É aqui que paramos…
Demorei muito, mas lá vou eu comentar o 3º episódio de “Baraou no Souretsu”, o último que assisti e o último que irei comentar aqui no blog. Esse episódio, ao contrário dos 2 primeiros, não foi tão ruim, porém ainda deixa aquele sabor amargo na boca. Além disso, irei fazer algumas considerações sobre os rumos que o anime está levando, baseado no que amigos me disseram dos próximos episódios.
Antes de começar a falar do episódio em si, para os que estão lendo esse post sem ter lido os textos sobre os dois episódios anteriores, é importante dizer (gritar): esse anime é uma DESGRAÇA! Uma OFENSA à autora e ao material original!! É um completo erro a existência dessa “animação”!!! Já destrinchei um pouco os motivos pelos quais essa adaptação é desastrosa nos posts de primeiras impressões e do 2º episódio, mas em resumo para quem não os leu: o anime corta MUITO o material original, além de compactar informações que são relevantes para a trama. O primeiro episódio adaptou o volume #1 quase que inteiramente. “Baraou no Souretsu” é uma obra com muito texto, nuances e subtextos, usando de recursos visuais para transbordar os sentimentos dos personagens e o anime não respeita isso. Não há tempo para esse tipo de abordagem, tornando assim a adaptação vazia e confusa para quem nunca encostou no mangá. Dito isso, podemos falar do terceiro episódio ^^.
Os primeiros 8 minutos do episódio são bem confusos, o que não é novidade vindo de Baraou. A direção tenta criar momentos que alternem entre diálogos do Edward e do Richard, porém a execução é bem ruim. Há cortes bruscos de pensamentos e como os dois estão em locais diferentes, ao mesmo tempo em que eles parecem estar próximos e distantes, soa perdido e novamente: vazio. O Richard faz um drama em cima da morte de seu pai, sobre ele se sentir solitário, ter perdido o sentido de viver (estava quase nesse ponto), de não enxergar cores nem nada, pois o seu pai era sua luz e se foi. E o que você se sente diante disso? NADA! Não conseguem passar intensidade porque toda a construção do personagem com o pai dele foi jogada no lixo e praticamente não existe. Não é atoa que o único referencial que o anime tem para ilustrar essa relação de pai e filho é o Richard bebê no colo do pai. Só. Não tem como sentir empatia, tristeza pelo personagem, qualquer coisa além de indiferença (ou raiva, caso você tenha lido o mangá e esteja vendo esse desastre). E para terminar de fechar o caixão, em sequência vem um texto dark edgy para o personagem, com ele querendo sangue, que vai cobrir o mundo com mortes, que vai matar, repetindo que não enxerga nada, as cores se foram, tal qual sua luz e aaaaaarg… Muito, mas muito ruim!
Nessa ideia de fazer as cenas alternando entre a visão do Edward e do Richard é estranho ainda pelo fato de que não sabemos exatamente onde cada personagem está. Nós sabemos que os dois e a Margaret (da família rival) estão no mesmo campo de batalha, mas não fica claro onde cada um está, principalmente no caso do Richard e do Edward. Como não temos noção da área que está havendo o conflito, se é um local só, se são diversos frontes de batalha, o próprio ambiente sendo usado, faz parecer que ao mesmo tempo que parecem estarem próximos um do outro, também aparentam estarem em locais completamente diferentes. E a produção não consegue deixar isso mais exemplificado, porque não têm recursos e representam as tropas com toquinhos de madeira que mais parecem estarem jogados aleatoriamente do que passando uma representação real do negócio.
Depois dessa sequência, estamos quase na metade do episódio até que temos um salto temporal de 2 anos. O Edward se consolidou como novo rei e vamos sendo introduzidos para novas situações e subtramas começam a aparecer. Temos alguns diálogos expositivos aqui e ali para situar o público, o que normalmente me deixaria bravo por ser um recurso pobre de roteiro, só que nesse caso, tem TANTA coisa RUIM nesse anime, que uma exposição (rápida) acaba sendo o menor dos problemas. Enfim, enquanto o Edward conversava com os irmãos, tem uma cena que achei que viria uma quebra de tabu, mas não foi o caso. Por o Richard ser intersexo e o Catesby ter deixado a casa dos York, ele não deixa ninguém ver seu corpo. Aí o Edward fala que apesar dele ter características e uma pele lisa como de uma donzela, não era isso que trazia o verdadeiro valor de um homem e que na verdade esse valor eram… Mulheres… Jurei que ia ter alguma quebra de tabu, colocar outras coisas como uma forma de crítica social, mas o que esperar de um mulherengo, não é? Pode parecer estranho eu esperar uma introdução de debate social, pois a obra se passa no século XIV, mas por ser ficção, a autora tem mais liberdade de introduzir certos debates, visto que ela não assumiu um papel de ser palpável com a história. Além disso, a obra em si é baseada em duas peças ficcionais e assim criei essa expectativa. Não foi dessa vez, porém acho que a autora possa debater alguns assuntos que são pertinentes na nossa sociedade .
