“Sem Sorte para Amar”, ou “Dame Koi Mihonchou” (ダメ恋みほん帖) foi escrito e ilustrado por Ai Mizutani. O mangá foi pré-publicado na revista Cheese!, da editora Shogakukan, entre 2011 e 2012, sendo originalmente completo em 2 volumes. No Brasil, o mangá foi lançado entre o final de Outubro e o começo de Novembro. Por imposição da licenciante, a edição brasileira foi feita em volume único. Adquiri o título na pré-venda, e agora, depois de anos do lançamento, enfim venho compartilhar minhas impressões gerais da obra, sem spoilers ^^
Sinopse: “Nako só quer ter um amor verdadeiro. Alguém que cuide e a trate com carinho. Mas isso parece estar tão distante… Onde será que ela errou? Será tudo uma questão de sorte? Conheça a história da garota que sempre escolhe a pessoa errada e que parece nunca encontrar o amor verdadeiro. Uma história agridoce e que fará você se perguntar se o amor chega para todos.”
- História e Desenvolvimento
“Sem Sorte para Amar” era um completo mistério. Uma obra e uma autora completamente inédita no Ocidente, não tendo nenhum material em língua acessível para que pudéssemos averiguar e ter uma noção do que esperar. E nesse cenário, tenho que dizer que Sem Sorte para Amar é uma grata surpresa que chegou em nossas terras neste ano ^^
Eu tô aqui na sua porta
Me adota, me adota”
A obra vai contar os casos de amor, ou melhor, as desilusões amorosas da Nako. Algo muito importante a se dizer logo nesse início, é que cada capítulo nós temos uma história de amor com um garoto diferente (com exceção de um capítulo ou outro). Esses capítulos são episódicos, no entanto, eles seguem uma linearidade de eventos, então eles são ligados por alguns acontecimentos e principalmente, por alguns personagens que estão ao redor da Nako e que são um elemento importante para a história (falo deles em breve). É muito importante deixar isso posto, pois a depender de qual expectativa você tem com a obra, o fato desses capítulos serem parcialmente episódicos pode não agradar alguns, então fiquem atentos a esse pequeno detalhe, especialmente por ser um mangá de comédia, logo, acaba por ser algo muito particular, em que o que funciona para mim, pode não funcionar para você.
Outro aspecto MUITO importante nessa história é NÃO saber qual é o tipo de homem que a Nako se relaciona. Acreditem, não busquem saber quais arquétipos esses homens seguem, pois a autora constrói a comédia muito em cima do quão péssimos esses caras conseguem ser com a protagonista e se você já sabe o que esperar de cada um deles – ou pelo menos de uma parte deles – você acaba perdendo parte da graça do mangá. Por se tratar de capítulos episódicos e eu não quero dar spoilers aqui, não dá para entrar em detalhes do que eu gosto exatamente em cada capítulo, ficando apenas em aspectos mais gerais de cada uma.
O mangá como um todo é absurdamente divertido, têm capítulos que a autora se supera realmente e me tira ótimas risadas. O andamento dos capítulos é divertido de acompanhar, a autora consegue te prender, mas é o desfecho dos capítulos que realmente te pega – pelo menos foi assim comigo e com o Rub. A autora sabe fazer o mangá “dar a volta” e fechar esses “arcos” MUITO BEM! Quando você acha que o mangá caminhará por um caminho mais “padrão” ou clichê, a autora dá a volta e vai por outro caminho, sempre muito alinhada com comédia. É de fato algo que a Ai Mizutani faz e principalmente: ela sabe fazer acontecer!
Outro ponto que acho muito bem é que embora a história seja essencialmente fechada na Nako e nos seus (des)amores, a autora dá espaço para duas figuras muito interessantes: a Shiina e o Araki, os dois amigos da Nako e seus fiéis (ou nem tanto) confidentes. Eles são dois personagens muito interessantes pois estão ao redor da protagonista e são aquelas pessoas dos conselhos amorosos, que falam aquilo que você não quer ouvir/enxergar (e que você ignora). Eles estão sempre “rondando” a protagonista e não só isso, a autora os usa para fazer humor, um humor muito bom diga-se de passagem. Não só para comédia, mas eles estão ali para dar apoio a personagem, são amigos sacanas as vezes? Com certeza, mas é daquelas amizades que você consegue sentir uma cumplicidade, uma vontade de querer ver o outro bem, o que é bem interessante de acompanhar e de se perceber.
Algo que achei bem legal no mangá, é que no posfácio do que seria o volume #1 original, a Ai Mizutani comenta que embora a história seja ficcional, ela tem base em alguns relatos e vivências dela e de amigos. Particularmente, eu acho que o núcleo dos dois amigos da protagonista, o capítulo um e uma certa história do miolo, podem ter alguma base de algo que a autora vivenciou. A relação da protagonista com os dois amigos me passa uma sensação muito intimista, como se ela de fato os conhecesse. A autora não trabalha tanto eles, mas eles estão sempre ao redor da protagonista como apoio, para fazer cena de comédia ou só rir da cara dela, mas dá aquela impressão de que ela de fato os conhece, digo isso ainda mais pela “certa história” que mencionei… Quem leu o mangá sabe onde eu quero chegar com esse comentário, rs.
