Obra atual da mesma autora de "A Voz do Silêncio" ^^

Obra atual da mesma autora de “A Voz do Silêncio” ^^

“Uma Vida Imortal” ou no original, “Fumetsu no Anata e” (不滅のあなたへ), é um mangá escrito e ilustrado de Yoshitoki Oima. A obra está em publicação no Japão desde 2017, na revista Shuukan Shounen Magazine da editora Kodansha. Atualmente possui 15 volumes publicados e o 15º encadernado foi lançado no dia 15 de Abril desse ano.

Yoshitoki Oima é conhecida pelo seu grande sucesso “A Voz do Silencio” (resenha do volume 1). E apesar de “Uma Vida Imortal” não ser um grande estouro equivalente à sua obra anterior, ela evidentemente vem chamando atenção. Parte disso graças a adaptação em anime que por sinal, comentamos ela no blog (primeiras impressões aqui). Já se esperava que o mangá fosse chegar no Brasil devido à fama da autora e era uma aposta um tanto óbvia. Passava-se o tempo, a obra se tornava cada vez maior e começava a aparecer dúvidas se a NewPOP traria mesmo o mangá. Porém em Janeiro/2021, durante o NewPOP Week (evento online da NewPOP), eis que a editora enfim anunciava o título. A publicação do mangá deveria ter sido iniciada em Abril, entretanto atrasou e o 1° encadernado e só foi lançado em Junho. Recebemos a edição da NewPOP, ao qual agradecemos MUITO por ter enviado material para o blog e venho trazer minha opinião sobre o primeiro tomo ^^

Sinopse: “Um ser imortal é enviado para a superfície da Terra sem qualquer conhecimento ou sequer um “eu”. Além de sua imortalidade, ele tem a capacidade de tomar a “vontade” e a forma aqueles que morreram à sua volta. E com esses poderes e experiências, esse ser passa a entender e explorar o mundo, procurando sua razão de existir e a verdade por trás de tudo.”


  • História e Desenvolvimento

Terei que tomar cuidado com o que eu escrevo aqui, pois logo no 1° capítulo temos um evento bem marcante e que serve como uma pequena reviravolta na trama. Então indo pelo começo, somos apresentados a “algo” ou ” alguém” e esse alguém joga uma “coisa” na superfície da terra e assim passa a observar seus comportamentos, ações e reações ao ambiente. As primeiras páginas do volume são bem filosóficas e facilmente pode se fazer uma relação com a criação do mundo do ponto de vista da bíblia. Tanto que meu irmão mais velho (que nunca tocou num mangá), passou aqui em casa uns dias e pegou Uma Vida Imortal para dar uma olhada. Ele rapidamente fez essa relação com o texto religioso. A autora parece ter muito interesse em explorar questões religiosas e que por sinal, voltam a aparecer no decorrer do volume. Falaremos mais disso em breve.

A partir disso, a “coisa” tem contato com um Lobo – que logo menos descobrimos se chamar Joaan – e segue sem rumo até encontrar um garotinho, seu dono. Passamos a ver um pouco da vida do guri, a rotina dele, de como tudo ali está abandonado e restando apenas ele, sozinho. Temos alguns aspectos muito bons nessa parte da convivência dos dois: 1- O gurizinho acha que o Lobo ali é o seu Joaan, quando na verdade é a “coisa” que passou a assumir a forma dele. 2- Por conta disso, vamos entendendo melhor, partindo dos relatos do guri para seu amigo, o que estava acontecendo ali, e porque ele estava sozinho naquele lugar. E 3- A “coisa” passa a sentir coisas desconhecidas para ele até então. Ele havia experimentado a dor anteriormente, a sensação de frio, mas nada muito além de reações externas, já que passou boa parte do tempo como uma pedra (que não sente nada) e musgos (que são bem resistentes ao frio e condições extremas). Esses 2 últimos são os mais importantes,. O 3° eu adendo que “Estímulos” é uma palavra que reverbera tudo que envolve a “coisa”. Como disse, ele desconhece muitos sentimentos e tudo é muito novo para ele. É rápido, mas o momento que ele chega na cabana, olha em volta, vê todas aquelas coisas que desconhece, a faísca que cai em cima do nariz enquanto estava perto do fogo, o ambiente aconchegante, comer (mesmo que não muito), poder descansar/dormir… são muitas sensações passadas rapidamente, de forma simples, mas que são ilustradas muito bem pela autora. Por ser um lobo e ter uma pegada meio “realista” do ser, ele não é tão expressivo. Todavia, a autora tem uma coisa em conseguir expressar que o lobo está prestando atenção, olha em volta, observa para o garoto, presta atenção em cada coisinha que acontece naquele pequeno ambiente, mas que consegue ser tão vasto ao mesmo tempo. É fascinante.

