E vamos de sofrimento, então preparem os lenços!!!

E vamos de sofrimento, então preparem os lenços!!!

Bom dia, tarde ou noite! Como vocês estão? Espero que estejam todos bem, na medida do possível ^^. Hoje eu venho com essa postagem um pouco fora do que já fiz aqui no blog. Isso porque irei comentar sobre uma obra que não é publicada no Brasil e estamos falando de “Boku ga Otto ni Deau Made”, que é mais conhecido pelo seu título em inglês – Until I Meet My Husband. A obra começou a ser publicado esse ano e já vem chamando atenção, sobretudo do fandom de BL (por mais que a obra em questão não seja um BL de fato). O título é escrito por Nanasaki Ryosuke e ilustrado por Yoshi Tsukizuki. É publicado na revista digital Bunshun Online, da editora Bungeishunju, e até o presente momento tem apenas 6 capítulos lançados no Japão. Os três primeiros semanalmente e os três seguintes de forma mensal. Nenhum volume encadernado foi lançado e ao menos por enquanto, não há previsão de lançamento para tal. O mangá é baseado em um livro de mesmo nome que conta a história do autor – Nanasaki Ryosuke -, que é um famoso ativista LGBT+ lá no Japão. O título mostra as diversas fazes de sua vida, desde a infância até o momento que ele se casa com seu marido.

Capa do livro original

O @rubnesio já comentou alguns mangás aqui e ali. O mais recente foi “Domestic na Kanojo”. Mas eu por outro lado, ainda não tinha feito isso. Tenho muito interesse e até tinha um outro mangá totalmente diferente desse na frente para comentar, mas assim que eu li os primeiros capítulos da obra, eu sabia de duas coisas: a primeira é que eu PRECISAVA falar dele e a segunda é que ele PRECISA vir para o Brasil. Vou ir além. Ele não precisa vir só para cá e sim ser publicado em qualquer país que possua um mercado de mang. Essa é uma obra que eu vejo uma necessidade de ser conhecida e aclamada e eu sei que vai, assim como “Minha Experiência Lésbica com a Solidão” e “O Marido do meu Irmão”, publicadas no Brasil pela NewPOP e Panini respectivamente. Então eu rapidamente coloquei ele na minha fila de prioridades. Antes que eu perdesse o timing para comentá-lo.

Normalmente eu tento passar uma impressão de que estou feliz, coisa que geralmente estou. Tento estabelecer o texto de uma forma que eu consiga dar uma imagem de alegria, ao mesmo tempo que quero ser mais próximo de vocês enquanto escrevo, como se eu conversasse com vocês. Não é atoa que as postagens colaborativas com os animes existem, para parecer uma conversa entre amigos, ao mesmo tempo que envolve vocês leitores. E eu espero que isso funcione haha. Mas nesse caso aqui, eu vou deixar essa impressão alegre de lado. Quero ser mais próximo de vocês para uma conversa sincera. Então vamos sentar e vamos refletir, porque este mangá requer isso. É uma experiência que eu posso definir como uma montanha-russa muito agitada. Nunca sabemos quando algo ruim vai acontecer e quando acontece, ele consegue escalar cada vez mais. E nessa postagem, eu vou compartilhar bastante das minhas experiências pessoais, me fazendo remexer em muita coisa do passado e que provavelmente vai me fazer chorar enquanto escrevo. Eu provavelmente vou precisar de um abraço hahaha.

“Ryosuke e eu, agora somos marido e marido”

Como eu mencionei, Boku ga Otto ni Deau Made não é um BL, porque a revista em que a obra é publicada é de demografia seinen ^^. Sobre a história, eu poderia tentar falar dela sem dar grandes spoilers, mas nesse caso aqui e ao menos por hora, eu sinto que não vou conseguir falar dele em sua totalidade sem falar mais profundamente do que é abordado nesses capítulos, ainda mais que eu vou compartilhar/expor momentos da minha vida que eu particularmente me identifico, ou situações um pouco semelhantes pela qual eu já passei. Quando o mangá vier a ser publicado aqui, eu faço uma resenha sem muitos spoilers. Por isso, caso você ainda não tenha lido o começo da obra, prossiga na postagem por sua conta e risco. E caso queria ler, mas não quer os spoilers, vá ler o mangá. Pode parecer uma recomendação vazia, mas eu digo que você não se arrependerá, então dê esse voto de confiança em minhas palavras :).

