A estreia poderia ter sido mais Shokante se...

A estreia poderia ter sido mais ‘Shokante’ se…

Depois de alguns dias sem fazer impressões de animes devido a um certo imprevisto, vamos falar de “Shokei Shoujo no Virgin Road”, que até o momento, facilmente se mostrou uma das melhores estreias da Temporada de Primavera! O episódio ainda poderia ter sido mais ‘Shokante’ (parei), se não soubéssemos de detalhes da premissa da série.

Sinopse: “Os “Errantes” são viajantes que vêm de um mundo distante, conhecido como “Japão”. Ninguém sabe como ou por que eles deixam suas casas. A única certeza é que eles trazem o desastre e a calamidade. O dever de exterminá-los sem remorsos cabe a Menou, uma jovem Executora. Quando ela conhece Akari, parece ser apenas mais um trabalho… até que ela descobre que é impossível matar esta garota! E quando Menou começa a procurar uma maneira de derrotar essa imortalidade, Akari fica mais do que feliz em acompanhá-la! Assim começa uma jornada que vai mudar Menou para sempre…”


RUB: Alê, depois de uma pausa imprevista por causa de N motivos, além do WordPress termos nos fudido nesse começo de mês, voltamos com os nossos comentários colaborativos comentando sobre os animes da temporada. Já adianto que iremos conversar sobre uma obra que eu não conhecia e só soube de sua existência a partir de comentários de amigos e seguidores do blog que falavam bem da história. Iremos falar sobre Shokei Shoujo no Virgin Road. Até para quem leu a sinopse no começo dessa postagem e viu a estreia, sabe que esse texto de apresentação sobre o enredo entrega (até demais) a primeira reviravolta na trama, quase sendo um spoiler. Vou indo com calma e vocês irão entender meu argumento. Quero desatacar primeiro a introdução desse episódio. A direção tenta empregar um clima bem “genérico” que a maioria dos isekais lançados nos últimos apresentam. Começa mostrando um colegial comum e pouco confiante, que acabou de ser teletransportado para um novo mundo. Na real, ele foi invocado por um reino para ser uma espécie de arma contra as nações inimigas. Esse aspecto deve ser aprofundado mais adiante, mas que já sabemos o objetivo desse ritual todo. Vendo que esse garoto não era útil, o dispensara e só mandaram um: ‘Te vira moleque’. Aí surge uma sacerdotisa bela que promete ajudá-lo de sua atual situação. Alê, esses 3 minutos iniciais, TEM MUITO CARA DE ISEKAI PADRÃO. Temos um possível protagonista sem grandes qualidades ou características marcantes, e que surge MAGICAMENTE o seu “par” romântico que será seu guia ou pretendente para um futuro harém qualquer. Esse começo quer te enganar que essa amizade ou que esse mundo será um novo recomeço para o moleque. A sacerdotisa, Menou, se esforça em apresentar as coisas básicas daquele local, que o contextualiza do motivo dela saber falar japonês, de como funciona os poderes políticos e suas divisões, economia, assunto sociais… A Menou é literalmente o primeiro personagem de algum game de RPG japonês que você conhece e que servirá como ‘tutorial’ das regras para o novo jogador, que é no caso o recém invocado. Mesmo nesses diálogos que aparentam serem apenas explicativos para o ‘personagem orelha’ e para quem assiste o anime, dá para ficar um pouco desconfiado pelos temas abordados e da forma como ocorrem. A Menou sempre está perguntando algo para o garoto, como se estivesse procurando, investigando ou querendo informações privilegiadas que ele possa saber ao ter frequentado os aposentos reais. Tanto que ela fica quase aliviada quando suspeita que o garoto não irá ter poderes. Como eu disse no começo desse paragrafo, para quem não leu a sinopse ou não conhecia a novel, com certeza a reviravolta dela matar o colegial foi algo inesperado. Mesmo eu sabendo só do básico, foi o suficiente para os meus níveis de desconfianças serem ativados. Nessa primeira parte, eu tinha certeza que daria alguma merda por ter ido atrás de informações que foram divulgadas pela staff e que acabou estragando um pouco a minha surpresa quando a Menou enfia uma faca no crânio do jovem genérico que tinha sido invocado.