Já o 2° ponto que levantei mais acima, ele é importante por um motivo principal: seres humanos não conseguem ficar completamente sozinhos. Eles precisam ter contato com outras pessoas, conversar e interagir. Gostar de ficar só é uma coisa (eu gosto) e é até bom em alguns momentos, agora a exclusão total, a privação de contato com outros seres humanos, causa danos na pessoa. Quando o Joaan volta para casa, o sentimento do rapaz vai muito além de felicidade pelo lobo ter voltado. Há um certo alívio da parte dele, porque ele estava há 2 meses completamente sozinho, sem ninguém para conversar. É sintomático que ele começasse a ficar louco. Então mais que puramente felicidade, também tem a parte da sensação de que finalmente ele teria alguém para conversar novamente, pois é isso que mantém ele são naquelas condições. Tendo isso em mente, toda a trajetória que o personagem toma no capítulo inicial, nós vamos vendo ele basicamente tentando se agarrar em fios de esperança, como a última saída dele. Porque ele sabe que naquelas condições, ele não iria viver mais muito tempo. Tu vai sentindo uma tristeza conforme o capítulo avança.É uma criança sozinha, sem ninguém, que precisa lidar com muitas coisas e que tenta se agarrar em tudo o que for possível para se manter vivo.

O capítulo inicial funciona perfeitamente como uma história única. A autora conseguiu construir uma narrativa excelente dentro dessas quase 80 páginas e praticamente posso te garantir que você sairá deste capítulo chorando. Ele te pega de jeito. Eu, por já ter visto o anime, achei que não iria chorar enquanto lia o mangá. Engano meu. Quando chegou na metade do capítulo, lá estava eu chorando enquanto lia :'(


A partir do 2° capítulo, temos uma mudança de foco de personagens. A “coisa” passa boa parte do volume sem ter destaque, aparecendo em alguns momentos do volume e voltando com uma presença mais forte no final do encadernado. Passamos a ser apresentados à uma garotinha chamada March, que vive com seus pais em uma pequena vila no meio da floresta. Uma garota alegre, que brinca o dia inteiro e que tem um sonho/desejo: viver. Viver para ser adulta e construir sua família. A March – a garota em questão – é uma personagem muito carismática. De longe é que mais vende carisma entre as personagens introduzidas no volume ^^. Ela passa os dias brincando com a Parona, quem ela chama de marido haha.

Esses dias calmos e divertidos são interrompidos quando a Hayase chega na vila exigindo que escolham uma das criança para serem sacrificadas para o Urso-Demônio, um ser que eles adoram como um Deus. A March acaba sendo a escolhida entre as crianças e é interessante que da perspectiva dela, ela não aceita isso. Por que logo ela? Ela quer viver, quer crescer, ser adulta. Ao mesmo tempo que a cena é um pouco ‘engraçada’, é um tanto desesperador, principalmente por quem está ao seu redor. Seus pais que não querem aquilo, entretanto respeitam a decisão puramente por ser a tradição do povo, por ser considerado uma honraria ser um sacrifício. Tudo por intrínseco na cultura por conta da religião. A March teme tanto a repressão de seu povo, que chega a sonhar com sua irmã e a outra guria da vila sendo sacrificadas para o Urso-Demônio. Por aí temos uma pequena noção do que ela tem que passar sendo tão nova…

Mas aí entra a questão de que a March possui o desejo de viver. Apesar dos pais dela fazerem pressão para ela não resistir, e até certo ponto, ela teme muito por isso, o desejo de viver é mais forte e ela tenta fugir do sacrifício. Nesse momento, ela acaba cruzando com a “coisa” e passa a interagir com ele, criando um laço e assim, amarrando essas duas histórias. Acho muito interessante como ela conecta os dois, principalmente porque a March tem uma visão limitada de mundo, mas ainda é mais abrangente que a da coisa. Essa mistura acaba gerando mais estímulos nele e com isso, o personagem vai adquirindo mais conhecimentos.

