Em vez de FOGO FORÇA, está mais para brasa quase se apagando

O que podia ser um baita anime, teve seu potencial desperdiçado por decisões de roteiro péssimas e de uma sexualização feminina gratuita.

Uma produção PREMIUM para um enredo qualquer coisa

Não consigo associar os nomes de quem trabalham na indústria de animação japonesa com seus respectivos trabalhos. Se me falar que o “diretor X” vai fazer tal anime, certamente vai ter influência zero eu saber dessa informação na escolha de assistir ou não o anime em questão. A única coisa que eu sabia e que me animava bastante era a notícia que parte da staff desse anime era composta por ex-funcionários da Shaft. Então já sabia que uma qualidade visual e artística seria acima da média pela fama que o estúdio construiu na década passada. Ainda tendo essa expectativa boa quanto a produção, o que foi apresentado durante a primeira temporada de Fire Force foi MUITO ALÉM do que eu esperava. QUE ANIME LINDO.

A carga visual cheia de representações e significados em suas composições, uma fotografia absurda para elevar a beleza em cada frame, uns cortes cheios de animações fluídas (principalmente nas lutas) e um incrível ritmo de edição nas transições entre uma cena e outra. Admito que rolou um déjà vu enquanto eu assistia Fire Force por ter muitas semelhanças com as produções do estúdio Shaft (não é por menos, já que muitos foram animadores que começaram suas carreiras no estúdio). Não estou reclamando já que gosto muito do estilo “Monogatari” que foi empregado em Fire Force. Só estou ressaltando essa característica para quem quiser ver esse anime, mas que odeia o método Shaft de fazer animação, esteja avisado que a influência do estúdio está muito presente aqui.

E não é só de animação que se vive o anime. A direção e a OST do anime são espetaculares. A trilha sonora com batidas pesadas e uma orquestra de violinos com instrumentos de sopro para elevar o clima épico nas batalhas são fantásticas. As openings e as endings também acompanham na excelência. E a direção se esforça para elevar o material original, tentando artifícios para melhorar na medida do possível essa adaptação.

Eu estou enfatizando esse ponto porque, meu caro, o enredo é uma desgraça. Não foi culpa do roteirista, pois dá para ver que ele tentou o máximo para extrair algo de bom aqui. Mas não dá para tankar essa miséria de história. Em um comparativo mais próximo para tentar ilustrar o sentimento de assistir Fire Force seria: você ir numa concessionária, pagar por uma Ferrari lindona, buscando um veículo mais rápido do local, mas o vendedor FDP te vende um automóvel trocando o motor original por um motor de uma Brasilia de 73. Você vai ter o carro mais bonito da cidade, só que vai andar a 40 KM/H já no máximo da capacidade do motor (essa analogia é meio absurda, mas o sentido é esse).

O Evangelista, grande vilão de Fire Force, aparece pouco no anime.

Vendo os episódios, só fiquei pensando em como seria se essa equipe de produção pegasse um outro mangá que de fato, fosse superior e que combinasse com a sua excelência na execução. Vou dar dois exemplos de como é contrastante a “qualidade” do roteiro em contraponto com os elementos da adaptação. Tem um jantar que vai rolar em um dos episódios de comemoração ao sucesso do plano de conseguir informações sobre o grande vilão desse arco. E tipo, está rolando uma simples conversa sobre quem vai fazer o jantar. É algo mega banal e corriqueiro que nem tem destaque na maioria das obras por aí. Só que é quase o episódio inteiro nisso. As cenas cômicas da guria ficando pelada (já vou abordar esse assunto mais para frente), os diálogos fracos e sem aprofundamento, as cenas clichês de shounen, a demora desse trecho (longo para caralho), deixa as coisas muitos chatas e arrastadas. O problema que isso vem do original. Apesar que, com essa esquete do jantar temos duas informações importantes que serão abordadas mais para frente na história. Não tem como cortar esse pedaço. E aparentemente, tendo ciência da baixa qualidade desse segmento, o diretor tenta deixar o mais dinâmico possível essa sequência pavorosa de eventos. Mas se esforça tanto, que ofusca o que está acontecendo e você fica mais interessado pelas qualidades visuais do que com a história desinteressante que está rolando. Eles estão discutindo sobre quem vai fazer a janta em falas bizarras com uma direção pesada, com direito a diagramações exageradas nos frames, fotografia com alto contraste entre as cores e simbolismos visuais com comida e predação animal. No final, foram 10 minutos para decidir quem vai cozinhar com uma comédia de mau gosto com um visual e fotografia lindíssima.