Só reforçando que essa postagem contará spoilers dos quatro primeiros capítulos. É bom deixar claro que podemos ter alguns gatilhos. O recado está dado!

Acho importante dizer que o casamento de pessoas do mesmo sexo ainda não é permitido no Japão, mas há algumas cidades que permitem e reconhecem a união de casais do mesmo sexo. A história de “Until I Meet My Husband” já começa com a união do casal, tudo muito lindo e feliz, mas a história não quer contar a partir dali. Vamos ver toda a trajetória do protagonista até aquele momento. Sendo assim, ainda veríamos muita dor e sofrimento até chegarmos naquele ponto. Não é segredo para ninguém que pessoas LGBT+ sofreram e sofrem muito e não se restringe a apenas aqui ou no Japão como é algo mundial. Como dizem, uma pessoa que faz parte da comunidade LGBT+ não vive, ela sobrevive. Cada dia é uma luta, uma dor, uma experiência diferente, algumas mais felizes, outras não, alguma vitória e outras ‘derrotas’.

E logo no começo da obra, temos esse preludio do casório, para ir ladeira abaixo. O mangá é uma escalação de momentos trágicos e conforme o Nanasaki vai crescendo, a escalação dos problemas vai aumentando gradativamente e eu sinceramente não sei qual será o ponto mais alto, ou melhor dizendo, qual será o ponto mais baixo que ele vai atingir… Começando pela infância do protagonista, com o relato dessa infância, nós já damos de cara com o bullying. Entre o nascimento do Nanasaki (começo dos anos 1990) e o meu nascimento (2002), não há muita diferença e por mais que eu esteja do outro lado do mundo, o bullying segue um certo padrão. Se para ele usavam muito “travesti” como xingamento, para mim o “bicha” e “viado” eram o que eu mais ouvia.

Tem um quadro que me pegou de uma forma… É doloroso, mas representa boa parte dos meus looooongos anos de escola. Eu sofri bullying de meados do meu primeiro ano do Ensino Fundamental até o primeiro ano do Ensino Médio, sempre escalando e variando na “intensidade” dos ataques. Só ‘melhorou’ no segundo ano e parou no terceiro ano do EM. Eram agressões tanto físicas, quanto verbais porque eu era gay segundo o que definiram para mim. No primeiro ano que isso começou, eu não sabia o que era ser gay, então eu apenas negava esse ‘papel’ que tinham imposto para mim. Mas não é como se tivesse adiantado de algo. Na verdade, é exatamente como o Nanasaki diz: “Eu não estava ciente disso, mas o meu modo de andar, conversar e sentar… Supostamente me faziam parecer uma garota.”.

Na cena está escrito algo como: “Eu não estava ciente disso, mas o meu modo de andar, conversar e sentar… Supostamente me faziam parecer uma garota.”

Tornava o ambiente escolar um verdadeiro inferno. Era desconfortável ir para a escola, era desconfortável estar em sala, era desconfortável estar com garotos, era desconfortável ser eu… Estar na escola era angustiante. Eu nunca sabia quando viria ‘o baque’ de fato. Então tinham semanas que passavam sem grandes problemas, outras eram ofensas e agressões uma atrás da outra. Porém, ao contrário do Nanasaki que em um primeiro momento não ligava, mas quanto mais progredia e o a proporção que os xingamentos tomavam, criaram um certo trauma com a palavra “travesti”, por isso ele começou a achar que ele tinha algum problema, que não era normal. Eu de alguma forma consegui enfrentar tudo isso. Eu ficava muito mal toda vez que acontecia, chorava e ficava bem triste com tudo aquilo. Na verdade, eu quase não tenho lembranças. Só os eventos mais fortes que eu consigo lembrar. Talvez seja uma tentativa de eu me ajudar do jeito que posso -\_ *-* _/-.