E se lembram que eu disse que a autora queria falar de aspectos religiosos? Pois então, ela volta a tratar disso aqui, porém de forma que a religião é usada como um recurso para convencer e controlar as pessoas de determinada região (Talvez algo que o nosso presidente tenha feito como parte de sua campanha política? TALVEZ…). Chega num determinado ponto que a religião não importa, vira simplesmente pelo prazer de fazer sacrifícios, ainda mais considerando que aquele povo sequer sabe o que está sendo cultuado de fato, se eles devem temer ou amar esse deus, se ele o faz bem ou mal. Leia-se que não estou questionando a fé de nada e ninguém, mas apenas pontuando que nesse caso (e outros da vida real), a religião pode ser usada como massa de manobra para controlar as intenções de uma população. Puramente por isso, enquanto o restante do povo sofre, mas estão calados e conformados, de certa forma, por estarem ajudando o restante da vila. Bom, queria falar mais, mas teria que falar de plots do roteiro que são melhores quando descobertos por si na leitura. Talvez se eu resenhar o volume 2 da obra, eu aborde os assuntos sem ter esse medo ^^


  • Arte

Preciso separar um pequeno tópico apenas para falar da arte da obra. Para quem já leu “A Voz do Silêncio”, deve ter noção do quão rico são os desenhos da Yoshitoki. Não falo nem tanto do design de personagens, visto que estes tendem a ser mais “”simples””, mas a riqueza nos cenários é algo digno de destaque. Eu acho impressionante como ela consegue manter esse nível em capítulos semanais. Em A Voz do Silêncio eu já achava impressionante, porém foi uma publicação ‘rápida’, que durou apenas 1 ano. Uma Vida Imortal já está sendo publicado há 3 anos e tem 15 volumes lançados. Imagine manter todos esses cenários nessa riqueza. Os ambientes fechados são os mais impressionantes na minha opinião. É nesse tipo de cenário que a autora capricha. Quando o Joaan chega à casa do guri, a autora coloca tudo aos mínimos detalhes, com cada espacinho da casa sendo preenchido. E não apenas nesses momentos. Por diversas vezes ao longo do volume, ela faz cenários ricos, florestas volumosas, os adereços das roupas, até mesmo ambientes desérticos tem um cuidado ao serem realizados.

À esquerda um quadro de “A Voz do Silêncio”. À direita, um corte de uma página de “Uma Vida Imortal”.

Uma coisa que também gosto no desenho dela, isso desde A Voz do Silêncio, é em como a Yoshitoki consegue aproveitar bem o espaço e com isso consegue trazer dinâmica na narrativa. Ela passa sensação de movimento perfeitamente nas páginas. É tudo muito fluido de ler. Os quadros são mais simples para momentos mundanos, cotidianos e dramáticos, enquanto que nas cenas de ação, ela usa de ângulos e quadros “irregulares” para passar movimento. Estou animado para ver ela trabalhando com ação, já que não era algo que ela fazia em A Voz do Silêncio. E claro, explorando outros assuntos, vide que Uma Vida Imortal tem abertura para falar de muuuita coisa 🙂


  • A Edição Nacional

O mangá está sendo publicado no formato 11,5 x 17,2 cm (o mesmo da primeira edição de A Voz do Silêncio), tem capa cartonada no papel off-set 90g, com média de 190 páginas por volume (sem páginas coloridas) ao preço de R$ 26,90. As partes internas são em preto e branco e não há nenhum brinde na edição também. O mangá é publicado em periodicidade bimestral. O miolo é colado e costurado (padrão da editora), o que permite manusear a edição perfeitamente. Posso abrir ele sem medo das páginas se soltarem. Particularmente adoro o formato poket. É um dos formatos que mais gosto do mercado. É econômico, prático, além de ocupar pouco espaço, tanto na estante, como no caso que eu queira carregar o volume para algum canto. A adaptação do texto está ótima, tornando a leitura agradável e fluida. Adoro o momento que a Parona dá um siri de brinquedo para a March brincar e o nome dele é “Sirinaldo”. haha ^^

