O anime que não sabe o que quer fazer e atira para todos os lados.
E pensar que tinha esperanças de que esse anime seria legal de assistir, porém me enganei bonito. Aliás, essa temporada estou errando todos os palpites que eu tinha feito como expectativa no mês passado sobre essa temporada. Todos os animes estreantes que eu apostava que seriam ruins, me surpreenderam positivamente, enquanto outros que achava que iria ao menos me divertir, se provaram serem uma merda completa. E o anime que irei comentar, é o exemplo perfeito desse último cenário.
Sinopse: Um dia, ao acordar, Arc descobre que foi transportado para outro mundo, e está no corpo de seu personagem em um jogo MMO. Ele agora é o Cavaleiro Esqueleto – armadura pesada por fora, esqueleto por dentro. Ele sabe que, se descobrirem sua identidade, podem confundi-lo com um monstro e atacá-lo! Para evitar chamar a atenção, Arc decide se tornar um mercenário… Mas ele não consegue ficar de braços cruzados quando atos malignos acontecem diante de seus olhos! Acompanhe esta série de fantasia, onde o Cavaleiro Esqueleto embarca acidentalmente numa jornada para fazer do mundo um lugar melhor! Fonte: Crunchyroll.
Por onde começo a comentar? Eu sinceramente não sei por qual ponto inicio, porque essa adaptação (e por consequência, o original também se torna bem problemático) não está sabendo para qual público irá destinar sua narrativa. Indo por ordem de acontecimentos, há 2 meses atrás, quando vi o primeiro PV de Gaikotsu, pensei que a obra seria uma mistura de Overlord com Slime pelo clima que passava o trailer. Era todo alegre e descompromissado por ter essa temática de um personagem que renasceu no outro mundo em um corpo de um guerreiro apelão e que acompanharíamos seu dia-a-dia em situações cômicas e inusitadas. Bem, isso realmente aconteceu nesses 3 primeiros episódios, PORÉM NÃO FOI SÓ ISSO QUE FOI MOSTRADO. Eu quero começar a indagar, porque ainda continuo achando bizarro, mas o QUE CARALHOS FOI A CENA DE ESTUPRO NA ESTREIA DO ANIME!? Calma que vou explicar a minha indignação.
Quando acompanhamos ou assistimos alguma série, ou anime, ou filme, um dos trabalhos dos roteiristas ou autores é deixar claro o clima da série e fazer com que o espectador aceite a proposta, deixando-se levar pelo ritmo da narrativa estipulado. Se você começa a ver um filme de terror, uma das últimas coisas que você vai querer ver é uma cena de comédia escrachada, estilo Todo Mundo em Pânico ou Inatividade Paranormal, pois parte da proposta de uma obra ser assustadora é o seu clima tenso e de antecipação de possíveis perigos mostrados no enredo. Por isso que jumps scares ou aparições repentinas de entidades sobrenaturais são usados para jamais deixar o público relaxado, deixando o espectador vidrado em tentar adivinhar futuros sustos para não ser surpreendido de forma tão brusca mais para frente na história. Citei mais esse ponto só para evidenciar a importância dos autores trabalharem suas narrativas o clima do enredo, para que o espectador se adeque a situação e consiga embarcar na ‘ilusão’ criada que está sendo assistida. Agora lembram que falei que o clima do anime é todo bobinho e que vamos assistir o protagonista vivendo nesse mundo que parece um jogo que o próprio personagem conhecia anteriormente, na mesma vibe do Slime? Só que isso vai tudo para o caralho quando no PRIMEIRO MINUTO DA ESTREIA TEMOS UMA CENA DE UM ABUSO TODO SEXUALIZADO DESTINADO PARA OS OTAKUS DARKS INCELS DOENTES.
Sempre tenho que repetir, porque a galera finge que não entende o meu argumento. O lance não é abordarem o assunto de estupros com personagens femininas em obras que usam a temática medieval. O problema é A FORMA DE COMO ISSO É FEITO. Sempre é de um jeito exagerado e extravagante para os punheteiros doentes que curtem esses lances de abusos se divertirem. Necessitava ter a princesa mijando no momento só para mostrar que ela está “molhada” com a violência que está sofrendo? Precisava fazer os bandidos tão caricatos, falando frases de efeitos de hentai de baixa qualidade, em que sempre colocam as rolas como “remédios para todas as dores”? E depois, lá no episódio 3, descobrimos que os bandidos eram assassinos, PORÉM SÃO TARADOS, que por ALGUM MOTIVO, se tornam animais incontroláveis, que precisam de sexo a cada segundo. Sabe, pergunto novamente a NECESSIDADE DE TAL CENA na história.
