Olá, pessoal! Hoje, dando continuidade a nossa série de resenhas para o mês de Agosto, é a vez de falar de outro BL lançado pela Panini: “10 coisas para fazer antes dos 40”, da Mamita. Esse é um caso bem curioso, pois é a primeira vez que a Panini publica um BL em “volume único”, as demais licenças da editora até o momento são de séries longas, como “Yarichin Bitch Club” (que publicamos resenha no começo do mês), “Você me deixa sem fôlego“, “Daikaichi – O Homem mais desejado do ano” e por aí vai…
“10 coisas para fazer antes dos 40” foi publicado no Japão sob o título “40 Made ni Shitai 10 no Koto“. A obra, escrita e ilustrada pela Mamita, foi publicada entre Junho e Dezembro de 2022 na revista BE x BOY, da editora Libre, sendo concluído inicialmente como um volume único. Porém, devido ao sucesso, a autora começou a publicar uma sequência do mangá no Japão neste ano. A sequência começou a ser publicada na edição de Julho/2024 da BE x BOY e até o momento, ainda não se sabe se essa sequência será lançada como se fosse um “à parte” ou como sequência numérica (volume 2). No Brasil, o mangá foi anunciado pela Panini em Novembro de 2023 e foi publicado em Março de 2024.
Sinopse: “Suzume não namora ninguém há 10 anos, então ele já desistiu do amor. No entanto, agora que está prestes a completar 40 anos, ele escreveu uma lista de 10 coisas que deseja fazer antes de atingir essa idade. Não são nada de especial, como fazer uma festa de takoyaki, comer doces, mudar o estilo de roupa, visitar Harajuku… e beijar alguém. Ele não pode fazer isso sozinho, é claro, então fica desesperado devido à sua solidão até que seu colega de trabalho Keiji, dez anos mais novo, descobre essa lista. Ele, sem perder tempo, diz a Suzume que está disposto a ajudá-la a cumprir cada seção da lista.“
- História e Desenvolvimento
Na história, temos o Suzume, um homem que está a beira de completar seus 40 anos e que se você tirar o trabalho, é completamente sozinho. Não tem amigos, não tem uma vida social ativa e tudo que faz é trabalhar, comer e dormir. Movido por um desejo de mudança e depois de um dia de trabalho, ele bola uma pequena lista de 10 coisas para fazer antes dele completar 40 anos, tendo um período de cerca de 3 meses para realizar cada item. Esses 10 itens são coisas bem banais, como comer um doce, fazer uma festinha de takoyaki (um bolinho de polvo) e coisas que são ‘comuns’, mas que se tornam difíceis ou menos interessantes de serem feitas sozinhas. O Suzume estava fazendo hora extra enquanto fazia essa lista e seus colegas foram para um bar pós serviço, ele cochila e quem acaba vendo essa lista é o Keishi, que é 10 anos mais novo que o Suzume. Ele, então, propõe que os dois cumpram os itens da lista juntos, afinal, o Suzume é gay (o Keishi deduz isso), tal qual o próprio Keishi e não é como se o Suzume tivesse outras opções no fim das contas. A história se desenrola a partir daí até o momento eventual de surgir o romance…
Eu me senti profundamente atacado por esse mangá enquanto eu o lia, isso porque eu sou basicamente o Suzume, tendo quase metade da idade dele (tenho 21 no momento que escrevo esse post). O Suzume é uma pessoa solitária, que faz mais de 10 anos que não se relaciona com alguém (essa parte não me compete, mas faz quase 1 ano desde que terminei meu namoro), é isolado e não tem muito traquejo social, especialmente fora do trabalho. Tem uma passagem que eu me senti pessoalmente ofendido que foi quando o Keishi e o Suzume vão sair e o Suzume está vestido mais ‘social’, com uma camisa e uma blusa por cima, além de uma calça social. O Keishi ri e diz ser brega, além de parecer ainda mais que o Suzume é um tiozão… É, de fato, brega, mas aquele conjunto (tirando a calça social, que para mim, seria um jeans) eu super me vestiria daquela forma, mas preferia não receber tamanho ataque pessoal enquanto leio um mangá…
No demais, o Suzume ainda esconde algumas coisas que gosta, como bichinhos de pelúcia e precisa fugir de algumas investidas que um de seus colegas (hétero) faz, tentando achar alguma mulher para o Suzume se relacionar, porque o cara não aceita que ele seja solteiro. Além dele ser muito inseguro – muito ligado ao fato dele ser sozinho – e tem uma parte do mangá que o Keishi constata como o Suzume traça uma linha entre as pessoas ao seu redor de forma que elas possam se aproximar dele até certo ponto, mas não podem ultrapassar dali, o que é uma coisa que eu fazia muito na escola – por causa daquele ambiente horroroso -, como uma medida de defesa mesmo e até lembro de amigas comentando isso para mim. Isso é algo que se constrói parte estando consciente disso, mas também tem um lado mais inconsciente. Como disse, é como um modo de defesa/proteção.
