Uma análise sobre o mangá de romance que me conquistou completamente.

EDIT: o autor desse post saiu do LD. Por diversos motivos, estaremos atribuindo a autoria desse post para outro usuário. Mas que fique registrado que o autor desse post não está mais na staff do blog.

Olá! Sou novo por aqui, começando com essa resenha vou usar esse espacinho aqui no final para me apresentar e falar um pouco sobre mim. Podem me chamar pelo meu “nome de guerra”: Tiny. Tenho 19 anos e atualmente estou cursando o ensino superior na área de exatas, mais especificamente em TI. No geral, meus hobbies são basicamente assistir animes e ler mangás, que inclui fazer coleção dos mangás de várias obras, comprar bonequinhos e joguinhos de anime (apesar deste último geralmente ser uma porcaria). Meus animes preferidos são: Steins;Gate, Hunter x Hunter, Re:Zero e Haikyuu!! A partir de agora sou um dos novos redatores, ficando com a área de reviews, análises e textos opinativos. Espero que gostem.


Yesterday wo Utatte é uma obra de Kei Toume, que teve seu início em 1997, e finalização em 2015, contando com 113 capítulos em 11 volumes. A autora não é tão conhecida e sua obra mais famosa definitivamente é o romance, slice of life e drama que teve uma adaptação este ano na Crunchyroll. O mangá e o anime são muito diferentes, seja em desenvolvimento e até mesmo na conclusão. As duas mídias possuem algumas visões distintas, o que leva a finais que chegam até mesmo a diferir muito. Logo, a obra que eu quero comentar que é o mangá (mídia com enredo mais completo). Yesterday wo Utatte ou “Sing Yesterday for Me” é um mangá incrível e maravilhoso em todos os seus aspectos, com personagens únicos, cenários, ambientações interessantes e bem esclarecidos, com um enredo bem escrito, junto de um desenvolvimento da história bem completo e fechado. A obra traz uma visão madura sobre relacionamentos, visto que os personagens são, em sua maioria, adultos ou durante a obra se tornam adultos. Com isso, é possível ter discussões mais sérias. Tratar de problemas acerca da vida pessoal, escolar, no trabalho, são pontos abordados frequentemente. A maneira como trabalho e estudos podem influenciar nos relacionamentos também possuem uma importância narrativa enorme. A maturidade quanto aos pensamentos, ideias e senso de responsabilidades dos personagens como determinadas pessoas e suas diferenças psicológicas atingi a necessidade de se expor para um outro, como muitas vezes pessoas podem estar completamente erradas quando colocam algo na cabeça como certo, ganha importância e espaço de discussão em Yesterday wo Utatte. Para poder explicar mais sobre obra, vamos tratar um pouco sobre os personagens e seus desenvolvimentos. Aviso: podem existir comentários que tragam spoilers da obra apesar de eu tentar me esquivar de vários deles. Não vou dar tanta atenção a algum ponto especifico, mas sim, fazer uma resenha geral. Evite se você for sensível a qualquer tipo de comentário da história e considera spoiler. Espero que apreciem e se interessem pela obra de alguma forma.

Haru Nonaka é uma das personagens principais da obra e definitivamente a melhor delas. Com uma personalidade cativante, um sorriso contagiante e um jeito sempre animado e alegre, ela basicamente leva felicidade por onde vai. Sempre desinibida, extrovertida e carinhosa com as pessoas, Haru é comumente associada à movimentações grandes nos locais onde trabalha e frequenta. No início da obra declara seu amor por Rikuo Uozumi, deixando junto, uma declaração de guerra à Shinako Morinome, sua “rival” no amor. Apesar de Haru sempre parecer “boba” e “inocente”, ela possui um desenvolvimento grande e muito interessante durante a narrativa. Por mais que ela se esforce e tente dar o seu melhor para conquistar o seu amor, dificilmente ela se vê correspondida, e muitas vezes precisa encarar de viver com o fato de que talvez jamais fique com quem ela ama, sendo obrigada a aceitar a situação de no máximo ter uma amizade. O passar do tempo traz impasses em sua vida: “Amar quem me ama ou continuar amando a pessoa que eu gosto?”. Dificuldades em aceitar a realidade fazem com que ela fique com problemas, querendo fugir da realidade, mas fugir não vai lhe trazer respostas. Ela precisa decidir com as próprias forças aquilo que ela realmente quer, ou aquilo que ela acredita e o que vai deixá-la. No fim, de fato feliz.

