Um clímax perdido no meio do marasmo da história de Mushouku.
Olá pessoas! Estamos um pouco atrasados, pois no momento que está saindo esse post, o episódio 11 já foi ao ar. Relaxem que foi uma excepcionalidade e o próximo post de Mushouku será publicado daqui alguns dias. E como o episódio 10 foi o ‘auge’ da temporada, eu e o Alê estamos aqui novamente para discutirmos os acertos e erros nessa adaptação. Fiquem com a nossa conversa.
RUB: Alê, depois de todo um HYPE de ter sido o MELHOR episódio de Mushoku Tensei dessa segunda temporada da galera que gosta disso, quando finalmente fui assistir o anime, só fiquei pensando no quão exagerado e emocionado os fãs do anime são com essa obra. De fato está LONGE de ser tão ruim quanto os últimos 8 episódios passados, porém o capítulo 10 da segunda temporada não é nada de mais. A começar que tem ainda diversos erros sendo cometidos até nesse episódio. A começar que temos um flashforward de cara, mostrando a luta que vai ter no meio do capítulo. Precisava? Obviamente que não e parece que o autor não sabe utilizar isso direito (ou a equipe de produção, seja lá quem decidiu essa merda). Para começar, um flashforward é um recurso de ANTECIPAÇÃO para gerar ansiedade nos espectadores, como também fazer com que o pessoal que está assistindo crie DIVERSAS expectativas para aquele momento, como o porquê deles estarem lá ou qual foi as decisões que os personagens tomaram para chegar naquele ponto. Só que tem um detalhe. Esse recurso para surtir efeito, ele NECESSITA quebrar as expectativas do espectador, porque você está entregando um “spoiler” para a galera. Você ainda precisa manter entretido quem assiste, ao mesmo tempo surpreendendo ou subvertendo qualquer possibilidade pensada pelos espectadores, e em paralelo, exibindo algo lógico que faz sentido narrativo, porém dando a recompensa devida para quem assistiu, ache legal por ter sido “enganado” ou “de como faz sentido e como eu não tinha pensando nisso?”. Entende aonde eu quero chegar, né? Essa cena literalmente ESTRAGA todo o impacto da luta. Nenhum dos pontos que citei antes é feito com esse flashforward. Literalmente o roteiro entrega a cereja do bolo e o episódio que já não foi grandes coisas, termina ainda em um tom bem abaixo do quão dramático deveria ser o momento do Rudeus e da Eris feridos. Mas sem atravessar e pulando para o fim, ainda nesse começo tem duas coisas apresentadas e que eu odeio na história de Mushoku. A primeira é que o Rudeus continua o mesmo doente pervertido. A Eris está no auge da alegria pelo Ruijerd ter reconhecido a personagem como guerreira, e no momento que ela pede um beliscão, ele torce o bico de peito dela. Para quê? Além de ser um tom cômico para lá de deslocado, é gratuito demais. A piada não funciona e eu senti pena da guria, porque beliscão do bico do peito dói para caralho. Sabe quando alguém zoa outra pessoa, mas passa do limite e sentimos mal pela pessoa zoada? Mesmo sentimento aqui em relação a Eris. E a segunda coisa que eu odeio são esses diálogos NADA NATURAIS que entregam alguma informação relevante mais para frente. Lembram dos nossos comentários sobre uma pedra com inscrições no meio da estrada depois do arco da floresta ou de um cara avulso que encara um dragão na primeira temporada, e o bicho sai voando recuado, não fazendo sentido estarem ali inseridos? Como foram eventos isolados e que faziam MUITO TEMPO depois de terem passado, era óbvio, e necessário, que os personagens puxassem conversas expositivas para contextualizarem essas cenas, pois seriam importantes mais para frente no episódio.
