“A Substância”, filme dirigido pela francesa Coralie Fargeat, foi um dos grandes sucessos de 2024 e, talvez, o filme que mais vi sendo comentado na minha bolha. E não à toa, o filme faz jus a todas as boas críticas que recebeu ao longo do ano. E agora, a Demi Morre (que interpreta a personagem principal do filme) concorre ao Oscar de ‘Melhor Atriz’. Eu nunca escrevi sobre algum filme ocidental aqui no blog, afinal, não é esse nosso foco. Porém, como o filme muito se assemelha a “Helter Skelter”, mangá da Kyoko Okazaki, em forma e temática, achei que seria interessante comentar os dois aqui no blog, especialmente porque “Helter” completa 30 anos desde o início da publicação no Japão agora em 2025 e também temos “A Substância” concorrendo ao Oscar em cinco categorias (‘Melhor Filme’, ‘Melhor Atriz’, ‘Melhor Direção’, ‘Melhor Roteiro Original’ e ‘Melhor Maquiagem’), além de serem dois trabalhos muito bons e cada vez mais pertinentes dentro da nossa sociedade.
“Helter Skelter” (ヘルタースケルター), como dito, é um mangá (quadrinho japonês) escrito e ilustrado pela Kyoko Okazaki. A obra foi publicada entre junho de 1995 e março de 1996 na revista FEEL YOUNG da editora Shodensha, sendo concluído em um volume. O volume compilado só foi a ser lançado em 1º de abril de 2004, porque pouco depois da conclusão da serialização, a Kyoko foi atropelada por um motorista bêbado, o que a deixou com muitas lesões durante anos (e até hoje ela não se recuperou totalmente). A obra ganhou o Grande Prêmio na 8ª edição do prêmio anual Tezuka Osamu Cultural Prize, além de ter ganho o Prêmio de Excelência no Japan Media Arts Festival em 2004. O mangá ainda recebeu uma adaptação em filme live-action em julho de 2012, estrelado pela Erika Sawajiri e dirigido pela Mika Ninagawa (nunca vi o filme, no entanto). O mangá foi lançado no Brasil em julho de 2016 e reimpresso em meados de abril de 2021. Apesar de ser lançado no Brasil e eu ter a edição nacional, a minha resenha será baseado na reedição da versão francesa. Por lá, o mangá saiu pela 1ª vez em 2007 pela editora Sakka/Casterman, ficando esgotada na França por diversos anos até ser relançada em novembro de 2024 pela Atelier Akatombo.
Sinopse de “A Substância”: “Em A Substância, Elisabeth Sparkle (Demi Moore) é uma celebridade em declínio que enfrenta uma reviravolta inesperada ao ser demitida de seu programa fitness na televisão. Desesperada por um novo começo, ela decide experimentar uma droga do mercado clandestino que promete replicar suas células, criando temporariamente uma versão mais jovem e aprimorada de si mesma. Agora, a atriz se vê dividida entre suas duas versões (Margaret Qualley), que devem coexistir enquanto navegam pelos desafios da fama e da identidade. ‘Já sonhou com uma versão melhor de si mesmo? Você. Só que melhor em todos os sentidos. De verdade. Você precisa experimentar este novo produto, A Substância. MUDOU A MINHA VIDA. Ele gera outro você. Um você novo, mais jovem, mais bonito, mais perfeito. E há apenas uma regra: vocês dividem o tempo. Uma semana para você. Uma semana para o novo você. Sete dias para cada um. Um equilíbrio perfeito. Fácil, certo?’ “
Sinopse de “Helter Skelter”: “O esplendor e a miséria de uma top model… Ririko tem um rosto e o corpo ‘perfeitos’. Seu físico incrível leva a especulações sobre suas origens, e a jovem faz de tudo para manter o mistério. Mas a realidade é mais simples e sórdida, sua beleza sendo apenas fruto de cirurgia plástica. Apesar da fama, a estrela está achando cada vez mais difícil esconder suas imperfeições. Um dia, o inevitável acontece: sua agência contrata uma beldade de 15 anos. Ririko, ameaçada, se transforma em uma criminosa…”
- Histórias e Desenvolvimentos
Começando por “A Substância”: como a essa altura “todo mundo” já sabe, conta a história da Elisabeth Sparkle que teve uma ascensão rápida, ganhando prêmios e uma fama avassaladora. Com o passar dos anos, ela foi sendo esquecida (passagem muito bem representada na sequência inicial mostrando a instalação e o deterioramento da estrela dela na Calçada da Fama) e atualmente apresenta um programa de fitness em uma emissora de TV. No seu aniversário de 50 anos, o produtor do programa que ela apresentava (Harvey) a demite, alegando implicitamente que a idade era o problema dela. Nesse mesmo dia, ela sofre uma acidente e é também graças a esse infortúnio que é apresentada a “a substância”, um procedimento estético extremo do qual ela dará origem a um “eu perfeito” e mais jovem, tão bonito quanto ela jamais foi, sempre ressaltando também que ela, Elisabeth, e a ‘outra versão’, são a mesma pessoa.