Rikuo Uozumi é aquele cara quieto, na dele. Na época de faculdade era perdidamente apaixonado pela Shinako, mas, por serem muito amigos, ele ficou com medo de se declarar e possivelmente levar um fora, acabando completamente com sua forte amizade. Entretanto, após a faculdade, Rikuo tenta se declarar, e apenas tendo estendido toda a situação de desconforto, leva um fora que faz com que ele queira se afastar completamente de Shinako, o que não acontece. Ela sempre o procura quando tem algum tipo de problema ou impasse em sua vida. Uozumi é bem fechado e não consegue falar muito sobre seus sentimentos. Sua personalidade mais introvertida e com dificuldades para se expressar e dizer completamente aquilo que quer, torna situações simples em complexas. Por isso, o que de fato este personagem busca é alguém que o entenda e o aceite mesmo sendo uma pessoa complicada. Alguém que corra atrás dele e se mostre presente quando ele precisa.

Shinako Morinome é uma das personagens mais complexas da obra, sendo alguém que passou por momentos difíceis em sua vida e tendo que diariamente enfrentar trabalhos e pessoas com quem compartilha lembranças tristes e pesadas, além de sempre existir um impasse em seu coração de “Quem devo aceitar e corresponder?”. Apesar de sua visão quanto a Rou Hayakawa ser de irmão mais novo, por conta de sua antiga paixão ser pelo falecido irmão mais velho, ela sempre fica indecisa quanto a aceitar os sentimentos de Rikuo e ao mesmo tempo, acabar magoando Rou, ou continuar sozinha, esperando superar a morte de seu primeiro amor. Por ter perdido sua primeira paixão de infância, Shinako não segue em frente, estando sempre estagnada e parada no mesmo lugar, enquanto ela observa as pessoas a sua volta vivendo e o tempo passando. Ela se vê parada, travada e nunca consegue tomar uma atitude ou uma decisão concreta. Definitivamente ela é uma pessoa bem complicada de se lidar para os outros personagens, mesmo que ela e Rikuo tenham um “clima”. O que ela quer é algo parecido com Rikuo, alguém que a faça esquecer de seu passado, alguém que tenha iniciativa e seja muito presente em sua vida.

Por fim o ultimo protagonista da obra que é o Rou Hayakawa, um garoto que no início da obra, está no ensino médio e frequenta o cursinho com o objetivo de entrar numa escola de artes. Acho ele um dos piores personagens da obra. Não é completamente ruim, mas sua personalidade chega a ser irritante em muitos momentos, com um ar de “garoto birrento” que, se não consegue o que quer, logo surta e briga com quem está a sua volta. Porém, vemos que ele é alguém esforçado, que busca melhorar cada vez mais e desde quando era pequeno, possui uma paixão não correspondida pela Shinako, que gosta de seu irmão mais velho, que faleceu.

A dinâmica envolvendo os quatro personagens é muito boa. Sempre vemos o que cada um está pensando, ficando claro e explicito o que cada um quer. Mesmo o que cada um queira não seja de fato “claro”, conseguimos entender isso perfeitamente na obra. É um romance “clássico” em que temos personagens que “torcemos pra ficarem juntos”, mas que talvez só fiquem juntos no final. Podemos ver com o decorrer da história que relacionamentos podem não dar certo, podem não ser levados para frente e servir como experiencia e amadurecimento. Vemos com Rikuo e Shinako, que tentam a todo tempo forçarem algo que não está dando certo. Conforme o namoro se desenvolve, os dois tentam ser sinceros um com o outro e veem que aquilo não vai pra frente da forma como no início achavam que poderia dar. Ambos querem a mesma coisa, mas essa coisa não está neles e sim, possivelmente, com outras pessoas, estando elas perto ou longe. O amor de Rikuo e Haru é quase que invisível aos olhos, mas no fundo, é o que Rikuo sempre desejou no início da obra. Não a ver todos os dias, não sair com ela, não a levar para casa, acabou gerando um completo vazio em sua vida, o fazendo enxergar que tudo que ele desejava era ter tudo aquilo de volta e que a Haru proporcionava, era o melhor e o ideal para o Rikuo.

