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A versão tailandesa de "Verdades Secretas II"... só que com mafiosos.

No comecinho de Abril/2022, tivemos a estreia do tão aguardado “KinnPorsche”, BL tailandês que era uma das grandes lendas urbanas (devido aos seus diversos atrasos) e hypes de quem consome essa mídia. Sendo muito hypado por uma proposta não muito abordada nos dramas tailandeses, a obra prometia uma trama de mafiosos densa, sombria, violenta e quente. Inclusive, tendo sido divulgada como a série com as cenas mais quentes já vistas em dramas tailandeses.

Peguei para assistir e venho aqui compartilhar o que estou achando da série até o 5° episódio da série, e adianto: temos problemas.

Sinopse: “O segundo filho da máfia, Kinn Anakinn, é atacado por um inimigo, fazendo-o fugir deles até um certo estabelecimento. Ao chegar ao estabelecimento, Kinn conhece Porsche Pitchaya;
um jovem estudante que foi contratado como garçom de meio período.
Porsche vê toda à cena que se desencadeia sem dar muita atenção. Porém, Kinn faz uma oferta; se Porsche conseguir salvá-lo de seus inimigos, ele pagaria uma certa quantia em troca. Porsche, que tem diploma em artes marciais e é campeão nacional de judô, decide se envolver e ajuda Kinn à escapar. Devido as suas impressionantes habilidades de combate, Kinn quer contratar Porsche para ser seu guarda-costas pessoal, mas Porsche não aceita. No entanto,  depois de ser aterrorizado pelos inimigos de Kinn, ele não tem outra escolha a não ser  concordar. Porsche não quer fazer parte desse mundo perigoso, porque tem medo de que a única pessoa que ama; seu irmão Porché Pitchaya, se machuque. Porsche, então, aceita os acordos ridículos de Kinn, e vai morar com ele. Apesar de tudo, ainda há um mistério que Porsche precisa enfrentar. A convivência com Kinn tornar-se um sentimento turbulento em seu coração fazendo com que, a indiferença se torne amor. Esse caminho não será fácil, há muitos problemas e obstáculos que virão para testar seu amor; eles devem estar preparados para suportar todos os problemas que enfrentaram.”


“KinnPorsche” veio com um hype avassalador. Quando enfim saiu a data de estreia, mas principalmente seu trailer, minha timeline do Twitter foi completamente tomada por comentários da série. A proposta da obra era bem diferente daquilo que eu já tinha experimentado em dramas BLs, seja nos japoneses, tailandeses ou taiwaneses (não estou dizendo que não tenha, mas sim que eu não assisti nenhum nesse estilo). O trailer trazia uma atmosfera perigosa e sensual, um clima sombrio, atores mostravam beleza e o trailer apresentou uma produção que deve ter custado rios de dinheiro. Eu não tinha motivos para não ver, embora algo ali sempre me soasse como se o roteiro fosse bem mais ou menos (potencialmente ruim), me fazendo ir conhecer a história mais pelo porn (que havia sido muito prometido) do que pelo roteiro em si, e olha só, no fim das contas, não foi uma escolha tão errada.

Bom, o primeiro episódio da série não é ruim. Ele consegue estabelecer, até então, muito do que a série tinha como proposta inicial. Somos apresentados aos personagens centrais, sendo o Kinn um mafioso rico que todo mundo odeia e tem inimigos até onde não dá mais, e o Porsche, vindouro segurança do Kinn, que é completamente descompromissado com tudo e vive para pagar uma dívida da família, fazendo trabalhos como barman (e dando uns pegas em algumas clientes). Nesse contexto, eles conseguem apresentar bem não só a realidade dos personagens e o contraponto entre eles, como a dinâmica do (futuro) casal e como vão se comportar dali para frente. O primeiro encontro deles acontece quando o Kinn está fugindo de pessoas que foram contratadas para matá-lo, até que ele conhece o Porsche por acidente e o paga para ajudá-lo. As habilidades do Porsche acabam chamando a atenção do Kinn, que pede para seu pessoal investigá-lo e o encontrar o quanto antes. E do lado do Porsche, graças à dívida da família que ele precisava pagar com urgência, se viu obrigado a ir trabalhar como guarda costas do Kinn e para a infelicidade dele, no momento que você se envolve com mafiosos, é difícil conseguir se desvencilhar.

