
Seguindo com os animes da Temporada de Primavera, um dos únicos animes que eu aguardava era “Kowloon Generic Romance”. Não exatamente por conhecer a obra (no sentido de ter lido), mas por ser um trabalho da mesma autora de “Koi wa Ameagari no You ni” (disponível na Prime Video com o título “Depois da Chuva“) que teve uma adaptação em anime pelo WIT Studio anos atrás. Diferente de “Koi wa Ameagari” que tinha uma pegada de amor impossível da garota colegial que se apaixonava por um cara mais velho, esse daqui é uma ficção científica com romance. O anime estreou e comentarei os 2 primeiros episódios. ^^
Sinopse: “Em um futuro distante, pessoas que adoram o antigo modo de vida vivem na Cidade Murada de Kowloon — uma favela que serve de refúgio para aqueles que anseiam pela Hong Kong do passado. A corretora imobiliária Reiko Kujirai, no entanto, anseia pelos lugares novos e emocionantes da região. Em contraste, seu único colega de trabalho, Hajime Kudou, aprecia a nostalgia que a cidade evoca e se sente incomodado com qualquer coisa moderna que transborde por seus muros. Mas, apesar de suas opiniões divergentes e das constantes discussões sobre as coisas mais banais, os dois frequentemente se encontram apreciando a companhia um do outro.
Um dia, uma brincadeira que deu errado leva Hajime a fazer uma investida inesperada em Reiko, após a qual ele rapidamente se desculpa. Perplexa com suas ações, Reiko começa a investigar possíveis explicações, apenas para descobrir um passado do qual não se lembra.”

Eu não sabia nada da sinopse de “Kowloon”. Só tinha conhecimento que era romance e tinha ficção científica. Então ver esses dois primeiros episódios foi uma experiência diferente ao tentar encaixar as peças, que vale dizer, não encaixaram totalmente. Bem, na premissa base temos a Kujirai, que vive em Kowloon e trabalha em uma imobiliária. Kowloon é composta por prédios grandes com uma enorme impressão de decadência, com todos muito colados uns nos outros, o que resulta em ruas e becos estreitos com uma sensação meio claustrofóbica. A Kujirai tem como colega de trabalho, o Kudou, do qual ela é apaixonada e de início, o que acompanhamos é esse cotidiano deles.

Algo que gosto no título é que a autora brinca com um anúncio de “romance genérico” [em Kowloon] e ela parte disso durante boa parte do primeiro episódio. O romance comum entre uma mulher e um homem adultos, com direito a todos os clichês do gênero, incluindo uma belíssima cena dos dois no telhado da empresa que eles trabalham mais para o meio do episódio (prints acima). Algo que gosto nessa dinâmica dos dois é que ele é meio canalha/cretino e esses são os piores tipos de homem. Ele consegue ser desse jeito em um momento, mas no outro está falando ou fazendo algo sensual que deixa a Kujirai toda derretida. Eu gosto do ar sexy que a autora dá em diversos momentos também, como quando a Kujirai está fazendo a pintura de um dos apartamentos está a ponto de desmaiar de calor e quando ela vai cair, o Kudou aparece e a segura pela cintura (a thumb do post). É bem bacana, especialmente se tratando de um romance com personagens adultos, algo que não é exatamente recorrente, principalmente quando a gente pensa no histórico de obras escritas por homens (ser sexy é diferente de sexualização deliberada de personagem feminina!).
Apesar do clima legal que vinha se seguindo, tinha algo estranho… Eu sabia que a obra era de ficção científica, então faltava entrar a parte da ciência. Há todo momento, algumas coisas sendo postas como estranhas para o público, sendo uma delas a empresa Gene Terra com a ideia de armazenar as memórias dos humanos e produzir uma eternidade, que provavelmente vai se relacionar profundamente com a protagonista, ou a empresa farmacêutica Hebinuma e seu presidente super excêntrico, o Miyuki; ou o Kudou ficar mencionando o fato de Kowloon trazer um ar de nostalgia (e que também é um sinal de ser preso ao passado…), ou mesmo o Tao, amigo do Kodou, comenta sobre ele ter levado a namorada de novo, mas a Kujirai não tem e nunca teve esse tipo de relacionamento com ele, sem contar nas falas estranhas do Kudou sobre ajudar a se lembrar sobre “a pessoa com essas particularidades”… Tudo muito estranho, até o momento da sequência final que em um dia de trabalho, a Kujirai vai para acordar o Kudou, ele olha para ela com um sorriso super tenro e dá um beijo nela, até o momento dele se tocar, largar ela e dizer ser “a pessoa errada”. Daí que o episódio acaba com a Kujirai encontrando uma foto do Kudou com… ela. E uma versão dela da qual ela não tem qualquer tipo de memória.