Os personagens secundários na obra (como Amamya, Kinoshita e sua irmã, Kyoko, Minato) tem um papel fundamental na obra. Trazem suas visões de mundo e seus objetivos. Entram ou saem da vida dos personagens sempre deixando sua marca e seu ponto de vista, ajudando os principais a entenderem algo sobre o mundo, sobre outra pessoa, sobre si mesmos, ou sobre tudo isso. O proposito dos secundários nessa obra não é preencher espaço, mas sim gerar reflexões e pensamentos, ajudando os protagonistas a amadurecer e analisar situações em sua vida. Cada personagem nessa obra é único e muito bem construído, o que deixa suas relações mais compreensíveis e palpáveis, tornando a toda situação algo que, mesmo que por acaso, tenha um objetivo fixo e condizente. Tudo é muito bem encaixado e hora o mundo parece ser “pequeno”, o que gera um tom cômico e situações engraçadas (como quando a irmã de Kinoshita encontra Shinako e Rikuo sem querer – Pra quem leu ou pretende ler, vai acabar se deparando com essa cena engraçada – ).

A ambientação do mangá é linda e a temática bem completa. Cada personagem, com exceção da Shinako e da Haru, é ligado a alguma área da arte: música, filme, fotografia, pintura ou até mesmo modelo.  O que trás uma visão que, muitas vezes, pelo menos em nosso país, é quase que deixada de lado por grande parcela da população. A obra me abriu os olhos e me deixou mais interessado sobre as mais diversas mídias de arte, e mesmo que eu acabe não consumindo todas elas, o que é perfeitamente comum, afinal, consumir tudo é sempre complicado, Yesterday wo Utatte dá visibilidade e agrega muito em trazer um espaço pra cada mídia diferente. A arte do mangá é maravilhosa. A autora deu sua alma ali. Vemos o progresso de seus traços conforme o avançar dos capítulos e eles ficam cada vez mais lindos. No início sempre temos umas artes lindas da Haru, que até mesmo a autora reconhece o peso da personagem, sempre a desenhando “despretensiosamente”. O estilo de seu desenho é simplesmente magnífico, seja no traço dos personagens, seja ao desenhar ambientes bem completos, cheios de detalhes. O roteiro é bem escrito e bem pensado. O que dá um pouco de tédio são as partes do Rou, mas ele tem um amadurecimento bem interessante durante a história, saindo de criança a adolescente e por fim, chegando na vida adulta. Cada página tem sua importância, cada fala tem um propósito, e a complexidade textual gera um enredo bem palpável, resultando detalhes à compreensão da obra como um todo e de seus personagens.

Por fim, a obra tem uma adaptação em anime que fez os 11 volumes e 113 capítulos em 12 episódios (Sim, bem corrido). Tem várias alterações e corta muitos arcos de desenvolvimento e personagens, mas traz artes magnificas, ambientações fantásticas, um trabalho de voz de alto nível e uma trilha sonora linda (detalhe que Ilya Kuvshinov, um fã russo da obra, que sempre acabava desenhando a Haru, foi chamado pra trabalhar em quadros de animação da adaptação e fez várias artes para o anime, que ficaram sensacionais). Enfim, vale muito a pena ler a obra e buscar conhecer outros projetos da autora, que eu mesmo já coloquei alguns em minha lista. Definitivamente amei o mangá. Espero que possam apreciar a obra também e quem sabe, algum dia ela pode ser trazida com tradução para o Brasil (O mangá, claro).

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