Por ser da forma que o mangá é, podemos dizer que da maneira que a protagonista começa, é a mesma forma que ela termina no mangá. Não há uma grande mudança na ótica da protagonista, muito embora tenham diversos casos no decorrer do mangá que a autora parece falar “Hey, meninas (principalmente), tomem muito cuidado com esse tipo de homem”, o que é bem legal de se ver, afinal, homem não é muito confiável, rs. E novamente, é legal ver esse tipo de mangá, pois é uma autora conversando com mulheres e que para mim, é interessante ver esse diálogo indireto entre elas – o que não impede de homens lerem e igualmente achar interessante e divertido.
- Arte
Eu acho o conceito da capa muito bonito, trabalhar com poucas linhas e brincar com cores diferentes para criar uma composição é muito bom na minha opinião. MAS, é preciso dizer que as capas não passam totalmente o quão lindo o desenho da autora pode ser. As artes de abertura de capítulo, as de páginas inteiras e quadros muito específicos, sobretudo, os com maior destaque no rosto dos personagens, são excelentes demais! Shoujo tradicionalmente é marcado pela capacidade de expressão das personagens e a Ai Mizutani faz isso muito, muito bem!
- A Autora
A Ai Mizutani, pelo que pesquisei, começa a publicar seus primeiros trabalhos no final dos anos 2000. O primeiro mangá que achei registrado é “Sora“, um volume único publicado na revista Cheese!, da editora Shogakukan (revista essa que é muito recorrente para a autora) e cujo roteiro foi escrito por Chaco. Em sequência, em 2008, aparecem as obras “Oikakete mo Chikazukuite mo“, uma coletânea de histórias publicadas nas revistas Cheese! e Cheese! Zoukan, e “Ten Kara no Okurimono“, outro volume único lançado na Cheese!. Em 2009 ela lança na Cheese! “Sensei to Issho ni Nete? (Yomikiri)“, outro volume único e em “Shite, Okeba Yokatta Koukai“, outro volume único e novamente, uma coletânea de histórias. Em 2011, além de começar “Sem Sorte para Amar” (sua primeira obra com mais de um volume, aliás), ela ainda participa de “Cinderella Ryuu – 16 Virgin Road“, uma coletânea de várias autoras lançada pela Shogakukan que abordam casamento e “amor eterno” ^^
“Mangosteen no Koibito“, mais um volume único, é lançado em 2013 e ainda naquele ano, a autora ainda trabalhou em “100-kai Naku Koto” como artista. O mangá é um volume único com roteiro da Kou Nakamura. Dos seus trabalhos posteriores, ainda vale destacar outros três trabalhos: “Hitsuji to Hagane no Mori“, publicado entre 2017 e 2018, sendo este uma adaptação em mangá de um romance (muito aclamado) de mesmo nome escrito pela Natsu Miyashita e que teve adaptação em filme live-action em 2018; e no campo de trabalhos mais recentes, temos “10-nen Saki Kara Koishiteru“, completo em 9 capítulos, é uma obra que envolve viagem no tempo e um amor não correspondido de mais de 10 anos; e “Honmei Janakya Yokatta no ni“, seu mangá mais recente e publicado na & flower da Shogakukan, sendo esta uma das poucas vezes que ela saiu da revista Cheese!. O mangá tem 1 volume lançado e salvo engano, será completo em 2 (a ser lançado em 26 de Setembro no Japão).
Apesar de “Sem Sorte para Amar” ser muito marcado pela comédia, pelo que pude ver, esses primeiros trabalhos da autora em especial são marcados por drama e um drama trágico (algo que muito me interessa). “Sem Sorte” tem momentos mais dramáticos e a autora é excelente ao escrevê-los, então fiquei com muita vontade para ver essas outras obras da autora que são mais focadas no drama. Espero que ela volte a ser publicada no Brasil e que, quem sabe, não ganhe espaço no Ocidente como um todo, ficaria muito feliz com isso ^^
- Conclusão
“Sem Sorte para Amar” acabou sendo uma boa surpresa no fim das contas. Com personagens divertidos, histórias cativantes e situações muito divertidas, ele acabou rendendo um ótimo entretenimento. Fiquei bem feliz por ser uma boa obra, especialmente por ser um trabalho totalmente inédito no Ocidente, de uma autora que não é muito conhecida por aqui e por ele já ter uma certa idade, corria aquele risco de ter aspectos que não envelheceram bem, mas muito pelo contrário! Tem muita coisa ali que não só envelheceu bem, como até me pegou de surpresa. Temos até um personagem LGBTQIA+ na história!!!
Espero muito que ele venda bem e que mais trabalhos da autora venham para cá! Torço muito para ver mais da Ai Mizutani por aqui. E vale dizer, a autora é uma fofa! Comentei minhas impressões gerais sobre o mangá no Twitter e ela ficou bem contente, até o marido dela comentou que estava feliz por ela <3
Essa resenha era para ter sido publicada há muito tempo atrás (ela está escrita desde 2022), mas por uma razão ou outra, acabei postergando o lançamento do texto. Aproveitei o mês de Agosto de 2024, ao qual o blog completa 5 anos de existência para resenhar o mangá!
Fiquem de olho que tem resenha sendo publicada durante todos os dias do mês, além de reviews de animes e outras coisinhas mais! Obrigado por lerem e até o próximo post ^^
- Ficha Técnica
- Título original: Dame Koi Mihonchou (ダメ恋みほん帖)
- Título nacional: Sem Sorte para Amar
- Autoria: Ai Mizutani
- Serialização no Japão: Cheese!
- Editora japonesa: Shogakukan
- Quantidade de volumes: Volume único
- Formato: 15 x 21 cm, capa cartonada
- Quantidade de páginas: 312
- Papel: Off-set 90g
- Preço de capa: R$ 59,90
- Compre em: Amazon
