A Temporada de Verão acabou faz algum tempinho e com ela, alguns dos animes que eu tinha boas expectativas confirmaram elas, sendo bons animes, outros que embora eu tivesse boas expectativas, acabaram por ser completos baldes de água fria de tão ruins, mas também tivemos aquela categoria que é sempre muito boa quando acontece, que são daqueles animes que rendem boas surpresas! E eu posso dizer, com certeza, que “Tsue to Tsurugi no Wistoria” ou meramente “Wistoria”, foi uma dessas ótimas surpresas ^^
Sinopse: “Um garoto esforçado chamado Will entra em uma academia de magia na esperança de se tornar um grande feiticeiro. Infelizmente, há uma falha fatal em seu plano: ele não tem a habilidade de usar magia. Em meio aos olhares frios de seus colegas de classe e instrutores, Will se sente desencorajado às vezes, mas ele continua avançando com uma determinação inabalável. Ele não pode usar uma varinha, mas pode empunhar uma espada em sua batalha para alcançar o topo de um mundo dominado pela magia! Ele só precisa acreditar em suas próprias forças únicas e se lembrar da promessa que fez a alguém muito precioso para ele…”
Quem me conhece de um pouco mais de tempo sabe que mangás Shounen (e Seinen) não são meu forte, principalmente aqueles escritos por homens e mais ainda, aqueles que estão em grandes revistas das principais editoras. Em geral, me cansei e me desgastei muito com a demografia masculina ao longo dos anos, ao ponto de quase não ler mais mangás Shounens, apenas um ou outro que muito me interessam, tipo “Moriarty”, e passei a consumir e dar maior atenção a demografia feminina, porque são histórias que dialogam mais comigo, além de ter uma vivacidade, um frescor e um prazer que não sinto com os Shounens/Seinens. Tenho para mim, aliás, que quem normalmente está trazendo frescor para o Shounen e o Seinen são autorAs mulheres que vão para lá contar suas histórias (Blue Period, Skip to Loafer, Raise wa Tanin ga Ii, para citar alguns exemplos de obras dentro do Shounen e Seinen que são feitas por mulheres e representam alguns dos sucessos mais recentes). E embora eu tenha uma preguiça enorme com mangás Shounen/Seinen, as adaptações em anime dessas obras eu tendo a ver, porque estão em grande parte disponíveis e eu não preciso gastar horrores para poder ver, se tornando algo mais conveniente.
Eu não lembro propriamente o que esperava de “Wistoria”, ou mesmo se havia construído alguma expectativa com obra, porém, como a Shounen Magazine (revista onde o mangá é publicado) está em um processo de (a meu ver) decadência criativa nos últimos anos, não dava para esperar muito, porém, para minha positiva e grande surpresa, não é que é uma boa obra e uma ótima adaptação?!
Primeiro de tudo e o mais importante, “Wistoria” parte de um lugar muito comum, com uma base muito simples (mas muito sólida), com arquétipos de situações e de personagens super bem demarcados e característico, mas é nessa simplicidade toda, de algo que com toda certeza você já viu em dezenas de outras obras – especialmente os arquétipos dos personagens -, que o autor consegue fazer a obra brilhar e ter seu charme próprio.
O que temos aqui é a história do Will, que sempre teve muito carinho e apreço pela Elfie, uma garota que cresceu no mesmo orfanato por ele e que desenvolveu grandes poderes mágicos, ascendendo rapidamente e se tornando a mais jovem Magia Wende (os magos mais poderosos) da história. O Will é apaixonado pela Elfie e declara isso desde muito cedo na série (repetindo algumas vezes até) e, no entanto, ficou na academia de magia, prometendo que ele a alcançaria algum dia. O grande problema, porém, é que o Will não tem quaisquer habilidades mágicas, sendo incapaz de produzir magias básicas. O seu destaque, no entanto, é com habilidades físicas e teóricas e é desse modo que ele vai acumulando créditos (como em um curso de faculdade), batalhando com monstros na dungeon com força bruta e desempenhando o máximo que pode nas aulas teóricas. A partir disso, a gente acompanha dele nessa jornada para conseguir “subir na torre” (não literalmente), que é para onde os que tem maior aptidão mágica vão para continuar desenvolvendo essas habilidades e poderes.
A série é construída toda em cima de arquétipos. Então todos os personagens seguem muito estereótipos e a série deixa os personagens, em algumas situações, muito acima do tom, o que deixa as coisas mais divertidas de acompanhar (pelo menos par mim). Para dar alguns exemplos disso, temos o personagem Sion, que é tsundere e vê o Will com certa rivalidade e raiva por umas questões da infância dos dois, aí ele se levanta como uma pessoa revoltada, que não gosta de ser passado para trás pelo Will – ainda mais considerando que o Will não tem habilidades mágicas – e tudo isso vai se acumulando, acumulando, acumulando, até um ponto de “implosão”. Outro personagem é o Wignall, um elfo, a classe dos elfos é dentro daquela sociedade, uma das mais valorizadas e vistas como importantes, o Wignall veste essa visão e é esnobe, com uma abordagem diferente de um outro personagem que já chego lá, além de também ver o Will como alguém inferior a ele. O Julius é o personagem que melhor representa os estereótipos de personagens, porque ele não só é esnobe, como a obra e a direção elevam essa questão a enésima potência, então tem caras e bocas diversas do personagem, como ele é muito vocal, fala alto, pega um ódio tremendo do protagonista e faz o possível para humilha-lo e provar seu ponto. Tem ainda a Lihanna que é pouco expressiva e é “a perfeita” (e isso até é dito no anime), o professor Edward que é todo sombrio, meio gótico e odeia o Will por não ter habilidades mágicas e por aí vai. Eu falo essas características não como se fosse em detrimento da obra, muito pelo contrário, o autor consegue pegar todos esses arquétipos e fazer deles algo muito legal, porque sabendo como todo mundo é, você meio que já espera certas coisas e situações (que nem sempre vão sair como o exato esperado), ao mesmo tempo que vende um carisma danado.
