Teve um começo melhor que o original, mas o final não passa confiança.

Tem um post que eu fiz no blog (link aqui) sobre RWBY (até a 7ª temporada), da produção americana, do que mais chamou minha atenção na época, e erros cometidos pela produção de grande escala do estúdio. E mesmo com um início horroroso, a animação ocidental foi melhorando sua narrativa com o tempo, e sai contente com o que eu consumi da obra, vide a evolução da história que apresentou nas duas últimas temporadas. Então quando anunciaram a versão japonesa de RWBY, fiquei curioso como seria abordado o enredo, já que o criador original era muito fã de animes e se inspirou nessa mídia para produzir algo relacionado a sua paixão. Queria verificar como seria a adaptação na mídia que originou tudo da obra. E foi até bom essa experiência em 66% do tempo, porém o terceiro episódio não passou confiança do futuro do anime de RWBY.

SINOPSE: A série foca-se em quatro garotas, cada uma com sua própria arma única e poderes, estudando para se tornar caçadoras na Academia Beacon na cidade de Vale: a empolgada e idealista Ruby Rose, a fria e controladora Weiss Schnee, a reservada Blake Belladonna, e a combativa meia-irmã de Ruby, Yang Xiao Long.

Nunca fui fã das primeiras 3 temporadas de RWBY da versão americana. É muito genérica a história, com uma direção e narrativa tenebrosa, beirando ao amadorismo de filmes de fãs de baixo orçamento. Até digo que é um obstáculo para pessoa que não conhece nada de RWBY for assistir sem saber de nada, passar por esse começo bem ruim para finalmente termos uma produção que evoluiu com o passar do tempo. Talvez quando o líder criativo mudou (o criador original veio a falecer da terceira para quarta temporada), e a empresa que fazia animação passou por uma repaginada, tudo ficou mais conciso e organizado, resultando o que vemos na tela, com upgrade visual, roteiro mais robusto e com senso épico mais claro, coisa que não tinha nos primeiros episódios. Só tem uma coisa que aprecio a coragem dessa fase inicial foi o final da terceira temporada em relação a uma personagem específica que foi algo que curti, pois afeta diretamente 3 outros estudantes da Beacon Academy. E eu queria que melhorassem um pouco que seja o início de RWBY na versão japonesa, que me daria por satisfeito. No resultado, eles até melhoram, mas pioram em outras coisas que não precisavam, ficando 6 por meia dúzia.

No anime de RWBY eles acertaram um ponto que sou bem crítico com o original que é a introdução das protagonistas. Na versão americana já começamos na luta e foda-se quem é quem naquela bagunça. Na nova animação, acompanhamos devidamente a vida de cada uma das 4 personagens principais antes de entrarem na Beacon Academy. Vemos a Ruby e a Yang em momento familiar com o pai, a Weiss e seu relacionamento difícil com seu irmão e pai, e a Blake no seu dilema de ajudar sua própria raça contra as grandes corporações, mas que é contrária perante as atitudes do grupo revolucionário que ela participa realizam nas instalações empresariais das cidades, ferindo e prejudicando vários inocentes no processo. Toda essa contextualização no original é feita muito mais lá para frente, e de forma bem porca vale dizer, que prejudica demais de termos empatia com as garotas por não entendermos seus problemas que passam em suas vidas. No anime até mesclam 2 “trailers” de apresentação que teve na época do lançamento americano da primeira temporada de RWBY, deixando a narrativa mais dinâmica, explicando os detalhes necessários para que o espectador entenda o que se passa nesse mundo mágico, que existem perigos muito maiores do que o conhecimento de geral, que existem uma hierarquias de caçadores, organizações criminosas e tal, etc. Enfim, tudo é melhor posto de forma clara no anime no primeiro episódio, o encerrando no caminho do teste inaugural que irão fazer na escola.

Aí vem de novo essa parada da necessidade de lançarem vários episódios de uma vez. Eu sempre faço essa pergunta: É necessário para a história uma longa duração na estreia da obra? Não? Então lancem normal essa coisa. A não ser que seja um anime da Netflix em que sua proposta é disponibilizar tudo de uma vez, não tem motivos para seguirem esse modelo de lançamento. E não foi um episódio duplo, mas sim um TRIPLO. Uma hora de episódio foi de matar. Mas bora continuar o texto. No segundo terço da estreia, ela é completamente focada nas interações das personagens desde o momento que se conhecem, até culminar na ajuda mútua de derrotar um inimigo muito mais poderoso que não conseguiram matar sozinhas. Todo esse trecho serve mais para estabelecerem o início da amizade entre as 4 protagonistas e introduzirem o segundo grupo com Pyrrha, Jaune, Nora e Lie. Para construção de mundo, esse trecho mostra as possibilidades de abordagem que a trama pode ter, em misturar aventura, ação e comédia na mesma cena. E isso é bom, pois teremos novas visões e adaptações da mesma história a partir do olhar japonês de narrativa. Algumas modificações eu curti, como introdução de um novo perigo e personagem que não tinham nessa parte em comparação com o original. Com certeza não será um Ctrl+C e Ctrl+V do primeiro enredo lançado. O lance é que nem sempre as alterações dão bom e isso aparece no terço final do episódio.

