Tropeça no começo, mas no fim das contas, continua sendo uma graça!

Ontem, dia 10 de janeiro de 2024, ocorreu a estreia da adaptação em anime de “Cherry Magic!” ou “30-sai made Doutei dato Mahoutsukai ni Nareru Rashii”, baseado no mangá de Yuu Toyota. E após o grande susto com a possibilidade de não ter transmissão oficial no Brasil (a Crunchyroll anunciou a transmissão em cima da hora), consegui ver o episódio à noite (quase de madrugada), quando voltava da Universidade. E se o episódio tropeça um pouco no começo, ele compensa e muito no restante!

Sinopse: “No aniversário de 30 anos de Adachi, que ainda é virgem, ele recebeu um presente inusitado: a habilidade de ler a mente de qualquer pessoa que ele toque. Refletindo sobre o que fazer com esse poder misterioso, ele tem uma ideia quando acidentalmente lê a mente de seu colega Kurosawa. Acontece que o galã charmoso da equipe de vendas tem uma quedinha por ele! Como Adachi vai reagir ao ouvir esses pensamentos carinhosos?”


Eu aguardava a estreia de “Cherry Magic!” com muita impaciência, porque como alguns de vocês já devem saber, eu conheço a obra desde a estreia da adaptação em dorama (que aliás, já escrevemos sobre ela no blog) e desde aquela época (final de 2021), sou muito apaixonado pela obra. Passei os anos seguintes acompanhando as noticias do mangá, até que ele enfim foi anunciado na França em junho de 2023 e consegui comprar a obra (no Brasil, foi anunciado em Março de 2023 pela JBC, mas ainda não começou a ser publicado), conseguindo também ler e escrever sobre o mangá aqui no blog. Ainda, no final de 2023, estreou uma versão live-action tailandesa de “Cherry Magic” (que também comentamos a estreia no blog). A adaptação em anime, por sua vez, foi anunciada em julho de 2023 com produção da Satelight e agora, temos ela aqui! ^^ Como primeiras palavras sobre o episódio de estreia, eu diria que os primeiros minutos do episódio começaram de um jeito esquisito, mas o restante melhora e muito!

Eu digo que o comecinho do episódio é “esquisito”, porque eu acho que ele tem um problema grande de ritmo e de montagem das cenas. No mangá, a obra é mais direta ao ponto, tanto pela forma que o mangá nasceu (começou no Twitter da autora como tirinhas e depois foi transformado em uma série publicada em revista), mas aqui eu sinto que as cenas são muito “quebradas”. Pensem que uma curva seria o melhor para a continuidade e fluidez das cenas e uma “ponta” seria o oposto disso (uma comparação merda, eu sei), porém sinto que as mudanças de cenas são muito abruptas e tem alguns momentos estranhos de continuidade na animação, como por exemplo, na cena antes deles entrarem no elevador. O Adachi está esperando o elevador e o Kurosawa chega para falar com ele. Em um momento dá para ver pessoas ao fundo, quando muda de ângulo, não tem mais ninguém. Esse estranhamento segue até a OP. Acho que ficou faltando uma polidez nesses momentos iniciais para soar melhor o que estava sendo contado, especialmente porque o Adachi passa boa parte desses momentos narrando os acontecimentos. Então acho verdadeiramente estranho a forma como ficou no fim das contas.

Eu perguntei para o Rub (ex-redator do blog e amigo meu) o que ele tinha achado desses minutos iniciais e ele comentou que teve esse estranhamento com a animação em 3 momentos: quando o Adachi caminha nas ruas, quando ele encontra o Kurosawa e quando as garotas do trabalho abordam o outro Kurosawa.

Quando volta da abertura, o ritmo melhora muito. As cenas ficam muito mais fluidas e o episódio desliza que é uma beleza, extremamente gostoso de assistir como deve ser! A história segue com o Adachi que graças aos seus poderes, acaba se envolvendo (no começo, até mais do que gostaria que seria possível) com seu colega de trabalho, sempre muito reluzente, Kurosawa. Lendo os pensamentos do Kurosawa, o Adachi descobre que ele gosta dele e a história vai seguir a partir disso.

Eu adoro a dinâmica dos dois. O Adachi tenta fugir e se afastar do Kurosawa, não dá certo, formam-se mais e mais situações que fazem os dois ficam próximos, e até sozinhos. O Adachi não sabe como lidar com os pensamentos (muitas vezes beeeem intensos) do Kurosawa, ficando nervoso e constrangido com o que está lendo, ou às vezes, VENDO o que foi imaginado. É um humor certeiro e a direção consegue fazer bem em montar o que a cena pede e entregar no ponto certo.