ALÊ: Fã desses animes são assim. Vê brilhinho na tela, uma cena de ação bem feita e ficam: “WOOOOOOOW!!!!!!! MELHOR ANIME/EPISÓDIO!!!”. Mas falando sério, em vista de alguns episódios desastrosos dessa temporada (como os 2 primeiros), esse é até bom, mediano. Dividindo o episódio em duas partes, o principal problema da 1ª metade é aquele flashforward. MATA completamente todo o clima de tensão que a cena tem. Por mais que eu não goste da série e tenha MUITOS problemas com ela, não posso negar que aquele miolo estava bem feito. A direção boa, animação ótima, e os demais detalhes técnicos estavam bons nesse sentido. Mas eu ter o conhecimento prévio de que os personagens iriam se foder com o inimigo, destrói muito a construção da cena. Mesmo que não tivessem um ponto de virada para a cena da luta, poderiam só não ter mostrado TANTO do resultado do combate. Há muitas formas de se construir suspense, de instigar o público a querer saber como os personagens chegariam em um ponto X. Se tivessem deixado só o cara do Dragão encarando os três, focando em como eles estão com medo dele, já serviria, até mesmo porque, seria uma forma menos pior de puxar o assunto do cara que apareceu isoladamente em algum momento da temporada passada. E por sinal, eu nem lembrava mais dessa cena. Recordei quando começaram a falar dos dragões vermelhos. Nisso eu consegui puxar da memória. Os diálogos não são nem um pouco naturais. Entra novamente naquilo que já falamos do autor por vezes não conseguir ligar o ponto A ao ponto B de forma natural. Então ele cria momentos ou conexões convenientes, como aquele Deus idiota mesmo. É uma escrita bem pobre. Pelo menos essa primeira parte poderia ter saído com um saldo positivo, se não fosse por aqueles minutinhos iniciais que entregam tudo. E detalhe: não lembro direito, mas acredito que Mushoku nunca fez nada do tipo em todos esses episódios usar flashforward. Em um momento muito importante para a trama, ele vai e entrega as cartas de bandeja. Até mesmo porque, a gente sabe que os personagens não vão morrer, com exceção do Ruijerd. Dificilmente o autor mataria a Eris e muito menos o protagonista dessa bagaça. E no fim, fica bem claro que não dá para confiar nessa mudança do Rudeus. Ele pode até estar mais ‘contido’ em ser pervertido nesse sentido, mas mudar ele definitivamente não mudou. Continua sendo um merda e provavelmente seguirá sendo até o fim da obra.
RUB: Eu acho que os diálogos atrapalham demais. “Olha, somente um dos 7 mais fortes que conseguem matar os dragões.”. No minuto seguinte, um dos 7 aparece na frente deles. “Nossa, adoraria matar dragões.” Esses bichos não aparecem fazem vários episódios, mas por COINCIDÊNCIA, um dos 7 guerreiros que eles encontram é devoto do Deus Dragão. Sabe Alê, se essas informações estivessem sido diluídas nos episódios anteriores em vez de mostrarem cenas do Rudeus excitado com menores de idade, daria mais naturalidade aos eventos e suas consequências no futuro, não ocasionando estranhamento para quem assiste. Tudo brota na frente dos personagens de forma forçada para ser usada logo após e depois não sabermos para quê ou qual a finalidade disso. Por exemplo, por que caralhos esse maluco apelão estava lá? Para onde o Rudeus estava indo? Ele vai resgatar alguém ou a mãe? Está voltando para casa? Aonde eles estão? Sabe, falta essas informações de ligação entre os episódios para compreendermos tudo que rodeia os protagonistas. Além de EXTREMAMENTE CONFUSO a politica e a economia de Mushoku, agora também estamos perdidos em saber seus destinos ou objetivos. Tanto que reflitam comigo: QUAL FINALIDADE DO EPISÓDIO? Pois do jeito que foi mostrado, parece um filler. Pensem. Houve alguma consequência com essa luta contra esse cara fodão? Alguém morreu, cresceu ou aprendeu com a batalha? Algum dos lados saiu perdendo ou ganhou benefícios? Entendem que ter ou não ter essa luta não vai fazer diferença ALGUMA nessa história? Não teve impacto algum esse confronto. Só foi LORE jogado na cara, porque são personagens e nomes citados à moda caralha, que pouco importa o que está sendo mostrado, que o resultado vai dar na mesma. O trio principal entrou na luta de tal forma, e depois, mesmo com alguns ferimentos, todo mundo saiu do mesmo jeito que antes. Tanto que o fodão do súdito do Deus Dragão sai ileso e IGNORA a existência de geral, os deixando para trás. Alê, não temos nada sendo estabelecido. Foi uma luta bem animada e só.
