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E não é que as minhas expectativas foram superadas aqui!?

E não é que as minhas expectativas foram superadas aqui!?

SINOPSE: “Durante um desabafo sincero escutado por um diretor de um programa rádio após seu término de namoro, Minare Koda é convidada a ser radialista de um programa de conselhos amorosos e pessoais.”

Muito além da realidade de uma radialista

Para quem leu o post das minhas primeiras impressões do anime (link aqui), sabe que fiquei realmente surpreendido com a qualidade da adaptação. Eu tinha expectativas que Nami Yo Kiitekure seria basicamente, as peripécias da Minare em adaptar-se a nova realidade profissional que foi inserida. Só que foi muito além dessa impressão. Vamos por partes.

O primeiro ponto é que a obra quer valorizar a mídia rádio de forma geral. Tem todo um momento de enaltecer a dura realidade atual dessa profissão, que perdeu espaço para novas mídias e outros divulgadores de conteúdo como Youtubers e famosos de mídias sociais. É como uma carta de amor para quem ainda admira o poder que tem uma voz em alcançar várias pessoas, através de frequências eletromagnéticas. Quando tudo tiver na merda (blackout por exemplo), o rádio seria última rede de comunicação a cair, ainda sendo necessário em momentos de crise para o que fazer e que decisões a tomar. E colocam a nossa protagonista tendo que aprender do zero, sendo uma novata na área da comunicação. Adorei que colocaram a Minare em uma situação difícil em que o reconhecimento local de alguns moradores, não significa retorno financeiro imediato. PIOR. Ela precisa ir atrás de patrocinadores para um programa “um tanto estranho” que passa nas altas horas da madrugada. Mesmo ela tendo uma recompensa e satisfação em ter achado uma vocação, ainda vai ter que aturar um emprego chato, um chefe maldito, um namorado imprestável, um ‘friendzone’ persistente e uma rotina tediosa se quiser sobreviver. Alias, falando em namorado chato, o episódio em que aquele FDP liga para ela querendo se reencontrar em busca de uma reconciliação, foi MARAVILHOSO. Tudo graças ao excelente trabalho de direção e animação para compor todo aquele encontro amoroso deles.

Eu espero que as gurias que me relacionei não nutrem esse sentimento vingativo, porque vou começar a ficar com medo de conversar com elas.

Uma das melhores protagonistas dessa temporada

A cena começa pela insegurança e do resquício da paixão que ela tem pelo cara. São sentimentos de relacionamento, e quem já passou por isso, sabe o quão traumatizante é um término. Independente do que foi, se por causa de uma traição ou pelo desgaste tradicional de ambos, romper um laço forte, não é tão simples assim. Inclusive, é mostrado a raiva inicial da nossa protagonista em imaginar diferentes formas de mata-lo, ou como pode fuder sua vida pessoal da forma mais vingativa existente graças ao ódio que a protagonista ficou por ainda não ter aceitado como terminou o namoro. Entretanto, na hora H, todos aqueles sentimentos antigos afloram e a racionalidade some, ficando somente o sentimentalismo do que viveram antes, reacendendo a paixão novamente. Só que o diretor consegue te colocar uma pulga atrás da orelha. Todo esse encontro é desconfortante de ver. Não é de forma explicita, mas sim uma sensação de ‘algo está errado aqui’. Todo o episódio é para te deixar assim. A Minare até percebe e o espectador acompanha junto que está indo tudo a mil maravilhas para uma personagem que é muito azarada. E quando descobrimos as reais intenções dele, os minutos finais são aquela satisfação de ver um cafajeste se dar mal. Ver o Mitsuo se foder é maravilhoso.São exemplos assim que o anime brilha. Como também foi o caso da “maldição da espiã” em que na verdade, foi tudo culpa da Minare com sua preguiça de jogar o lixo em um local adequado. Ou de quando decidem fazer radionovelas em um script escrito a 6 mãos. Não são os momentos em que ela está trabalhando como locutora que chamam atenção, e sim no seu caos que é a sua vida pessoal. Tudo influência a coitada a criar conteúdo para o programa. Todo o encontro que ela teve com o Mitsuo, é originado a partir de reuniões de brainstorm com o Kanetsugu que sugeriu gravar essas situações (aliás, outro baita personagem). A Minare é quem brilha, entretanto o elenco de apoio auxilia nesse destaque que ela precisa ter.