ALÊ: Sim, faz meses desde a última postagem colaborativa que fizemos. Era para termos voltado antes, mas como você mesmo disse, uma série de imprevistos atrapalharam. Pelo menos nosso retorno será belo e moral com essa excelente estreia de “Shokei Shoujo no Virgin Road“. Eu pouco sabia da obra antes da estreia. Uma seguidora do blog (Erika), pediu para que o blog ajudasse na divulgação da obra e ela tinha me garantido que o original era de muita qualidade. Assim decidi entrar nesse barco. Comentei das edições internacionais da novel em momentos distintos até a estreia do anime, e realmente era de muita qualidade! Como normalmente não leio sinopses, as poucas coisas que eu sabia da série eram: é um Yuri, a protagonista tem alguns poderes, as proporções da personagem nas ilustrações da novel me deixavam extremamente agoniado, além de ter visto algumas poucas cenas dos PVs (normalmente não assisto todo, pois gosto de ir na surpresa) e os visuais. Sabendo que se tratava de um Yuri, imaginei que aquele guri estava apenas sendo usado para introduzir o mundo e nos levar ao ponto principal ou a personagem principal da série. Gosto de como montaram a introdução. Como você pontuou, usam o garoto para brincar com os clichês extremamente batidos de isekais: o protagonista tem design genérico, é invocado para outro mundo, acha que será aclamado e não é. Até a Menou acaba entrando nessa brincadeira do roteiro, sendo uma personagem “mansa”, boazinha, que em obras padrões, facilmente viria a ser o par romântico do protagonista. A partir do momento que os dois sentam no banco para conversar, é que começam os destaques da estreia. O roteiro segue com a falsa montagem de isekai genérico, enquanto vai estabelecendo coisas importantes do mundo. Ali sabemos que a segunda camada da sociedade (nobreza, soldados, reinado) invocam pessoas corriqueiramente para usá-los como armas. Os que veem que terá serventia maior, eles mantém no castelo, enquanto que os demais (pelo menos nesse momento da história) são expulsos. A outra camada e topo da sociedade, a qual a Menou se encaixa, é da Igreja. Nesse interim, ela já deixa no ar que as relações de reinado x igreja não vão bem. Eles aparentemente travam uma certa disputa e até vão contra ideais que cada um defende, o que vai te instigando a querer conhecer mais do que de fato acontece naquele mundo e a potencialização dessas discussões, ou o quanto tudo é afetado por isso, se existem outras configurações… Além disso, outros pormenores também soam interessantes, como a cultura japonesa já ter se misturado fortemente àquela sociedade, dada a quantidade de nipônicos sendo invocados. São todos detalhes que vão deixando a gente instigado a assistir. A reviravolta do meio do episódio teria sido um puta impacto para mim se eu não soubesse que a Menou matava pessoas. Mas ainda assim, você tem uma linha bem demarcada na ora da virada. A construção daquele momento favoreceu para que mesmo eu sabendo dessa informação, ainda me tirasse uma reação. Não de surpresa, mas de empolgação(!?). Era o momento em que a trama passaria para um outro olhar, outra perspectiva. O momento em que a história de fato começava.