No episódio 2, a Kujirai faz amizade com a Yaomei, uma das moradoras das redondezas e que elas rapidamente se conectam. Por mais que seja uma amizade super repentina e no primeiro encontro as duas estão partilhando segredos, é muito convincente, porque a Yaomei vende bem ser essa figura aberta. E é nessa conversa entre as duas que a Kujirai expõe sobre a foto que ela achou e o quão confusa ela está com tudo aquilo. O que gosto nessa conversa é que a Yaomei comenta que está tudo bem. Aquela “eu” do passado não é a Kujirai e está super de acordo com o que penso de que como ela não tem as memórias e são duas pessoas diferentes (e mais para frente, nós vemos a expressão facial e até mesmo o jeito de falar são totalmente diferentes). Gosto que a Yaomei diz que é alguém diferente do que ela era, porque da cabeça aos pés, ela fez cirurgias plásticas e que abandonou seu passado.
Mas diferente da Yaomei, que fez uma escolha e decidiu por ela mesma abandonar o passado, a Kujirai não fez essa escolha e por não ter qualquer tipo de lembrança e nem ao menos o Kudou comenta sobre o assunto, aquilo fica ressoando na mente dela ao longo de todo o episódio, de forma que ela passa a tentar a agir como essa outra “eu”. A outra Kujirai (que elas chamam de “Kujirai B”) era mais direta, com uma presença forte e mais marcante, enquanto que a Kujirai atual é muito mais passiva e contida no seu modo de ser e agir. E é por meio das lembranças do Kudou que nós entendemos que ele, na verdade, falava e fazia as mesmas coisas que a Kujirai B fazia, de forma a tentar trazer as lembranças da velha Kujirai e por isso, ele mencionava o fator de nostalgia que permeia Kowloon ou ele sempre querer comer no mesmo lugar. São todas tentativas de recuperar a pessoa pela qual a Kujirai um dia foi. E do lado da Kujirai, a ideia de que o Kudou esteja esperando a memória dela voltar a deixa um pouco perturbada, e se pensar bem, se a Kujirai B voltar, significa que a “A” vai para as cucuias, de maneira que ela passe a incitar e provocar reações do Kudou como uma espécie de indireta.

Ela menciona o fator da nostalgia que mexe com ele, vai atrás de usar brincos e até compra um que é semelhante ao que a Kujirai B usava. A Yaomei até tenta comentar que se ela usasse os brincos, ela ficaria igual a “B”, o que é uma falência da sua própria individualidade, deixando de ser ela para passar a ser alguém que não é mais e que mesmo que tente, nunca vai ser. Creio, inclusive, que a autora irá trabalhar com essa dicotomia. Enfim, o plano até funciona inicialmente, chamando completamente a atenção do Kudou, mas isso logo desaba quando ela começa a falar, o que o deixa bravo (ou decepcionado) e a deixa deprimida. Tem uma cena que acho bárbara com a Kujirai presa nos pensamentos dela enquanto está deprimida, e começam a surgir várias sombras da “B” pela casa fazendo as mesmas coisas que fazia em diferentes cantos. É ótima!

E apesar dos pesares, eles se resolvem. O melhor é que a Kujirai parece ter abdicado dessa ideia de querer a “B” e quer ser ela mesma e talvez, conquistar o Kudou. Tanto que ela o convida para comer frango frito e ela se impõe e no fim das contas, não é que ele gosta daquele momento deles?! Essa parte encerra com uma cena super bonitinha dos dois olhando para a Gene Terra e com o Kudou falando que está olhando para ela, Kujirai, e uma simbologia para que ele está pensando nela, não em quem ela foi no passado.
Ainda tem muita história para seguir e com alguns pormenores acontecendo. O maior deles é o Tao ter simplesmente desaparecido. O Tao se demitiu do restaurante, deixou o apartamento que havia alugado e o Kudou não encontra qualquer outra informação sobre o contrato ou mesmo o paradeiro do amigo. Sumiu do mapa completamente.
E nesse meio todo, temos a suspeitíssima empresa Hebinuma, uma gigante de medicina que parece estar envolvida com tudo e com todo tipo de coisa em Kowloon (e fora dele também). Ela é focada em produtos para beleza, mas parece atuar em outras áreas da saúde, e a Kujirai até usa um colírio deles que aparentemente curou o seu problema de visão (?!). Outro aspecto importante que é ventilado pelos personagens é sobre a possibilidade do Gene Terra ser, na verdade, financiado pela Hebinuma. Como a Kujirai está, ao que tudo indica, desmemoriada, acho que a empresa vai entrar em algum momento nessa história e vai expandir as possibilidades da série.
Essa empresa é meio sinistra pelos serviços que presta. Do tipo, não é que tenha algo errado propriamente, mas ela parece um mundo meio distópico dos padrões de beleza. Me lembra um pouco “Helter Skelter” no nível de distopia e me traz uma sensação de desconforto grande em alguns momentos.

Em resumo, foram dois bons episódios. Diferentes do que eu esperava, mas um diferente legal! Só sinto que às vezes, a direção poderia deixar as coisas mais interessantes. E falando na direção, quem dirige o anime é o Yoshiaki Iwasaki, o mesmo diretor de “We Never Learn” e “Zero no Tsukaima” que assim, “We Never” é super fraco. “Zero” eu não lembro bem o suficiente para opinar, mas aqui estou achando bem competente, embora ainda sinta que falta um pouco mais de dimensão do diretor com a obra para tornar as cenas mais impactantes e empolgantes de ver. O estúdio é o Arvo Animation, que também fez “We Never Learn”, que quando anunciaram adaptação, tinha medo porque é um estúdio limitado. Mas vendo o resultado final, estão sustentando bem, embora tenha algumas claras limitações de orçamento. Agora, algo que achei legal é que a Yuka Shibata, que trabalhou como character design em “Koi wa Ameagari”, está aqui trabalhando como design de personagens também. O design dela encaixou tão bem nos desenhos da Jun Mayuzuki que a chamaram novamente para trabalhar na mesma função da nova obra da autora. ^^
Por ora, é isso! Tenho amigas que elogiam fortemente a obra original e vejo potencial para a obra ir crescendo nesse fator de ficção científica, especialmente no que envolve a perda de memória da protagonista. Então recomendo darem uma chance! ^^
