Um carta e a chance de mudar o futuro...

“orange” (オレンジ), de Ichigo Takano, se impôs como um dos grandes ‘shoujos’* dos anos 2010, especialmente em meados de 2016, que foi quando ocorreu a estreia da adaptação em anime e onde ocorreu o grande boom do mangá no Japão e no ocidente. O anime teve direção de Hiroshi Hamazaki e produção do estúdio Telecom Animation Film. O mangá chegou ao Brasil em outubro de 2015 pela JBC e teve seus 5 primeiros volumes (onde o mangá terminou pela primeira vez) publicados, mais ou menos, de forma mensal. O mangá foi um sucesso e ficou esgotado por muitos anos. Nessa época, o mangá virou um caso bem emblemático por causa da transparência e que foi muito comentado naqueles anos. Sem estoque, a editora decidiu reimprimir todos os volumes da série antes de trazer o 7º e último volume do mangá. A reimpressão foi feita a partir de junho de 2023 e adquiri o volume #1 dessa reimpressão. Tendo vista que a reimpressão não melhorou quase nada em relação a primeira edição lançada em 2015, decidi por comprar a edição francesa e é por ela que irei falar do mangá ^^

*o mangá começou a ser publicado nas páginas da Bessatsu Margaret, uma revista Shoujo da Shueisha, mas posteriormente, a autora mudou de editora e o mangá passou a ser publicado pela Futabasha na revista Manga Action, revista Seinen. Particularmente, irei tratá-lo como shoujo, mas deixo aqui esse pequeno “disclaimer”

A edição francesa (à esquerda) e a brasileira (à direita)

Sinopse: “Na primavera do segundo ano do colégio, chega uma carta vinda de dez anos no futuro. Nela, estava contido o desejo da Naho de 26 anos para a Naho de 16 anos, dizendo para ela “não passar pelos mesmos arrependimentos que eu passei”. E a Naho adolescente vai descobrir que o “arrependimento” é em relação ao Kakeru Naruse, o aluno novo que é transferido de Tóquio e o motivo da Naho adulta ter escrito a carta!”


  • História e Desenvolvimento

A história vai partir do momento em que a Naho recebe uma carta misteriosa endereçada a ela, cujo o remetente é… ela mesma. A mensagem da carta é uma grande narração de eventos que estão acontecendo e que irão acontecer, começando pela chegada do novo aluno, Kakeru, e o que isso irá implicar para ela a partir dali. As cartas que a Naho recebe vêm de 10 anos do futuro, cujo o Kakeru não existe mais e a grande ‘missão’ da Naho é que ela não cometa os mesmos erros que a própria cometeu, tanto para que ela não venha a se arrepender, como também é uma tentativa de impedir que o Kakeru venha a morrer no futuro.

Eu gosto muito do ponto principal da história, tanto pelo lado dramático da obra (e como eu amo um bom dramalhão), como pela maneira que a autora quis contar esta história. Vejam, a ideia de colocar a versão futura da personagem mandando uma carta para o passado (que até agora não se sabe como foi feito e também não me lembro se a autora irá explicar mais para frente) é ótima. Foge do mais “convencional” que se vê por aí nesse tipo de proposta de viagem no tempo, afinal, quem viajou no tempo não foi uma pessoa, mas sim uma “ideia”, um sentimento, uma esperança de compensar e tentar tornar as coisas diferentes do que foram.

A história vai se desenvolvendo com duas frentes: uma com a Naho do “presente” lendo as cartas, vendo o que acontece ao seu redor e (às vezes) agindo de forma diferente do que aconteceria, o que traz resultados distintos aos descritos. E uma outra perspectiva vinda diretamente do futuro, em que todos esses eventos já aconteceram e os personagens “lidam” com essas consequências. Ou melhor dizendo, eles estão estagnados. Embora suas vidas tenham seguido, é evidente como a morte do Kakeru abalou não só a Naho como o grupo de amigos como um todo. Eles sentem muito por isso. Sentem culpa, saudades, até mesmo remorso pelo que aconteceu. E frente a tudo isso, eles ajudam o público a ir coletando informações de uma forma não expositiva, pois embora tudo já tenha acontecido, há desdobramentos que eles também não tinham ciência, e que por isso, vai revelando aspectos interessantes e importantes para o caminhar da história.

Para esse volume, eu preciso dar destaque para dois personagens: a Naho, a protagonista, e o Kakeru, o alvo que as cartas se destinam. Como as cartas estão com a Naho, é a partir dela que a história vai se desenrolar através de sua perspectiva. Ela é uma personagem comum, tímida, meio retraída, mas com um grupo de amigos que dão apoio em diversos sentidos. Eu cheguei a comentar no Twitter do blog há algum tempo atrás, que às vezes durante a leitura do volume, ficava julgando a personagem, porque ela não tomava iniciativa, sempre estava hesitante em dar um passo a frente, sendo que estava descrito na carta o que precisava fazer. Porém, ao mesmo tempo, eu pensava que poderia fazer até pior que ela nessas situações. Mas fato é que a situação que se encontra exige muita coragem. É um garoto que ao longo do volume vai se mostrando que cria um interesse amoroso (e o Kakeru igualmente), e do outro lado tem o fato de que se ela não agir, o Kakeru vai acabar morrendo dali alguns anos. Então forma uma dicotomia que é meio desesperadora, porque meu kamisama do céu, se ela não fazer nada, o garoto MORRE.