Em uma resposta aos acontecidos, ele começou a moldar sua forma de ser, para parecer um “garoto normal”. Então ele começou a mudar seu modo de falar, andar, se portar tudo para “manter as aparências” e tentar parar esse bullying, ao mesmo tempo que ele fazia para não preocupar seus pais… Cara, isso daqui continua sendo minha vida resumida. Seja na escola, seja em casa com parentes. Se na narração dele dá para ter uma ideia disso, quem vive essa realidade, está em um grau completamente diferente. Eu li isso daqui chorando, porque nos primeiros anos do fundamental, apesar dos pesares, eu (acho) não entendia bem o que levava as pessoas a me virem como gay que me tachavam. Acredito que só fui ter essa percepção quando o problema expandiu e chegou dentro de casa. Minha mãe e meus irmãos não falavam nada do gênero. Para mim ‘estava tranquilo’ até então, mas eis que meu pai entra na história e minha percepção muda, porque as ofensas começam a entrar dentro de casa. Se antes eu precisava mudar meu jeito só dentro da escola, com meu pai em casa eu precisava fazê-lo também. Ironicamente ou não, no terceiro ano do EM quem virou o vetor de homofobia foi meu pai. A escola passava a ser meu refúgio e minha casa se tornava o verdadeiro inferno.

“Eu preciso agir como um garoto normal”. “Andando, sentando, movendo”.

Tem uma ceninha rápida que me chamou atenção, porque nem na escola entrou apoio. Na verdade, foi totalmente o oposto! Um dos professores dele chega e diz que ele se parece com um travesti e diz que precisa fazer algo, porque pode tornar a vida dele mais difícil. Me lembrou um pouco, em um sentido diferente, também daquele professor de “A Voz do Silêncio” (Koe no Katachi). Ele não se importava nem um pouco com o bullying que a Nishimiya sofria, mas quando a coisa ficou séria, ele se colocou como uma pessoa que se importava (Hipócrita -_-). Ao menos para mim, os professores que tive foram uma peça fundamental para eu aguentar parte dos meus problemas, sobretudo no meu último ano do Ensino Médio. Fui mais próximo dos professores e eles me ajudaram um bocado. Mas e ele? O que ele teve de ajuda? Com quem ele pôde contar?

Mas por mais que meus professores tenham sido uma parte fundamental para eu me manter em pé, eu sinto um descaso por parte deles, e principalmente por causa da escola. Eu não lembro da escola ter feito algo para tentar parar com os ataques dos outros alunos. Eu lembro que nos meus primeiros anos da escola, um garoto me bateu na sala de aula e a professora não fez nada… A escola não fez nada… Meus pais também não fizeram nada. Há sempre uma cobrança de certos aspectos, mas também uma negligência ENORME para outros. Acho que encaram como algo bobo, porque não parecem ter noção dos danos que isso traz. Só agiram quando o assunto fica sério, quando a agressão deixa marcas visíveis. E mesmo quando tem professores pedindo para te tirar da escola porque seria o melhor para mim, eu ainda sou obrigado a ouvir que a culpa é minha por ser afeminado. Sou obrigado a ouvir que eu peço para sofrer bullying por causa do meu jeito.


Ainda nessa primeiro capítulo – que encerra com chave de ouro -, temos um conflito com relação à brinquedos destinados a meninos e meninas. Na ocasião era época de Natal e o protagonista havia visto na TV, uma propaganda de uma varinha de uma personagem de Mahou Shoujo (garotas mágicas). Maravilhosa diga-se de passagem. Ele já está com a ideia de que ele não é normal e é ‘natural’ considerando que ele passa horas e horas ouvindo que ele é um “travesti”. Ainda é somado com o fato de que ele não tem um apoio emocional, porque ele segue ouvindo e não tem para quem contar o que ele passa. Ele não fala com os pais dele, pois não quer preocupá-los. Se ele dissesse que queria o brinquedo tido como para garotas, poderia potencializar essa questão e como o próprio diz, ele não quer que eles fiquem tristes.

