem. Enfim, voltamos ao presente. Ele está intrigado com uma aluna da sala, e nesse meio tempo sua irmã pergunta se pode jogar fora a barra de balé que estava no quarto parada. Nesse mesmo dia, a Miyako, a garota da sala dele, aparece em frente da sua casa e o arrasta para o estúdio de balé de sua mãe.

Um crime ele ter cortado o cabelo!!

Lá as coisas seguem de forma muito rápida. Passamos cerca de metade do episódio intercalando entre a escola e o estúdio de balé, com o protagonista indo lá todos os dias, mesmo dizendo que não tem qualquer interesse em praticar, apenas para provar para a mãe da Miyako o ponto de que ele é bom. Ele vai se divertindo com isso, mas aí seguem naquela linha de que ele não quer que seus amigos saibam, pois precisa manter a figura de másculo e descolado. As coisas vão estreitando e ele precisa fazer a escolha entre o balé ou sua insistência em tentar ser o que não é e até manter essa postura de atender papeis sociais. O episódio encerra nas vésperas de um concurso de balé e WTF??? É absurdamente rápido. Em um momento, ele começa a praticar aos poucos, no outro já precisa decidir se vai ou não competir porque está logo aí. E há de se lembrar que ele ficou anos sem treinar. Por mais que tenha noções e ainda praticasse esportes, é muito rápido para se adequar totalmente. É absurdo demais.

Pelo menos nesse trecho, temos momentos mais divertidos, principalmente quando a mãe da Miyako pega no pé do Junpei por sua postura errada e erros que ele comete.


Minha opinião sobre o protagonista vai desde ser um personagem ok, a irritante. Primeiro que ele pequeno é uma gracinha, muito fofo e tal. Segundo que ele na adolescência é um saco por duas coisas envolvendo o mesmo fator: eu não consigo comprar essa história de casalzinho dele com a guria da escola (Miyako). Tanto pelo roteiro que parece querer já estabelecer um casal que, até então, não teve o menor contato (e eles são completamente sem química), quanto pelo personagem querer desviar o interesse da garota ser COMPLETAMENTE pelo balé para algo mais a nível pessoal, com ela supostamente estando afim dele (delírios da cabeça da criatura). As piadocas de calcinha, tentativas de fazer humor com essas suposições de ela gostar dele, é tudo muito sem graça e sem sal. Podem dizer que são “coisas de adolescente” e é por isso mesmo que acho chato.

No demais, eu acho a narrativa muito simples. Isso não é um problema, mas me incomoda muito mais a velocidade que as coisas acontecem na série. Como eu disse, há uma série de nuances que poderiam gerar boas abordagens. Eu não preciso e nem quero que seja algo extremamente profundo ou revolucionário. Eu AMO “Runway de Waratte” que não é nem um pouco profundo sobre o mundo da moda. Visões positivistas de ramos que potencialmente são nocivos, são legais para mim, principalmente em temas mais fora da curva do que faz sucesso nos animes e de assuntos que normalmente eu não tenho contato. A série tem coisas muito batidas, como o aparente irmão da Miyako que não sai do quarto e provavelmente criará algum senso de rivalidade com o protagonista. Ele tem uma aparência de ser aquele cara mais frio e de poucas palavras, que provavelmente vai ter mais química com o protagonista do que o suposto casal JunpeiMiyako. O que pega mais é a forma que está sendo proposto aqui, porque no geral, ele tem muito do que eu gosto. Poderia ser perfeitamente uma que eu gostasse ao ponto de ser uma obra das minhas favoritas do ano.

O andamento do episódio é bom. Ele é gostoso de assistir, mas não desenvolve todo o potencial dos temas que levanta no roteiro. A animação está excelente, tendo um cuidado muito grande com o acabamento das mãos e dos olhos. Olhos esses que eu acho os designs belíssimos. Provavelmente a produção vai focar muito mais na polidez dos quadros em cenas cotidianas, deixando até mais estático, e focando mais a animação nos momentos de dança, que exige mais deles. A staff está com setores especializados para cuidar das sequências de danças para torná-las mais palpáveis e realísticas. A direção é boa, embora sinta que falta um pouco a mão para deixar as danças mais empolgantes e interessantes, como aqui tivemos só pequenos trechos. Não irei julgar ainda, mas espero que em sequências maiores, isso não aconteça. No demais, torço para que o cronograma esteja decente para que a animação que nos foi apresentada na estreia, continue nesse nível até o final (e sem funcionários sofrendo). Até para não esquecer, a abertura é MARAVILHOSA.

Eu gostaria estar mais animado para os rumos de “Dance Dance Danserur”, entretanto, no atual momento, não consigo fazer isso. Ainda recomendo darem uma olhada. Vi que foi do agrado de muitos amigos e seguidores do blog, e que pode valer a pena ver os 3 primeiros episódios.

O anime está disponível na Crunchyroll.

Veremos o que nos aguarda…

1 thought on “Dance Dance Danseur #1 – Primeiras Impressões

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