Para uma obra do Tite Kubo, até que o resultado ruim foi dentro do esperado

Para uma obra do Tite Kubo, até que o resultado ruim foi dentro do esperado

SINOPSE: Historicamente, 72% de todas as mortes em Londres são causadas por dragões, criaturas fantásticas que são invisíveis para a maioria das pessoas. Apenas os moradores da Londres Reversa, o “outro” lado de Londres, conseguem ver os dragões. Desses, apenas alguns poucos são selecionados para se tornarem bruxos e bruxas e fazer contato direto com os dragões. As protagonistas desta história são uma dupla de bruxas, Noel Niihashi e Ninny Spangcole. Elas são agentes de proteção da Wing Bind (WB), uma organização de controle da população de dragões, e sua missão é observar e proteger Londres. FONTE: CRUNCHYROLL

Uma rápida introdução

Como otaku dos anos 2000, tive a experiência de consumir o mangá de Bleach durante seus lançamentos na Shounen Jump através de scalantors ou fansubs na época de escola. Para quem era colegial, a trindade da Jump (Naruto, Bleach, One Piece) eram sempre os tópicos para os nerds que assistia animes de forma ilegal, baixando arquivos rmvb, ou rm para acervos mais antigos. A internet ainda não tinha toda essa força para propagar outros animes/mangás melhores no meio dos estudantes, limitando a somente as obras mais famosas ou que passavam na TV. A banda larga de qualidade era um sonho apenas e que ainda não tínhamos plataformas oficiais para distribuição das obras japonesas de forma rápida e legal por aqui.

E graças à nostalgia, ainda tenho um certo carinho por Bleach. Mesmo a história ficando uma bosta completa do arco do Aizen em diante, tenho uma boa sensação ao escutar alguma opening da adaptação animada, revendo (ou relendo) lutas legais ou trechos específicos com a mesma emoção da época. Reconheço que não irei rever a série toda ou pegar todos os 74 volumes do original e me dedicar um tempo para ler novamente a obra. Prefiro dedicar a consumir coisas novas ou ver algum anime antigo que deixei passar despercebido nos últimos anos.

Com uma nova obra do Tite Kubo anunciada, eu teria que conferir sobre o que se trata vindo de um autor cheio de maneirismos e vícios em contar suas histórias, como podemos conferir nos últimos volumes de Bleach. Semelhante a tática do Kishimoto no final de Naruto, o Kubo é um excelente ilusionista na sua escrita. Parece que ele quer contar algo, porém de acordo que seguimos acompanhando suas publicações, fica perceptível que a narrativa não quer te contar nada, sendo simplesmente algo vazio, sem grandes aprofundamentos ou construção da história, e por consequência, sem desenvolvimento dos personagens apresentados. E nisso, Burn the Witch se torna um exemplo claro de uma estilização bem barata para mascarar um roteiro muito do capenga.

Uma animação linda para pouca entrega no roteiro

Quando anunciaram o estúdio Colorido para ser responsável pela parte técnica, achei exagerado a escolha, pois para uma obra do Kubo, não tinha a necessidade de um estúdio de grande fama para animar as coisas. Se conseguimos sobreviver com a Pierrot em Bleach, qualquer um daria conta (xP). Entretanto, depois de ter visto os episódios, posso cravar que a parte técnica está ESPETACULAR. Principalmente nas partes mais exigentes ou em trechos de luta, a animação é bem linda e de encher os olhos. Se colocássemos alguma música com uma batida mais acelerada de fundo nessas sequências de ação no formato curto de vídeos, poderia virar fácil algum AMV viral no Tik Tok. A direção também faz um puta trabalho. A fotografia junto com a edição trazem um dinamismo nos trechos que tem diálogos expositivos ou em conversas prolixas que o Kubo adora colocar, não as deixando maçantes e até interessantes de assistir. Não posso dizer que tudo na produção acertou, pois eles empregam certos ângulos para valorizar (ou idolatrar) os seios da Noel que chega a ser bem ridículo, não servindo nem como escada para as piadas com o personagem do Balgo. Simplesmente algo gratuito que podia ser evitado de ser colocado no anime.

Indo para o roteiro em si, tenho 3 problemas bem sérios de como é feito a organização dos eventos ou da construção daquela Londres Reversa apresentada no anime. A primeira seria a contextualização do mundo que rodeia os personagens. Beleza, dá para entender o básico de que é um mundo que existem dragões (diferentes do comum ou do senso popular) e que temos uma sociedade paralela que cuida dos estragos que esses seres realizam tanto no mundo reverso, quanto no normal. Lembra bem vagamente toda essa parte de ocultar as coisas mágicas de Harry Potter em que temos um grupo que sabe das coisas em relação ao que é difundido para os demais humanos, ocultando tais verdades da maioria da população (e não duvido que o Kubo usou essa base da J.K. para fazer Burn the Witch, considerando que também estamos em Londres). 