Falando dessa forma, pode soar como se o mangá fosse mais dramático, quando não é, pelo contrário, ele é muito divertido e descontraído. O mangá tem sim, seus momentos mais dramáticos mais para o final. Tem um momento, sem dar spoilers, que é mostrado como o Suzume não tem autoestima e ele não consegue conceber que o Keishi – um homem mais novo, bonito etc… – tenha um interesse real nele e depois de uma situação X, completamente “fantasiosa” por assim dizer (quem leu entenderá), eles se desentendem. Era uma situação falsa, que o Suzume e o Keishi sabiam e tinham consciência de que era falsa e, no entanto, chega como um soco no Suzume. Ele repete a si mesmo que tudo aquilo era para proteger os dois e mesmo entendendo isso, toca num ponto da dúvida que atormenta muito quando ela aparece. De novo, bem parecido comigo na forma de pensar. Ou seja, precisamos de terapia.
Mas bem, o mangá se desenrola muito bem. A Mamita constrói a narrativa com uma agilidade e fluidez ótima. Os personagens são muito carismáticos e o contraste entre eles torna a obra mais charmosa. Como disse, o Suzume é uma pessoa muito retraída e contida, enquanto que o Keishi é mais aberto, expansivo e até um pouco invasivo. Essa parte do invasivo, se você pensar como uma pessoa real, pode até ser chato, mas no meu caso e no caso do Suzume, o Keishi as vezes acaba sendo um tipo de pessoa muito importante, porque somos pessoas que têm muita dificuldade em “se mover” ou “sair do lugar” e frequentemente, precisamos de um empurrão ou alguém que pegue na nossa mão e nos leve. Esse tipo de pessoa e personagem, por vezes, é a peça fundamental que precisávamos para tomar alguma iniciativa de mudança e, felizmente, é o que acontece com o Suzume ^^
Por eu ser tão parecido com o Suzume, a todo momento durante a leitura, eu via o personagem com muita condescendência, porque a certa altura, é o que ele precisa e dá um quentinho no coração ver as coisas dando certo e se resolvendo. Para além de uma pessoa legal, o Keishi se mostrou muito companheiro e complacente com o Suzume, conhecendo e se abrindo aos gostos do Suzume (como o de passarinhos de pelúcia). Tem um toque de delicadeza na relação dos dois, principalmente do Keishi com o Suzume que é uma delícia de acompanhar!
- A Autora
A Mamita começa a publicar suas obras no começo dos anos de 2010, principalmente com Doujinshi de “Tiger & Bunny” e a sua primeira obra profissional que se tem registro é “Chijou 100 Meter de, Aimashou“, publicado entre 2017 e 2018 na revista Chara, da Tokuma Shoten. É um volume único com três histórias. Em 2019 ela começa duas obras: a primeira é “Tonari no Metaller-san” (que será publicado no Brasil por outra editora com o título de “Meu Vizinho Metaleiro“) – sua obra mais famosa/conhecida -, um volume único publicado na Chara; e a 2ª foi “Nee, Onnanoko ni Shite Ageru“, publicado entre 2019 e 2020 na revista Reijin, da Takeshobo.
Em 2020, vêm mais dois mangás: “Furenaide Little Star” (2020-2021), publicado na Mellow Kiss (Shueisha) e “Ginmokusei no Shitateya” (2020-2021), completo em 2 volumes e novamente, publicado na Chara. No ano de 2021 ela começa a publicar “Natsume-san wa Hirakaretai” na Chéri+ (Shinshokan) e cujo volume 2 será lançado no começo de Setembro. E em 2022, ela publica “10 coisas para fazer antes dos 40“, publicado, como já dito, na BE x BOY (Libre). “10 coisas” é o seu trabalho (novo) mais recente e neste ano, ela começou a publicar a continuação do mangá, que pode vir com um novo título, como pode ser lançado como um volume 2.
Algo que gosto no trabalho da autora é que ela não só tem um desenho muito bonito, como a maneira que ela compõe as páginas é muito bonita. Tem um ar de elegância, polidez e fluidez muito interessantes. Gosto bastante disso nela ^^
- A edição nacional
“10 coisas para fazer antes dos 40” foi lançado no Brasil pela Panini no formato 13,7 x 20 cm, com capa cartonada e papel Offwhite 66g. Têm páginas coloridas no mesmo papel, um total de 240 páginas e inclui um marca página de brinde. O preço de capa é de R$ 40,90.
Nota: o papel não está bom, mas está bem menos pior que “Um amor impossível! Ou não…”
- Conclusão
A Mamita é uma mangaka muito boa, sabe como conduzir e contar uma boa história. Os mangás dela tem um apelo muito cotidiano, com uma boa comédia e um pornzinho gostoso. Ou seja, um prato cheio, daqueles que não tem muito o que reclamar no final. Fico feliz da autora ter chego ao Brasil, espero que a Panini traga a continuação eventualmente (continuação essa que acho muito bem-vinda) e feliz por outros mangás da autora chegando por aqui também.
Fica a recomendação não só de “10 coisas para fazer antes dos 40”, como de outros mangás da autora. É, sem dúvida, uma autora para se ficar de olho caso goste desse tipo de narrativa ^^
É isso pessoa, lembrando que o blog está em período de comemoração, celebrando seus 5 anos de existência, então teremos resenhas diárias durante todo o mês. Obrigado por lerem e até o próximo post ^^
- Ficha Técnica
- Título original: 40 Made ni Shitai 10 no Koto (40までにしたい10のこと)
- Título nacional: 10 coisas para fazer antes dos 40
- Autoras: Mamita
- Serialização no Japão: BE x BOY
- Editora japonesa: Libre
- Editora nacional: Panini
- Quantidade de volumes: “Volume único”
- Formato: 13,7 x 20 cm; capa cartonada
- Preço de capa: R$ 40,90
- Compre em: Loja Panini/Amazon
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