Esse episódio conseguiu focar em diversas coisinhas e pormenores que proporcionaram experiências e sentimentos bem diversos. Teve seus momentos mais vergonha alheia com um humor que, às vezes, apela para esse lado, outros mais puxados para uma comédia tradicional. Também entregou drama, suspense, além de ter introduzido muito bem a vida do Kinn no sentido de já terem nos passado alguns detalhes que foram importantes na construção inicial do que acontece ‘por de trás dos panos’. E claro, teve tiro, porrada e bomba… Enfim, um pouco de tudo e nada que me desagradasse realmente. Não tinha sido uma estreia que me fisgou imediatamente como aconteceu com outras séries que vi recentemente (Cutie Pie, por exemplo), mas ok. Estava naquela expectativa de que poderia ir melhorando conforme os episódios progrediam, Entretanto, como nem tudo são flores, não foi isso que aconteceu, e os problemas surgiram fortemente na série.

KinnPorsche tem um problema muito grande em pecar pelo excesso. O meu maior problema com a série atualmente é com a comédia exacerbada que eles fazem. Especialmente os episódios 2 e 4, acho horrorosos (!) porque são capítulos em que a estrutura principal gira quase que exclusivamente em piadas, e quando não é isso, funciona da seguinte maneira: começa o episódio com cena cômica > tensão/suspense/perigo de vida para o(s) personagem(ns) > comédia > termina o episódio com cena tensa. Deixo claro que não vejo ter humor um problema. A comédia pode cumprir um papel ótimo, principalmente para mostrar como funcionará a dinâmica dos personagens, estabelecendo suas personalidades e modos de agir. Isso é muito positivo. Porém a maneira que KinnPorsche executa isso que é o problema.

Os episódios 2 e 4 usa MUITA comédia. São episódios que majoritariamente trazem humor e eu não acho que essa quantidade junta, seja positivo para a série pelo motivo de que não combina com o que havia sido pré-estabelecido anteriormente. A série foi vendida como sendo algo ‘sério’, cheio de crimes e um ambiente que respirava perigo, então é no mínimo estranho se deparar com episódios como esse, especialmente no caso do 2º que quebra todo o ambiente que havia sido introduzido anteriormente. Não me convence nem um pouco essa rápida mudança de tom. É abrupto. É falho. Não só pela comédia em si, como pelo estilo de humor que nesse caso acaba sendo algo muito particular de cada um, mas para mim, não são todas as piadas que funcionam. Às vezes tenho a sensação de que o humor dele parece de “homens héteros conversando numa mesa de bar”. Uma coisa que não me desce bem.

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O maior ato da série até o momento!!!

Acho que a comédia por vezes tenta apelar para um lado de vergonha alheia, no sentido de que quer fazer você rir pelo constrangimento, o que de novo, não acho que caiba para este núcleo. É diferente de “Why R U?” (2020) que toda a série é fundamenta em ser uma comédia romântica pastelão e que a graça é pelo absurdo ou vergonha alheia. KinnPorsche não se propôs a isso e como se já não bastasse, eles comentem o CRIME de fazer quebra de expectativa com piadinhas. Fazem uma construção de que algo tenso está para acontecer, para quebrar com humor (e que nem graça tem). Usam e abusam tanto disso que me passa a impressão de que estão se perdendo naquilo que querem falar realmente. Se isoladamente a piada pode não funcionar, acredito que no todo da série, aos poucos, vai quebrando o que querem transmitir na narrativa, já que se na formação de uma cena tensa trocam para o humor, aos poucos isso vai tirando a noção de perigo do começo.

E isso aconteceu comigo no episódio 4. Eles fazem tanto isso, que quando o Porsche estava tendo muita dificuldade em lidar com um abuso que ele sofreu enquanto estava drogado, não consegui ver o que estava sendo passado por trás. Pareceu apenas que ele tinha gostado da noite anterior e queria mais. Isso prejudica demais a série, ainda mais para mim que gosto muito da ideia de “não fale, me mostre”. A direção da cena foi PERFEITA, uma condução exímia, porém acaba se perdendo pelo que aconteceu nos 3 episódios anteriores.

