Pensei que seria uma bomba, mas novamente fui surpreendido.

Pensei que seria uma bomba, mas novamente fui surpreendido.

Para quem acompanha o blog há muito tempo, sabem que um anime merda lançado a cada temporada, terá uma boa chance de eu ou o Alê (ou ambos, porque para que sofrer sozinho, né? xP) comentarmos aqui no blog. Tem alguns piores que outros, porém sempre procuramos tentar passar a nossa experiência de assistir tais atrocidades de uma forma bem explicativa, com a nossa marca e honrando, obviamente, o nome do blog, apontando todos os defeitos que notamos ao consumir tal história. E eu jurava que seria o caso de Otome Game Sekai wa Mob ni Kibishii Sekai desu, porém estava enganado. Explicarei de forma mais detalhada ao longo do texto. Então vamos lá.

SINOPSE: Um assalariado usa seu conhecimento de jogos otome após reencarnar num mundo conhecido! Fonte: Crunchyroll

Se você leu a sinopse antes da estreia do anime e detesta essas obras em que otakus incels gostam, como Mushoku ou Goblin Slayer, certamente ficou com o pé atrás com essa história (até porque temos o anime do Herói do Escudo nessa season e sempre dá para suspeitar dessas sinopses que não dizem muita coisa). A começar que a obra iria trabalhar com a inversão social dos gêneros. Onde os homens eram predominantes no controle do poder político dentro do jogo, agora essa função é feita pelas mulheres. Só essa proposta já tem cara de dar muita merda, pois isso podia escambar para um lado em que enaltecesse a figura masculina ou até fortalecer a visão de inferioridade que as mulheres têm na nossa realidade, como só fazem coisas errada e que são muito emotivas em tomar decisões difíceis. Além disso, toda essa parada de que o protagonista masculino irá TENTAR acabar com esse modo de governo por ODIAR otome games, já era um prato e TANTO para ainda mais os diversos preconceituosos fossem reforçados em diversos discursos de otakus que que mulheres gamers só jogam esses tipos de jogos, e não aqueles de gêneros mais “hardcore”.

Então já comecei com esse medo e estava me preparando mentalmente para xingar o anime usando qualquer deslize que podia acontecer. Detalhe: assisti os 3 primeiros em sequência, assim já tenho uma noção melhor de qual temática a história irá focar (e que veio a calhar, pois o primeiro episódio foi só algo introdutório para aquele mundo virtual). O anime inicia contextualizando a vida anterior do protagonista. Um cara que estava de férias, foi importunado pela irmã que queria alcançar um final especifico em um jogo destinado para o público feminino, só que iria precisar de centenas de horas de gameplay para atingir seu objetivo e ela não teria tempo por estar com compromisso marcado com outros amigos. O Leon irritado por estar jogando esse Otome Game de baixo orçamento e quebrado em suas mecânicas e conceitos, varando dias e dias até conseguir o final verdadeiro, lembrou que precisava comer. Desmaiou enquanto descia a escada, morre e renasce nesse jogo que ele detestou. Até aí, tudo ainda podia dar muita merda e gerar aquele Chernobyl que eu ‘tanto’ adoro.

Porém, nesse segundo terço do primeiro episódio, o anime apresenta de fato o que se propõe, e não é NADA do que eu imaginava do que seria. Primeiro ponto: a motivação do personagem. Esqueça essa parada de vingança, porque o protagonista está CAGANDO E ANDANDO para o que aconteceu na vida passada. Ele só quer uma vida sossegada no campo e quer evitar AO MÁXIMO qualquer coisa em relação as demais pessoas importantes desse reino, que na teoria, são os VERDADEIROS protagonistas daquele mundo. Segundo ponto: a questão da inversão de gêneros no poder social. Esse aspecto só acaba servindo para que o Leon tenha que sair de sua zona de conforto, em busca de fugir de um casamento arranjado que sua madrasta montou. Não é uma piada ou crítica ao feminismo. Só foi algo “programado” pelos desenvolvedores desse game que eram péssimos roteiristas, que só servia como empecilho e obstáculo da protagonista do jogo (Olivia) decidir com quem fica no final. Nada além disso. E se não fosse essa parada de domínio feminino no poder, o Leon iria morrer naquele campo, tranquilo e sossegado. Em resumo, esse lado de mudanças sociais em relação a nossa realidade com mulheres tomando decisões importantes, não irá servir muito além de um background daquele mundo, que em sua essência, já é bagunça do caralho. É reino medieval, naves espaciais, ilhas flutuantes, seres mitológicos, robôs…. Esse mundo desse game é uma salada de frutas por completo. Até dá para entender a raiva do Leon enquanto jogava essa gameplay e nada fazia sentido.