“A Substância” vai numa crítica certeira aos padrões de beleza, mas essencialmente ao machismo e à misoginia. Misoginia essa que não vem somente dos homens com mulheres, mas também a que é internalizada pelas próprias mulheres (e aqui, relembro de uma entrevista que a Akane Torikai deu a um jornal francês anos atrás) e a repulsa que pode haver pelo envelhecimento e nesse aspecto. Pode incluir, inclusive, o desprezo da juventude pelo velho se vangloriando da jovialidade, enquanto desdenha daqueles que não são iguais.
Embora não seja um filme sobre mim, no sentido de que eu não tenho a vivência de uma mulher e nunca irei compreender na totalidade o que está sendo construído (mas é sobre mim no âmbito de que esse é um assunto que deveria ser de interesse a todos), a pressão estética é algo que todos nós estamos sujeitos a sofrer. O que vai mudar é a forma e a intensidade que passamos por isso. Nossa sociedade se estrutura de forma que um grupo (ou alguns grupos) se sentam no direito de falar de certos corpos (o corpo gordo, negro, homossexual, da mulher…). E no caso de mulheres, independente do que se faça, ou não faça, o corpo delas sempre será julgado e a aparência será questionada. Um exemplo prático é o que eu tenho dentro de casa com meu pai: ele se vê uma mulher magra, diz que é magra e, portanto, feia; se vê uma gorda, diz ser feia por ser gorda. E sempre será aquilo. Sendo mulher, tudo será posto à prova: desde o seu talento aos seus gostos e, claro, sua aparência: se você ‘se cuida’, é muito vaidosa e narcisista; se ‘não se cuida”, é relaxada; se é inteligente, chata; se é dependente de um homem, vão chamá-la de parasita e aproveitadora; mas se trabalha e vive por si, é uma encalhada que não tem ninguém para bancá-la; se faz X, será criticada por não fazer Y; se faz Y, será criticada por não fazer X; e se faz X e Y, será criticada por não fazer X, Y e Z. Para mais do assunto, recomendo fortemente o vídeo da Rita von Hunty, do Tempero Drag, sobre “Pressão estética, fobia e comunidades seguras“.
A Demi Moore concentra em si todo o cerne do filme. Ela, a certa altura, tem muito em comum no retrato da Elisabeth como alguém que ascendeu rapidamente por filmes de altíssimo sucesso e, no entanto, foi menosprezada ou mal aproveitada por seus trabalhos. Como ela mesma disse em seu formidável discurso quando venceu o Golden Globe de ‘Melhor Atriz’ (o primeiro da sua carreira):
“Há 30 anos, um produtor me disse que eu era uma atriz de ‘pipoca’. E, naquela época, eu interpretei isso como se fosse algo que eu não pudesse ter. Que eu poderia fazer filmes que fossem bem-sucedidos, que fizessem muito dinheiro, mas que eu nunca poderia ser reconhecida. E eu acreditei nisso. E isso me corroeu ao longo do tempo, a ponto de, alguns anos atrás, eu pensar que talvez era isso. Talvez eu estivesse completa. Talvez eu tivesse feito o que deveria fazer. Enquanto estava em um momento ruim, eu recebi um roteiro mágico, ousado, corajoso, fora da caixa, completamente insano, chamado ‘A Substância’. […] E eu só quero deixar vocês com uma coisa que acho que esse filme ensina: naqueles momentos em que não achamos que somos inteligentes o suficiente, bonitas o suficiente, magras o suficiente; bem-sucedidas o suficiente ou, basicamente, que apenas não somos boas o suficiente… uma mulher me disse: ‘saiba que você nunca será o suficiente, mas você pode reconhecer o valor do seu mérito se apenas deixar de lado a régua de medir.’. E hoje, celebro isso como um marco da minha totalidade do amor que me guia e do presente de fazer algo que amo e ser lembrada de que pertenço a isso. Muito obrigada.”