A comédia é muito o que fundamenta Cherry Magic! nesse começo, mas tem seus momentos melancólicos ou mesmo reflexivos dos personagens. O Adachi acaba sendo muito inseguro e quase um inimigo de si mesmo. Temos cenas com ele mais triste consigo mesmo, ou outras que o personagem vai se colocar em um patamar menor frente aos seus colegas. Aquele chefe do inferno dele fica fazendo abusos trabalhistas com o protagonista. E o Kurosawa, como um contraponto, vai na linha de “o homem perfeito”, mas o que gosto dele não é que a essência do Kurosawa seja essa (porque não é!), mas sim que ele consegue ver e enxergar o Adachi de uma forma que o próprio Adachi não se enxerga.

Nesse episódio não muito, mas mais para frente, teremos cenas lindíssimas com o Korosawa vendo o que o Adachi é, uma pessoa dedicada, comprometida, que pensa e se preocupa muito com os outros, além de ser muito fofo. Kurosawa é o tipo de pessoa verdadeiramente apaixonada por outra e que enxerga o seu amado de uma forma reluzente, estonteante, incrível, que tenta ao máximo fazer agrados para deixá-lo feliz. É daquele tipo de romance que eu realmente sinto inveja e me faz ter saudades de ter um namorado para chamar de meu, especialmente por ter alguém que esteja sempre ali para te dar um apoio moral. E algo que prova muito essa dicotomia entre os dois é quando eles jantam juntos e na hora do pagamento, o Kurosawa paga. Ele assume fechar a conta, porque fica feliz com a companhia do Adachi e ter a presença do seu amado, daquela forma, deixa-o tão feliz. É o presente para ele. E o Adachi, no entanto, acha que ele está se aproveitando da paixão do Kurosawa em benefício próprio. Os dois compõem um misto de inocência, delicadeza e até mesmo safadeza (esse totalmente por parte do Kurosawa) que forma uma conjuntura ótima.


Sobre a produção do anime, quem está responsável pela animação é o estúdio Satelight que há muito tempo não pega uma obra decente pra animar. Eles vêm numa sequência de obras tenebrosas (em termos de roteiro) e produções muito aquém, sendo que o último trabalho de destaque do estúdio foi “Somali to Mori no Kamisama”, lançado em 2020. Talvez “SAKUGAN” de 2021, mas esse eu não vi. Aqui, apesar dos problemas apontados mais acima no post, o miolo do episódio foi muito bom! Tem algumas cenas bem animadas, na OP tem até mesmo sakuga e o trabalho como um todo nesse episódio de estreia é bem consistente.

Quem está na direção é o(a) Yoshiko Okuda, que está fazendo seu primeiro trabalho de diretor principal em um anime. Anteriormente, ele trabalhou em posições menores como storyboarder e direção de episódio. E para um primeiro trabalho, diria que se saiu bem de maneira geral. É um trabalho consistente, apesar daqueles probleminhas no começo. Acredito que tenha bastante potencial para ir lapidando e melhorando com o andar do anime. Na composição de série temos a Tomoko Konparu, que é uma veterana e trabalhou com muitos animes de demografia feminina (Kimi ni Todoke; Ao Haru Hide; NANA…). Está em ótimas mãos. E como character design, temos Takahiro Kishida, que também é um veterano nessa função, tendo feito design de personagens de animes como “Haikyuu!!”, “Tensei Shitara Slime Datta Ken” e “Durarara!!”, só que aqui, eu estranhei o design. Ainda estou estranhando, mas acho que logo me acostumo com a forma que estão fazendo os personagens.

Também gostei da OP e da ED. Achei a composição das duas muito boas a sua maneira e as músicas de ambas também estão legais. A OP com um ritmo mais animado e com movimentação, enquanto que a ED está seguindo o modelo de ser mais calma (com música e animação) e toda feita com lindos quadros estáticos, detalhados e bem acabados.

E por fim, uma coisa que gosto é a diferença de mídias que “Cherry Magic!” tem. Todas elas fazem jus ao termo “adaptação”, já que todas elas divergem em escolhas e caminhos para cada mídia que foram destinadas. Claro, todas elas mantém a essência do original, como por exemplo, o dorama japonês é muito mais “puro” e apela para um lado mais fofo dos personagens. A versão tailandesa vai por uma adaptação total, desde nomes, locais e situações, já que combina mais com a realidade da Tailândia. E o anime está reformulando algumas cenas e por ser uma animação, pode brincar mais com momentos de comédia do que as outras mídias, incluindo o próprio mangá. Então independentemente de onde você vá, todas elas vão trazer algo de novo para a sua experiência, e claro, recomendo todas elas. ^^

Adachi com cara de passiva twink na ED me quebra muito

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