Uma comédia de 2 protagonistas inexpressivos, e que funciona.

Uma comédia de 2 protagonistas inexpressivos, e que funciona.

Semelhante ao Alê, estou atrasado com vários comentários dos animes dessa temporada, mas tentarei aproveitar o pouco tempo livre disponível e escrever as minhas considerações dos animes que estou vendo. Vou começar com essa comédia, Aharen-san, que não estava esperando muita coisa, porém foi uma boa surpresa.

SINOPSE: Reina Aharen é uma garota baixinha e tímida, que não sabe medir muito bem que distância deve manter das outras pessoas. Raido é seu vizinho de carteira, mas sempre sentiu que Aharen era muito distante dele. Um dia, Raido devolve à garota uma borracha que ela havia derrubado, e de repente eles ficam super íntimos?! Aharen é imprevisível – sempre distante demais ou próxima demais, o que torna o relacionamento deles um tanto… “imensurável”. Uma comédia romântica sobre o amor está prestes a nascer! Fonte: Crunchyroll

Antes mesmo de assistir o primeiro episódio, estranhei o character design dos protagonistas. O Matsuboshi tem cara de um empregado de escritório com seus 30 anos e a Reina aparentava ter no máximo seus 12 anos, com cara de que ainda estava no meio do ensino fundamental. Eu estava com um puta receio que seria aquele tipo de obra que jogam baits para otakus que curtem lolis e garotas com essa aparência, sendo um saco acompanhar esse anime semanalmente. Mesmo depois descobrindo que ambos são colegiais, o meu receio ainda persistia pelo meu desconhecimento sobre do que se tratava Aharen-san. Graças a Deus que a história não é isso e se foca completamente em momentos cômicos e inusitados entre os 2 personagens.

Até demorei um pouco para entender um pouco da proposta dessa comédia, porque a introdução acompanha a visão do Matsuboshi. Quem assistiu, sabe que esse tipo de personagem que não mostra suas emoções é muito arriscado e que seu carisma depende de outros fatores além de sua personalidade. Foi até diferente o autor começar a obra justamente com um personagem que apresenta poucos elementos que conquistem o público geral de maneira rápida. Se o personagem não tiver nada a mais para mostrar além do estereótipo, fudeu, pois será uma chatice sem fim. E ao saber que o Matsuboshi quer fazer amizades e recomeçar uma nova vida no ensino médio, esquecendo do seu passado recluso socialmente, dar uma nova cara para esse arquétipo, porém ainda era necessário um algo a mais além de sabermos suas motivações. Aí que entra a Aharen-san, outra personagem que não tem habilidades sociais avançadas, e que busca o mesmo objetivo do Matsuboshi de ter amigos, mesmo que suas atitudes afastem as demais pessoas. E como o Matsuboshi é uma pessoa muito racional e literal, torna essa comédia e dinâmica envolvente, em que como esses protagonistas que não sabem reagir a diferentes interações sociais e em como irão se comportar a partir do que pensam cada um sobre como manter uma amizade com o outro.

O que mais gostei, em especial, foi da Aharen-san, por justamente ela ser bem sem noção de como se comportar em relação a proximidade física ou de como ela acha que o Matsuboshi quer como resposta aos seus questionamentos. Além da personagem ser extremamente carente, mas sem ser chata, ela apresenta uma total falta de tato com a realidade que a rodeia. Se o Matsuboshi perguntar sobre um lápis, ela vai pensar que ele precisa adquirir dezenas desse material de cores distintas em busca de satisfazer seu desejo, sendo que na realidade foi só uma maneira do protagonista teve como ideia para puxar um assunto. Essas situações inesperadas que conseguiu me arrancar vários sorrisos enquanto assistia essa aos 3 primeiros episódios.

As interações entre os 2 personagens foram maravilhosas graças a química que ambos, mesmo não apresentando tanta expressividade facial, conseguem transmitir intensamente durante esse começo. Tem momentos isolados que são pontas deixadas para que talvez sejam assuntos a serem trabalhado, como a Aharen-san de fato não ter uma sensibilidade sobre o que pode ou não fazer com outras pessoas, mesmo que sejam amigas. Qual o limite do espaço pessoal de cada um e como saber o que o outro não gosta? Essa personalidade dela é um problema antes, mas o que pode ser feito para que não se repita? E quais foram as marcas deixadas por esse abandono que a personagem sofreu das amigas nos anos anteriores? E mesmo que essas questões não sejam tão aprofundadas mais adiante na trama, são coisas que compõe a persona da Aharen-san, servindo como um background e justificativa da personagem agir de uma forma tão acanhada em certos momentos, mas que em outros é quase um chiclete nas pessoas que ela considera como amigas.

Além disso, a Aharen-san parece pertencer a uma família influente, pois em um dos trechos do anime, ela bate palma, como estivesse chamando um empregado, surge um maluco do nada e lhe dá algo que ela necessitava naquele momento. A Aharen-san será uma personagem que terá outros pontos de sua vida pessoal a serem trabalhados e assim fortalecer seu vínculo emocional com Matsuboshi. Inclusive, tem até momentos bem fofinhos, como o Matsuboshi aceitando esse lado carente da Aharen-san e que ele será o seu “suporte”. Obviamente tem uma piada na sequência dela cansada, desmaiando de sono no colo do protagonista, ou quando a amiga da protagonista pensa que o Matsuboshi está explorando sua amiga de infância e que precisa protegê-la, porém ela mesmo é bem medrosa e vulnerável, também rendendo momentos engraçadinhos. São trechos genuinamente merecedores de elogios.

O que não posso dizer o mesmo é do ritmo da adaptação. Diferente do anime de Shikimori-san (também será comentado no blog), o roteiro não conseguiu ocultar as transições de um capítulo para outro do mangá no anime. Muitas vezes é uma quebra de tom e de narrativa muito brusca, deixando quase claro onde um capítulo termina e o outro começa do original na adaptação. Beira um trabalho de roteirista iniciante que erra em como transpor o conteúdo de uma mídia para outra, mudando o que for necessário para que faça sentido no outro modelo midiático que está sendo feito. Realmente me incomodou para caralho essa parte. Outros aspectos da produção, como direção, animação, trilha sonora, edição e tal, fazem o mínimo necessário e não comprometem o anime.

Mesmo com baixas expectativas, consegui me divertir com o anime Aharen-san wa Hakarenai. Por ser uma obra de comédia, é bem complicado cravar uma conclusão de forma geral se recomendo ou não a adaptação. Como cada um acha engraçado de diferentes formas, então digo para o pessoal que ainda está com dúvida de assistir ou não Aharen-san, pelo menos testem os 3 primeiros episódios. Se não achar graça de nada, melhor dropar e tentar ver outro anime de comédia, porque nessa temporada, o que não vai faltar é opção de obras desse tipo sendo lançadas.

O anime está disponível na Crunchyroll

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