Do lado do Kakeru, eu acho ele o personagem mais interessante até aqui. Se bem me lembro, ao longo desse tomo, não há uma única passagem em que se mostre pensamentos internos dele ou alguma cena que seja da sua perspectiva. Temos aqui mais um daqueles Shoujos que a protagonista é feminina, mas a história propriamente é sobre um personagem masculino. Pela construção da narrativa, a autora faz muito bom uso disso, porque como o mangá trabalha em duas frentes sendo que uma delas o personagem estar morto, nunca sabemos bem o que se passa com o protagonista e só temos suspeitas com as pelas pistas que a autora joga no ar, do que ele pode estar sentindo ou passando na sua vida. O Kakeru é meio inconstante nos sentimentos que ele expressa. Há sempre uma dualidade entre seus momentos de felicidade e de melancolia. Acho ele ótimo e intrigante, pois o que acontece na vida dele? Qual o motivo da sua tristeza? O que está acontecendo que não sabemos (ainda)? A autora é excelente para criar esse ambiente misterioso em torno dele, ao mesmo tempo que consegue deixar o personagem adorável nos seus momentos mais felizes!

Além disso, o volume vai evidenciando o impacto dessas cartas, como por exemplo, o primeiro recado que se tinha na carta era de que os amigos dela fariam um convite para o Kakeru voltar para casa com eles, mas que ela precisava impedir que fizessem isso (sem mais explicativas). Ela não dá muita atenção e ignora (nesse caso eu não julgo, porque né, quem acreditaria?), o que mais para frente se mostra realmente ter sido uma decisão ruim. Em outra situação, no entanto, ela faz o que a carta pede e começam a surgir pequenas mudanças na sequência de eventos, pois o que estava descrito na carta e o que aconteceu na realidade, foi diferente (mesmo que ligeiramente). Eu gostei, porque ao mesmo tempo que você tem a parte das consequências por ela não seguir o que pede, também tem as alterações nos acontecimentos e essas mudanças podem criar caminhos novos que podem ser bons, como também podem ser ruins. Enquanto ela estiver seguindo, okay, mas e no momento que ela não seguir, o que pode acontecer? Que tipo de novas situações essas mudanças do futuro podem causar? Vale destacar que a certa altura, a Naho parece muito “presa ao roteiro”. Então será que em uma situação totalmente nova, ela saberá como lidar? E se não, o que isso pode acarretar?


Quanto aos demais personagens (Azusa, Takako, Hagita e Suwa), não é como achasse eles ruins. No entanto, esse volume ainda foi muito centrado no Kakeru e na Naho. Eles estão ali mais como um apoio, suporte ou mesmo um alicerce para que os dois consigam chegar em pontos específicos. Eu sei, porém, que isso não será mantido para os próximos volumes. Como disse lá em cima, cheguei a ver o anime de orange há alguns anos (creio que em 2017) e embora não lembre da história com detalhes, sei que todos os personagens possuem um grau de importância para a narrativa caminhar. E falando no anime, como não lembro de quase nada, foi uma experiência bem divertida ir relembrando de algumas coisas, tentando encaixar algumas peças, ao mesmo tempo que foi uma completa surpresa outros momentos.

Uma das minhas questões com relação a “orange” enquanto lia o volume #1 era se as pessoas ainda ‘se importavam’ com a série, no sentido de que se ainda era um mangá que as pessoas lembravam, e pelo visto, há uma fanbase que continua cativa, firme e forte, nas lembranças com a obra. Na França, o mangá é um enorme sucesso, sendo o Shoujo mais vendido da Akata tendo umas 800 mil cópias vendidas. Com essa reimpressão, também pude perceber que um público novo chegou ao mangá (eu incluso), o que é interessante e revela que é um mangá que tem envelhecido bem!

A autora escreve drama MUITO BEM! Tem alguns momentos dentro do volume que são excelentes e quase me fizeram chorar. Ansioso para ver o desenrolar da trama nos próximos volumes ^^


  • A Edição Brasileira (e a Francesa)

A edição nacional foi lançada pela editora JBC no formato 13,5 x 20,5 cm, com capa cartonada e papel Off-set. Não apresenta páginas coloridas e cerca de 220 páginas. A primeira edição saiu por R$ 14,90 o volume, a reimpressão veio por R$ 37,90.

A edição francesa, pela Akata, saiu no formato 12,7 x 18 cm, tem capa cartonada com sobrecapa fosca. Não se sabe o papel utilizado na edição, mas é algo semelhante ao Pólen Bold/Offwhite. O preço de capa do volume é de 7,95 €.

Abaixo vocês veem um vídeo mostrando a edição brasileira e francesa do mangá ^^


  • Conclusão

“orange” mostrou ser uma história intrigante e com um ótimo potencial. A narrativa e a forma que a autora conta a história tornam ela “destacável” entre muitas que trabalham com temáticas semelhantes. Não é à toa que faz tanto sucesso até hoje. Os personagens, embora boa parte não tenham tido seu devido destaque, são cativantes e tornam o desenrolar da narrativa bem envolventes. É sem dúvida alguma uma ótima leitura para se fazer!

Essa provavelmente é a última resenha que lanço para o blog neste ano. Então aproveito para desejar a todos, todas e todes, um Feliz Natal e Ano Novo! E nos vemos novamente em 2024! ^^


  • Ficha Técnica
  • Título original: orange (オレンジ)
  • Título nacional: orange
  • Autora: Ichigo Takano
  • Serialização no Japão: Bessatsu Margaret (volumes 1 e 2)/Comic Action (3º em diante)
  • Editora japonesa: Shueisha/Futabasha
  • Editora nacional: JBC
  • Quantidade de volumes: Completo em 7 volumes
  • Formato: 13,5 x 20,5 cm
  • Quantidade de páginas: 220
  • Papel: Off-set
  • Preço de capa: R$ 37,90
  • Compre emAmazon
Gosto muito dessas duas páginas. Elas têm uma dinamicidade excelente!

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