Por enquanto, a melhor estreia até aqui nessa temporada de verão.

Como estou feliz com essa estreia de Yofukashi no Uta. Adoro quando as coisas são melhores que a minha expectativa quando ocorrem, e Yofukashi foi o caso. Não conhecia nada do mangá e nem fui atrás para saber do que se tratava de fato, além do que é comentado na sinopse. Sabia que envolvia vampiros e o protagonista iria descobrir esse novo mundo além do que a escuridão da noite mostra aos seus olhos. Vou destrinchar melhor minha opinião durante o texto sobre tudo que eu curti em Yofukashi no Uta.

SINOPSE: Yamori Kou é um garoto incapaz de dormir ou encontrar satisfação em sua vida. Explorando a cidade pela noite, ele encontra uma garota que lhe oferece ajuda para lutar contra sua insônia.

Para vocês terem uma ideia do tanto que eu não apostava nada no anime, eu sequer fui olhar sua staff de produção. Geralmente eu vejo ao menos o roteirista e diretor para eu ter uma noção do que esperar sobre o que eu vou assistir. E nem isso eu fiz de pesquisar, coisa que achei até que foi uma boa, pois nos primeiros minutos, a qualidade visual e artística saltava na tela, tamanha a maestria de execução que era mostrado na introdução. A opening já te entrega os caminhos que a produção pode explorar, e que conjunto de melodia e ritmo que a música tem com a animação são excelentes. Talvez o estilo musical não seja o estilo de geral, mas a abertura como um todo, é fácil um dos destaques dessa temporada. Isso que eu comentei representa apenas os 2 minutos iniciais do episódio, visto que ainda a produção tinha mais arsenal para mostrar do que uma opening bem feita.

Logo após a abertura, comecei a notar muitas familiaridades em estilo e direção de animes que assisti, como Madoka e Monogatari. Pausei o episódio só para checar se minhas suspeitas estavam corretas e não é que se confirmou. A maioria do staff desse anime fizeram parte da produção de temporadas das franquias que citei na frase anterior. Em resumo, são tudo pupilos e parceiros que o Shinbo fez na década passada na Shaft,  liderando esse projeto de uma vampira tentando convencer um adolescente com problemas emocionais de que a vida é bem mais divertida do que ele pensa. E meus amigos, que direção espetacular. Geralmente comento sobre essa parte técnica mais para o final do meu texto e o meu foco é no enredo que é contado na animação. Só que é impossível separar o roteiro e o diretor, porque ambos se complementam, potencializando totalmente a experiência audiovisual que o anime está propondo fazer. A edição dinâmica, fotografia com ângulos arrojados e nada convencionais, narrativa ritmada e incrível, aumentam todos os sentimentos possíveis que a cena possa transmitir para quem assiste. Até mesmo momentos banais como uma virada de cabeça tem toda aquela dramaticidade característica dessa equipe, vide o qualquer anime da franquia Monogatari. É um deleite para quem curte esse estilo de produção e satisfatório acompanhar cada segundo do episódio.

Mas não focando somente na direção, a história também é interessante. O protagonista, Kou, está na transição de uma vida adulta com responsabilidade, ao mesmo tempo que vive tempos difíceis na escola graças a diversos fatos que ele não tem controle. E o personagem acaba tendo como consequência a esses eventos, sinais de ansiedade aguda, isolamento e insônia. Principalmente essa privação de sono, são um dos vários possíveis sintomas que uma pessoa que está ou irá sofrer de depressão apresenta durante seu estado. Nem descansar vira uma alívio para as pessoas que sofrem com essa condição. Não é só preocupação que tira o sono das pessoas. Foi um aspecto que é abordado nos primeiros minutos sobre o Kou, mostrando que sua vida estava de boas, sem pressão social ou cobranças, até o momento que ele rejeita a declaração de uma das garotas de sua sala por não entender o sentimento de amar alguém. Para não a machucar depois, ele só fala a verdade, entretanto sua rotina vira um inferno, porque na sociedade japonesa, além da habitual cobrança exagerada por melhores notas nas provas, existe uma convenção social de que o indivíduo nasceu para exercer um determinado papel e que ele não pode pensar diferente. Se a turma ou grupo de pessoas acreditam que você será feliz se seguir o que lhe é imposto, no caso de você não querer, eles irão te tratar como aberração. Basicamente é seguir aquele lema imbecil de “Prego que se destaca, merece ser martelado”. É quase como excluir a individualidade de qualquer um e só sobrar o pensamento coletivo. Assim, como consequência de sua decisão, as demais garotas da sala passam a cobrá-lo como fosse culpa dele não gostar da guria que se declarou, que isso não é normal, deixando aquele ambiente que era confortável para o Kou, sufocante e opressor.