RUB: Esse que é o aspecto mais marcante em Shokei. Vamos acompanhar a ótica de uma personagem que já vive naquele mundo mágico, e não de um ser humano da nossa realidade que foi teletransportado para lá. Só aí a história já se diferencia dos demais isekais de temporadas anteriores. Tem toda uma parada de que esses ‘Perdidos’ são um problema para aquela dimensão. Na maioria das vezes, ao que dá a entender, um invocado cria ou aprende ou ganha poderes imensamente destrutíveis, em que se sai do controle, pode dizimar uma região com facilidade. Mostram uma ocasião parecida em um dos flashbacks sobre a Menou mais adiante no episódio. A existência forçada de seres de outros mundos traz consequências que fizeram com que aquela sociedade passasse a considerar a invocação dos japoneses como fosse uma espécie de tabu, que não pode nem ser cogitado usar esses poderes para quaisquer finalidades. E como você citou, essa segmentação entre os 3 poderes (Reino, Igreja e Povo) será muito importante, em que 2 desses grupos estão em uma guerra velada de quem comanda o conhecimento dessas “armas” de destruição. Até a Menou passa um ar de como fosse treinada a seguir apenas ordens e lemas bem direcionados da igreja. Lembra muito uma espécie de doutrinação em que os líderes empregam nos seguidores suas ideias de demonização desses Perdidos. É mais fácil a pessoa desumanizar o inimigo para que o sentimento de culpa não surja em sua mente. A protagonista quando mata o moleque, tem todo um ritual de purificação, porém suas palavras não são reconfortantes para aquela alma, pois ela tenta se convencer que essa pessoa morta não tinha mais controle de si e que foi algo necessário. Tanto que ela não se culpa e que vive afirmando que é ainda uma sacerdotisa pura. Aliás, mais um ponto para a produção que deixa dúbio as intenções desse moleque. No inicio parecia que ele era humilde e tal, porém no momento em que o personagem ganha os poderes, parece que já se iniciava uma mudança de comportamento nele. Momentos antes de sua morte, ele até diz: ‘Derrotarei todos que aparecerem no meu caminho’. Não é algo que uma pessoa diria se tivesse com a ética pessoal certinha e não deturpada vendo como inimigos pessoas que pensam diferente dele. Até vi comentários que a história seria uma “subversão” aos isekais ao matar o garoto. Não chegaria tão longe em afirmar algo do tipo, pois foi só uma parte inicial para movimentar a trama, porém está claro que teremos mais abordagens que não costumamos acompanhar nesses tipos de narrativas. Indo para a segunda metade do episódio, temos toda a contextualização da Menou ser essa espécie de “Carrasco” dos perdidos. Apresentam uma personagem que seria a novata/aprendiz da protagonista, a sua chefe (a velhinha) e a pessoa que seria sua mestra, que lhe ensinou esses mandamentos “celestiais” que deve seguir para o resto de sua vida.

ALÊ: Exatamente. Até por isso essa construção de “disfarce narrativo” torna tudo mais brilhante. O ponto de virada não é surpreendente por si, mas também pelo brilhantismo e caminhos que isso traz. Me adiantando um pouquinho, ela ter matado o guri e depois já mostrar que o objetivo é a garota no castelo, traz uma nova visão para a série como um todo. Ela vai para matar a garota, a Igreja é quem dá as ordens desses assassinatos que, até esse ponto, não sabemos qual o exato critério deles. Mas enfim, sabemos que ela não vai matar a garota, e será essa personagem quem de fato será o par romântico. Mas com isso, já surgem questões do porquê essa morte não acontecer. Será que vai rolar um amor à primeira vista? Algum motivo mais particular? Tem a ver com o sonho da Menou ? Dado que no final do episódio, o guri que ela assinou também aparece naquela sala de aula. Ainda veremos e descobriremos ao longo da animação. Agora voltando um pouco na timeline, gosto da maneira que ela reage quando o guri começa a reagir ao saber de seus poderes. Há uma construção visual muito boa, começando de que estamos dentro de uma igreja, a noite, sendo um ambiente fechado, sem ninguém além deles. É vazio e sombrio. E como você colocou, o garoto dá a entender de que não iria para um bom caminho, a partir do momento que ele sabe qual seu poder. Das possibilidades que ele poderia criar, seu semblante muda. Não tem como saber o que ele de fato faria, mas poderia vir a usar os poderes para adquirir riqueza, extorquir (vide que ele não gostou da ideia de trabalhar para conseguir dinheiro) e cometer abusos. Fora que ele tinha essa vibe de protagonista incel de isekai, e talvez esse fosse um dos pontos do autora ao colocar isso na história. Fato é que ele poderia representar uma ameaça e começa a ser explorado na outra metade do episódio, quando visitamos uma parte do passado da Menou. Só naquele trecho, dá para ter uma noção do que um desses que perdem o controle podem fazer, isso porque sequer temos dimensão clara do quão atingida foi aquela área. E mesmo no caso do guri, ele levando uma facada na cabeça, conseguiu invocar a habilidade dele e levar o parte da igreja consigo. A Menou foi treinada pela mestra ruiva e ambas tinham o mesmo lema, de serem sacerdotisas “Puras, Justas e Fortes”.Aliás, esse lema se torna maravilhoso depois do twist no meio do episódio e reforça a ideia de que elas seguem uma certa doutrina e esse lema parece ser seguido por todas.