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Algumas vezes, a direção da série vai de algo perfeito para outro que eu me pergunto: “O que caralhos aconteceu aqui?”. Alguns cortes e takes (como o mostrado acima) são maravilhosos. Em outros ocorrem cortes abruptos, completamente secos e que mudam de tema do nada. No 4º episódio, mais ou menos na metade dele, trocamos de ambiente passando a ver o lado do Porchay (irmão do Porsche) e pareceu até outra série que havia sido costurada ali. O diretor é muito instável nesse sentido. Ora acerta e MUITO, ora erra MUITO feio…

E falando no Porchay, apesar da introdução do núcleo dele ter sido feita de uma forma bem questionável, eu estou genuinamente gostando do ambiente que está sendo montado aqui. O Porchay tem muito daquele espírito de jovem inconveniente, mas que não percebe que está sendo um ou até não está nem aí com isso, alado com um ar de inocência. E quando é posto em interação com o Kim, fica maravilhoso, porque o ele está ficando próximo dele por puro interesse (no caso, descobrir mais sobre o Porsche) e ele não tem muita paciência. Quando o Kim consegue o que quer ou tem o suficiente para aquele dia, ele quer se livrar do garoto e o rapaz não deixa. Essa ideia do Porchay ficar arrastando o Kim tem vejo muito potencial de entretenimento, nem que seja na vergonha alheia mesmo. Essa diferença de personalidades e diferentes modos de se comportar, pode trazer boas cenas. Fora que, diferente do casal principal, eu acho o ar mais leve desse casal ótimo. Traz uma leveza que combina, porque foi dado abertura para isso. Não é estranho e a direção sabe disso, e quando estamos em cenas com os dois contracenando, os ambientes são mais claros, com ambiente em si mais leve.

Duas coisas que não podem faltam no drama BL tailandês: a trupe dos estudantes de engenharia e a trupe dos cantores

Depois de 2 episódios terríveis (2 e 4) e um bem mais ou menos (3), o quinto episódio da série acabou sendo o melhor até aqui. Embora tenha tido alguns percalços por esbarrar nos assuntos que comentei, ele acaba seguindo uma linha com maior linearidade, se aproximando bastante do que vi na estreia da série. Eu o coloco como melhor que o primeiro, pois neste momento da história, estamos um pouco mais adentro das questões que envolvem a família do Kinn, assim esse mistério acaba por ser mais envolvente, o que chama mais minha atenção, felizmente.

Eu gosto de brincar no Twitter que essa série é “Verdades Secretas II” da Tailândia, só que com mafiosos. Para quem não conhece “Verdades Secretas” é uma novela brasileira de 2014-2015 e que ganhou uma continuação em 2021. Resumindo, a história é sobre modelos que fazem book rosa (prostituição) e com alguns outros núcleos. Eu falo especificamente do II de “Verdades Secretas”, pois tivemos uma troca e mudanças em algumas coisas em relação a primeira e que coincidentemente, acabam sendo semelhantes com KinnPorsche. Uma das principais e que conversa muito com a maneira que está sendo feita a divulgação da obra é o teor sexual. A divulgação da série, seja nos meios oficiais ou nas fanpages, reforçam muito a questão sexual da série. Uns tempos atrás saiu uma informação vinda dos meios oficiais falando que KinnPorsche terá “as cenas de sexo mais quentes já vistas em dramas na Tailândia!!!“, ou alguma coisa nesse sentido. Eu tenho a impressão de que eles tentam fazer algo como VS II fez na sua divulgação, que foi se vender como “proibido”, “impróprio”, “imoral”… Não estamos nem na metade da série, mas o que tivemos no episódio 4 não me convenceu muito. Acho que por ele mostrar um mais, ele acaba se vendendo como um outro patamar, mas sei lá, não me parece tudo isso não… Como eu disse, estamos no começo, e tem muito chão pela frente. Vamos ver o que tem para nos mostrar, mas tenho esse receio ainda. A direção consegue maquiar muito bem, mas talvez no fim, não consiga ser instigante. O episódio 4 foi mais “cru”, porém aquela parecia ser a intenção mesmo. Quero ver como vão lidar quando precisarem fazer algo que seja realmente sensual.

E outros detalhes que eu vejo semelhantes entre as obras são os textos, apelando para personagens um tanto burros para fazer a história caminhar; a direção que ADORA um ambiente mais escuro para fazer cenas de sexo, ao qual me faz pensar que Amora Mautner (diretora de VS II) passou e apagou as luzes; ou até coisas mais bobinhas como a abertura de ambos é horrorosa; e até situações mais inusitadas como os personagens fazerem sexo em janelas. 500 ambientes possíveis, mas o pessoal vai para a janela expor para o mundo. E não vejam eu comparar KinnPorsche com Verdades Secretas como algo necessariamente ruim, porque apesar dos (muitos) problemas, VS II me trazia um bom entretenimento. Embora tenha minhas ressalvas e receios, KinnPorsche ainda consegue me entreter. Eu acabo rindo sozinho dessas coincidências e tá tudo certo 🙂


