"Quero mudar o mundo, cruzar os céus e nada temer"

“Quero mudar o mundo, cruzar os céus e nada temer”

“InuYasha” (犬夜叉) é um mangá homônimo de Rumiko Takahashi. A obra foi publicada no Japão entre 1996 e 2008 na revista Shounen Sunday da editora Shogakukan, sendo completo em 56 volumes. No Brasil, a JBC lançou o mangá em formato meio-tanko (dividindo 1 volume japonês em 2), rendendo 112 no total. A primeira publicação brasileira aconteceu entre meados de 2002 até 2009.

Em Maio de 2016, a editora realizou uma enquete com algumas obras que o público gostaria que fosse relançada no Brasil. A que fosse vencedora, seria republicada. Na enquete tínhamos as seguintes obras: Shaman KingInuYashaFruits BasketCowboy BebopA Princesa e o Cavaleiro e Angelic Layer (grande parte destes já conseguiram suas republicações, inclusive). InuYasha conseguiu sair vitorioso e a editora passou de ir atrás da licença. Em 2017, porém, a editora informou que as negociações da obra estavam pausadas, pois estavam vendo um formato que fosse viável de lançar no Brasil, dado a alta quantidade de volumes, passando anos sem notícias. Até que em Maio de 2020, a JBC REanunciava o relançamento da obra, dessa vez no formato ‘Wideban’, que compilava os 56 volumes em “”apenas”” 30. O lançamento da nova versão começou em meados de Novembro/2021. Adquiri o volume #1 ainda em 2021 e agora, depois de meses, venho compartilhar minhas opiniões sobre a obra e da edição brasileira ^^.

Sinopse: “A jovem Kagome encontra em um antigo poço uma passagem que a leva para um Japão Medieval habitado por criaturas místicas conhecidas como youkais. É nesse passado longínquo que ela conhece Inuyasha, um meio‑youkai que busca a Joia de Quatro Almas e vingar-se do nefasto Naraku.”


  • História e Desenvolvimento

Para alguns de vocês (ou talvez maioria?), tivemos aquela época em que tudo que passava na TV, voltado para crianças, era puramente desenho animado (o que não é errado). De onde veio, como foi feito, pouco importava. Nessa onda, alguns animes costumavam passar na TV aberta e eram de maior acesso ao público, sendo alguns deles “Dragon Ball”, “Naruto” e “Cavaleiros do Zodíaco”. Outros animes que chegaram a passar na TV, caso de InuYasha, também chegavam ao público por “meios alternativos” e nisso, acabei conhecendo a animação da obra pelos DVDs que um dos meus irmãos mais velhos comprava.

Não lembro perfeitamente, mas InuYasha provavelmente foi o último anime que assisti sem saber que era um anime (produção japonesa). Meu amor por aquela animação foi tão grande que passava horas e horas dos meus dias vendo os episódios. Na época eu ainda estudava de manhã, e sempre que sobrava tempo, lá estava eu vendo episódios. Às vezes eu chegava da escola e já colocava o DVD para assistir, haha. Nas férias, eram mais horas e horas assistindo, cantarolando as maravilhosas aberturas. Enfim, maravilhoso. Foi o anime que mais revi na vida. Foram pelo menos 3 vezes completo (sim, os quase 200 episódios).

Na história, vamos acompanhar a Kagome, uma jovem e simples estudante colegial, que vive num antigo templo com sua mãe, irmã e avô. Ela não acredita muito nos contos que seu avô conta para ela, e esquece sobre todas essas histórias. Até que no dia do seu aniversário de 15 anos, ela é arrastada por um Youkai (nome para criaturas fantásticas e espíritos japoneses) ao Japão Medieval. Essa passagem se dá através do Poço Come Ossos, que irá servir de passagem e de transição entre os dois mundos. No Japão Medieval, a Kagome começa a sondar os arredores e vê uma pessoa (nosso querido Inuyasha) preso em uma árvore com uma flecha no peito. Posteriormente, os aldeões da vila chegam, fazem uma confusão, levam ela para conversar, até que começa o ataque da Mulher-Centopeia (Youkai que puxou ela para dentro do poço) na vila, o que leva a Kagome a tirar a flecha do peito do InuYasha (um meio-youkai), que era o seu lacre, e a partir daí, a história passa a caminhar.

