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Um começo muito bom, mas enganador.

E vamos começar a temporada logo com uma estreia que até poderia render algo, porém como eu leio o mangá e sei que o autor irá conseguir a façanha de estragar todas as possibilidades dessa história em fetiches e fanservices, estou com um misto de emoções sobre a estreia da segunda temporada de Kanojo, Okarishimasu. Fiquem tranquilos que não irei falar spoilers de forma clara, mas vou dar uns avisos sobre o que esperar mais para frente desse enredo.

SINOPSE: Kinoshita Kazuya é um estudante fracassado de 20 anos. Ele só beijou sua namorada uma única vez, e levou um fora depois de um mês. “Nossa, nunca mais quero passar por isso de novo.” Cheio de rancor, Kazuya decide apelar para um app de aluguel de namoradas para conseguir um encontro. Ele arranja um encontro e encontra Mizuhara Chizuru, que coloca seu longo cabelo preto atrás da orelha e o cumprimenta com um sorriso. Desse encontro de aluguel, pode surgir algo real! Uma comédia romântica sem eira nem beira, cheia de amor e reviravoltas! Fonte: Crunchyroll

Para quem me acompanha nas redes sociais ou nas lives que o blog realiza na Twitch semanalmente, ou leu meus posts anteriores comentando sobre a obra (review da primeira temporada aqui), sabe que eu me esforcei para tirar qualidades dessa narrativa bem torta de Kanojo. E o autor até tem boas ideias e sacadas sobre os assuntos que envolvem essa profissão de namorada de aluguel no Japão. A parada é que Reiji Miyajima não consegue lidar e trabalhar os próprios tópicos que ele aborda em sua história. E até faz pior, se contradizendo na maneira de expor certas situações, fortalecendo vários preconceitos que se tem, incluindo dentro da sociedade japonesa. A ideia inicial era aprofundar sobre os dilemas da profissão de acompanhante, entretanto o autor só usa isso como justificativa para enaltecer seus fetiches esquisitos. E esse primeiro episódio da segunda temporada é a síntese dessa mentalidade complicada que o Reiji tem sobre a posição das mulheres e seu papel na sociedade a partir da perspectiva dele.

E o pior que esse episódio inicial engana demais. Aqui é iniciado o arco da Chizuru, em que vemos todo o seu progresso em busca do seu sonho e de sua avó, em de ser uma grande atriz. Eu gosto do que vai vim relacionado a essa trama com o protagonista tentando ajudar, de sua maneira, a Chizuru ter novas oportunidades nessa carreira. E como vemos no decorrer da estreia, não será uma tarefa fácil, pois mesmo com um grande talento, ainda é necessário um pouco de sorte ou contatos para chamar a atenção de produtores que invistam em suas habilidades de atuação. Irão ter muitos ‘não’ para um possível ‘sim’ em qualquer coisa que você tente realizar na sua vida. Esses obstáculos e adversidades, a direção da adaptação ao menos acerta em estabelecer de como será difícil esse caminho para o sucesso profissional. Por isso que é algo conflitante, visto que se a obra abordasse mais esse lado e as consequências desses resultados fossem reflexo mais para frente na história, já me daria por satisfeito. Só que o autor simplesmente ignora ou esquece o que ele fez anteriormente, regredindo qualquer desenvolvimento relacionado à relação do Kazuya com a Chizuru por uma tara ou enrolação pura para fazer mais volumes do mangá sem necessidade alguma.