E falando em carisma, o Will é um doce de pessoa e ele é um ótimo mocinho. Esse tipo de personagem (o humilhado, mas bonzinho, meio bobinho etc.) em geral tem um potencial até grande de acabar sendo muito chato, mas o Will não. Ele vende bem o próprio papel e é um personagem que acompanhando, não só me pego torcendo para que dê tudo certo para ele, como é um personagem que penso “Gostaria de ser amigo dele”, o que claro, é excelente. Como disse mais acima, o Will gosta da Elfie, mas isso não impede que outros personagens se apaixonem por ele. Em outras obras do tipo, o que seria o mais esperado nesses casos, é que o autor se aproveite disso para fazer fanservice ou colocar personagens femininas em situações degradantes ou que as diminuam em função do personagem masculino, mas aqui não. Como o Will SÓ tem olhos para a Elfie, o que o autor faz aqui é se aproveitar desses outros personagens para fazer comédia. Nessa primeira temporada, há duas pessoas que gostam do Will, a Colette, que meio que é a única amiga do Will na escola e a única que o respeita, e temos o (maravilhoso) Rosty, que divide quarto com ele. A Colette é mais recorrente na história, enquanto que o Rosty faz apenas pontas aqui e ali, mas toda vez que ele aparece é pelo menos um riso. Como efeito de os dois nunca terem chance de se relacionar com o Will, isso produziu algo maravilhoso que é o 8° episódio da série. Não é spoiler, porque esse é um episódio de respiro e de transição entre arcos e nele, temos uma garota e um gay simplesmente disputando a atenção do crush, com a gay sendo totalmente tóxica e explanando que toma banho com o Will todas as noites. O Rosty fica o episódio todo contando vantagem quanto a sua amizade muito íntima que ele possui com o Will e é um episódio absolutamente divertido de se ver.
Ainda nesse campo de amores, o que gosto também é que as personagens não estão em função do protagonista. Todo mundo ali tem seus próprios objetivos e dramas e cada um faz o próprio corre. Se for ver bem, na verdade, o único personagem que até dá para dizer que gira em torno do Will é o Rosty, o que deixa tudo melhor ainda, rs.
Falando da história propriamente, nós temos dois grandes arcos, o 1º vai até o episódio 7 e envolve uma competição na escola mágica, em que o Will vai participar por uma intriga com o Julius (e ele vai ser o grande antagonista nesse ato da história), enquanto que o 2º arco vai dos episódios 9 a 12. Como eu disse, o 8º episódio funciona como um descanso e uma ponte para o começo do novo arco. Esse arco envolve a dungeon e a conquista por mais créditos, em que o Will se junta a um grupo de pessoas para chegar o mais longe possível e assim, reunir o maior número de créditos que for possível. Não há muitos segredos nos arcos, mas queria dizer que há uma diferença do 1º para o 2º em termos de seriedade. Enquanto que no primeiro – que serve como introdução ao núcleo principal de personagens – não há um perigo real, no segundo a coisa muda completamente de figura e passa a ficar mais sério e pelo que um amigo me disse, a tendência que essa tensão e perigo vão acumulando a partir de agora.
Algo a se elogiar muito é o trabalho do diretor no anime. O Tatsuya Yoshihara é mais conhecido pelo trabalho em “Black Clover”, mas bem antes disso, ele começou trabalhando no estúdio Actas, só depois alçou novos ares e agora, volta ao estúdio para fazer “Wistoria” e que trabalho sublime! Aqui, ele pega o material e consegue o elevar ele para algo ainda melhor! Ele é um excelente diretor de ação, sabe fazer ótimas coreografias de ação, não só com coisas explodindo na tela, mas demonstrações de batalha propriamente, tornando o anime muito fluido de assistir. Eu sou péssimo para fazer maratonas de anime, no geral, não consigo fazer e vejo bem espaçado (a não ser que seja anime ruim, ou que me dá ódio, aí vejo rapidinho), então é bem raro encontrar animes bons que me cativem de tal forma que eu consiga ver vários episódios de uma vez, e Wistoria conseguiu esse feito. Eu tinha visto apenas um episódio e precisa ver os demais para comentar no canal do blog, peguei para ver à noite e vi 7 episódios de uma só vez, indo até de madrugada vendo o anime. É um anime muito gostoso der ver, porque como tem muita ação, ele acaba não tendo muito texto, então é uma fluidez na hora de assistir muito impressionante.
Vale dizer também que além de um ótimo diretor de ação, o Yoshihara é muito versátil. Sabe fazer as cenas de slice of life e os momentos de comédia são sempre no ponto, com timing muito impecável.
“Wistoria” se revelou uma grata surpresa e ainda mais surpreendente considerando que é uma obra do mesmo autor de “Dungeon ni Deai”. Era daqueles animes que não esperava muita coisa e acabou saltando os olhos pela qualidade da execução de tudo. E tá aí mais uma prova de que ser básico não é um problema. Se você sabe fazer o básico, não tem o que ter vergonha ou medo de ser feliz. Não sei da época em que gostei realmente de um Shounen de lutinha, eu realmente não me lembro, então parabéns ao autor por ter conseguido esse feito, rs.
Fico ainda mais contente que já foi anunciada uma segunda temporada. Não previsão de estreia, mas fico feliz de que teremos pelo menos mais uma temporada para acompanhar ^^. No demais, fica a minha recomendação e aguardo ansiosamente a segunda temporada!