Ainda nesse começo, somos introduzidos a Joia de Quatro Almas, que anteriormente havia desaparecido do mundo e que voltou no corpo da Kagome (dentro do corpo dela) e que vira alvo dos Youkais daquele mundo. Essa joia é usada como um catalizador de poder. Os Youkais a desejam para se tornarem mais poderosos, o que atrai os olhos desses seres para a personagem. O ponto culminante da história vem no capítulo 5, quando a Kagome acaba estilhaçando a joia e esses pedaços são espalhados pelo mundo. Um único fragmento da Joia de Quatro Almas concede ao usuário um poder avassalador. Quanto mais fragmentos o Youkai conseguir, pior será. Portanto, é passada a missão da Kagome se juntar ao Inuyasha e os dois, juntos, irem atrás de cada pedacinho da joia.

Outro aspecto interessante para esse pontapé inicial é saber que o InuYasha foi selado na árvore por ter tentado roubar a Joia de Quatro Almas para se tornar um “Youkai completo”. Quem o selou foi a poderosa sacerdotisa chamada Kikyou, que morreu logo após isso e que neste momento, não é deixado claro a causa da morte e o que levou ao ferimento que resultou no seu falecimento. Essa informação não só é importante para entender o porquê dele ser preso na árvore, mas também a Kagome vem a ser a reencarnação da Kykiou. A aparência dela é igual a da sacerdotisa. Nisso, a relação dos dois protagonistas fica um pouco mais complicada, já que o rosto dela remete a alguém que o selou por boas décadas. Ele a odeia (lembrando que amor e ódio caminham lado a lado, rs) e não simpatiza nem um pouco com a Kagome, custando a acreditar, inclusive, que a guria não é a sua odiada Kykiou.

Esse começo da série conta com histórias mais fechadas, um tanto curtas, que servem de apresentação aos personagens, com também aos conceitos, poderes, habilidades, ou qual é a dinâmica dos personagens principais, suas personalidades (que são bem fortes, gerando atritos e consequentes momentos de comédia), além de começar a mostrar a diversidade de Youkais que existem naquela realidade, principalmente no contexto de até mesmo objetos, animais mortos e plantas que podem vir a se tornar Youkais por causa de energias malignas. Como é o caso de uma certa máscara esculpida do tronco de uma certa árvore (história do volume 2). Ou mesmo nesse volume em que temos uma história com um tipo de corvo que come corpos humanos e passa a viver dentro deles. São conceitos intrigantes e de uma versatilidade ótima, tornando o mundo da obra rico e legal de ler.

Uma das histórias que mais gosto no início do mangá, e que é bem memorável para mim, é da Youkai Yura de Cabelos Invertidos. Eu adoro muito essa parte. Quando vi o anime, foram esses episódios que de fato me fisgaram. Toda a sequência de eventos é ótima e a própria vilã é muito marcante, principalmente por ela ser uma daquelas manifestações de Youkai que vieram de objetos que tomaram alguma forma “demoníaca”. Por partir da ideia de que seu poder é controlar fios de cabelo, esses fios podem ser usados desde como uma teia de aranha (sendo extremamente cortante) ou até mesmo como forma de controlar outras pessoas. Adoro o conceito. A história da Yura está mais ou menos no meio do volume. Dali para frente temos uma sequência um pouco mais linear envolvendo o Sesshomaru (irmão do Inuyasha) que começa a trabalhar mais o aspecto familiar do personagem. São capítulos que a comédia perde mais o espaço e a autora foca mais na tensão desta relação que é bem conturbada entre os dois.


No demais, é um volume bem divertido de ler. Achei que iria demorar horrores para uma leitura, porque eu peguei um ranço tremendo de volumes duplos/triplos (parece que eu leio, leio, leio e não saio do lugar), mas se tornou o contrário. Foi bem tranquilo de ler. Peguei ele de manhã e li de uma vez, sem quaisquer problemas. O que deve ter me ajudado nesse caso é conhecer a história e gostar muito dela. A única coisa que me irritou um pouco enquanto lia é a quantidade absurda de notas de rodapé que tem. Algumas sem qualquer necessidade, como foi o caso do Jaken, que colocaram a tradução do nome dele (Olhos Malignos) e que a cena não exigia nada nesse sentido, enquanto que outras coisas como a Tessaiga, que é uma espada que será recorrente na história e que seria bacana ter uma nota com o significado do nome, não teve nada do tipo. Ou até mesmo algumas decisões estranhas como usar “Mukade Jourou”, inserir uma nota dizendo que significa “Mulher-Centopeia”, para logo em seguida passar a usar o nome adaptado para o português. Qual o sentido de usar o original ali? Era só ter mantido na nossa língua e cortado a nota de rodapé.