Não sei dizer como os pais deles reagiriam. Provavelmente de forma negativa? Embora os pais deles aparentem ser compreensivos e abertos (só chute por enquanto), ele estava em uma época que não é tão distante de agora, mas que ainda assim, ainda tinha uma visão mais fechada da questão da sexualidade, ainda mais que estamos no Japão e sabemos que lá as coisas tendem a ser mais restritas do que boa parte do mundo. Lembro de ter visto alguém (não vou lembrar quem) comentando que na ida mais recente dela ao Japão, há poucos anos atrás, tinham mais casais LGBT+ demonstrando afeto na rua.

Indo para outro assunto, uma coisa que gosto na obra é que vemos apenas passagens da vida do Nanasaki. A obra não demora contando os eventos e vemos basicamente os eventos das experiências mais marcantes ou importantes das fases de sua vida. Eu acredito que só estamos vendo uma parte ínfima da vida dele e de tudo que o autor passou. Os momentos por mais rápidos que sejam, doem, é angustiante, é sofrido de ver, tanto para quem se identifica, como para quem não. Todo instante você quer que aquilo acabe, porém nós sabemos que só estamos no começo disso tudo. Tanto é que em cada capítulo nós basicamente vemos alguma situação em específico. No primeiro capítulo nós vemos o começo do bullying e de como começa a mexer com ele. No capítulo dois está mais avançado no tempo e vemos a exploração do primeiro amor, o primeiro crush dele. Nós temos duas vertentes aqui: a primeira é a de que as agressões estão passando a serem físicas, ao mesmo tempo que o Nanasaki começa a se apaixonar por um amigo dele. Nisso surge uma questão muito interessante. Ele começa a questionar o que aconteceria se ele fosse uma garota. O que aconteceria se ele tivesse uma ‘parte feminina’, porque ele quer que o amigo goste dele, ao mesmo tempo que continuava conflitante em não se achar normal por ser atraído por garotos. Para fechar, eis que vem o soco no estômago e o seu amigo consegue uma namorada.

“Todos os dias eu deseja que a Hidemi e o Tsukasa terminassem. Mas ao mesmo tempo, eu achava que não era normal eu preferir homens. Acreditei que havia algo de errado comigo. O que eu sou? Eu não tenho a menor ideia.”

Nos momentos seguintes que ele recebe a notícia, nós vemos todo o desespero dele em não saber como reagir ou o que ele mandaria como resposta. Desejar felicidades? Sendo que ele não está nem um pouco feliz. Sentimentos egoístas em desejar a todo momento que seu amigo terminasse o namoro, ao mesmo tempo que ele continua não se achando normal por gostar dele, e o buraco vai só aumentando… Esse capítulo e o seguinte é um misto de momentos levemente mais fofinhos e até cômicos, com as reações dele diante das descobertas do amor e reações do corpo, sempre rodeado de dor enquanto ele se questiona sobre como seria a vida dele se ele fosse uma mulher. Seria ‘mais fácil’ se fosse assim, ele não teria ter medo de gostar de alguém, não teria medo de se declarar para alguém e pensar em ofensas e agressões, afinal, casais héteros eram e são os tidos como naturais. E ainda segue sendo assim por uma parcela da população mundial, sendo até considerado crime em alguns países.

“Não me arrependi de ter nascido homem. Afinal, eu precisava ser um bom amigo para Hase (segundo amor dele). Mas, por outro lado, se eu tivesse nascido mulher… Hase teria gostado de mim?”

Eu agradeço MUITO por não ter me apaixonado por nenhum garoto durante meus anos escolares. Sinto que fugi de um sofrimento que só ia me deixar pior do que já estou hahaha. Eu não senti atração por ninguém, nem pelo corpo masculino e parte da “culpa” disso foi dos próprios garotos. Sou bem traumatizado por causa deles e não é atoa que até hoje eu posso contar nos dedos os amigos homens que fiz na escola. Por outro lado, o Nanasaki não teve essa “sorte” (É bem relativo).