E terceiro ponto: ele ter conhecimento do mundo desse Otome Game. Como era esperado, o protagonista saber o que precisa ser feito e onde fica os tesouros, facilitou bastante o seu objetivo de uma vida tranquila. Olhando por esse lado, o Leon quer de qualquer jeito que sua vida seja a mais pacifica possível, evitando ao máximo qualquer coisa que o possa tirar de sua rotina tão desejada. Eu diria que esse personagem é muito parecido com a Katarina de HameFura. Já que ganharam uma nova chance no jogo que lhe familiar, irão fazer ações para que nenhum destino trágico os atinja. Sério gente, esse anime está mais para um slice of life cômico do que um isekai de aventura com um protagonista EDGY E TREVOSO buscando vingança. A sinopse e o trailer te levam para um caminho TOTALMENTE ERRADO do que é a proposta. Depois de ter visto os episódios, até diria que a propaganda foi feita de maneira toda equivocada. Se tivessem deixado claro o teor da história e que quem gosta de HameFura também iria curtir a obra aqui, talvez chamasse mais atenção do pessoal em assistir o anime. A partir do próprio segundo episódio só reforçou em como erraram a mão na divulgação da obra aqui.

O Leon agora, mesmo virando um aventureiro muito rico, ele só vai ganhar sua liberdade se tornando um nobre. E não tem jeito se não for frequentando a mesma escola, no exato mesmo ano, em que se passa o jogo que ele zerou antes de morrer. Evitou ao máximo, porém se fudeu mesmo assim e terá que escapar de todas as flags que ele sabe que vai acontecer, tendo finalmente a sua tão sonhada recompensa de ter uma vida sossegada no campo com família e filhos. Teve uma coisa que eu gostei, foi que os eventos não estão acontecendo iguais que no game. Situações estão surgindo e sempre tem algo distinto em todos eles. No primeiro momento, o Leon até não liga para isso, porém muda tanta coisa, que as consequências disso estão aparecendo em seu entorno. A Olivia mesmo em que no game seria protegida do bullying por algum príncipe daquela história, nessa realidade ela ainda continua sendo agredida tanto fisicamente quanto psicologicamente diariamente. E como o protagonista ainda mantém sua moralidade da vida passada, e mesmo achando a Olivia detestável, o Leon a ajuda, mesmo que a contragosto, pois mesmo ele não sabendo o que está acontecendo, precisa fazer alguma coisa com essa injustiça. Até mesmo a Angélica, antagonista da Olivia no jogo, está sofrendo com certos eventos e que afetam seu status de líder do corpo discente.

Ao que parece, esse vai ser o plot do anime, em que o Leon não sabe muito bem o que está acontecendo e enquanto investiga para saber o que está rolando, vai tentando não se envolver com esse grupo de pessoas que podem o prejudicar seu futuro. Tudo indica que é a garota que não estava no jogo originalmente que está modificando o rumo de todos os príncipes que eram pretendentes da Olivia (inclusive, já tomei spoiler de quem é essa garota). Essa jovem é uma reencarnada e também está manipulando as mecânicas conhecidas para benefício próprio. O que dá para deduzir com mais certeza que ela será a vilã dessa história, o que corrobora com uma das imagens promocionais em que ela está sentada no centro com um ar de superioridade e todos os príncipes estão em sua volta.

Apesar de dizer que Otome Game Sekai wa Mob ni Kibishii Sekai desu pareça muito com HameFura no quesito roteiro, as semelhanças cessam por aí. A produção do anime como direção, animação, character designs e trilha sonora estão bem ruins. Inclusive a animação está derretendo aos poucos, passando a impressão de pouco investimento e que todo esse projeto pode desmoronar a qualquer momento. Nem falo de quadros estáticos ou da ausência de cores mais vividas nos frames (parece que tem um filtro permanente de baixo contraste) e sim de como essa adaptação está sendo feita. O roteiro é bem simples, porém não existe um esforço ou qualquer tipo de entrega em potencializar certos momentos, como a ‘segunda’ morte do Leon. Parece algo feito no automático, sacas? Um negócio que não apresenta muita inventividade ou criatividade, apostando no seguro e não pensando na melhor forma de transpor essa história para mídia audiovisual. Uma pena.

Sempre tento buscar recomendar os animes e destinar para qual público tal obra pode funcionar. No caso de Otome Game Sekai wa Mob ni Kibishii Sekai desu, não consigo dizer com exatidão para quem o anime irá ser bom. Até diria para quem gosta de HameFura, talvez também gostem daqui, entretanto, os diversos defeitos na produção, tiram um pouco do brilho que o roteiro podia trazer nessa abordagem. Eu consegui me divertir vendo, mas reconheço que não é um anime que será um destaque e que talvez só sirva para quem tiver disponibilidade nos horários para assistir ou que goste de histórias nessa temática. Caso contrário, pode deixar Otome Game Sekai wa Mob ni Kibishii Sekai desu de lado e ir ver um outro anime.

O anime está disponível na Crunchyroll.

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