“InuYasha” é uma história divertida, mas tenho ‘alguns porém’ a considerar. Por mais que eu AME esta ‘bagaça’, chega num ponto da narrativa (que não demora muito para chegar) em que a história fica absurdamente repetitiva. Para quem leu “Nisekoi”, sabe que tem um miolo que a história se repete entre cenas de comédia e o aparecimento de uma nova garota que é pretendente do protagonista. Esse esquema é semelhante ao que acontece aqui. A história central fica alternando entre Inuyasha encontrar o vilão > chegar perto de matar > vilão foge > Inuyasha consegue um novo poder > vilão também consegue ficar mais forte > vilão consegue novos aliados > Inuyasha vai atrás de matar todo mundo e assim sucessivamente. Isso sem contar os melodramas envolvendo uma certa defunta que volta a vida e até mesmo “fillers” no meio do mangá. Os famigerados “corres aleatórios” que aparecem no caminho e lá vai os protagonistas resolverem.

E falando assim, fico até meio incrédulo em como consegui ver quase 200 episódios disso TRÊS VEZES e ainda achar maravilhoso! Tem o fator idade, afinal eu amava (e ainda amo) “O Club das Winx” e repetição é a palavra que define a série. Mas tal qual Winx, InuYasha tem algo muito envolvente que me prende. Não sei exatamente em quê a série me prende tanto. Se é a comédia, as cenas de ação, essa aventura misteriosa, os vilões ou até mesmo o melodrama repetitivo. Tem um Q ali que me fisga muito bem e creio que parte disso seja da própria Rumiko que consegue criar esses momentos envolventes. É algo que se gruda em ti e dificilmente você larga. É quase como uma novela.


  • Arte

Passando para o desenho da autora, muita gente não gosta dos designs dela por serem “velhos” e que não evolui ao longo da série e demais obras da Rumiko. Mas confesso que fiquei bem surpreso com o desenho dela. Assim, como passei muitos anos assistindo ao anime, estou habituado com aquele design que é um pouco mais “atualizado”, porém tirando um ou outro quadro ou personagem, achei ele muito bom. O Jaken, por exemplo, eu estranhei bastante, porque ele é mais sinistro no mangá. O que mais me chamou atenção positivamente é quando a Rumiko desenha cenários e usa poucos quadros nas páginas. As páginas duplas dela são LINDAS! Ela tem uma mão ótima para criar esses cenários e tornar a trama mais imersiva para quem lê. Tem momentos deslumbrantes realmente. Lá no fim do volume tem uma página dupla que ela desenha de ponta cabeça que é 10/10. Até as cenas de ação que ela faz funcionam melhor quando ela desenha, fluído e passa dinamismo em cada quadro.


  • A Edição Nacional

Sobre a edição nacional, ela está bem bonita. Está sendo lançada no formato 12,8 x 18,2 cm, capa cartonada com sobrecapa e detalhes em hot stamping (efeito dourado no título, número e lombada). Tem páginas coloridas e por sinal, me senti um pouco decepcionado nesse quesito, pois a JBC ressaltava que haviam páginas coloridas e de fato, há mais de uma, mas pela forma que falaram, achei que viriam muito mais ao invés de duas. Acreditava que todas ou boa parte das páginas coloridas originais estariam inclusas nesta versão, mas não é o caso. O não ter essas páginas não é culpa da JBC. Eles estão seguindo a versão japonesa e nela, também tem só essas ilustrações coloridas no começo. Porém, da forma que foi dito, deu a entender que teríamos mais partes coloridas do que essas. A nova edição está usando o papel Off-set e não tem transparência. A quantidade excessiva de notas de rodapé me irrita, mas creio que seja o ponto mais negativo que eu possa destacar aqui. Não sei se foi só comigo, mas minha edição não é muito maleável. Não atrapalha a leitura, porém o volume está um pouco duro e assim, volumes BIGs ou TRIGs, deveriam ter por OBRIGAÇÃO ter o miolo colado e costurado. É um horror de abrir e deixar a lombada toda marcada. Cada volume tem preço de R$ 64,90 e essa versão é completa em 30 volumes (a JBC está no 2°).