“Medo” é algo com que temos que conviver de forma recorrente, ainda mais quando não se conhece a pessoa e o que ela pensa do assunto. A questão “E se eu fosse uma garota” é algo muito palpável, ainda mais que ele estava em uma época em que a internet ainda estava dando seus passos. Então não se tinha a comunicação que temos hoje. Sozinho e sem qualquer ajuda ou apoio, vai alimentando ainda mais os pensamentos negativos, até que ele chega na possibilidade de ele ficar sozinho para sempre. E assim, o medo não se limita a apenas a vida amorosa, sim com TUDO! Quantos não são os casos de pessoas que perdem o emprego por descobrirem que são LGBT+? Vemos um pouco disso retratado em mangás, não necessariamente com a perda do emprego, mas com todo o sigilo e o receio de que algo escape no ambiente de trabalho. Inclusive, acho que devemos ver algum momento da vida do Nanasaki enquanto ele trabalha. Seus medos e inseguranças, e provavelmente devemos ter mais uma rasteira para cairmos de cara no chão.

E a última rasteira que tomei da obra – até onde li – veio com o capítulo 4. Apesar de eu não ter passado nada parecido com a cena retratada, sem dúvida alguma esse foi o capítulo mais tenso, o que mais doeu de ler. Retomando alguns assuntos, no quarto capítulo, o Nanasaki chegou em um ponto de desespero que fica forçando boatos sobre a namorada do seu amado, para ver se ele consegue fazer os dois terminar. E pior ainda, colocar em jogo sua amizade só para seu amigo terminar o relacionamento. Como ele mesmo diz: “Quando Hase começou a namorar, eu perdi a cabeça (…). Não consegui conter as lágrimas.”. O medo de ficar sozinho e sobretudo, se ele teria que sofrer ainda mais, corroem a mente dele à todo instante. No meu auge de sofrimento, que nem faz tantos anos assim, eu cheguei a ter pensamentos assim. Estava em um nível que parecia tudo muito fechado, sem saída. Era um desespero que sei lá, não conseguia ver muito mais adiante e só tinha vontade de desistir. Felizmente (!?) eu ainda estou aqui ^^.

Agora a parte mais séria do capítulo e me faz sinceramente ter algumas pequenas crises de choro, foi em relação à primeira vez (Sim, aquela primeira vez) do Nanasaki. No impulso e no meio de uma pesquisa rápida na internet, ele acaba marcando um encontro com um cara que ele não conhecia. Eu vejo esse cara como um aproveitador que só queria transar com ele e pouco importa o resto, porque claramente o Nanasaki não tinha muita noção do que estava acontecendo e o cara chega falando de sexo e tudo mais. Ele aliciou (praticamente) o Nanasaki a transar com ele e o que restou depois disso foi um sentimento vazio, tentando se auto-consolar com meias-palavras.

“Esse dia também marcou minha “primeira vez com um homem”.”. Alguém por favor me diz que aquilo não é uma câmera…

É um misto conflitante de emoções. Eu tenho vontade chorar, ao mesmo tempo que penso no que poderia ter sido evitado, uma ânsia de vômito (???)… É tudo muito impactante. Dá uma sensação de vazio. O mangá passa muito bem. Eu começo a pensar nas possibilidades e em todo o caminho que o levou a essa noite, por mais que sexo possa parecer algo mais. Como posso dizer… Banal? Não sei como me expressar. A primeira vez dele foi “imposta” por uma série de fatores que fugiram do controle. O desespero e o medo da solidão o levaram a essa decisão equivocada. Foi com um cara que ele desconhece totalmente. Não sabe absolutamente e olha que ele ainda ‘deu sorte’, porque poderia ter sido alguém com más intenções e prefiro nem pensar no que poderia ter acontecido de pior, por mais que eu ainda não saiba se esse cara voltará a aparecer (algo me diz que sim).

