Screenshot_20240101-151639_(1)
A memória afetiva nos engana demais.

Em alguns dias, teremos (infelizmente) a estreia da terceira temporada de “Youkoso Jitsuryoku Shijou Shugi no Kyoushitsu e” ou apenas “Classroom of the Elite”. Então aproveitaremos essa ocasião para fazer a review da primeira temporada do anime, que estava escrita há anos, mas ficamos enrolando por preguiça de montar o texto. Se tudo for bem, comentaremos a estreia da terceira temporada + review da segunda.

Sinopse:Kiyotaka Ayanokouji acaba de se matricular no Colégio Tokyo Koudo Ikusei, onde dizem que 100% dos seus alunos entram na faculdade ou arranjam um bom emprego. Infelizmente, ele vai parar na sala 1-D, onde ficam todos os alunos problemáticos da escola. Pior ainda: todo mês, a escola premia os alunos com pontos que valem cem mil ienes, e emprega uma política bem liberal onde é permitido dormir, conversar e até sabotar os colegas. Contudo, há alguém que discorda de todos esses alunos e suas vidas desregradas, e decidiu se isolar e evitar contato com outros: a bela Suzune Horikita.


RUB: Alê, meu amigo, voltamos com as reviews colaborativas com estilo (ou não, dependendo do ponto de vista), e iremos falar sobre a primeira temporada de ‘Youkoso Jitsuryoku Shijou Shugi no Kyoushitsu e’ (ou Classroom of the Elite, para quem curte o nome em inglês). E Alê, esse anime é o resumo do nosso retrato, tanto eu quanto você, otakus e influenciados por youtubers de anime MERDAS em um passado não muito distante, de como não tínhamos qualquer critério ou senso crítico enquanto assistimos animações, séries ou filmes durante aquele período. Para nós 2, Youkoso era um anime muito bom e que tínhamos boas lembranças das nossas experiências de 5 anos, do quão “foda” era a obra. Porém, entretanto, todavia, estava para estrear a segunda temporada do anime e logo veio a dúvida: Youkoso era bom? E em um momento de nossas lives semanais que realizamos na Twitch, relembrando de cabeça os “melhores” momentos do anime (não tínhamos revisto a primeira temporada ainda naquela data), começou que a nossa percepção do que vimos anteriormente de Youkoso, não era TÃO BOM assim como as nossas recordações nos fazia acreditar que era. Para termos a certeza, e de maneira não combinada, ambos tivemos a mesma ideia de chamar o ‘VAR’, reassistindo a primeira temporada de Youkoso, só para comprovarmos se estávamos certos nas suspeitas, ou era viagem da nossa cabeça. Só que a dúvida, virou certeza, e MEU DEUS ALÊ, como Youkoso é RUIM. Não é pouco, e sim MUITO RUIM. Só que antes de dedicar o resto da nossa conversa falando todas as merdas dessa obra, quero comentar sobre o que eu gosto da história de Youkoso (é pouca coisa, mas quero ser sincero nessa conversa). Eu curto a proposta do anime. Esse lance de usar dinâmicas estudantis em uma escola diferente, para criticar a nossa sociedade moderna, é uma puta ideia. E são bons pontos, como por exemplo o lance da meritocracia. A escola prega que somente os inteligentes e esforçados conseguem subir na carreira. Só que esse lema se torna uma simples fachada, perto dos reais interesses em manter o status quo da situação. Você não irá ganhar promoções no ambiente que você participa, se não se tornar uma peça do sistema. Falam que as regras são claras, PORÉM existem outros caminhos, nada éticos, para conseguir atingir um objetivo que o personagem queira. Ou de como eles pregam que o teu esforço, irá lhe dar benefícios, só que não avisam que até mesmo aqueles que não fazem ou trabalham pouco, também podem se dar bem pelo resultado do seu trabalho, como essa mesma pessoa pode pular etapas, conseguindo o objetivo que era seu desejo, sabendo de como funciona o sistema ou conhecendo todas as falhas nas regras da escola. É uma crítica bem evidente ao modelo capitalista que temos presente na maioria dos países, como também da forma em como a sociedade mundial molda 99% da população, dando falsas esperanças que podem subir na vida, sendo que as próprias normas te condicionam a ficar no mesmo status que você recebeu ao nascer. É um PRIVILÉGIO participar da ELITE da sociedade e que todos devem sonhar e batalhar por tal caminho, mesmo que todos os fatores estejam contra essa pessoa. É foda essa mensagem no anime que o roteiro apresenta nos primeiros episódios. Porém, ao mesmo tempo que é iniciada essa discussão, estamos envolto em uma trama tão sem graça, mas tão sem graça, Alê, que é tedioso demais assistir o anime. Não sei você, mas eu senti um sono inacreditável reassistindo Youkoso. Como eu tive saco de ver essa merda? E pior, GOSTAR disso? Sério, o primeiro é um saco. Mostram tudo que eu falei anteriormente, só que de uma maneira tediosa. Mostra o nosso “querido” protagonista Dark e Edgy, Ayanokouji, vendo essa realidade na sua nova escola, porém por ele ser apático e sem expressão, juntando com uma direção no piloto automático, com uma paleta de cores acinzentada e sem qualquer alívio cômico que funcione, só pensei que eu estava vendo o tutorial de como NÃO FAZER uma estreia. Exceto a Horikita nesse início, tudo é chato e nada interessante. É inacreditável que esse anime tenha apelo com a galera, pois não tem nada, Alê. NADA!

