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A falta que uma direção boa faz...

“Hoshi Furu Oukoku no Nina” era um dos animes da Temporada de Outono que eu mais esperava, isso porque é a adaptação de um mangá Josei escrito e ilustrado pela Rikachi, que possui muitas qualidades. Minha espera era, em partes, com boas expectativas, mas também com grande receio do que sairia dessa adaptação, dado que o a staff não era muito animadora e após ver o primeiro episódio, fica bem claro: como faz falta um diretor competente.

Sinopse: “Nina, uma jovem órfã de olhos azuis profundos, é sequestrada e levada ao palácio real para substituir a princesa Alisha, que morreu em um acidente. Destinada a casar com o príncipe herdeiro do reino de Galgada, ela tem três meses para aprender a comportar-se como uma verdadeira princesa, ao mesmo tempo que engana todos os nobres da Corte.”


Se eu fosse definir o episódio com uma palavra, eu diria que foi uma estreia apática, mas MUITO apática. Sem sal. Pouquíssimo expressiva. E até meio sem carisma. Mas vamos por partes aqui. “Hoshi Furu” vai contar a história da Nina, que ficou órfã de pai e mãe, isso porque o país onde ela vive (o reino de Fortuna) foi acometido por uma praga que devastou uma parte da população – e claro, os mais afetados são os mais pobres – e agora, a Nina vive em extrema vulnerabilidade, convivendo com dois guris, os irmãos Saji e Colin. Para sobreviverem, eles precisam roubar pessoas ricas da região e tentam sobreviver dessa forma, dia após dia, como uma família a certa altura. Porém, como a vida já não é de flores e como tragédia pouca é bobagem, o Colin ficou muito doente, não há dinheiro para comprar remédios e após uma briga entre o Saji e a Nina, ela sai de onde estão, completamente desolada e passa a noite fora. No dia seguinte, o Saji chama a Nina para conversar e, na verdade, o que o Saji fez foi vender ela, porque a Nina nasceu com olhos azuis, algo muito raro dentro do reino.

Quem comprou a Nina foi o Azure, o segundo príncipe herdeiro do reino de Fortuna e o interesse dele na Nina, é justamente seus olhos. Ocorre que a princesa do reino faleceu em um acidente e a princesa iria se casar com o príncipe herdeiro do reino de Galgada, o país vizinho. Como esse casamento precisa acontecer (e isso ainda será explicado), o Azure buscou alguém que substituísse a princesa, e quem foi a “”felizarda”” acabou sendo a Nina.

A Nina tem um tempo muito curta para se inteirar de tudo para conseguir se passar pela princesa Alisha. São aí cerca de 3 meses para aprender tudo sobre a falecida princesa, costumes, portar-se, a oratória e considerando que a Nina não está habituada com nada disso, a tarefa se torna ainda mais complexa. A Nina tem uma personalidade forte e marcante, então não é como se ela aceitasse tudo aquilo completamente “de boas”, como é o Azure que precisa dela, então ela se aproveita disso até como uma forma de barganha. No entanto, como o pescoço de todo mundo ali está em jogo (seja o da Nina, como do Azure e demais pessoas do palácio que estão ajudando ele), já que o que estão fazendo nada mais é do que enganar o rei (e futuramente, o príncipe do reino vizinho), um crime gravíssimo, a Nina aceita entrar nessa dança.

Ela precisa passar por um treino prévio para uma audiência que terão com o rei e a rainha dali alguns dias. Na audiência, as coisas quase saem do controle, já que a rainha – como forma de irritar/provocar o Azure – pede para que a Alisha fizesse uma dança comum das sacerdotisas, o que o Azure rapidamente intervém. O episódio segue, a rainha continua nas suas provocações com o Azure e chega em um ponto que, mesmo a Nina que não gosta propriamente do Azure, não consegue se conter e afronta a rainha, o que causa uma revolta na rainha e tira uma risadinha do Azure.

Esse primeiro episódio adapta 2 capítulos do mangá, ou seja, metade do volume 1. Eu li o volume #1 para escrever nosso texto de apresentação a obra e, embora eu não goste de fazer comparações entre mídias, aqui eu vou precisar fazer um pouco, mas eu explico o porquê. Eu poderia resumir e dizer que a fonte de todos os problemas da adaptação se concentra em: direção. A direção (feita pelo Kenichiro Koyama) é MUITO RUIM. Tem dois pontos principais que percebo nesse episódio de estreia: o primeiro foi a quantidade de material adaptado, enquanto que o segundo é que, pelo menos para mim, a direção está errando (e MUITO) no tom das cenas.