Indo para as paradas que eu não curti, foi a Weiss recebendo muito mais destaque nesse início do que as demais protagonistas. As que mais sofrem por esse exagero de foco na personagem, é a Yang e a própria Ruby. Coitada da Yang que foi resumida a aparições esporádicas para fazer um comentário genérico. No original ela tem muito mais presença, sendo uma espécie de ‘irmãzona’ para o grupo. No anime ela só existe. E acho estranho a produção do anime sucatear o potencial da personagem, sendo que ela é uma das mais favoritas do fandom, principalmente pelo shipping que o pessoal faz dela com a Blake (eu incluso). O mesmo não posso falar da Ruby que é a personagem mais apagadinha tanto no original quanto no anime. Só que ela é a protagonista que leva o seu nome ao título da obra. Ela é a peça central da trama e deixando ela de canto, focando na Weiss mais do nela, deixa ainda mais esquisito sobre o proposito que a produção japonesa quer fazer com essa história. E não foi só isso que me desagradou. Nesse terço final do anime, a narrativa foi de velocidade x para 10x em minutos, pulando arcos inteiros e até lutas maneiras, que isso era um dos poucos acertos da produção americana que era na coreografia das lutas.

O anime ter pulado toda a troca de ideias da Blake com o Sun sobre ser diferente no meio a humanos por sua condição de meio-animal, foi triste demais. O personagem do Sun é sem relevância no futuro mesmo, então pouco importa o sujeito, mas esse encontro entre os dois serve como base para a Blake achar motivação em enfrentar sua antiga organização em outras oportunidades. Pô gente, cortaram a luta da robô Penny, que é foda demais. Não é possível que haja falta de verba. Os americanos não colocaram grana no bagulho? Que ao menos entregue as coisas boas que tinha no original e que seja corrigido os defeitos na versão do anime. E não foi só a luta. Eles resumiram fácil conteúdo de 6 episódios na versão americana, para 1 minuto e meio na japonesa. Beleza que essa parte no original também não é lá grandes coisas, mas a equipe japonesa triturou o arco do cais do porto. Se vão alterar a porra toda, que fosse para algo melhor e não simplificado os pontos positivos. Eu só sei que quem assistiu somente o anime de RWBY, desconhece totalmente as motivações do Roman aos ataques que ele realiza na cidade. A reta final do episódio, apesar de deixar um gancho para o próximo, termina em um tom abaixo do que começou. E isso me preocupa sobre o que mais pode vir aí que eles vão cortar. A impressão que ficou é que eles vão tentar enfiar 3 temporadas do original em 12 episódios no anime. Vai ser uma correria sem fim e é provável que vai dar merda. Não estou tão otimista para o que vai vim a seguir. Espero que eu esteja errado e só seja algo da minha cabeça.

Quanto à parte técnica, o estúdio Shaft foi eficiente em entregar algo pelo menos digno quanto a animação, principalmente com fotografia e efeitos digitais na composição das cenas. O que não foi do meu agrado foram os designs dos personagens. Achei esquisito demais. Elas ficam com aparência bonitinhas demais. É um exagero de fofura que não casa com a personalidade de cada uma. Aqui acho que a MOETIZAÇÃO foi exagerada e que zoou o rolê por completo. A direção e edição fazem o necessário, mas também não vão além do solicitado, jogando no seguro, com poucos momentos isolados de uma animação mais elaborada nas lutas (ainda não consigo aceitar que cortaram a luta da Penny). E a trilha sonora não chamou minha atenção, mas preciso ver toda a temporada de RWBY para ter uma percepção melhor de sua proposta.

O anime de RWBY estava com tudo para superar a versão original nesse começo, mas por decisões criativas equivocadas, cria um sentimento de insegurança de possíveis derrapadas por parte da equipe japonesa com o material que está sendo adaptado, e de que talvez, nem mesmo quem inspirou a criação de RWBY possa ser a versão definitiva da franquia. Minha recomendação para o pessoal que nunca viu RWBY, talvez seja melhor esperar por 12 semanas e ler os comentários da galera se a adaptação da obra foi boa ou não. E se ainda tiver vontade de assistir algo sobre RWBY por agora, escolha ver o original.

O anime pode ser encontrado na Crunchyroll.

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