Quando o antagonista fica mais importante que o protagonista.

Quando o antagonista fica mais importante que o protagonista.

SINOPSE: Depois da morte de Thors, Thorfin parte para sua vingança se juntando ao grupo de bandidos liderados pelo assassino de seu pai. Em busca de uma oportunidade, acompanhamos sua trajetória em busca desse objetivo.

Um anime de Vikings!? Interessante…

Eu fui ver o anime sem conhecer nada do original. Sabia/lia alguns comentários de amigos e pessoas que acompanho na internet, comentando bem da obra e elogiando sua história e desenvolvimento de personagens. Não estava hypado, nem nada, por justamente tentar não gerar expectativas antecipadamente e consumir o “produto” da forma que ele se propõe. Estava evitando me afetar de influências externas, o que me fez ignorar o anime por completo no primeiro momento. Diversas vezes, esquecia de sua existência, para justamente cumprir com o meu plano de ver sem entrar na onda do pessoal. Não vou dizer que foi exatamente por isso que gostei mais do anime, porém minha experiência não foi prejudicada.

Acompanhei poucas histórias de Vikings e pouco conheço sobre sua origem étnica e histórica graças as minhas aulas na educação fundamental serem meio limitadas. Até desconheço sobre a importância desse povo na formação do continente europeu com suas guerras. Então o anime foi, pelo menos, informativo para meu aprendizado dessa cultura e seus conflitos. E me surpreendi, de forma positiva, com sua história mais “lenta” do que eu esperava. Se já assistiram Vikings da HBO, eu estava esperando algo mais voltado para essa linha. Algo mais sujo e brutal, mais apelativo para o público masculino. Só que eu assisti foi uma obra mais voltada para a narrativa e enredo do que apelativos da violência para chamar a atenção. Não que o anime ou série seja superior a outra. Só fiz mais uma observação para quem ainda não assistiu o anime, não esperar algo centrado nos conflitos e na brutalidade da guerra.

E ter aquele prólogo mostrando a infância do protagonista (Thorfinn) com seu pai e o que levou a virar um guerreiro assassino ao mando de um líder que matou sua figura maior, era necessária. Temos que ver como o pai largou essa vida e decidiu seguir um lema de sem matança. E como é interessante o filho percorrer o mesmo caminho tortuoso que o seu progenitor fez numa era de batalhas e sobrevivência. Evitando dar spoiler, todo esse arco dessas duas temporadas exibidas, são essenciais mais adiante no original. Então, acompanhar essa jornada do protagonista, é deveras interessante, principalmente pelas pessoas que passam na sua rotina que agregam em toda sua descoberta pessoal e aprendizagem.

Um ponto que tenho que destacar é a elegância em retratar as cenas mais fortes. Muito graças a direção segura, em que o evento em si é muito mais impactante do que sangue e tripas voando. Existe uma valorização do que está sendo contado em vez de apelar para subterfúgios para chamar a atenção dos espectadores. Inclusive, essas cenas são retratadas de forma mais crua possível, sem extrapolar. O lance das escravas sexuais, crianças matando seus próprios familiares, a brutalidade de um local de batalhas, tudo muito bem representado, mas sem deixar as coisas gráficas sem motivo. Somente o necessário para passar toda a intensidade que esses momentos pedem. Exceto quando o personagem do Thorkell está em cena. Os exageros dos momentos de suas lutas são para mostrar sua força descomunal, entretanto algumas pessoas podem torcer o nariz para esses segmentos mais “cartunescos”.

O melhor antagonista da temporada

Impossível não falar de Vinland Saga sem mencionar sobre Askeladd. QUE BAITA PERSONAGEM, MEU DEUS. Espectador no primeiro momento, ao bater o olho na criatura, já sabe que ele é daqueles personagens que não se pode confiar. É daquelas pessoas que tem a mentalidade de que os fins justificam os meios. Tudo que possa ser feito para alcançar algum objetivo, com certeza ele irá fazer. Daqueles clássicos antagonistas que você vai achar desprezível desde dos momentos iniciais. Só que temos um ‘porém’ aqui. Maior parte dessa temporada, praticamente acompanhamos a história a partir da perspectiva do Askeladd. Então vemos seu passado, o que o levou a tomar tais decisões (destaco para as decisões mais radicais que chocam), suas motivações, seus desejos, seus medos, suas aflições…literalmente o entendemos por completo.

Depois de o conhecermos de fato, fica impossível não simpatizar, em algum nível, com Askeladd. Chega em um ponto da narrativa, que a nossa torcida se inverte e passamos a torcer para o “vilão” do que para o protagonista. É um sentimento ambíguo, pois você viu as barbaridades que ele cometeu com milhares de pessoas e ainda sim, você pensa na possibilidade: “Eu seguiria ele tranquilamente numa guerra.” de tão foda que Askeladd foi. Dada a sua complexidade, Askeladd foi de longe, um dos melhores personagens do ano passado, fácil.

A produção serviu para seu propósito

Vou dizer que a direção se saiu muito bem durante a adaptação. Nada como ter uma equipe que entende o material que está trabalhando. Com exceção de algumas decisões de tom e formato, a produção conseguiu transmitir de forma formidável o clima do mangá (depois da primeira metade do anime, fui ler o original como curiosidade).

Não tenho muito o que falar da animação. Foram consistentes e tiveram momentos de sakugas lindos para os fãs dessa técnica se deliciarem. A OST é eficaz, mas dou destaque para as OPENINGs que são maravilhosas. A segunda OP é a minha preferida da temporada do ano passado. MAN WITH A MISSION não erra. QUE BANDA FODA.

Outro destaque que dou é para os dubladores. Todos estão formidáveis, e fazem trabalhos únicos nas suas atuações. Em quesitos técnicos, não tenho reclamação alguma.

Mais alguns comentários

Adoro como demonstram a precaridade daqueles tempos. A sujeira, a higiene, os instrumentos rústicos, o linguajar, os hábitos e governos…tudo muito condizente com o que aprendemos na escola. Além de coerência, passa uma veracidade situacional imensa para aprofundar aqueles contextos e personagens em cena.

Um dos episódios que mais curti foi o do ataque a uma vila litorânea. O protagonista provando um momento de respiro daquele caos e servindo de contraponto para o estado que estava imerso de sua raiva e remorso, matando inocentes sem critério algum. E aquele segmento de tranquilidade e familiar, vai ser muito importante para os próximos arcos, se tiver uma segunda temporada.

Os grupos de guerreiros desse anime é formidável. Cada figura nos pelotões que é insano. Um maluco de orelhas de abano que tem ouvidos de tuberculoso, um doido que é um ‘tank’ humano, um outro que parece o Guile de SF II, um GIGANTE que balança dois machados como se fosse duas facas de cozinha, fatiando geral…só achados que dão um ar mais diversificado em uma trama sisuda em boa parte do tempo.

Canute é um baita personagem. No começo até estranhei um príncipe tão delicado em um mundo tão rústico. Entretanto, com o passar dos episódios, a mudança e crescimento de personalidade é gritante. E mais adiante, todo esse conhecimento e experiência adquirida na fuga, irá construir uma persona com adjetivos mais complexos, que fica fascinante em acompanhá-lo (infelizmente, por enquanto, vocês terão que ir para o mangá para saber do que estou falando).

Conclusão

Para quem curte um anime com uma temática menos fantasiosa e com uma pegada mais histórica, com certeza irá curtir Vinland Saga. Eu recomendaria tranquilamente para qualquer um o anime. Mas se você não curte animes desse estilo, melhor evitar. Caso contrário, vai fundo que é uma ótima pedida.

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