Tradução via Adoro Cinema
Muito embora da Sue ganhe muito destaque a certa altura da narrativa, quem carrega e vai “ditar” os rumos de onde isso vai, é a Elisabeth. É uma interpretação formidável, seja nos momentos mais “contidos” da personagem, como naqueles de raiva, vide a tão comentada (merecidamente) briga dela com o espelho. É bárbaro, mas toda a longuíssima cena dela indo e voltando para a frente do espelho, tentando esconder alguma coisa, arrumar algo, retocar maquiagem e sempre vendo algum ‘defeito’. Uma cena avassaladora e angustiante.
Gosto muito do reforço que há entorno de que as duas (Elisabeth e Sue) são a mesma pessoa, porque embora elas não compartilhem a consciência e tenham posturas que, a primeira vista, podem soar distintas, como a Sue ter um desprezo enorme pela Elizabeth por não ser igual a ela (bonita e jovem), assim como a Elisabeth também vai passar a odiar a Sue, que não consegue se desvincular totalmente da outra, especialmente da parte da Elisabeth com a Sue.
O final do filme vale uma discussão, no entanto. Sem entrar em detalhes e pormenores para não estragar a experiência de quem ainda não viu, eu entendo o ponto de trabalhar com uma imagem de que essas intervenções estéticas podem dar tão errado que você vira uma figura monstruosa. Essas intervenções são frutos de pressões em cima das mulheres e são essas pessoas que fazem o apontamento serão as primeiras a julgar a ‘monstruosidade’. Ou sobre como essa figura monstruosa possa representar o interior de uma mulher que sofreu com essa pressão que vem de tudo e todos os lados, com o desespero em tentar alcançar novamente a adoração esperada, porque no fim das contas, também é um pouco sobre isso, especialmente quando o ego da personagem está ligada a essa adoração do público. Eu entendo tudo isso, MAS tem uma cena, coisa de 10-15 minutos antes do desfecho final, que eu acho que caberia como um final melhor e que muito vai se relacionar com o desfecho de “Helter Skelter”, que falo logo mais. Essa sequência final, a meu ver, me parece um tanto destoante com o tom que a narrativa vinha construindo até então. Quando vira a chave para o ato final, eu realmente não consigo comprar muito bem a ideia. De toda forma, isso não diminui em nada a importância e o quão forte o filme é. Ele merece muito a fama, o sucesso e o prestígio que tem, além de ter sido uma ótima porta para a Demi Moore voltar a ser comentada e espero que dessa vez, com o devido prestígio que ela (mais que) merece.
Já em “Helter Skelter”, nós conhecemos a Ririko (na edição brasileira: Lilico), que é uma jovem modelo muitíssimo famosa que estampa capas de revista e que é A sensação do momento. Para chegar nesse ponto de fama, ela precisou passar por inúmeras operações estéticas, além da utilização de medicamentos proibidos. Porém, após tantas operações invasivas com seu corpo, ela está a beira de um colapso que não vai se restringir à carreira, mas ao próprio corpo.
A Ririko é como a Sue e a Elisabeth ao mesmo tempo. Ela concentra nela um misto de sentimentos que se afloram, em diferentes perspectivas. Eu acho a personagem da Ririko fascinante, porque ela é uma personagem complexa e cheia de camadas. Podemos olhar para ela de forma mais superficial, como alguém puramente detestável e até terrível por tudo que ela faz com quem está ao redor dela. Nesse ponto, vai se amealhar à Sue por ter uma certa repulsa principalmente por tudo aquilo (ou aqueles) que não são belos, que não são como ela, da mesma forma que odeia quem recebe mais atenção como uma reação e medo de ser deixada de lado, ser esquecida, deixar de ser A maior e melhor. A gente pode ver ela como uma figura infantil, que não consegue lidar com o “não” e que vai ter todo o ego sustentado pela adoração, sem esquecer também que essa infantilidade é uma arma que ela usa para causar a desaprovação da mãe, que sabe que irá descartá-la cedo ou tarde. E claro, podemos ver ela na sua maior complexidade, sendo alguém que é uma vítima do capitalismo e da moda, que está moendo ela, e isso é até bem literal, dependendo de como você enxerga. Se não fosse a Ririko, seria outra e depois dela, haverá outra e assim sucessivamente.