ALÊ: Sim! E isso que mostra bem a pobreza do autor, porque parece que a história está sendo feita sem pensar nos detalhes. Aparenta que ele tem a estrutura principal de onde ele quer chegar, mas o ‘corpo’ textual que valoriza o todo, é feito sem planejamento, ou sem pensar muito mais adiante. Aí o resultado disso são esses diálogos nem um pouco sutis, que os personagens comentam entre si sobre A e logo em seguida acontece B. E não é nem pontual. Durante toda a série até aqui tivemos diversos momentos assim. E sim, a cada episódio eles estão em um canto. Eles só seguem um caminho e pronto. Não parece ser exatamente direcionado, como por exemplo, por que subir a montanha? Precisa MESMO passar por ali? Ainda mais considerando que teriam que subir TUDO para descer ela inteira. Não daria para, sei lá, dar a volta??? Quando é conveniente os personagens comentam sobre o caminho, mas até nisso é para alguma situação que vai acontecer um pouco mais a frente e quem está assistindo precisa saber daquilo antes que aconteça. Tanto que é esse um dos motivos por não termos noção de tempo. É completamente perdido a passagem temporal. E sobre o motivo do cara estar na montanha, realmente, é uma lacuna que fica, porque se pensarmos que é um caminho, para onde ele estava indo? E fica pior, porque ele cura todo mundo por causa do que aquela garota falou. No fim das contas, não valeu de nada. Esse trecho soou mais como uma grande desculpa para o Rudeus ir falar de novo com o Deus dos spoilers da série, para tirar suas dúvidas, e consequentemente, expor informações do roteiro. E maluco, que parte CHATA. Eu não suporto aquele Deus, principalmente quando tentam fazer comédia com ele e o ainda tem melodrama do Rudeus ali que fica horroroso. O que pode se tirar de “importante” do encontro do Rudeus com o cara, foi saber que ele é forte e está atrás do outro deus para matar. Causa e consequência nós não tivemos. Foi mesmo para criar esse embate entre os dois personagens e o Deus branco expor coisas que o autor não saberia encaixar naturalmente. Fora aquela sensação de que ele queria passar um ar “mais sério” para a narrativa, porque “Meu deus, sangue!!” , “Uah, perigo” ou coisas do gênero. Foram 20 minutos de episódio para uma coisa que em suma, podia ter sido retirada da história. Ah sim, sem esquecer de que claro, a Eris quem iria se sentir culpada por não conseguir fazer nada.