Lembro de ter visto um tweet tempos atrás que falava que a série iria ter momentos dúbios, por assim dizer. Pelos personagens serem mafiosos, crimes estão propensos acontecer e vão ocorrer. Parte da ideia da obra é mostrar mais desse lado questionável. E assim, o tom do tweet era mais como “se as pessoas estão achando questionável agora, imagine mais para frente”. Eu diria que estou aguardando com muita ansiedade por esses momentos pelo fato de que o que está sendo feito atualmente, não é do meu agrado pelos motivos que falei nos parágrafos acima. Se a interação mais leve do KimxPorchay é ótima por trazer abertura para tal, do lado do KinnPorsche, o lado mais ácido, mais agressivo, ou até uma vibe um pouco “cão e gato”, funciona muito. A ótica de personagens questionáveis combina com eles e eu quero ver mais disso.

E tenho a sensação de que esses temas mais “pesados” vão apenas estar lá. Não sei, tenho a impressão de que só vai ser jogado lá, meio que ‘o choque pelo choque’, sem um desenvolvimento apropriado disso. Até aqui, eu quero dar um voto de confiança por causa da cena extremamente bem dirigida que eu coloquei o gif mais para cima. Ela é perfeita. Quero confiar, embora esteja muito cauteloso. Não conheço o original, apenas sei que estão acontecendo mudanças na adaptação, as quais não tenho noção de que grau e que aspecto elas ocorrem. Apenas sei o que estou vendo, sem base do material original.

Mas fato é que algumas coisas do roteiro são mal estabelecidas, como a persona do Kinn. Ele foi apresentado e quando o Porsche foi para a mansão da família, outros guarda-costas comentaram que o Kinn era mais próximo deles, mas que o personagem mudou por causa de um evento X, passando a ser mais distante e ríspido com eles. Primeiro que eu não acho que tenha sido mostrado efetivamente na série esse trauma. A construção de imagem do Kinn foi mais bem elaborada pelo visual e cabelo “rígido” do que pelas demonstrações de personalidade realmente, porque ele sempre levou o Porsche de uma maneira diferenciada. E como o Porsche ‘arrasta’ os outros para o barco dele, o mostrar efetivamente o quão distante o Kinn era não acontece, me passando a sensação de que na verdade, ele apenas se fragmenta em diferentes situações.

Um último comentário aqui. Me julguem, mas acho o ator que faz o Kinn (Mile Phakphum) feio. Desculpa, mas realmente não dá. E para piorar, o ator que faz o Vegas (Bible Wichapas) funciona muito melhor com o Porsche (Apo Nattawin). Eles contracenam pouquíssimo até agora, porém, eles conseguem estabelecer um clima muito melhor que Kinn. Arrisco a dizer que se o Bible fizesse o Kinn, e o Mile fizesse o Vegas, eu gostaria bem mais do personagem. O Apo faz o Porche perfeitamente, vale dizer. Ele consegue entregar bem um personagem que tem uma cara bobinha, mas que tem seus encantos e sensualidade, além de carisma e boas habilidades físicas.

A cena deles na moto é uma preciosidade, de uma delicadeza e química impressionante. Eles não conversam, estão de capacete, mas é impressionante como a dinâmica deles é boa. De você olhar e sentir acalentado. É impressionante mesmo. Como eles não vão ser um casal aqui, torço MUITO para alguma produtora ver e colocar os dois como um casal em alguma série no futuro. É desperdício muito grande não aproveitar essa química que exala dos dois. Um soft porn ou talvez algo bem água com açúcar com esses dois. Só consigo pensar em aclamação! Pode ser que eu tenha achado a interação do Bible com o Apo melhor porque a dinâmica é outra? Pode ser, porém não consigo não pensar que se os papéis fossem trocados, funcionaria melhor. Nunca saberemos realmente…

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Enfim, embora eu tenha comentado uma série de problemas que vejo em KinnPorsche, não acho o drama detestável ou péssimo. Tem algumas coisas que eu realmente não gosto, porém um episódio por semana dá para levar. É bem a relação que tenho com Verdades Secretas II mesmo. Estou lá por outros motivos, mas não pelo roteiro, e da mesma forma tem algo que me prende aqui. Pela maneira que o episódio #5 termina, acredito que a comédia será suprimida a partir de agora, ou pelo menos é o que eu espero. Com ela sendo reduzida, ou até sumindo (tomara), imagino que o ritmo melhore também. É aguardar para ver.

Não sei se farei outra postagem sobre o drama aqui no blog, no entanto é possível que tenha mais uma para falar do episódio 6 ao 14 (último), dando uma geral no que achei da série 🙂

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