A outra cena seria quando eles vão conhecer com o mecânico. Mesma coisa que acontece na cena do jantar. Nada acontece de interessante, personagens mais chatos impossíveis, sem carisma e um roteiro cheio de clichês, deixa tudo mais maçante e monótono. Praticamente, só ficamos na espera das lutas, PORQUE É O ÚNICO NEGÓCIO GENUINAMENTE BOM no roteiro. De resto, os elogios só ficam para as partes técnicas.

O anime todo tem uma puta fotografia, mas esse arco é chato para caralho.

Esse é o mesmo autor de Soul Eater???

Faço esse questionamento mais para tentar entender porque esse autor que é famoso por suas tentativas de fazer uma narrativa mais experimental e minimalista, ter regredido tanto com seu último trabalho. Dá muita a impressão que ele pegou uma cartilha para autores iniciantes de, “Como fazer um mangá Shounen tradicional! ”, e fez essa obra cheia de obviedades e com uma história previsível sem muita causa e consequência. Nem os personagens se salvam. Todos parecem copiados de algum outro mangá de sucesso e colados ali de qualquer forma. O Shinra que parecia fugir um pouco dos padrões de protagonista dos shounens tradicionais, na reta final tem sua personalidade esquecida junto com seu desenvolvimento, virando um tradicional personagem principal esquentadinho que tem um sonho megalomaníaco de salvar o mundo.

O que me faz ter outra dúvida. Ele está fazendo esse Shounen por que quer ou foi por não ter conseguido emplacar nada depois de Soul Eater? Porque ele está seguindo os exatos passos de um mangá quase cancelado. Mudança de ares repentina, transformar num mangá de porrada genérico, lutas acontecendo SEM MOTIVO ALGUM, personagens que mudam de ideologias só porque o povo curtiu seu visual ou simpatizou com ele e inserir fanservice gratuito para todo lado. É quase como grito de desespero para tentar ficar vivo com seu mangá se apoiando em regras básicas de como construir um mangá genérico. E FALANDO EM FANSERVICE…

Maluco teve o coração perfurado e horas depois está lutando sem motivo algum. TOP

Paródia é o CARALHO!

Vou tentar defender meu ponto com um exemplo. Imagine por um momento um comediante. Ele ficou famoso graças a uma única piada ruim. Só que ele é péssimo comediante e o público pede/insiste para que ele só se foque NESSA PIADA RUIM ESPECÍFICA (estilo Zorra Total e Praça é Nossa). Ela já é uma piada MUITO ruim. Agora pense essa mesma piada sendo contada EM TODAS AS APRESENTAÇÕES desse comediante. Já no segundo show, a piada PERDE TODA A GRAÇA.

Agora, imagina uma piada/paródia sobre o fanservice feminino (que paródia aquilo não tem nada que FIQUE CLARO) em TODOS OS EPISÓDIOS em que a Tamaki aparece NA PORRA DO ANIME!!! No momento em que você explora essa situação de “paródia” EXACERBADAMENTE, o objetivo inicial se perde. Que antes era para ser irônico ou cômico, passa a ser costume, normalizado, banalizado, sexualizado. E é bizarro ter esse tipo de “piada” fantasiosa de uma guria que perde sempre a roupa (crianças de 5 anos tem essa ideia imbecil), porque NÃO TEM OUTRAS PARÓDIAS NA PORRA DA OBRA. É a única releitura “cômica” que tem no enredo. NÃO TEM MAIS NENHUMA OUTRA NA DROGA DO ANIME. Que merda é essa de: “Vou fazer uma ÚNICA PARÓDIA no meu mangá sendo que tem UMA PORRADA DE OUTROS ELEMENTOS QUE EU PODERIA ZOAR nos Shounens!?” A Tamaki está ali cumprindo tabela para punheta de otaku. Não entrem nessa onda de Youtuber jumento que fala que isso é paródia, porque é bosta nenhuma. Só porque você é fã do autor, que deve aceitar qualquer merda que ele escreve.

