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Como pode... como pode ser tão ruim?

Eu jurei que tinha escrito e postado a review da primeira temporada de “SHOUSHIMIN” no blog ano passado, porém sequer eu tinha escrito. Então como a segunda temporada já começou, aproveito para fazer o balanço geral da 1ª temporada e comentar os 3 primeiros episódios da segunda.

Sinopse: “Kobato decide se tornar um cidadão honesto e humilde depois de encarar uma experiência dura, conhecida como “trabalho de sabedoria”. Ele forma um pacto com Osanai, sua colega com o mesmo objetivo e os dois planejam entrar no Ensino Médio com calma na vida. Mas por algum motivo, eventos inexplicáveis acontecem em volta deles. Será que Kobato e Osanai vão realmente um dia conseguir ter vidas comuns e pacíficas?”


Remontando a época anterior a eu começar a assistir o anime, eu tinha boas expectativas por se tratar de uma adaptação de uma obra do autor de “Hyouka”, animação que gosto bastante. Não tinha muitos motivos para esperar algo ruim desse daqui. Mas já no primeiro episódio, as coisas não saíram muito bem (recomendo ler o post de primeiras impressões), porque desde lá, o anime apresentava um texto fraco e ralo, como uma obra que quer ser e parecer muito maior do que realmente é. O mistério que é apresentado naquele capítulo é extremamente mal contado, porque assim, a ideia de uma obra de mistério, é que o autor vá dando dicas para o público, de forma que você acompanhe o desenrolar da trama junto dos personagens. Isso é o básico. Tão básico que “Scooby-doo” já fazia e o fazia muito bem. Só que “SHOUSHIMIN” não. Ele vai na direção oposta. O que nós vemos tão logo é o protagonista, o Jogorou, resolvendo o mistério do éter, meramente porque ele é super inteligente. Toda a ideia de acompanhar o desenrolar e descobrir junto aos personagens vai para a lua, porque o personagem vai juntando as peças na cabeça dele, para no final expor tudo de uma vez. E nem sempre as coisas fazem sentido ou tem variáveis que fogem da conclusão, porque não é a gente acompanhando, e sim o personagem tirando suas próprias deduções e, em muitos casos, forçando essas percepções nos outros personagens, tudo pela ideia de que ELE é O inteligente, enquanto que todo o resto do elenco é de pessoas ignorantes, burras ou mesmo incapazes.

Tudo isso só no episódio #1, mas o que eu não esperava é que trama fosse se afundar e ela se afunda MUITO. Para além de toda essa questão dos mistérios, o anime por si só não se ajuda. Ele até podia ter boas histórias (não tem), mas não iria ajudar com esse elenco de personagens. O Jogorou é insuportável, a Yuki é uma porta, e todo o resto dos personagens (com exceção de um) sequer tem uma personalidade. Tudo é extremamente vazio. São personagens que se não são chatos (sendo bonzinho), não são interessantes por não terem nada a acrescentar. O único personagem que tem alguma personalidade é o Kengo, o amigo do Jogorou. O Kengo tem uma personalidade marcada e ele pressiona os outros personagens, então ele acaba sendo mais interessante de acompanhar, só que ele raramente aparece e mesmo quando ele está em cena, o autor força para ou o Jogorou (principalmente) ou a Yuki apaguem o garoto. Então é quase que a mesma coisa que nada.

Agora, por que a trama afunda? Porque esse roteiro é cretino. É isso. Eu não consigo definir com outra palavra que não um enorme cretinismo. Tanto pelo aspecto do autor tratar o público como um bando de jumentos, como pelos mistérios serem ridículos. Assim, eu entendo que a ideia do autor é apresentar a banalidade do cotidiano e que assim, os mistérios que aparecem sejam igualmente banais, com coisas meio “bobas” e eu não acho que essa seja uma premissa ruim, mas toda a execução dessa ideia é feita da pior maneira possível. Por exemplo, o episódio 2 é sobre um chocolate quente. Sobre como o Kengo teria feito chocolate quente sem ter sujado mais de 3 recipientes. Supondo que essa seja uma ideia legal, o autor gasta e desgasta a ideia muito rápido, porque o que poderiam ser causos menores e com duração de mesmo tamanho, ele segura durante um episódio inteiro. São 20 minutos de um texto que dá voltas e mais voltas, com o Jogorou falando todo tipo de coisa e para um negócio que deveria ser simples. Ou no episódio em que um cara prende uma garrafa de vidro dentro do armário e se utiliza do som dela estourando pra colar na prova. São 20 minutos disso. Não precisava. E de novo, é muito chato ver os protagonistas falando e falando, porque eles são duas portas sem personalidade ou carisma.

