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Eu não estou jogando uma VN para ter opções de escolha.

Eu não estou jogando uma VN para ter opções de escolha.

Quando estamos na escola, aprendemos alguns princípios básicos ao criar alguma produção literária. Desde de resenhas, resumos, redações, análises, críticas, livros, reportagens, colunas, cartas, ofícios, memorandos…tudo tem uma fórmula (base), com cada um com suas regras e particularidades. Como uma pessoa que escreve algo, precisamos seguir três pontos ELEMENTARES em qualquer texto feito por um humano que expõe suas ideias. Precisa de um começo (introdução), de um meio (desenvolvimento) e de um FIM (conclusão) para qualquer coisa que você desenvolva com suas palavras. Se vai fazer uma pesquisa cientifica sobre determinado assunto especifico que irá contribuir em alguma coisa na sua área de estudos, você NÃO vai escrever no seu artigo e dizer que o resultado do seu estudo ou experimento “o leitor que decide”.

Se for algo pessoal, que você fez/produziu, em que expõe seus pensamentos para os demais, tem que ter o SEU ponto de vista do objeto estudado/analisado/criado. Uma analogia bem maluca: você não come sua comida (arroz, feijão…) sem cozinha-los. Não adianta temperar se não cumpriu todos os passos do cozimento. Pular ou omitir as etapas, vai gerar problemas na mensagem que você queira passar (no exemplo aqui, eu pensaria que a pessoa não bate bem da cabeça no momento que come grãos de arroz e feijão “cru”). Voltando ao exemplo da escrita, um texto sem o ponto de vista do autor, não é mais um texto PESSOAL, próprio, feito de sua AUTORIA. A não ser que você seja jornalista mais informativo em que precisa passar a notícia da forma mais neutra possível, você precisa passar sua ideia, sua linha de pensamento para poder falar posteriormente que tem uma produção SUA em circulação. E qualquer coisa que envolva o nome de qualquer autor, sempre temos como referência seus trabalhos como concepção do seu entendimento como criador.

Dada essa longa introdução, quero fazer uma pergunta sincera: como leitor, você está lendo uma saga GIGANTE e é uma franquia favorita sua. Repentinamente, o autor dessa sequência de vários livros, faltando APENAS UM VOLUME PARA ENCERRAR SUA HISTÓRIA, chega em um pronunciamento oficial dizendo assim: “Não vou fazer o último livro. As fanfics serão canônicas e VOCÊS QUE DECIDAM O FINAL.”. Com certeza, no momento seguinte, você vai querer a cabeça do autor numa estaca em praça pública para atirar pedras ala Judas. xP. Estou extrapolando na minha colocação, mas tente imaginar por alguns segundos, não considerando sua torcida por ship X ou Y, que gostaria que tal personagem sobrevivesse ou que gostaria que tal evento acontecesse na história. Imagina você investir dezenas de horas em acompanhar uma série, livro, HQ ou mangá longínquo, o autor/roteirista simplesmente fica em cima do muro, não decidi uma conclusão para sua obra e fala para “vocês decidirem qual o final VERDADEIRO” de sua obra, é para FUDER E TE CHAMAR DE IDIOTA.

Só que foi exatamente isso que aconteceu com o autor de Bokuben em não ter coragem o suficiente em decidir uma coisa, e jogou a responsabilidade da escolha de qual heroína irá ficar com o protagonista para o LEITOR. Para quem está perdido do motivo do meu texto, algumas semanas atrás, o autor de Bokuben decidiu lançar moda e fazer múltiplos finais para seu mangá, na tentativa de agradar o máximo número de fãs possíveis. É o famoso:  “Estou com medo, vou me abster. Vocês que decidam. ”. Se seguirmos essa lógica, como EU decidi o rumo da história, TAMBÉM SOU CO-AUTOR DO MANGÁ. EXIJO MEUS ROYALITIES DE VENDA MEU CARO. ESTOU SENDO ROUBADO.

“Mas tem que levar em consideração que o autor quer agradar os fãs.”. Uma das desculpas mais recorrentes que vi e ouvi nessa situação. Porém devolvo essa justificativa com algumas perguntas. DESDE DE QUANDO OS FÃS ACERTAM? DESDE QUANDO OS FÃS SABEM O QUE QUEREM? DESDE DE QUANDO OS FÃS DECIDEM ALGUMA COISA DIRETAMENTE SOBRE AS OBRAS DOS OUTROS? OS FÃS SÃO EDITORES AGORA? SÃO ROTEIRISTAS? PRECISO CITAR GAME OF THRONES E A CAGADA QUE FOI AQUELE FINAL DESTINADO PARA OS FÃS? PELAMORDEUS NÉ PESSOAL!? “Mas BTOOM fez a mesma coisa…”. Como esse mangá fosse exemplo de qualidade, onde os dois finais são bem merdas.