Importante dizer que nas últimas páginas desse volume, tem uma sessão de textos com curiosidades sobre o universo de InuYasha. Esses textos trazem um material muito bom para quem já conhece a obra, tendo algumas explicações mais detalhadas sobre termos, decisões criativas e simbolismos. Para quem não conhece nada do que acontece no futuro da obra, eu deixo avisado que os textos podem conter leves spoilers de certos acontecimentos. O conteúdo em si continua interessante para quem não tem esse repertório, porém fica o aviso para evitar possíveis spoilers.


  • Conclusão

Concluindo, a leitura desse volume foi uma boa surpresa. Não no sentido da história pois pelo menos nesse começo. Eu conheço ela de cabo à rabo, mas sim no sentido de ser uma leitura tão fluida, tão prazerosa e divertida. E caralho, que saudades de InuYasha. Não sei até que ponto eu manterei esse sentimento gostoso, de nostalgia, afinal, são 30 volumes e diferente do meu eu mais novinho, não tenho mais tanta paciência para essas enrolações, da mesma forma que tenho um senso crítico mais formado. Fico até curioso para essa leitura e ver o que vou achar da obra, principalmente da metade para o fim.

Eu não acho “InuYasha” a série mais apropriada para um público mais jovem, principalmente considerando alguns aspectos da história e esta edição (no sentido de formato e preço). Eu digo que adoro a série, mas recentemente, estava conversando com um amigo e ele comentava sobre como a relação do Inuyasha com a Kagome não era muito legal, dizendo que um outro casal (formado por personagens que ainda não apareceram nesse volume) era muito melhor. E mesmo sem reassistir nada, eu comecei a pensar na relação desse outro casal. Nessa conversa, só de pensar um pouco, consegui perceber que o relacionamento dos demais era muito terrível. Passando um contexto sem dar spoilers: um certo personagem que é um monge vai aparecer nos próximos volumes. Ele tem uma maldição que vai o matar mais cedo ou mais tarde. Nisso, ele dá em cima de qualquer mulher (desde que seja bonita aos seus olhos) para conseguir um filho. A personagem que vai fazer par romântico aparece depois dele. Ela é uma exterminadora de Youkais e esse monge também passa a dar em cima dela. A grande “piada” envolvendo esses dois é o monge dar em cima de outras mulheres e até assediar a exterminadora de Youkais, mas que apesar de tudo isso, ele a vê como alguém especial e que de certo modo, “tudo bem” ele fazer aquilo. Então assim, tem bastante coisa que envelheceu mal na série. É preciso ler com isso em mente, porque caso contrário, será uma leitura bem mais sofrida.

E como esta é uma versão bem cara (mais de 60 reais por volume), uma coleção longa com 30 volumes e na nossa situação atual, vamos passar bem por uns 3-4 reajustes de preço NO MÍNIMO. Quanto mais a história avança, mais voltas em círculo ela dá, e mais o preço irá subir. E com essas questões de envelhecimento narrativo, pode não ser a melhor pedida para um público mais jovem. Agora, para quem já conhece a série, seja pelo anime, pela primeira edição do mangá no Brasil ou por ~meios alternativos~, pode ser uma ideia em adquirir a coleção. Eu estou comprando pelo meu carinho com a série, mas não será uma prioridade para mim. Meus planos são comprar apenas em boas promoções e alguns meses depois do lançamento de cada volume. Ponderem bastante com essas questões e para o público mais jovem, se quiser conhecer a obra, seja para descobrir esse mundo de alguma forma ou para ver como é antes de tentar comprar, recomendo bastante o anime. Ele está completinho na Amazon Prime Video, tem dublado (dublagem ótima por sinal), tem também os filmes lá e é algo que vale bem a pena pensando em custo benefício. Assinou o sistema da Amazon, você paga 10 reais por mês e pode ver tudo tranquilamente ^^


  • Ficha Técnica
  • Título original: InuYasha (犬夜叉)
  • Título nacional: InuYasha
  • Autora: Rumiko Takahashi
  • Serialização no Japão: Shounen Sunday
  • Editora japonesa: Shogakukan
  • Editora nacional: JBC
  • Quantidade de volumes: Completo em 30 volumes
  • Formato: 12,8 x 18,2 cm; capa cartonada com sobrecapa
  • Preço de capa: R$ 64,90
  • Compre em: Amazon

2 thoughts on “Resenha: InuYasha (volume 1)

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