Uma estreia muito boa, superando as minhas expectativas

Uma estreia muito boa, superando as minhas expectativas.

SINOPSE: Após um acidente que amputou seu braço e a perda de seu pai em batalha durante uma luta contra os Gadoll, Natsume sonha em virar um Gears, que são guerreiros que protegem a fortaleza Deca-Dence utilizando equipamentos antigravitacionais para locomoção em combate.

Deca-Dence é um exemplo de como fazer um anime cheio de clichês, divertido e interessante ao mesmo tempo. Aqui a trama é bem simples e deixa claro que a obra vai ser uma mistura de ação e aventura, tendo uma atenção especial para a guerra contra os seres desconhecidos. Todo trecho inicial dessa estreia te contextualiza a realidade dos humanos viver escondidos enquanto fazem pilhagem e de como é precário/hostil a terra para sobrevivência. O flashback de quando a protagonista era criança, serve como uma apresentação rápida de sua personalidade. A Natsume é uma pessoa curiosa e que gosta de explorar o mundo desconhecido, já que viver fora da fortaleza está fora de questão. E obvio, toda a volta ao passado serve para a motivação da personagem em querer ‘lutar’ contra esses seres invasores. Só que temos algo a mais nas entrelinhas aqui.

Pode parecer ser uma história de vingança e que a Natsume está em busca de sangue para conseguir sua satisfação pessoal, porém o roteiro evidencia um outro ponto. A protagonista tem realmente esse ímpeto em virar soldado para a guerra, no entanto, com conversas com a amiga dela e com o Kaburagi, ela aparenta não ter magoas relacionadas aos Gadolls. Dá impressão que virar um Gears é uma desculpa dela para “sair” e explorar o mundo inabitado. A raiva da morte de um ente querido, que normalmente vira uma busca insaciável da vítima em matar a tudo e a todos, no caso da Natsume é o oposto. Ela própria está acostumada que Gears irão morrer prematuramente e que conviver com essa ideia, torna o seu sonho mais aceitável. Tanto que ela encontra um Gadoll pequeno, porém não mata por impulso. A garota o aceita de boas e Kaburagi questiona o porquê dela não matar aquele ser instantaneamente. Ela responde que virar um Gears é muito maior do que sua “vingança” pessoal. Me pegou de surpresa, visto que o anime dava uma pinta que iria para o caminho obvio na construção de roteiro e da motivação da protagonista nesse sentido. Particularmente, eu gostei da minha expectativa inicial ter sido subvertida.

E por falar nas motivações dela, o carisma da Natsume é enorme. Não gosto de personagens energéticos, mas ela não me aborreceu por ser tagarela. Na real, contribuiu ainda mais para seu carisma, tendo em vista que a relação dela com o Kaburagi vai ser o foco no anime. A química dos dois é excelente. Ainda é pautada naquele estereotipo de personagem caladão que esconde algo, com uma amiga ou pupila com adjetivos opostos e que o muda a visão de vida do personagem carrancudo à medida que o tempo passa. Da forma que foi construída essa amizade e como a Natsume foi ganhando afeição com seu superior, é de uma forma bem natural e orgânica. E tudo isso foi só no primeiro episódio. É disso que eu reclamei em The God of High School dessa temporada também. Lá eles não conseguem estabelecer nem o básico para elaboração de mundo e construção de personagens. Aqui em Deca-Dence, com os mesmo 20 minutos de episódio, já temos informações de como é o cotidiano daquela realidade destruída e suas regras, também conhecemos o local/fortaleza onde os sobreviventes da humanidade moram e sua organização social, e de quebra nos é apresentado os protagonistas com seus respectivos backgrounds e desenvolvimentos. Ainda temos uma luta excelente e muito bem animada no final só para fechar com chave de ouro. Isso que eu espero de uma estreia de anime. Apresentação de mundo e dos personagens, com um gancho no final para o próximo episódio. Deca-Dence acerta nesses pontos, deixando o espectador minimamente curioso sobre a origem desses inimigos desconhecidos, em primeiro momento.

O anime de Deca-Dence tem muitas familiaridades com outras animações (até porque o anime aposta em certas convenções conhecidas em diversas histórias feitas por aí). A meu ver, todo aquele equipamento de locomoção antigravitacional lembrou muito SNK pelos humanos enfrentarem inimigos maiores em quesito altura e usar esses artefatos para atingir os pontos fracos da criatura. Na parte da fortaleza, lembrou-me muito o anime Kabaneri em que o refúgio de sobrevivência é móvel. E não tem como lembrar de filmes de zumbis e invasões alienígenas nessa nova Terra cheio de perigos, com hordas de inimigo no modo “Kill Kill Kill”. Semelhanças nas estruturas do enredo, porém não me incomodou esse aspecto por eu achar que o anime tem um identidade própria, tanto visual como narrativamente. Então não vejo demérito para essa situação, como eu vi uma galera falando por aí do anime.

A produção me surpreendeu. Tipo, eu sabia que tinha o diretor de Mob Psycho envolvido e que o estúdio NUT (o mesmo de Youjo Senki) era responsável pela animação. Dava para prever algum grau de excelência, mas foi muito acima do esperado. A narrativa excelente, uma trilha sonora na medida, uma fotografia linda e uma animação cheia de fluidez e movimento, são um delírio para os olhos. Eu sei que o anime pode decair nos quesito técnicos daqui em diante, porém essa estreia merece esses elogios agora.

Recomendo?

Obviamente recomendo vocês assistirem o anime e darem uma chance a ele. Estou me baseando nessa estreia e posso me arrepender mais tarde conforme o anime for lançando os episódios, mas no dia 09/07/2020, Deca-Dence e Re:Zero foram os que tiveram os melhores primeiros episódios dessa temporada até aqui.

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