Tem outros exemplos ainda como o episódio em que é para descobrir quem comeu um certo doce. Dão uma volta enorme para descobrir que no fim, foi a própria Yuki. Mas tem dois aspectos que me pegam nessa primeira temporada: a primeira é que houve um momento em que os personagens demonstraram suas personalidades. O que ocorre: eles tinham personalidades chatas e todo mundo detestava eles. Assim resolveram ficar na deles. A Yuki é explosiva e violenta; enquanto que o Jogorou é insuportável e fica falando mais que tudo (aluno palestrinha que quer mostrar que sabe mais que os outros), resultando em ninguém conseguir aguentar ele. Depois de uma situação, a Yuki parecia que ia demonstrar esse lado violento dela e ali foi um momento que eu genuinamente achei que teríamos uma virada na série, deixando as coisas interessantes, mas acabou sendo só alarme falso e a garota voltou a ser a sombra do Jogorou, porque é basicamente isso que ela é o anime inteiro, uma sombra e alguém menos inteligente que ele, claro.

Mas NADA supera o arco final. Esse arco final começa lá no episódio 6 e vai até o 10, ou seja, metade da temporada. Acontece que uma garota estaria envolvida com outras garotas complicadas. O Kengo pede ajuda do Jogorou para tentar resolver a questão e acaba acontecendo o sequestro da Yuki no processo. Aí lá vão os dois tentar descobrir onde a garota está. Eles acham, as garotas são levadas pela polícia e tudo parecia resolvido, até que vem o episódio 9 e temos um episódio INTEIRO (20 minutos) dentro de um café, com os dois tomando um parfait gigantesco enquanto conversam. Abreviando a história toda: basicamente a Yuki armou para cima das garotas por vingança e imputou CRIMES em outras pessoas. O que me pega MUITO nesse episódio é que tudo é levado como NORMAL. A garota confessa CRIMES, porque assim, as garotas podiam até ser mau-caráter, porém não tinham pedido dinheiro pelo sequestro e outras coisas mais, e a reação é de apenas o Jogorou ficar surpreso com aquilo. Não tem consequência para a Yuki pelo que ela fez e fica tudo por isso mesmo, como um caso resolvido, porque a garota que precisava de ajuda (lá do começo da história) agora está livre da gangue das gurias por elas terem sido presas… A consequência, na verdade, é o Jogorou puto com a Yuki, mas soa como se fosse uma briga por “algo qualquer” e não um CRIME. E detalhe, a raiva dele é mais por ela ter MENTIDO para ele do que por qualquer outra coisa…

O encerramento da 1ª temporada é com os dois brigados e nisso temos a adição de dois personagens: o Takahiko Urino, que é membro do clube de jornalismo e parece que vai se relacionar (ou tentar) com a Yuki, e também querer alçar ares maiores dentro do clube; e a Tokiko Nakamaru, que surge do nada e lança uma proposta de namoro para o Jogorou (o péssimo gosto da querida). E a cena final é um carro pegando fogo. Terminando a 1ª temporada. Assim, do nada. Com personagens aparecendo repentinamente e sem uma conclusão de fato. Por mais que o anime fosse continuar, ainda assim, não tem um fechamento de algo ou mesmo um gancho minimamente interessante. O que tivemos foi um carro random pegando fogo.