RUB: Até para completar minha explicação acima, minha reclamação não é do fato de não termos consequências ou de não estar acontecendo nada na história. Slice of Life tem essas propostas de trabalhar o cotidiano do elenco e construir uma história a partir daí. O meu problema é de não ocorrer nenhum evento importante em uma PORRA de um anime fantasia. A trama anda em circulo e que aparenta em não progredir a lugar nenhum. As únicas coisas relevantes são falas isoladas dos personagens em que o espectador deve fazer UM ESFORÇO GIGANTESCO para conectar com outros elementos inseridos no modo foda-se, para assim gerar algum interessante nessa história. Por exemplo, esse maluco com poder dos dragões, parece que ele atingiu um certo nível de divindade em que esse cara pode ver o destino de todo mundo. É bem claro quando esse maluco fala: “Estranho… O Paul era para ter somente 2 filhas.”. Dá a entender que o futuro do pai do Rudeus mudou quando o Deus dos Homens mexeu nas coisas para o protagonista renascer nesse corpo e naquela família. Ou quando esse Deus dos Homens se diz como “bonzinho” na história, mas que vendo por todos os ângulos, ele certamente é um cuzão que fez merda por aí e todos os Deuses querem matá-lo. São essas deixas que esse autor de merda podia explorar para aprofundar mais nas coisas, entretanto ele fica no superficial ou sequer abordar esses temas de forma apropriada. Diversas coisas acontecem em background e não vemos, e quando as consequências ou as merdas brotam na história, dá uma sensação de lacuna/buraco nas informações que nós, espectadores, precisamos para entender todo o contexto ou termos empatia com seus dramas. A ‘morte’ do protagonista mesmo foi anticlimática para caralho. Ele conversa com o Deus dos Homens sobre o valor da vida, de como vemos o ciclo natural da morte, da oportunidade de renascimento, tempo restante ou do azar que por causa de um deslize pode custar tudo e te levar do céu para o inferno. Só que para aí. Essa conversa começa e vai para lugar algum. Esse Deus além de dar spoiler, ele não diz NADA com nada, sempre falando coisas incompletas ou dúbias, não dando nem dicas do que ele quer fazer. É muito ruim isso. Aí chega no final que era para ser emotivo, só cria um distanciamento emocional com a maioria do pessoal que assiste, só tendo como elogios o valor de produção técnica quando a Eris treina com Ruijerd ou da luta do trio com esse cara do Deus do Dragão. Nesse ponto Alê, estou cagando para a história, pois o autor está fazendo a mesma coisa que já fez antes. Semana que vem estará lá eu, assistindo mais enrolações do que resoluções nessa trama vazia que não desenvolve nem o protagonista ou qualquer arco de forma decente. Mushoku é um anime incompleto narrativamente falando.
ALÊ: Sim, eu acho que Mushoku se perde um pouco no que ele te propõe inicialmente. Não é ruim ter esses momentos de respiro, mas acho que a obra faz nos momentos errados e pior, são por vários episódios. E como o anime está tendo que estender algumas partes do original para parar em um ponto específico da novel, gera ainda mais aquela sensação de que você está dando voltas em um círculo e que nada muda ou quase progride. E nem é sensação, porque é real esse fato. Poucos episódios dessa temporada realmente CAMINHAM e mesmo nesses que andam, tem uma gordura enorme para preencher sua duração. O arco para resgatar a empregada e a filha dela (já esqueci os nomes), foram dois episódios para algo que facilmente poderia ser UM capitulo. E é exatamente o que você disse. Mushoku perde MUITO TEMPO em coisas inúteis, sem importância ou que poderiam ser resumidas, e deixa de lado eventos importantes, falas que fazem ligações, além de deixas para explorar o próprio mundo. Pessoal gosta de elogiar a construção de mundo de Mushoku, mas em geral, acho o enredo um puta desperdício de algo que realmente poderia ser interessante. Lá no primeiro episódio da série, nós elogiamos como foi feito o aprendizado do personagem, de como estavam sendo conduzidas as informações dos acontecimentos ao redor do personagem e como ele ia lidando com essas novidades, mas basicamente depois dali, quase não temos momentos como esse em que a construção é bem feita. Às vezes eu sinto que o autor quer filosofar, só que não consegue fazer isso, aí ele solta umas frases aleatórias e acha que está sendo reflexivo. Narrativamente, Mushoku tem diversos buracos que o autor esquece de preencher (ou sequer se importa), além de perder diversas oportunidades para se aprofundar na trama. Perde tempo fazendo “piada” com assédio, ao invés de continuar com a narrativa.