ALÊ: Não poderíamos ter uma volta MELHOR para essas postagens (ou pior… mas nesse caso, acho que teria como ser pior, rs)!!! E amaldiçoada seja a memória afetiva. Cara, como engana. Já tive outras desilusões ao revisitar animes e mangás e descobrir que não era tão bom quanto eu pensava. Porém, mesmo não AMANDO “Youkoso Jitsuryoku” (que passarei a chamar pelo nome em inglês a partir de agora), é impressionante o quão distorcida era a lembrança que eu tinha dessa obra. E quanto mais eu penso sobre o anime, mais percebo que muito daquilo que eu tinha como memória, é em parte de eu não ter senso crítico, mas muito de não ser uma opinião minha, mas sim um completo espelho do que OUTRO achava. Eu só replicava e tomava para mim. E como você disse, em uma das nossas lives na Twitch, pensamos em alguns momentos do anime e já deu para perceber, mesmo sem lembrar de muita coisa, que não era tudo aquilo que tínhamos idealizado. Nesse sentido, não só é ótimo que o tempo tenha passado, mas a própria vinda de uma nova temporada do anime (e que já foi confirmada uma 3ª para 2023) foi uma excelente oportunidade para revisitarmos e podermos afirmar que sim, é uma merda! Mas vamos lá. Indo na sua linha, eu também acho a proposta da obra muito boa. Gosto do ambiente de forçar uma meritocracia, um ideal perfeito, e que através do seu merecimento e do coletivo, você sobe ou desce no ranking. Você tem que buscar ser o melhor sempre e quem não é, não se encaixa nesses padrões de alguma forma, sendo descartado. Só que na real, o que conta mesmo é a sua persuasão, o quão sorrateiro você pode ser, seus contatos, e até o quanto de dinheiro, nesse caso pontos, o personagem tem. E até uma conversa que rola lá no fim do anime, de um indicativo de que você pode trocar de sala se você puder pagar por isso. No fim, é a essência do capitalismo, seja na ilusão e no seu “ideal”, seja na sua realidade. Até o título da obra funciona perfeitamente: “Sala da Elite”. Mas que elite? Como faz para subir? Você pode subir? Acho tudo isso muito bom. Até algumas ideias pontuais introduzidas (ou jogadas) ao longo dos episódios são boas. Mas para por aí, porque é uma lambança TÃO GRANDE, que o melhor que a obra proporciona é a ideia e conceito, porque a execução de TUDO é fraca, porca, e até inexistente em alguns aspectos. Fica ainda mais perdida em meio a uma direção que não sabe o que quer, com uma edição no mínimo desastrosa e dezenas de takes nos peitos e bundas das garotas em primeiro plano. Só servem para esvaziar o que está sendo mostrado e que por vezes, já não é lá aquelas coisas. Os episódios passam TÃO DEVAGAR. São episódios de menos de 30 minutos e demora, meu Deus. Eu assisti boa parte dos episódios no meu trajeto de ida ou volta da Universidade. São aproximadamente 2 horas para ir e 2 horas para voltar, dividido em 2 ônibus de 1h cada. Eu comecei a ver o episódio 1 no 1° ônibus e logo que entrei. Fora algumas pausas de segundos (porque estava muito chato e eu precisa de um respiro), eu fui terminar esse episódio faltando 10 minutos para eu descer. Foram 40 minutos para ver um único episódio. É MUITO CHATO!!! Eu acho toda aquela abordagem pseudo filosófica muito vazia. Me parece que o autor quer pagar de cult, aí ele tira frases de filósofos e nem ele sabe do que se trata. O protagonista ser completamente apático só piora, porque ele não tem carisma. O texto não é bom (a essa altura, ainda não era ruim), somado com a direção que tem uma sutileza igual a um coice. Fica AQUELA MARAVILHA!

