O Capitalismo como o grande problema da sociedade.

No último dia de 2021, eu finalizei as postagens de impressões dos 24 episódios de “Yuukoku no Moriarty” aqui no blog. Além das 24 postagens sobre os episódios, ainda produzi uma review sobre a primeira parte do anime (episódios 1 à 11) e agora, quase 3 anos depois, venho comentar de forma geral, qual a experiência e o saldo que saio após consumir essa verdadeira experiência chamada “Moriarty”, aproveitando também a celebração de 5 anos de existência do blog LD ^^

Sinopse: “O protagonista da história é James Moriarty, o famoso antagonista da série Sherlock Holmes de Sir Arthur Conan Doyle. No mangá, ele é um órfão que assume o nome William James Moriarty quando ele e seu irmão mais novo são adotados na família Moriarty. Quando jovem, ele procura remover os males causados ​​pelo rigoroso sistema de classes da Inglaterra.”


Eu comecei a ver animes no comecinho de 2017, e no final daquele ano, eu tive o enorme prazer de conhecer “Kuzu no Honkai” (2017), sendo um anime que me marcou profundamente por uma série de fatores, entre elas por ser como um divisor de águas entre o Alexsander de antes e depois da obra. Kuzu no Honkai me empolgou de tal forma que corriqueiramente tenho a necessidade de revisitá-lo para matar saudades. No começo de 2018, estreou “Violet Evergarden”, outro anime que me impactou em diversos fatores e que me deixou extremamente empolgado com tudo que envolvia a obra, muito semelhante ao que aconteceu com Kuzu meses antes. Passado Violet Evergarden, não consegui encontrar outro anime que me deixasse de forma tão semelhante quanto os dois mencionados. 2020 veio e passado os primeiros meses de uma pandemia que estava me desgastando demais, a Temporada de Outono daquele ano tinha entre suas estreias, “Yuukoku no Moriarty”, um anime que me soava deveras duvidoso e que eu acreditava que seria ruim, até comentei isso na nossa postagem que listamos os animes que pretendíamos assistir daquela Temporada. E para a minha surpresa, eu não poderia estar mais errado. E que bom que eu estava tremendamente enganado!

O que temos aqui é uma releitura do grande antagonista da série de livros de Sherlock Holmes escritos pelo Arthur Conan Doyle. Essa releitura é vinda de um mangá escrita pelo Ryosuke Takeuchi e ilustrado pela Rikaru Miyoshi. Na série, o que o autor faz é pegar esse personagem icônico e que quase não aparece na série de livros para colocá-lo como protagonista e explorar uma faceta muito interessante do personagem, bem como expor questões chave do capitalismo, seu modo de operação e usar do Moriarty como uma alternativa para acabar com o sistema, meio na linha de ‘fazer o certo por linhas erradas’.

O primeiro episódio – que é original, vale dizer – é uma introdução ao universo da série e ali, a animação já coloca as cartas na mesa quanto ao rumo que a série terá dali em diante. Em resumo, temos um caso de uma série de assassinatos de crianças que seguem um certo padrão, o William e seus irmãos – Louis e Albert – entram na jogada para desvendar quem está por de trás disso. O episódio é muito focado em diálogos e na junção das peças pelos personagens. São diálogos maravilhosos! Envolventes, bons e uma coisa que gosto na obra é que ela não trata o público como burro para soar inteligente, pelo contrário, ele dá sempre aquela impressão de te ‘trazer para perto’ e te incluir na resolução, sempre acompanhando a linha de raciocínio dos personagens. Não vou contar o miolo do episódio, porque para quem não viu, definitivamente vale dar uma olhada, porque é uma experiência no mínimo interessante de se ter, especialmente quando não se sabe de nada, mas a trama do episódio vai fechar com uma vingança e absolutamente bárbaro (no bom sentido da palavra). Não vou entrar em grandes detalhes sobre cada episódio, já que o que quero fazer aqui é apenas um panorama geral (e eu já destrinchei episódio por episódio no blog), mas o 1º em especial acho que vale comentar um pouco aqui, porque não só é excelente em execução, como ele prova logo de cara como a equipe entender perfeitamente o ambiente do material original e o que a obra está criticando.

Os primeiros episódios seguem assim, com cada um ou cada par de episódio contando uma história. Os episódios 2 e 3 formam um par para contar as origens dos irmãos Moriarty e são dois episódios absolutamente fantásticos! Desde a apresentação do William como um pequeno gênio e com uma mentalidade muito adulta, pessimista, mas também, muito real e consciente do mundo que vive, a construção de tensão que quando começa, só vai crescendo até o momento de explosão e incêndio (rs). É tudo perfeito! O 1º episódio já tinha quebrado minha sensação inicial de que a obra era ruim, mas o 2º e principalmente o 3º episódio me tornaram um verdadeiro fã da série, ao ponto de rapidamente procurar o mangá e comprar os 5 primeiros volumes da obra (tem resenha do mangá no blog, aliás).