Começando pelo primeiro aspecto, eu não acho que precisava adaptar dois capítulos aqui. O primeiro já era mais que o suficiente para parar se a direção desse conta do recado. Tem coisas que a direção estende sem necessidade, enquanto que outras que podiam (ou mesmo precisavam) ser mais longas, ele deixa muito curto. Por exemplo, a cena de introdução do anime, com a Nina presa falando que “esta pessoa” iria matar ela pela segunda vez (o que mais para frente vai se conectar ao que o Azure disse, de que a partir daquele dia, a Nina morria para se tornar Alisha). Aquela cena, no mangá, dura exatamente uma página, é literalmente a primeira página do mangá. Eu não acho que precisava ter muito destaque, já que no próprio original isso não tem tanta atenção e mais do que isso, a adaptação sequer vai chegar no ponto disso se interligar (creio que só vá se conectar mais lá para o fim da história, no fim das contas) e da forma que foi posto, mais confunde do que esclarece, já que de princípio, pode dar a impressão de que a obra é uma de reencarnação.

Outro exemplo, agora de um momento que passou muito rápido e poderia ser mais longo é a relação da Nina com o Saji e o Colin. No mangá, é algo que realmente passa relativamente rápido, (dura umas 20 páginas), mas não sei, vendo o anime, parece tão vazio, tão sem substância e até um pouco superficial. Mesmo no mangá passando rápido, dá para sentir a dor dos personagens e a dualidade que existe na ação do Saji, enquanto que no anime não peso ou carga emocional. Parece que fica tudo “por isso mesmo” e fica tudo certo. Mesmo que no original esse momento entre os três passe rápido, animações em parte tem como função potencializar o que existe nos seus materiais de origem, então aqui cabia perfeitamente alongar para tornar ainda mais palpável essa relação que existia entre os três, especialmente considerando que a Nina os tinha como família, após a perda de seus pais.

E ainda existe uma questão de que o problema não está exatamente na quantidade de material adaptado, mas na eficiência da direção mesmo. “Raise wa Tanin ga ii: Yakuza Fiancé”, um outro anime dessa temporada e que teve uma estreia excelente (já a comentamos no blog), adaptou 2 dos 3 capítulos que tem no volume 1, ou seja, possivelmente até mais material do que esse episódio de “Nina” e, no entanto, a direção de “Raise” é muito eficiente, consegue sustentar o que está fazendo, o que é totalmente diferente da direção de “Nina”. E isso nos leva ao nosso outro ponto dos erros da direção, que é o tom da adaptação. Vendo o episódio, a grande impressão que tive é que o diretor não está entendendo o material que ele está adaptando. Em algumas cenas, ele carrega MUITO o clima, muito além do necessário, enquanto que outras, que precisavam dessa carga dramática maior, não tem.

Três momentos ilustram muito bem o que quero dizer: o primeiro é aquela cena de introdução, que vai muito além do necessário; a segunda eu diria que é essa relação que a Nina tinha com os dois irmãos, vejam, era para ser um sofrimento para ela e para os demais envolvidos, precisava de uma direção que conseguisse exprimir esses sentimentos e no fim, como eu disse, acaba sendo uma coisa que só… passa. E por fim, acho que a cena que mais ilustra isso é no momento que o Azure vai tirar a roupa da Nina – achando ser um garoto – e o que vemos é uma relutância (com razão) da personagem, só que no mangá, isso passa meio rápido e no anime, acaba sendo muito mais longo e fica realmente desconfortável de ver tudo aquilo, porque a personagem reluta, grita e até chora. São elementos que tem, sim, no original, mas fica uma cena muito pesada de assistir. Há outras cenas aqui e ali que ficam muito mais apáticas do que se deveria, como quando a Nina está de frente para o rei, ou mesmo como passam a impressão de que a rainha é só uma maldita, quando a relação dela com o Azure é um pouco mais complexa que isso. “Hoshi Furu Oukoku no Nina” tem um Q novelesco muito forte e nem para o diretor deixar as coisas mais exageradas, dentro desse tom de novela, ele consegue.

Me preocupa um pouco o quanto o anime vai querer adaptar do mangá, porque né, são 14 volumes lançados e não conheço o mangá para saber onde tem um ponto bom para pararem, então fico com medo deles quererem adaptar, sei lá, 8 ou 10 volumes em 12 episódios, o que com certeza vai ser um desastre, porque Nina é uma obra bem rica no que acontece em um volume. É muita coisa em um único tomo. De toda forma, fico bem decepcionado com o que vi. Como eu disse, não é que tenha sido HORRÍVEL ou algo do gênero, mas fica tudo tão apático que tendo em vista o pouco que conheço do original, bate uma tristeza. Outra coisa bem triste é a animação. Não esperava algo nível “Yubisaki to Renren“, longe disso, mas que tristeza ter tão poucos animes Shoujoseis que a produção seja bem feita. O design do Azure muda a cada take e em cada take ele está cada vez mais FEIO. Os designs da autora são lindíssimos, detalhados, com roupas, joias, tudo muito bem trabalhado e quando chega no anime, é…

Tão lindo no mangá e tão barango no anime…

A partir do 3º episódio eles provavelmente já vão começar o volume 2, aí já começa território que mão conheço do mangá, então veremos o que nos aguarda. Nesse primeiro momento, o que posso dizer é: se você conhece o original, provavelmente não vai ser uma experiência muito feliz, mas caso você não conheça, eu acho que pode ser minimamente interessante como introdução à trama e talvez (e só talvez), te dê curiosidade para conhecer o mangá original.

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