Se a Sue é retratada como apenas partes, uma boca, seios e bunda, a Ririko por sua vez, é um produto. E sendo vista como produto, ela logo vai perceber que a “validade” dela está chegando ao fim, muito mais rápido do que gostaria, e que não há muito o que possa fazer para mudar isso. O monólogo dela refletindo sobre isso logo no começo do mangá é formidável!
Fato é que quanto mais ela se desespera com o inevitável, mais ela afunda e de formas diversas, porque ela definitivamente não sabe como lidar com tudo aquilo. Nos campos mais diversos como envelhecer, perder fama, ser abandonada (e aqui, pela mãe ou por qualquer um que a conheça), ela mesmo estar sendo destruída, tendo cada vez mais dores e precisando de mais remédios para não senti-las. Esse desespero, ainda, é pintado com nuances bem legais por quem mais rapidamente percebe que será desprezada e descartada, sendo a própria Ririko.
A Ririko não afunda sozinha, porque ela também leva consigo a Haneda, que trabalha como secretária para ela e que em dado momento da história, começa a se envolver muito profundamente com a Ririko e de formas não muito agradáveis ou consensuais, como um reflexo da inconstância da Ririko. A Haneda, por sua vez, fica presa à Ririko de uma forma que nem ela consegue explicar e que não consegue escapar, o que a faz arrastar outra pessoa junto dela. Ficando todos em um completo marasmo.
A certa altura do mangá, para além da trama principal da Ririko, começa a correr nos bastidores uma trama investigativa, com um certo policial (meio suspeito e enigmático, vale dizer) que vai fazer com que os procedimentos que a Ririko passou sejam melhor explicados ao longo do mangá.
Na guinada final do mangá, ainda temos direito a uma espetacularização do sofrimento da Ririko. Como ela chega em um ponto desesperador e são feitas revelações sobre ela (não irei entrar nos detalhes do quê), o que vemos é um assédio da imprensa que, em partes, também está mais interessado em julgar ela, falar da aparência anterior às cirurgias, com seu peso, sendo uma certa ridicularização, já que parte da ideia de que “como essa garota tão bonita era essa tão feia?” e que teria os enganado.
“A Substância” vai muito a uma crítica aos padrões de beleza, enquanto que “Helter Skelter” aborda o assunto, mas vai profundamente a uma crítica sobre a indústria da moda. Há que se pensar, ainda, que Helter foi escrito em meados dos anos 1990, quase 30 anos atrás, e hoje, nós atravessamos uma era onde tudo é imagem. No vídeo que linkei mais acima sobre pressão estética e fobia, a Rita menciona dados brasileiros e internacionais interessantes (e deprimentes), como sobre o número de cirurgias plásticas feitas no Brasil antes pandemia, ou sobre como há crianças (10 anos, aproximadamente) nos EUA que enfrentam algum nível de transtorno com a própria imagem, de não conseguirem se reconhecer ou se acharem bonitas sem ter filtros nas suas fotos, como a imagem real fosse dolorosa para elas. Crianças… DE 10 ANOS.
Quando digo que o mangá se torna cada vez mais atual, é por isso. Cada vez mais a imagem das pessoas é exposta e é aquilo que é importante. Da mesma forma que as redes sociais alavancam isso e trazem um patamar acima com os filtros e efeitos, sendo algo que não se havia 30 anos atrás nessa dimensão.
“Helter Skelter” é meio que um divisor de águas dentro do mangá, especialmente para o mangá feminino. Para quem não sabe, o mercado de mangás japonês faz recortes mercadológicos em Shounen e Seinen, que chamamos de demografia masculina, por serem obras em grande parte feitas por homens, mas essencialmente serem para homens. E Shoujo, Josei e BL (Boys’ Love), que são o oposto: majoritariamente composto de obras feitas por mulheres e para mulheres. “Helter” é um Josei que se você pegar alguns nomes de mangakas de demografia feminina (nomes consagrados, inclusive), você certamente vai encontrar alguma autora mencionando que leu “Helter Skelter” em algum momento da vida e como é uma obra muito importante para ela.