O medo de ficar sozinho ficou ainda pior e agora ele está convicto que tem que gostar de mulheres, casar e ter filhos para não acabar sozinho. Eu tenho medo do que ele pode fazer. Só sei que ele vai se machucar ainda mais nesse processo :'(. É visível que a cada capítulo, a proporção dos eventos vai aumentando mais, a visão do mundo se expande, ao mesmo tempo que ele está atado ao passado por causa do que já passou. Eu não faço a mínima ideia de onde será o pico do desastre e só sei que devemos ter mais alguns capítulos bem sofridos de se ler, até ele vir a conhecer o futuro marido. Claro que ainda teremos o desenvolvimento do relacionamento deles e tenho quase certeza que não serão só flores quando chegar nesse momento. Só sei que estou muito animado com o decorrer dessa história de vida, e claro, irei chorar bastante haha. Seja de tristeza ou de alegria quando os momentos de felicidade vierem ^^.

Um último assunto que quero abordar de forma mais rápida, é que quando ele encontra o homem com quem ele teve sexo. O protagonista tem uma reação estranha quando o viu. Ele pensou que o homem que viria fosse mais afeminado, e até pensa/verbaliza que ele só parece com um assalariado normal. Chega a se questionar se o cara é realmente gay. Recentemente eu li no Twitter uma tradução de uma matéria sobre o estereótipo do homem gay no Japão, como criam uma figura caricata para as pessoas gays na televisão. O homem que fez a matéria até revela que seus parentes ficaram surpresos quando souberam que era gay, porque fugia totalmente do que eles viam na TV. Quem quiser ler, vou deixar aí embaixo a thread. Eu recomendo muito a leitura :).


Sabe… “Por que temos que passar por tudo isso?” é uma dúvida que vêm a minha mente periodicamente, principalmente quando estou mal. Eu só quero ser feliz. É pedir demais? Eu não tenho esse direito? Não é como minha vida tenha sido a pura infelicidade, pelo contrário. Mas ainda assim, por que eu passei por isso e por que tantos outros como eu temos que passar por esses momentos tristes??? Sabe, eu sei que esses questionamentos são batidos e que muitos se fazem esse tipo de pergunta, mas não entra na minha cabeça o motivo de eu estar sofrendo por gostar de homem, ou por ser do jeito que sou afeminado, por gostar de coisas que não tradicionalmente são tidas como “masculino”… Não estou fazendo nada de errado e só quero ser o que eu sou sem me preocupar. Eu já cheguei a pensar coisas bem parecidas como o Nanasaki, às vezes ainda penso, mas ao mesmo tempo, eu me agarro no meu fio de esperança para me manter de pé. Às vezes uso os anos de bullying como força. “Eu passei mais de 10 anos da minha vida passando maus bocados e mais um pouco não é nada”. É um exercício mental que me ajuda. Redes sociais também são um recurso ótimo. Desabafo muito e me ajuda a aliviar o que sinto.

Enfim, retomando o que mencionei lá no início, “Boku ga Otto ni Deau Made” é uma obra que eu vejo como sendo muito importante para ser publicada em nosso mercado. Apesar de ser uma montanha-russa de emoções, é daqueles títulos que geram uma reflexão. Eu tenho costume de sempre tentar ver e acreditar no melhor das pessoas, na mudança delas. A sociedade muda, as coisas mudam e se transformam, e eu acredito que obras assim possam ajudar pessoas a mudarem suas mentes. Eu sinto que ainda não digeri muito bem tudo o que li. Tentei o meu melhor enquanto fazia co-relações com minha vida. Enfim, fica a recomendação para quem não leu. Peçam para a NewPOP no ‘Cantinho de Sugestões’. Acreditem na felicidade de vocês (clichê, mas está valendo), e vão ao psicólogo, porque é fundamental para sua auto descoberta!


Todos os capítulos da obras estão disponíveis gratuitamente em japonês. Mesmo que você não saiba ler, não custa nada ir lá e apoiar os autores :). Você pode ler os capítulos aqui.

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