RUB: Essa mestra da Menou também aparenta não bater bem das ideias, visto sua expressão de euforia ao “exterminar” um Perdido fora de controle. E deve ser por isso que cada reino e nobreza querem esses Perdidos sendo controlados para benefícios próprios. Todos conhecem a possibilidade de forças que uma dessas pessoas podem ter ao chegarem nesse mundo. Até mencionam por cima que os invocados são todos de origem japonesa e que esses eventos acontecem há MILHARES de anos, tempo hábil de toda uma população aprender a língua nativa deles. Também não podemos esquecer de dar um destaque para a luta que temos na reta final da estreia em que a produção dessa parte estava muito bem feita. Não sei se a J.C. Staff irá conseguir manter esse nível de qualidade, porém torço para que continue durante essa temporada, porque o enredo de Shokei tem muito potencial. Já chega de histórias ruins ganhando animações lindíssimas. E Alê, você falou do sonho da protagonista. Parece muito uma espécie de mistura de presságio e arrependimento. A mente da Menou ainda não aceita bem matar os Perdidos a sangue frio como está acontecendo no momento. Tanto que esse guri morto só aparece nesses sonhos dela depois de sua morte. Algo como fosse uma defesa de sua mente contra um possível sentimento de culpa, jogando a responsabilidade de suas ações para fé e a religião que ela defende. Agora em relação a outra garota, também sei o poder que ela tem, já que na própria sinopse mencionam seu novo dom ao ser invocada. No geral, acabou sendo a própria propaganda da adaptação que entregou pontos chaves do roteiro que poderiam gerar outros resultados bem mais satisfatórios. Falando de outros aspectos, a opening é legal. Não será a melhor da temporada, mas não faz feio. Só achei a direção bem mediana para o peso que a obra quer passar, principalmente na segunda metade. O diretor não consegue passar emoção intensa em vários trechos que eram necessários. Os flashbacks mesmo estão um tanto deslocados, como as próprias inserções do sonho da protagonista. O que reforça esse meu ponto é justamente o minuto final da protagonista ter encontrado a outra Perdida. No segundo anterior ela estava lutando contra uns soldados aleatórios e no outro ela já estava de frente para a outra personagem. Uma transição pouco sutil. Espero que seja o mesmo caso de 86 e o diretor engrene conforme forem sendo lançando os demais episódios, pois essas inconstâncias de ritmo e de narrativa pode atrapalhar E MUITO Shokei.

ALÊ: Acredito que a grande maioria delas estejas presas ao sistema. Pode ser uma premissa interessante para trabalhar sobre alienação em cada camada social, bem como seus efeitos, incluindo os psicológicos. Pelo menos, ao que parece nesse começo, as classes sociais do topo da pirâmide não são santas. Cada uma parece buscar seus próprios objetivos. Se for isso, pode ser interessante ver como a Menou e as outras que vierem a se juntar ao seu grupo, vão lidar com essas nuances. Sobre sua suposição do sonho, pode ser isso mesmo, porque ela menciona que todos ali são seus amigos. Pode simbolizar essa culpa e arrependimento inconsciente da personagem, fora que aparentemente, a guria que está no castelo é aquela pessoa que aparece embaçada no sonho da protagonista. Ela pode ser a peça que falta ali. Estou torcendo MUITO para que a animação se mantenha nesse nível. Esse episódio foi uma baita surpresa. Designs bonitos, animação consistente, conseguiu entregar uma ótima cena de luta e tem sakugas ao longo do capítulo. Esse é um dos projetos que a J.C. STAFF está dando maior atenção, junto da quarta temporada de “Danmachi“. É torcer para o cronograma estar decente e terem uma boa quantia de material animado pronto. Sobre a direção, ela foi ok. Soube fazer momentos de ação, mas essa parte de falhar em passar peso, transições e alguns outros detalhes, podem acarretar em perdas maiores conforme o anime progride (dramas não convencerem, cenas perderem impacto, entre outras coisas). Espero que ele conserte esses problemas nos próximos episódios. No demais, estou bem animado com o anime. Tem muito potencial e diversas brechas para desenvolver seu roteiro de uma maneira boa e maravilhosa. Recomendo darem uma olhada. É um anime que vale muito a pena para ficarem de olho!

RUB: Também recomendo o anime de Shokei, pois mesmo com outras estreias que terão mais destaque, não podemos jogar essa obra para escanteio. Tem potencial e nesse começo vale a pena dar uma chance a adaptação.