- As Autoras
Começando pela Coralie, ela dirigiu seu primeiro filme com “Le télégramme” (O Telegrama) em 2003, sendo seu primeiro curta-metragem. O filme se passa durante a 2ª Guerra Mundial e trata sobre duas mulheres que vivem em uma vila francesa, em que elas aguardam ansiosamente por uma carta que pode ou não chegar para qualquer uma delas. Em 2014, ela lança outro curta-metragem intitulado “Reality+“, que trata sobre pessoas que se incomodam com suas aparências e que veem no chip Reality+ uma oportunidade de enxergar a si e aos outros na aparência sonhada. Porém, o chip funciona em intervalos de 12 horas. A Coralie Fargeat veio a ganhar reconhecimento internacional com seu primeiro longa-metragem, “Revenge“, de 2017 (lançado primeiramente no Festival de Toronto), pelo qual recebeu prêmios de vários festivais de cinema independentes, além de ter sido muitíssimo elogiado pela crítica internacional. E por fim, em 2024, ela lança “A Substância“, o grande trabalho de sua carreira até o momento.
A Kyoko Okazaki, por sua vez, tem uma longa carreira no mangá, especialmente no mangá feminino. Ela nasceu em 13 de Dezembro de 1963 e estreou em uma revista de mangás para adultos enquanto estudava na Atomi Junior College. Ela publicou mais de 30 obras ao longo de três décadas, então irei passar por algumas de suas obras mais emblemáticas. Nos primeiros anos de carreira (até o final dos anos 1980), ela foi muito ativa no mangá Seinen, publicando alguns volumes únicos como “Virgin” (1985), “Second Virgin” (1989), “Take It Easy” (1986) e “pink” (1989), sendo este último seu trabalho mais emblemático dentro do Seinen. A partir dos anos 1990, ela se torna uma figura muito presente no mangá Josei, publicando obras como “ROCK” (1990), um volume único publicado na revista CUTIE da editora Takarajimasha, “Ai no Seikatsu” (1992), publicado na Young Rose (KADOKAWA), “Tokyo Girls Bravo” (1992-1993), de 2 volumes, publicado na CUTIE (Takarajimasha), “River’s Edge” (1993), outro trabalho muito emblemático da autora que foi lançado pela CUTIE, “Utakata no Hibi” (1994), também lançado na CUTIE e “Helter Skelter” (1995-1996/2004) na FEEL YOUNG, da editora Shodensha. Seu trabalho mais recente é “Rarities” e foi lançado em 2015 pela editora Heibonsha e pelo que pesquisei, é uma coletânea que recuperou histórias da autora de anos anteriores (publicadas na revista GOMES) e foram compiladas nesse volume.
No Brasil, “Helter Skelter” foi o único trabalho da autora lançado aqui, o que é de uma enorme tristeza, especialmente considerando que o mangá passou muitos anos esgotado. Foi reimpresso e já se encontra esgotado novamente, e mesmo assim, não foi suficiente para que mais mangás da autora fossem lançados aqui, seja pela editora como por outras do mercado. A França não fica atrás, pois apenas seis mangás dela foram lançados no país. Ela chegou à França pela editora Sakka/Casterman entre meados dos anos 2000 e o começo dos anos 2010, ficando durante anos abandonada. A Atelier Akatombo recuperou a licença de “Helter”, mas até o momento, não há sinais de que a editora vai lançar mais trabalhos da Kyoko, ou mesmo recuperar a licença dessas outras obras lançadas. A quem possa interessar saber, o que saiu dela por lá foi: “pink”, “ROCK”, “River’s Edge”, “Tokyo Girl Bravo”, “Ai no Seikatsu” (com o título “Nonamour“) e claro, “Helter Skelter”.
É muito tradicional que obras de demografia feminina sejam, em geral, destratadas no ocidente como um todo. É preciso ser um grande sucesso para vencer essa barreira (uma Naoko Takeuchi, um grupo CLAMP) e a Kyoko ainda enfrenta outro problema que é o da “”arte feia””. Acho bem deprimente uma pessoa que olha para tudo que “Helter” (nesse caso) ou as outras obras dela têm a dizer e só consigam dizer que o artístico dela é ruim, sendo que é totalmente o oposto disso.
- Conclusão
Bom, é isso! Leiam Helter Skelter e assistam A Substância! São dois materiais que vão para linhas diferentes, abordam questões um tanto distintas, mas que conversam enormemente com a temática. “Helter” é um mangá que essencialmente sempre me deixa triste. Mesmo eu gostando de histórias de pessoas em decadência, este é um enredo que só consigo sentir tristeza, seja pela Ririko, como por quem está perto dela e claro, pelo sistema que perpetua a existência de mais e mais ‘Ririkos’.
Para quem não conhece o blog, comentamos animes, mangás e algumas séries asiáticas, e para quem não sabe, agora tenho um perfil no Letterboxd em que eu comento alguns filmes que eu assisto. Deixei linkado para quem quiser me seguir. ^^