Todos têm suas histórias entrelaçadas a jornada da Minare de alguma forma. O roteirista cansado do marasmo de seu emprego, o produtor que quer revigorar a audiência apostando em um programa bizarro, a jovem apaixonada pelos programas de rádio cogitando em se tornar uma diretora de alguma atração importante, o cara do andar debaixo que tem em uma vizinha escandalosa e bêbada que o deixa em ‘maus lençóis’, um chefe de cozinha que é atropelado de uma forma inusitada e que tem alguns fetiches um tanto ‘estranhos’, um namorado vagabundo que torra dinheiro nas patas de cavalo, um guria esquisita que tem uma tendência a ser possessiva com todos…é um elenco MUITO DIVERSIFICADO E INTERESSANTE de acompanhar. E o roteiro consegue destacar todos de alguma forma, para ter relevância naquela trama. Elogio muito essa parada, pois nem todos os animes conseguem executar dessa forma, dando um tempo de tela para todos do elenco de forma adequada.

Comédia na medida certa

Mas eu quero elogiar e MUITO um certo aspecto, que é a comédia. Todo mundo aqui que está lendo esse post, deve ter encontrado aquela pessoa tagarela, que fala demais, que GRITA DEMAIS (aqui me encaixo nessa definição xP), que não deixa os outros conversarem porque é uma metralhadora de palavras, que não sabe ouvir, que é impulsiva e que com certeza você evita ter esse tipo de pessoa na sua convivência diária. Não o julgo porque também não sou chegado em pessoas com personalidades expansivas ao extremo. Só que aqui, ainda tendo adjetivos que eu não curto, a Minare é FANTÁSTICA. Talvez por que ela reclama sempre, porém de uma forma engraçada? Talvez por ela não conseguir se dar bem e ainda sim se mete em uma enrascada maior ainda graças a ser uma tagarela? Talvez pelas reações exageradas e que a desgraça alheia é entretenimento? Eu diria que é tudo junto. O timing cômico do diretor é muito bom, mas a Minare que eleva a situação a outro nível. Os animes costumam utilizar situações episódicas ou sketches pequenas para desenvolver as piadas. Aqui, a comédia é mais situacional, fazendo com que a trama ande junto com as punchlines mostradas. E nem são tantas piadas por assim dizer, e sim a narrativa de como está sendo contada que torna a obra muito engraçada. Como você não vai rir quando ela se sujeita a entrar na casa de um desconhecido em busca de espíritos, sendo que ela é uma medrosa por essas aparições e finge que não tem medo? A Minare viaja demais em seus pensamentos, levando-a tomar decisões precipitadas e fazer julgamentos prévios das coisas sem nem saber do que está falando. É magnifico, já que a personagem movimenta a trama de uma forma tão natural e cativante, que você vai rir de suas desgraças, ou vai ficar fascinado por ela e continuar assistindo essa obra para até onde a criatura vai alcançar com aquela situação.

Eu já falei da direção que é maravilhosa? xP

Quanto as partes técnicas, eu só reclamaria de uma coisa: a consistência da animação, que em diversos momentos, é bem notável a variação no character design e nas distorções (não os culpo, porque eles tentaram deixar mais expressivos os personagens, com diversos cortes fluídos, o que cobrou um preço para a produção). De resto, a direção, fotografia, trilha sonora, dubladores, edição, mixagem de som…tudo é maravilhoso. Me chamou a atenção foram os planos utilizados no anime. Plano holandês, câmera subjetiva, primeira pessoa, planos abertos, ângulos claustrofóbicos, tomadas agudas, montagem de cenas dinâmicas e com uma edição refinada que só aumentaram mais o gabarito do que a equipe de produção de Nami yo Kiitekure conseguiu fazer. Eu diria que foi um achado nessa temporada, muito graças a pandemia que afetou os animes desse trimestre(ficamos sem muitas opções nesse caso).

Recomendação?

É mais do que obvio que recomendo o anime. Foi uma experiência maravilhosa em acompanhar a Minare na trajetória tortuosa de sua vida privada e profissional. Sei que não é um estilo de comédia para todos, porém tentem ver o primeiro episódio. Se não curtir, pode cair fora que o anime não vai melhorar para ti assistindo mais capítulos. E quem for ver, se prepara para as milhares de referência da cultura pop/nerd mundial que o anime faz a cada minuto. A Minare é um nerd não assumido e para entender as diversas linhas de monólogos que ela tem (e olha que ela está conversando com outras pessoas nesses momentos para vocês verem que a criatura fala para um caralho), você tem que ter conhecimento prévio das obras citadas para entender a piada do momento. Tirando esse aviso, pode ir assistir o anime que ele é muito bom e que vai valer a pena ter gastado algumas horas sua assistindo essa obra.

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