“Mas quem não gostou de final X, vai ter Y, Z, W, K para ficar feliz.” PESSOAL, decepções acontecem a todo momento. O final merda de Lost, A Vila, GoT, Heroes…querendo ou não, foram conclusões propostas e mesmo tendo sido HORRÍVEIS seus encerramentos, é o final proposto pelos seus idealizadores. Não estou dizendo que os pedidos dos fãs não gerarão nenhuma influência na decisão dos produtores pelo rumo que irão tomar. É inevitável para obras que dependem de popularidade para sobrevivência e continuarem sua publicação/exibição, não terem nenhum tipo de intervenção dos consumidores no produto final. Feedback é necessário para melhorias dentro de qualquer produção de entretenimento. “Como pode ser feito de tal forma ou como posso atingir esse público utilizando alguma ferramenta de roteiro?”. São ideias que circulam nesse meio editorial e criativo de todas as mídias.

Porém vou para um lado das consequências de um produto finalizado com mais uma analogia bizarra. A fórmula da Coca-Cola original é ÚNICA. O molho do McDonald’s é único. O Senhor dos anéis é único. Temos apenas um produto com UM RESULTADO. Não temos variantes ou os consumidores que decidem sua fabricação ou os ingredientes em uma votação popular. O produto final, para poder dizer que é ÚNICO/COM DIFERENCIAL no mercado, teve sua composição com uma finalidade, com UMA CONCLUSÃO gerada. NÃO tem dezenas de finais de Breaking Bad e TODAS SÃO CANÔNICAS.

Basicamente, a minha visão é que não tem como ter DEZENAS DE FINAIS EM UMA HISTÓRIA LINEAR. “Mas é igual Visual Novel, em que posso escolher a rota que quero.” Meu caro, isso não é um game e são mídias COMPLETAMENTE DIFERENTES. Durante uma gameplay, VOCÊ É O AUTOR PRINCIPAL em que todas as suas ações durante uma campanha de algum jogo, depende TOTALMENTE dos seus ‘inputs’. Você que toma as decisões e determina o ritmo narrativo do game, podendo até “improvisar” dentro daquele cenário controlado pelo desenvolvedor. Você faz PARTE do que está sendo contando. Inclusive nos games, a imersão é GIGANTESCA, pois suas decisões influenciam para chegar a um final (ou vários finais se o jogo tem múltiplas rotas). Ainda temos um grupo de pessoas que criaram o jogo e definiram as possibilidades que você tem dentro daquele contexto, mas você é participativo e ativo ao contar a campanha.

Só que ler livros ou assistir um filme, você consome de forma passiva esse entretenimento. A mídia já está pronta e você não tem como intervir sobre aquilo, pois é uma visão de uma pessoa narrando uma história autoral e que as decisões dele, vão ser os “nossos olhos” dentro do mundo proposto. No momento em que é aberto para interferência externa, deixou de ser algo dele, para ser uma parada comunitária ou de domínio público. Aí que vem diversas questões sobre Bokuben: O autor tinha alguma ideia do que ele queria fazer? Qual é o final verdadeiro para ele? Qual era a sua intenção em contar aquele enredo? Tinha algum proposito? Existia algo para ser contado? Por que eu estou lendo isso se vai ser eu que vou decidir essa parada? Não seria melhor eu escrever então já que sou “autor” desse mangá? Vocês estão vendo aonde eu quero chegar?

“Mas existem livros-jogos em que enquanto você ler, vai tomando as decisões do rumo da história. ” Só que temos um ‘porém’ aqui: esses livros-jogos foram PROJETADOS para essa finalidade. Desde da ideia, concepção, escrita até sua finalização. São histórias que já começam COM MÚLTIPLAS ESCOLHAS. Na primeira página você já toma decisão para qual caminho seguir. É MUITO DIFERENTE do que você começar uma história LINEARMENTE, ESCREVER 99% DELA, E CHEGAR LÁ NOS ‘FINALMENTES’, VOCÊ SE ACOVARDAR E JOGAR A RESPONSABILIDADE PARA OS LEITORES. Não foi dessa forma que a narrativa se caminhou. Só tinha um caminho na maior parte do tempo para na reta final, surgir múltiplas ROTAS repentinamente e te vira meu amigo que consumiu essa obra!?