É complicado não me aprofundar na obra sem falar spoiler, porém vou tentar usar um próprio exemplo dessa estreia de agora. O Kazuya vai lá na peça de teatro em que a Chizuru participa e tem toda aquela problemática que o protagonista é muito controlador e ciumento perante as decisões da Chizuru, e que o autor usa um tom cômico ou como fosse romântico tal comportamento (E não é normal, para quem está na dúvida. Não sejam assim com suas pessoas amadas. Confiança é tudo no relacionamento). Mostraram um pouco dessa obsessão do protagonista na temporada passada ao seguir a Chizuru em um encontro, entretanto esse aspecto ainda vai crescer mais a partir desse ponto, e que jamais será tratado como problema na história. Mas continuando, temos toda a apresentação da Chizuru, dela tendo seu destaque, com uma atuação magnética, principalmente considerando que seu papel é de alívio cômico na peça. O protagonista nota que ela é carismática e que consegue atrair atenção do público com sua disposição. Só que ela toma uma rasteira ao perceber que sua chance não vai vim agora e fica desolada. Aí temos toda aquela cena bonitinha do Kazuya jurando que vai mover o mundo e fundos, para que ela não desista do seu sonho, que irá contratá-la todos os dias como sua namorada e que irá seu suporte para quando a Chizuru ficar perdida, ser uma espécie de porto seguro. E por isso que eu digo que essa estreia engana.

Mesmo nessa cena toda comovente, eu sei que Kazuya não vai mudar em nada o seu comportamento abusivo de não conseguir aceitar o trabalho da Chizuru de namorada de aluguel ou de atriz. Na real, a personalidade do protagonista fica pior ao que ele era no primeiro capítulo, deixando contraditório todo esse “desenvolvimento” que ele irá passar nesse arco. Revendo essa parte no anime, só sinto mais raiva das cagadas que o autor fez no mangá e que dificilmente serão corrigidas. Essa situação é bem diferente do que acontece em outras comédias românticas famosas, como Nisekoi ou We Never Learn, em que ambos os casos os autores se perderam mais na tentativa de agradar geral ou enrolar mais algumas dezenas de capítulos do mangá por histórias sem relevância. O Kazuya é um problema em Kanojo, considerando seu comportamento e atitudes. E olha que esse maluco está na faculdade, que na TEORIA, deveria representar um amadurecimento de seu pensamento, mas o que ocorre na verdade é uma infantilização e objetificação das mulheres que trabalham como Namoradas de Aluguel. Por isso que mesmo eu vendo o episódio de forma isolada e achando bem bacana a estreia, não consigo me desprender das merdas que estão por vir. Eu sei que a adaptação dificilmente irá alterar o original ou amenizar essas cenas problemáticas, visto que a primeira temporada modifica pouca coisa em relação ao mangá. É só um sentimento de potencial desperdiçado. Essa história podia ir mais além, mas o autor preferiu a só seguir o básico (e ainda erra nisso), apostando no fanservice em vez do enredo.

Na parte da produção, não tenho muito o que comentar, visto que a linha da primeira temporada continua sendo mantida aqui. Animação bem estática e econômica, mas que apelam para uso de efeitos digitais para embelezar cenas ou personagens femininas. A direção é bem mediana, sem pouca inspiração para edição ou fotografia, com apenas poucos segundos de fato bons ou deslumbrantes, como aconteceu no final dessa estreia. O que achei abaixo em comparação com a season anterior do anime foi a opening. A música me pareceu mais genérica e a animação da abertura foi muito “copiada” de sua antecessora. A galera curtiu a coreografia das personagens na abertura? Colocaram agora em DOBRO. E diferente que a primeira melodia casava com os movimentos das garotas, a segunda está mais descompassada, não passando aquela sinergia de algo fofo que a primeira opening transmitia. Foi literalmente o caso de “time que está ganhando, não se mexe”.

É complicado eu recomendar o anime, ainda mais que está na segunda temporada. Talvez se eu não soubesse nada do original, diria para a galera que tem curiosidade com o título, ao menos arriscar alguns episódios só para ver se curte ou não. O lance é que eu SEI o que está por vim e posso afirmar que a qualidade decai bastante depois desse arco da Chizuru em ser atriz. Se mesmo com os meus alertas você ainda pensa em dar uma chance para a obra, vai por sua conta em risco. Não me responsabilizo por danos de terceiros. xP

O anime pode ser encontrado na Crunchyroll.

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