Ainda tem a ausência familiar em sua própria casa. Ao que parece, seus pais também não são exemplos e são ausentes no crescimento do filho, não servindo nem como suporte emocional para todas as preocupações que ele sente diariamente. Ele até comenta para si que seus pais seriam os últimos a notar sua ausência, e que pelo tédio que sentia ao ficar dentro de casa (nos últimos dias ele matou as aulas), decide se aventurar durante a madrugada na sua cidade, tentando se divertir de forma solitária. E todo esse contexto é mais triste, quando o próprio protagonista decide recorrer a estranhos na internet possíveis soluções para sua falta de sono. Sugerem até para o menor de idade beber, porque embriagado o cansaço vem com mais força, etc. Evidente que se a Nazuna não tivesse aparecido, ele teria se afundado cada vez mais em sugestões malucas de desconhecidos, ainda vindo da internet.

E é nesse encontro com a protagonista, que a libertação que o Kou precisava para ele se descobrir como pessoa surge em sua frente. Para alguém que sempre viveu da forma mais contida possível, sem chamar atenção de ninguém para não sofrer represálias, e mesmo assim não obteve sucesso, quando o Kou interage com a Nazuna, dá para perceber o quão antagônico no jeito de pensar eles são. Ela desinibida e comunicativa com qualquer pessoa, desprendida de qualquer vergonha ou julgamentos externos, e ele todo cometido, receoso e acanhado só de pensar na possibilidade de sair com uma estranha na madrugada. A interação entre os dois protagonistas é maravilhosa e divertida de assistir. Tanto que a estreia só é focada neles 2 personagens, e mesmo assim o episódio é um ótimo entretenimento e diversão. A direção nessas partes reflexivas estava afiada, com diversas rimas visuais para os sentimentos que o Kou sentia a cada diálogo que tinha com a vampira. O que só me deixou com um pé atrás é a diferença de idade entre os personagens. Ele está com 14 anos e ela não menciona, mas sei que tem mais de 20, pois ela bebe cerveja. Como tem cara de comédia romântica, se ela começar a namorar com ele em algum momento da história e ele ainda estiver na escola, vai ser bem esquisito. No final de tudo, o lance com os vampiros é só uma parada para deixar um pouco mais lúdico e fantasioso a jornada que o protagonista irá passar para se libertar dessas amarras da sociedade que o deixam triste, descobrindo novos caminhos para sua felicidade que tanto almeja. 

Achei divertido o comentário da Nazuna sobre transformar alguém em vampiro. Seria contraproducente morder geral e todo mundo virar chupadores de sangue. O “alimento” ia acabar e todo mundo na Terra seria vampiro. Faz sentido que o vampiro escolha se transforma ou não o seu alimento. Também foi engraçado ela negar que estava chupando sangue do Kou, toda suja com a prova do crime. Apesar da direção valorizar bastante o corpo da protagonista como algo escultural, o anime não explora o fanservice. Não sei se será tipo Fairy Tail em que o autor fica doido das ideias e colocará gurias de calcinha a cada pagina no futuro, mas tomara que a história não apele demais para a sexualização e deixe o arco do protagonista em descobrir o sentido da vida de lado, só para enrolar ou agradar os fãs.

Então é óbvio a minha recomendação de todos assistirem Yofukashi no Uta, ou pelo menos darem uma chance para a obra. Visto o que foi apresentado na estreia, o anime tem de tudo para ser um dos destaques dessa temporada fraca de animes. E talvez isso beneficie Yofukashi no Uta, por sem ter muita concorrência e estar no bloco Notamina, sirva como incentivo para a galera dar uma chance para a adaptação. Com certeza irei assistir e em algum ponto futuro, eu retorne para falar dele na review dessa temporada do anime.

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