E vamos pensar na imagem de autores que utilizam essa “tática” acovardada. Quando você está conversando com amigos e o assunto é “Quais são os seus autores favoritos? ”. Geralmente vão ter as mais variadas explicações para você achar aquele autor foda. “Ele sabe escrever um mistério. ”, “O maluco é um excelente contador de história. “, “O autor X faz uns PLOT TWISTS INSANOS. ”, “Aquele cara sabe fazer um FINAL FODA. ”, “Aquele autor é pirado e muito autoral, abusando de simbolismos e metáforas… Adoro ele”… Vocês percebem que quando o autor desaparece de sua própria história, deixando a responsabilidade para os fãs, ele apenas está sendo um totem que só escreve/desenha perdendo toda a identidade que poderia ter se tivesse feito suas escolhas? Ele não deixa pensamentos ou sua marca. Praticamente virou um boneco que só obedece a comandos de fora. E esse autor de Bokuben me manda que são “realidades alternativas” e que se não gostou do primeiro final, pode escolher um outro que seja “do seu agrado”!? AÍ NÃO TIO. O autor que cede a desejos de terceiros é TOTAL SEM RESPEITO COM QUEM ESPERAVA UMA FINALIZAÇÃO MAIS CONCRETA DO QUE FOI CONTADO ATÉ ALI. Vou até usar de exemplo mais direto. O mangá das Quíntuplas que tomou a decisão de assumir uma “rota” como canônica. Obviamente teve gente que detestou, que achou o final uma merda e que a “Waifu A” é melhor que a B escolhida. É obvio que iria acontecer, dado que o autor decidiu por um caminho apenas. Entretanto, agora sabemos do seu potencial, do seu jeito de contar uma história e do que podemos esperar de sua próxima obra dado a conclusão apresentada por ele. Querendo ou não, ele deixou sua marca e o seu jeito de contar uma narrativa com múltiplas heroínas. Porém, é possível fazermos essa análise para o autor de Bokuben? Ele tem alguma característica como autor? O que esperar dele no próximo mangá? Mais um mangá genérico com múltiplos finais? Qual foi a marca que ele deixou? Nenhuma dessas perguntas são respondidas porque ele foi um AUTOR OMISSO E PASSIVO O TEMPO TODO. Não consigo esperar nada de um cara que não afirma ou responde nada. Foi uma jornada de leitura perdida porque se fosse eu para decidir como se deve contar alguma história, eu estaria fazendo a minha própria e publicando em sites de fanfic.

Vou lembrar de que se você achou a ideia de múltiplas rotas legal, bacana, interessante; tranquilo quanto a isso porque vai de cada um aceitar essa proposta de contar história dessa forma. Porém eu me sinto enganado por ter perdido tempo lendo o mangá e chegar lá, não ter um final definido, sendo à moda caralha. Prefiro me decepcionar com um final merda, do que ler algo que pode ser qualquer coisa na conclusão.

3 thoughts on “O problema de não decidir um final – Bokutachi wa Benkyou ga Dekinai

  1. Eu acho que o autor seria covarde se ele não mostrasse final algum. No caso de se criar rotas você de fato tem finais que agradam a todos. Prefiro isso, pois a grande maioria dos animes não termina com final feliz ou com o casal que você está shipando. Em Bokuben tem 5 garotas que interagem com o protagonista. Cada uma passa com ele por momentos marcantes de modo que seja possível de ele se apaixonar por todas. O mundo real já é chato, então histórias de animes são usadas para fugir dos resultados previsíveis dessa realidade. Não é porque vivemos decepções no mundo real que tudo tem que ser reproduzido também em um manga ou anime. No manga ou no anime o autor te dá a possibilidade de haver de fato felicidade no fim de uma história. Você diz que os leitores não sabem o que querem, porém eu penso o contrário. Não quero me prender a uma história que criará em mim grandes expectativas no fim irá me decepcionar só pra dizer que devemos nos conformar pois o mundo funciona dessa maneira. Já assistí muitos animes e há toneladas deles que não terminam da forma que queremos. Chego a pensar que os japoneses não apreciam final feliz em animes de romance. Eles são mestres em criar expectativas com boas história, mas no final na grande parte das vezes o protagonista prefere não escolher ninguém. Só para parecer com o mundo real? Isso é a maior bobagem que podem dizer! Tomara que mais autores usem as rotas alternativas, pois a chance de agradar a gregos e troianos é maior.

  2. Eu gostei do formato, nem tanto de um ou outro final. Normalmente em filmes ou séries, não acompanho assim que saem do forno, vejo depois e começo pelo final, se não gostar do que vi nem perco tempo assistindo ou lendo a coisa toda. A mesma coisa para animes, se começa bem vou ver o futuro dele em Novel ou Mangá, em alta velocidade, passando por cima de toda historia para decidir se volto atrás e vejo tudo com calma ou abandono a coisa toda. Livros e novels, prefiro em formato digital, se eu não gosto de algo reescrevo em cima, crio outras historias ou outro final.

  3. Eu como leitor de romances ODEIO autor sem identidade, quando você se propõe a fazer uma narrativa que as protagonistas femininas vão brigar pelo protagonista masculino, o mínimo que se espera é eles escolher uma é ponto. Essa é a graça de lê esse tipo de mangá, é saber que só algumas pessoas ganham e outras perdem, que a vida nem sempre é do jeito que a gente quer que seja

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