O anime segue nessa apresentação de pequenas histórias até depois da apresentação do Sherlock Holmes, que é outro grande destaque da série. Se por um lado o Moriarty é o antagonista e aqui, ganha uma faceta muito interessante, o Sherlock vai pelo mesmo caminho. Ao invés de ser visto apenas como mocinho, o Sherlock de “Yuukoku no Moriarty” é alguém para lá do questionável. Claro, o Moriarty por fazer ou ser o responsável pelo assassinato de uma série de milionários (divo), ele para os nobres será um vilão e o Sherlock por ser o investigador de casos de assassinato, será visto pela população como o mocinho, no entanto, o que gosto aqui é que, na verdade, o Sherlock vê tudo isso como um grande entretenimento para sua vida monótona. Quando os assassinatos são orquestrados (magistralmente) pelo William – que até então, ele não sabe que é ele – ele se diverte, pouco importa quem morreu realmente, o que importa é a sua diversão em desvendar o caso.

O elenco todo de protagonistas, que se aliam aos irmãos Moriarty, são todos muito bons! Alguns infelizmente não conseguem ter tanto destaque como mereciam, como é o caso do Patterson, mas eles são todos muito fundamentais para que tudo siga com o plano deles. É uma verdadeira gangue tentando fazer a alta burguesia da Inglaterra ruir, seja pelas mãos deles, matando, seja por meio de uma incitação de uma rebelião da classe trabalhadora. Um outro grande destaque do elenco é a Irene Adler, que aparece nessa segunda metade do anime (a partir do episódio 12) e que é um encanto. Uma presença muito marcante, com uma trama muito interessante e com uma resolução igualmente boa. Tirando os irmãos Moriarty, ela é minha personagem favorita da série. Tem uma participação curta, mas muito boa!

Pensem em uma passagem avassaladora… é a dela!

Infelizmente o anime precisou adaptar 14 volumes em 24 episódios, em grande parte, eles sustentam MUITO BEM! O roteiro se sustentar tão bem vem, claro, da escrita do Ryosuke Takeuchi no mangá, mas também é mérito do Taku Kishimoto, que é um excelente compositor de série no anime e conseguiu enxugar muito do material original para que o que fosse cortado, não fosse fazer falta lá na frente. Porém, chega um ponto da reta final que eles precisam adaptar um volume por episódio (os 5 ou 6 últimos episódios do anime são assim) e assim, não é que fique ruim, mas tem cenas que evidentemente precisavam de um tempo maior. Nessa reta final do anime, aparece um vilão em comum ao William e ao Sherlock (mais do William do que do Sherlock) e o desfecho acaba sendo muito repentino. Só aquele miolo dos 4-5 últimos episódios renderiam facilmente mais uma temporada de 12.

Se todo o andamento do anime é muito bom de forma geral, a cena final, hoje em dia, eu não acho tão boa. Na época que vi, até comentei que gostei no post de impressões finais do anime, mas depois daquilo, parei para pensar e ficou um gostinho um pouquinho amargo. Sem spoiler e resumindo a situação: o anime adaptou até o volume 14 do mangá, porém, os 5 minutos finais do último episódio é original, apenas para dar um fechamento à trama em caso de não ter mais temporadas. Só que o final que foi dado é um tanto ‘positivista’ demais. A obra critica o capitalismo e ele segue vivo até hoje, o final do anime passa um ar de que depois do caos, a humanidade se une e tudo fica bem, porém, sabemos como o mundo está hoje. É uma licença poética que a obra fez? É. No entanto, para um anime que passou 24 episódios mostrando o que há de pior na classe dominante, me soou um pouco ‘xoxo’ o final optado.

Iconic

O anime contou com produção da Production I.G e foi um projeto muito bem executado graças à direção do Kazuya Nomura. Não é um anime que esbanje animação, pelo contrário, é até bem estático e no entanto, a direção sabe usar isso a seu favor para melhor valorização dos designs (lindos) das personagens e focar em outros elementos para a construção de tensão dos momentos, mexendo na paleta de cores, para criar ambientes mais sombrios, deprimidos, outros mais alegres e radiantes, trazer cenários lindos e bem acabados, somando o uso de cores fortes neles. Enfim, trabalho excelente!

Apesar do finalzinho, não acho que ele diminua em nada a relação do todo da série, continua excelente e sendo um dos meus animes favoritos! Recomendo muito fortemente! ^^

Fiquem atentos para os próximos posts de reviews que iremos lançar ao longo do mês de Agosto para comemorar o 5º aniversário do blog! Também estamos publicando resenhas de mangás diariamente e outras coisinhas mais! Obrigado por lerem e até a próxima ^^

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