A gente comentou (destrinchou, melhor dizendo) esses episódios finais lá no YouTube, para quem quiser dar uma olhada com maiores detalhes:

Antes de entrar na segunda temporada propriamente, ainda falta eu reclamar da direção do anime, que me irrita particularmente. Quando eu digo que o anime quer parecer ser maior do que ele realmente é, não é só pelo texto, mas sim, principalmente, por causa da direção. A direção do Mamoru Kanbe é muito maneirista. A grande impressão que tenho vendo o anime é que o diretor quer aparecer mais que o próprio anime, com aqueles cortes a todo instante e representações visuais que sinceramente, não querem dizer nada. É a todo momento o diretor querendo mostrar ou dizer “Olha como eu dirijo bem, olha como eu dirijo bem”. Os personagens estão sentados e conversando, aí ele corta e mostra eles no lado, numa ponte, andando, em outro lugar, aí muda a cor, e volta e vai de novo, repetidas vezes ao longo de todos os episódios. Até podemos ir para um subjetivismo e representação visual das emoções dos protagonistas, porém como a dupla principal jamais é aprofundada minimamente o suficiente para importar, acaba sendo gratuito naquele contexto.


Agora podemos falar sobre o começo da segunda temporada… Preciso fazer ponderações e algumas considerações, mas não é que melhorou! O episódio 1, quase que inteiramente, foi do ponto de vista do Urino, o membro do clube de jornalismo. O mistério da vez é sobre uma série de incêndios que estão acontecendo na cidade e que estão seguindo um certo padrão e aumentando de proporção a cada novo incêndio. O Urino está levando dados para escrever sobre o assunto numa coluna do jornal da escola, coluna essa que é livre para cada redator escrever o que achar de mais interessante e que possui uma certa rotatividade, até para não pesar para cada um dos membros.

Por mais que tenha acontecido muita coisa nesses episódios, dá para resumir tudo como um “vai e vem do mesmo assunto”, porque é isso que o anime faz. O que eu destaco positivamente nesse como é que como tivemos uma troca de perspectiva e passamos a ver as coisas por outro personagem, finalmente tivemos momentos em que de fato a gente acompanha o personagem nos locais para ele então chegar em alguma dedução ou palpite do que possa estar acontecendo, e não como vinha acontecendo na maior parte do tempo que era o Jogorou falando e falando sobre a perspectiva dele e muitas vezes, tirando coisa do éter.

Isso foi legal também por um ângulo dos personagens mesmo. Eu comentei que acho o Jogorou e a Yuki um porre, dois personagens pouco expressivos (em termos de conteúdo) e que são verdadeiras portas, mas o Urino tem personalidade, ele é meio encrenqueiro e explosivo, não gosta quando o contrariam e tem uma tendência a agir de forma bem afrontosa, seja com seus colegas ou com os responsáveis da escola. Ele é um personagem legal efetivamente? Não. Mas ele tem personalidade. É um personagem bem falho e acho isso bacana nele. Ele age de forma super inoportuna e não gosta de ouvir o que não lhe agrada e é isso que faz dele um bom personagem, da mesma forma que acho o Kengo um personagem bom. É isso que falta nos protagonistas realmente.

Fato é que essa investigação deles não vai causar bons ânimos dentro da escola, porque pode atrair olhares duvidosos, de forma que o clube de jornalismo possa ser suspeito de estar cometendo esses incêndios, já que eles sempre publicam onde deve ser o próximo incêndio devido ao padrão que eles vem sendo executados, tornando fácil do Urino prever onde que eles vão acontecer. E além disso, mesmo que eles encerrassem as publicações, os incêndios continuariam da mesma forma, o que de novo, poderia voltar contra eles. O melhor dos casos é encontrar o responsável por isso. O X da questão está em dois pontos: a Yuki está agindo de forma muito suspeita com o Urino e ele não consegue compreender o porquê, nem ligar os pontos das coisas. A Yuki diz coisas enigmáticas e ele não consegue chegar no cerne das falas dela. E a outra ponta é que o Urino se tornou presidente do clube. O Kengo abdicou do cargo, porque ele está no 3º ano e logo virão os vestibulares que ele precisa focar. E logo após assumir o cargo, o Urino já sentiu como se ele fosse um grande jornalista. Ele tem um problema, além dos que já falei, de ter um ego inflado. Acha que pode realizar enormes feitos, tanto que está achando que pode pegar o criminoso dos incêndios por contra própria.