Vi umas pessoas perguntando das páginas coloridas (se vocês reparem, a arte das primeiras páginas originalmente são coloridas, mas na nossa edição são em p/b), porque na edição estadunidense (e outras como a espanhola) tem. Só esclarecendo: originalmente, no volume físico japonês, não tem páginas coloridas. A edição dos EUA e da Espanha tem essas páginas, porque elas foram compradas à parte do contrato. Essas artes são caras, então a depender do custo, pode acabar encarecendo mais a edição. Só explicando mesmo porque vi gente com essa questão na cabeça ^^

Sobre erros de português, eu só encontrei um e logo em um dos piores lugares possível: na sinopse na contracapa. No 2° parágrafo da sinopse, está escrito “… A “vontade” e a forma aqueles que morreram à sua volta.”. A palavra destaca na verdade, era para ser “Daqueles“. Eu percebi esse erro quando fui ler a sinopse para a minha mãe, rs. Tirando isso, o trabalho está bem competente. Adorei a tipografia da capa e principalmente por terem adaptado o título para o português (indo contra a maré de boa parte dos países ocidentais). “Uma Vida Imortal” representa muito bem a ideia central da obra e gosto muito desse título.

Achei curioso que “Uma Vida Imortal” não tem os ‘tradicionais’ ícones de gênero que a editora costuma deixar na quarta-capa. O mesmo aconteceu com “Rei de Lata”.

Importante: nos créditos da edição, lá na última página do mangá, na parte da tradução do volume, não há uma pessoa creditada. Sim! O crédito que está lá é para a NewPOP Editora. O que é muito… Estranho, para dizer o mínimo. Não sei exatamente se foi um erro na hora de digitar os créditos, ou o que de fato aconteceu. Eu raramente olho quem foram os responsáveis pelo trabalho do volume e nesse caso, eu só notei porque um amigo me pediu para tirar uma foto dessa parte para ele. Mas em todo caso, em teoria, não ter o devido responsável ali é grave, dado que a pessoa fez o trabalho e não está sendo devidamente reconhecida por ele. Essa postagem está indo ao ar em 1º de Agosto, caso a NewPOP diga algo sobre o assunto, iremos atualizar o post com uma notinha.


  • Conclusão

“Uma Vida Imortal” apresenta uma história tocante, usando o aprendizado de um ser que desconhece emoções para explorar os sentimentos humanos, enquanto o próprio cresce como pessoa conforme vai tendo contato com mais e mais pessoas. Além de possuir um vasto leque de possibilidades para explorar e abordar assuntos pertinentes da sociedade, como o mencionado fanatismo religioso. Adendo que o choro é quase garantido aqui. Espere dramas nesse e nos próximos volumes da série. A edição brasileira está ótima, com um preço um pouco mais abaixo que a média das outras editoras (29,90), então mais do que está valendo a pena conferir. Caso ainda tenha dúvidas se vai ou não adquirir, pode ser uma boa dar uma conferida na adaptação animada que está sendo transmitida pela Crunchyroll 😉


  • Ficha Técnica
  • Título original: Fumetsu no Anata e (不滅のあなたへ)
  • Título nacional: Uma Vida Imortal
  • Autora: Yoshitoki Oima
  • Editora japonesa: Kodansha
  • Editora nacional: NewPOP
  • Quantidade de volumes: Em andamento com 15 volumes
  • Formato: 15 x 21 cm, capa cartonada
  • Papel: Off-set 90g
  • Preço de capa: R$ 26,90
  • Compre em: Amazon/Loja NewPOP

O volume #1 foi lançado em Junho e o volume #2 está em pré-venda na Amazon com previsão para este mês (Agosto/2021). É isso. Espero que tenham gostado. Agradecemos novamente à NewPOP por ter nos mandado material e deixou este que vos escreves muito feliz com o reconhecimento do nosso trabalho <3. Nos vemos em outras postagens queridos \o/

Capa nacional do 2º volume.

Gosto muito dessa página que conta a Lenda do Urso ^^
Lindo, fofo! <3

1 thought on “Resenha: Uma Vida Imortal (volume 1)

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