Ainda nessa festa somos apresentados à Elizabeth, que inicialmente ‘invade’ o local para pedir ao rei que devolva as terras de seu falecido marido que foram confiscadas após a vitória dele na guerra. Eu ADOREI a personagem, porque ela faz o Edward de completo idiota, o que de fato ele é. É tão fácil para ela manipular a criatura. Ela se coloca como ousada na festa para chamar atenção do Rei e depois se faz de inocente quando ele manda uma carta e pede seu amor em troca de recompensas. E volta a mostrar seu lado “ousado” quando ameaça matar ele se encostar um dedo nela. Essa sequência de “afrontes” chama atenção dele, pois as demais mulheres nunca o recusaram (no contexto de que: ele é Rei. Se recusassem, é morte ou prisão). Ela alterna esse lado de falsa inocência e ousadia (que de fato parece ser um traço característico da personagem) com maestria e vai moldando a situação. E eis que vem a revelação: é tudo armado. Ela está no puro ódio contra o Rei, já que “foi ele” e os York que o assassinaram. A personagem usa da sedução para se aproximar e agora vai se vingar. Ela vai se tornar rainha e causar a ruína do Edward e da família York. Só tem uma coisa nessa construção que acho estranho: o fascínio do rei por ela. Novamente, não há uma construção disso, nem que seja em um dialogo. Quando ele a encontra na floresta. fala que quer transar e que a ama, é muito repentino. Porém o entorno disso foi bom. Por ela, fiquei com vontade de continuar e ver o que ela vai aprontar. Mas vou parar por aqui mesmo e continuar pelo mangá.
Em paralelo a isso, temos duas pontas menores: a primeira é que depois de um episódio sumida, a Joanne D’Arc reapareceu para infernizar o Richard e bem, foi só isso. Ela apareceu apenas para dizer aquilo que sempre diz: ‘Richard, você não é homem, nem mulher’, e foi embora. Fez sua tortura psicológica e caiu fora. Eu odeio o que estão fazendo com a personagem, porque só está sendo uma representação vazia. Era para causar um conflito, uma dualidade interna no Richard, essa dúvida constante de que “ele não pertence a nada” e que não poderá ser amado por ninguém, tal qual ele não irá se apaixonar por outras pessoas (mentiroso!). No anime é só uma repetição constante das mesmas falas. E a outra ponta, ficamos sabendo que a Margaret foi exilada junto do Henry em outro país por terem perdido a guerra e ela está puta com o (ex)Rei. O anime picota tanto o mangá que do nada jogam a informação de que o Henry estava em coma há não sei quanto tempo. Completamente do nada! É um saco e me irrita tanto essas informações jogadas que você apenas precisa aceitar que é assim e pronto. Que ódio! Voltando, imagino que a Margaret não vai ficar quieta por muito tempo; Ela em breve deve começar a bolar seu plano de escalada ao trono novamente.
Tem algumas partes do texto do anime que simplesmente NÃO FAZEM SENTIDO, em especial quando os personagens querem fazer alguma reflexão ou serem ‘filosóficos’. Começam a pensar e chegam em conclusões completamente sem pé nem cabeça. O Richard fala a seguinte frase: “Sim. Mesmo sem luz, tudo que meus olhos veem… O mundo inteiro… Será em cores. Não será mais escuro”. Que porra foi isso, sabe??? E de novo, não acho que seja um problema vindo do mangá. Me parece ser problema na composição de série, somado ao fato da correria do anime. Esse episódio e os próximos, pelo que me disseram, não estão correndo tanto com a adaptação do material original, porém há um claro reflexo da pressa feita nos dois primeiros capítulos e que acabam formando uma bola de neve com o restante, mesmo que atualmente, estejam indo de forma mais lenta.
No demais, a produção continua inexistente. A animação quase não existe e quando tem algo que precisa de mais movimento, não tem, vide as cenas de luta que eles não colocam! Não teve NADA de ação sendo passado. Uma coisa que esse episódio evidenciou é o que o design de personagens ser feio não é tão culpa do responsável por eles, porque tem quadros em específico nesse episódio que é muito bonito (primeira imagem abaixo) e o que realça essa beleza são os detalhes de cabelo e a polidez. Percebo que no processo de simplificar os traços do mangá que ficou feio. Recentemente, a conta do anime no Twitter divulgou uma ilustração que virá de bônus para quem adquirir o volume #1 do Blu-ray/DVD e é linda. Os traços são detalhados e o esquema principal dos personagens continua lá perfeitamente. Acredito que o maior responsável por o resultado final ser horrível dessa forma é essa questão de precisar simplificar MUITO porque o cronograma é apertado. A J.C. STAFF está com muitos animes e a produção não tem bons animadores na equipe, saindo esse desastre.
Concluindo, a direção está péssima, o ritmo é horrível, com exceção de alguns momentos, a composição de série deve estar sofrendo horrores para compactar tanta informação, o que resulta nesse desastre. E até os cenários que salvavam como sendo a única coisa realmente bonita, parece estarem caindo de qualidade com o cronograma apertado, dado que a cada episódio, esse aspecto parecem não se destacar, trazendo ilustrações simplórias e até vazias. Não recomendo o anime. Leiam o mangá que esse sim é muito bom! E é aqui que eu paro com a ‘animação’.