Por fim, quem volta à cena principal no fim do episódio 3 é o Jogorou, que retornou para fazer seus diálogos expositivos. A minha suspeita é que deram esse “protagonismo” para o Urino, porque eles precisavam de um 3º elemento para introduzir o arco e arrematar algumas pontas da série e para isso, não podia ser nem a Yuki nem o Jogorou agora que os dois estão separados. Daí veio o Urino. Chuto que após esse arco, as coisas voltem a ser como eram antes, e o Jogorou e a Yuki voltem a serem os protagonistas de fato…

Agora o anime continua com o problema de gastar as ideias dele rapidamente. Sem brincadeira, na metade do 1º episódio dessa temporada, dá para sacar quem é que está fazendo esses incêndios. O que me deixou meio encucado é que o autor quer fazer um mistério sobre quem é e até aí, tudo bem. Mas no fim do episódio 1, ele deixa bem claro quem é o responsável para no episódio 2 voltar a fazer a sonsa e seguir com o mistério sobre quem é, sendo que o próprio anime deixou demarcado quem seria. E no terceiro episódio, eles retomam o assunto e reafirmam quem é o culpado. Estão indo num vai e vem que assim, não precisava, porque fica a impressão de que na verdade, só estão enrolando o público para algo que poderia ser mais objetivo se cortassem algumas cenas. O arco não se encerra nesses 3 episódios, ele vai continuar (acho que vai pelo menos até o 5). É ver o que vão trazer de conclusão para o arco. O que trouxeram no fim do episódio 3 foi a questão do culpado ter um cúmplice e nesse ponto da história, até posso imaginar quem seja por causa de algumas falas suspeitas de um certo personagem…

Uma coisa mais “à parte”: o roteiro simplesmente assumiu mesmo que o Jogorou e a Yuki estavam namorando e terminaram depois dos eventos do final da temporada; e não somente isso, como o Jogorou está agora namorando com a Tokiko, enquanto que a Yuki está saindo com o Urino. Eu acho bizarríssimo que as relações nesse anime não só não são nomeadas (não é definido como relacionamento), como também nenhum deles, seja antes ou agora, realmente parecem estar namorando. O Jogorou com a Tokiko é realmente para parecer estranho, pois evidenciam o desconforto principalmente dela em estar com ele, porque ela tenta se aproximar e isso não dá muito certo já que ele parece seguir preso à figura da Yuki, enquanto que o Urino tem um distanciamento da Yuki que ele quer corrigir, mas ela em si parece se manter propositalmente distante. Então tudo é colocado de forma a soar estranho mesmo. Eu só achei muito de graça jogarem que a Tokiko está namorando com o Jogorou e outros dois caras ao mesmo tempo.

Eu critico muito a direção do anime, mas essa cena com a Yuki foi muito bem acertada, demarcando que ela está em um local muito diferente que o do Urino.

Embora esses 3 episódios tenham sido mais interessantes de acompanhar, porque finalmente construíram uma linha narrativa de mistério decente e bem estruturada, o anime ainda continua não sendo legais de acompanhar e, infelizmente, a obra está voltando a dar lugar para o Jogorou, o que é ruim, porque automaticamente o autor volta com aquela ideia de acompanharmos o desenrolar das coisas pelas falas do personagem e não trabalhar junto com o público para que seja feito um acompanhamento da investigação em conjunto. Mas independentemente de qualquer coisa, depois de 10 episódios que são genuinamente desastrosos e um pior que o outro, não seria justamente agora que eu acho que salvaria alguma coisa. Acho que quem está vendo a essa altura do campeonato ou gosta (não sei como) ou quer ver onde isso tudo vai dar (eu). Então vamos ver para onde vai nos próximos 10 episódios, já que essa season vai até o episódio 13… lá no fim, eu volto para fazer o balanço final (e espero que não tenha continuação).

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