Porém as semelhanças param por aí, porque é muito difícil entender vários detalhes apresentados de forma apressada no decorrer dos episódios. A organização mesmo que as protagonistas participam. Sei que a instituição é responsável por manter a ordem e tal. Só que fica ambíguo o que ela é de fato. Em vários momentos ela parece um tipo de polícia da ordem dos dragões. Só que quando elas entram no local, parece uma escola preparatória, estilo ao que temos no H.P. Mais adiante passa a impressão que é uma agência de pedidos em que os clientes que solicitam seus serviços. Só que fica ainda mais confuso, pois essa organização tem uma estrutura hierárquica, com direito a mesa redonda de cavaleiros honrados e de cargos maiores/fodões. Nada de fato se conecta com o que é mostrado antes. Não sei qual a dimensão dessa organização ou de como ela é estruturada, ou qual seu papel na sociedade britânica. Eu nem sei o que os tais ‘chefes’ mostrados representam internamente dessa instituição. Quais suas influências nas decisões? Eles são ativos na liderança? Eles são a parte da estrutura apresentada aos demais, realizando ações nebulosas para algum benefício próprio? Por que eles querem invocar os dragões das lendas? E por que nada foi comentado anteriormente? Tipo, são questões que servem para dar uma base para quem assiste, mas não são respondidas, deixando vários acontecimentos gratuitos ou perdidos em outros temas. São diversos conceitos jogados na tela, de maneira que fica confuso o propósito deles no roteiro. E aí entra em uma outra parada que odiei que são os elementos inseridos sem propósito algum.

A quantidade exagerada de personagens é um problema

O que vai mudar a Ninny ser modelo no mundo real para a história? Qual o motivo de termos toda aquela perseguição do cachorro dragão no começo? E aquela batalha na cidade? A função deles irem até um quadro para pegar a missão, é tipo uma quest em um jogo? É isekai essa porra? Ou o próprio personagem do Bruno em que aparece do nada, fala umas coisas vagas e depois diz que está tudo bem deixar o Balgo vivo, porque ele vai despertar os outros dragões. Para quê aquela luta e perseguição destruidora de cidades? E é essa solução SUPER simples para esse problema tão perigoso? Assistindo o anime, fica o sentimento que o Kubo encheu linguiça na história contada, só para colocar mais personagens estilosos no elenco de forma randômica, sem uma finalidade definida. para o que está sendo contado. Mas ainda tem uma última coisa que não curti e que foram os desenvolvimentos dos personagens.

O elenco é até bem simpático e carismático. Não é esse o real problema. O que pega é que todos os arcos iniciados aqui, ou se perdem ao inserirem outros arcos à moda caralha, ou são esquecidos, deixados de lado, pois o Kubo precisava apenas de UM ELEMENTO específico de tal personagem para prosseguir com a narrativa para em seguida fingir que nada aconteceu. O arco da Macy mesmo, temos uma pessoa reclusa, que se sente inferiorizada por causa da mídia que critica seu trabalho de modelo e que encontrou conforto no carinho em um ser nada convencional, o filhote de Dragão Supremos. O que levou ou no que a personagem evoluiu? Nada. Apenas o Kubo precisou inserir ela por causa do Dragão. E para argumentar depois que não foi gratuito a personagem, o autor deu uma função de nova protegida das protagonistas graças às habilidades adquiridas ao contato com esse ser perigoso milenar. Além de colocar a personagem de maneira brusca no roteiro, resultou na fragmentação do foco narrativo como um todo, sem dar a devida atenção aos pontos já apresentados antes. A Noel, Ninny e o Balgo, do nada, viram secundários de uma trama política confusa e complexa, sem nem ao menos termos tempo de gostar deles, tornando toda a empatia que deveríamos ter nos momentos mais dramáticos, fossem inexistentes, me deixando alheio a história. Muito ruim essa parte narrativa e de evolução de Burn the Witch. E nem a referência a Soul Society no final me animou realmente com o anime. Como eu valorizo demais uma boa história em vez da parte técnica, sai do anime com saldo mais negativo do que positivo.

Conclusão

Perto do que foi o final de Bleach, Burn the Witch não foi esse desastre todo que aparentava que seria. Mas graças às limitações e decisões do autor na sua narrativa, resultou em um anime esquecível, sem grandes adjetivos para exaltar ou recomendar para os amigos quando eles perguntam se a obra vale ou não a pena de assistir.

1 thought on “Review de Burn the Witch (anime)

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