Na real, todas as mulheres na obra são objetificadas de alguma forma e nas situações mais absurdas impossíveis. A Hibana que é uma FUCKING CAPITÃ luta de SALTO ALTO, COM POUCA ROUPA e tendo sua primeira aparição, pisando em homens numa tentativa de mostrar uma “mulher forte”. Novamente, só para punheta. Ou a Irmã do 8º batalhão que, conforme vai passando os episódios, cada vez mais ela está com a pele exposta. Mesmo tendo que entrar em ambientes com incêndios e chamas intensas, enfrentando Infernais que atiram mais fogo contra tudo e todos, ainda sim fica com a pele para fora para tomar aquela queimadura de terceiro grau bacana. FAZ TODO SENTIDO. LÓGICA PURA. Quem defende essa merda só pode estar de zoeira ou se finge de burro para ainda ter sua punheta mental diária.

Essas orelhas não fazem o menor sentido ela ter-las. Mais fanservice.

Mais alguns comentários sobre o anime:

Gosto da proposta inicial do anime. Um mundo onde temos a combustão humana que as transformam em Infernais (lembra muito uma possessão demoníaca) e temos pessoas que são as “exorcistas” que combatem esses seres utilizando o mesmo poder dessas criaturas que é o fogo. É criativo e intrigante para uma novo leque de possibilidades de rumos narrativos que poderia ter sido tomado se o roteiro conseguisse desenvolver isso. Porém, como já falei nos parágrafos anteriores, o autor não fez nada além do esperado de um mangá qualquer de baixa vendagem.

Acho irado a roupa do capitão do 8° batalhão. E é o único que se veste adequadamente nas situações que eles enfrentam no anime porque, como os demais personagens se vestem, não seguem nenhuma lógica de segurança ou não faz sentido algum (tipo a Tamaki abrir a blusa para mostrar o sutiã durante UMA LUTA deixando seu tronco exposto ao ataque de fogo. GENIAL.).

Não consigo gostar da explicação sobre a super velocidade do Shinra. É uma pseudociência que não funciona, já que o fogo ou as chamas ainda necessitam de influências naturais como o OXIGÊNIO para aumentar sua força e pressão. Além disso, é ignorado o atrito do ar sobre os corpos (que poderia ocasionar uma fissão nuclear com a velocidade atingida que foi mostrada e IGNORADA) e superar a velocidade da luz se torna impossível com a explicação que é dada no anime. Os demais poderes dos outros personagens seguem uma lógica boa e tem até sentido cientifico. Só esse do Shinra que foi uma conveniência do caralho para ele conseguir lutar de igual para igual contra seu irmão no final da temporada e ter seu poder reduzido no episódio seguinte para ele enfrentar o capitão de tapa olho que o salvou.

É incrível como a comédia é deslocada na obra. Muitas das piadas não encaixam na situação, resultando naquele momento de vergonha alheia ou de situações nada engraçadas que vira um tédio em vez de alivio e descontração.

Explosão agora é mais rápido que a velocidade da luz no anime.

Conclusão

Adoraria recomendar o anime por causa de sua qualidade técnica muito acima da média. Porém, você vai ter que colocar na balança. Para ver esse anime, você vai ter de aguentar umas paradas extremamente incomodas e relevar o roteiro fraco da obra. Se conseguir, certeza que você vai se divertir. Caso contrário, passe longe do anime.

2 thoughts on “Review de Enen no Shouboutai (Fire Force)

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