Eu assisti o episódio na Crunchyroll e quando rolou a mensagem de aviso que teriam cenas pesadas e tal, e que não era recomendado para pessoas sensíveis, pensei que tinha colocado outro anime para carregar por engano. Só que não. O anime inicia logo te chocando. O pior disso que essa cena foi desnecessária, porque não ACRESCENTA EM NADA NO ENREDO o teor dessa violência. Foi de fato destinado para punheteiro, nada além disso. Pô gente, o protagonista (Arc) é daqueles bobão e inocente. Os minutos seguintes foi mostrando o que aconteceu horas antes do ataque a princesa. E sabe a única preocupação do personagem principal? Era conseguir dinheiro para comer uma carne assada que estava sendo vendida no mercado. SÓ. Todos os momentos apresentados ou eram cômicos, ou descompromissados, como ele descobrindo a usar suas habilidades e quais eram seus poderes. Até mesmo a revelação que o seu novo corpo era de um morto-vivo, não foi tratado de forma preocupante pelo autor. O Arc (aliás, ele lembra muito o Momonga de Overlord) aceitou de boas e pronto. Nenhum obstáculo ou emergência foi inserida nesse trecho. Tudo que era apresentado para nós espectadores, foram momentos tranquilos ou engraçados, de forma vagarosa e amigável. Não tem um clima dark como Goblin Slayer ou Kaifuku insere como linha principal nas suas narrativas. Em nenhum momento o senso de perigo de que assiste é ativado, parecendo que eu estava consumindo um episódio do anime do Slime (ou se eu for mais exagerado na comparação, era igual a sensação que eu tinha vendo K-ON, onde o episódio era sobre nada). O protagonista com uma personalidade toda amigável, tenta ajudar a todos ao seu redor, buscando a melhor convivência e harmonia entre os envolvidos. DE NOVO pergunto: Por que temos essa cena de estupro sexualizando as garotas na droga desse anime?
Caralho, não faz o menor sentido ou coesão termos essa cena mais pesada nesse tipo de enredo. Em uma comparação esdrúxula, imagine vocês assistindo Teletubbies e do nada, o bicho amarelo puxa uma submetralhadora e mata o vermelho com um olhar animalesco, buscando também executar os outros 2 do elenco de forma mais extravagante possível. Agora pensem para qual público a obra é destinada… Teletubbies nunca apresentou esses elementos que envolvesse algo perigoso ou morte. É exatamente que acontece aqui no anime do ‘Overlord genérico’. A história seguia por um rumo totalmente oposto, só que colocam uma cena de abuso REPENTINAMENTE e foda-se o que ocorreu anteriormente ou posteriormente. Fica aquela sensação que foi um artificio só para servir de bait para atrair a comunidade pervertida que curte esse tipo de coisa em consumir a obra. Sério, esse momento além de deslocado, não teve impacto ALGUM nos demais personagens. Só serviu para fortalecer a imagem do protagonista HOMEM como o grande herói da situação. Pô, temos até bichinho fofinho sendo colocado no roteiro, como fosse a mascote da obra. Sério, não faz sentido esses momentos DARK E EDGY perdidos nesses 3 episódios. Também teve insinuações de novos abusos envolvendo menores e elfos, e novamente foi usado como artificio de enaltecer a figura heroica e fodona do protagonista da obra. É bizarro.
Se não bastasse essas partes apelativas, além disso, temos uma porrada de tentativas de aprofundar mais naquele mundo, só que o roteiro fracassa miseravelmente, principalmente envolvendo explicações de como funciona o sistema de skills do protagonista, a economia daquele mundo ou a guerra política que está rolando em background. Literalmente parece que o autor não sabe muito bem o que fazer e tenta abordar o máximo de tópicos possíveis que podem chamar a atenção do pessoal, só que sem desenvolvê-los direito ou de maneira satisfatória sem parecer superficial e que agregue na história principal. Tem uma parte no episódio 3 que explicam o motivo de todas as intrigas por poder que está tendo na nobreza daquela região, só que somente citam nomes perdidos, fazem referências aos acontecimentos que passaram nos episódios anteriores, e termina o grande chefe da quadrilha falando que mandou o próprio filho cuidar da situação do contrabando com cara de vilão de novela indiana. Muito ruim toda essa parte. Se o anime não tentasse se levar tão a sério, mostrando o protagonista terminando suas missões diárias da guilda, sem essas porras de sexualizar violência que as personagens femininas sofrem, talvez o anime teria uma outra cara, sendo algo mais condizente com que é exibido durante esses 3 episódios.
A produção do anime é até decente. Conseguiram manter a animação consistente em boa parte dos episódios considerando as sequências de luta ou de ação e uso do CG, porém não foge muito do mediano que as animações costumam proporcionar e entregar hoje em dia. O problema mesmo é a direção. Como o próprio roteiro não sabe muito bem o que quer fazer com a história, acaba refletindo nas decisões do diretor por justamente não ter um controle na narrativa dessa obra. Ele até que consegue acertar no tom nas partes de comédia e no cotidiano do protagonista, porém quando é exigido uma transição de clima entre as cenas, com momentos de violência mais explicita, ou questões mais dúbias como a reunião de vilões citadas no parágrafo anterior, ele não consegue realizar transições sem aparecerem bruscas demais com os outros elementos do anime, tanto no sentido de coesão, como de ritmo. A trilha sonora é bem genérica e somente a OP consegue ter algum destaque. Não gostei da música e nem do storyboard, entretanto é chamativo o suficiente para não passar despercebido, merecendo um comentário sobre o assunto.
Então não é difícil imaginar o que irei dizer aqui nas minhas recomendações, né? O anime Gaikotsu Kishi-sama, Tadaima Isekai e Odekakech não consegue firmar um tom principal no enredo, tentando apostar em vários elementos narrativos distintos em busca de agradar maior parte do público, porém seu começo nada convidativo e apelativo, torna a experiência do começo dessa jornada desagradável. Como o anime acaba ficando sem uma identidade própria com essa mistura de clichês e arquétipos de gêneros diferentes, fica complicado dizer se realmente vale a pena assistir a obra, mesmo você que curti animes como do Slime ou de Kaifuku, pois suas tentativas de trabalhar os aspectos que apetecem esses 2 públicos distintos, o roteiro jamais vai além do básico, sendo medíocre em sua execução de forma geral. Não consigo recomendar Gaikotsu Kishi-sama, Tadaima Isekai e Odekakech para o pessoal assistir.
O anime está disponível na Crunchyroll