RUB: Alê, o primeiro episódio engana que teremos algo minimamente decente na sua ideia central, só que vamos assistindo e esse tema principal não é abordado pela incapacidade do autor em concatenar eventos tensos com a narrativa mostrada. Alê, o segundo episódio começa na piscina, com takes nos peitos das personagens femininas da sala D, enquanto o protagonista conversa com a Horikita sobre o que cada um sabe sobre o regulamento interno da escola. Tipo, por que temos esse foco no apelo físico das garotas durante uma exposição importante da história? É bizarro, Alê. O anime executa umas paradas que não casa com a proposta de crítica da sociedade. Isso que não estou considerando a merda do plot do Sudou não conseguir uma nota mínima para passar nos testes mensais ou mesmo o twist da mudança comportamental da Kushida em não conseguir atenção para si mesma do protagonista e de sua turma. Esses momentos ficam perdidos pelo trajeto de chegar nesse ponto, sendo disperso demais. É inacreditável, mas temos uma porrada de diálogos que não levam a lugar nenhum na história. Depois que a galera descobre que não receberá mais pontos por não se comportarem de forma adequada, isso é para trazer uma consequência GIGANTE para todo o elenco. Entretanto, no dia seguinte, estão na piscina, comprando coisas, se divertindo e conseguindo SOBREVIVER dentro daquelas dependências. Não sei se você lembra Alê, mas no primeiro episódio mostram o Ayanokouji e a Horikita conversando dentro de uma loja, quando notam uma seção de produtos de graça. Questionam aquilo, mas fica por ali mesmo. Normalmente, em um roteiro de qualquer obra, quando a narrativa direciona a atenção do espectador para um detalhe, é por causa que aquilo mostrado será abordado mais para frente. E o esperado é que esse ponto servisse como conflito de sobrevivência, pois os alunos da D não têm pontos para gastar. E serve de que aquilo? PARA NADA. O arco do Sudou e do problema dos pontos é resolvido sem envolver esse aspecto limitante de passar necessidade por vários dias como estopim para estresse nos relacionamentos dos alunos. E não é só esse exemplo. Como citei mais acima, a Kushida mostra sua verdadeira natureza para o protagonista. E isso irá ser aprofundado depois durante essa temporada? QUE NADA. E além de não ser trabalhado, a cada cena que ela aparece, mais confuso a personagem é. Ela age de forma meiga, possessiva, distante, parceira, amorosa, ciumenta, apática, revoltada, maluca… tudo isso é mostrado de forma tão esquisita, que não dá para definir o que diabos a Kushida é. Tanto que ela desaparece na segunda metade da primeira temporada, só fazendo pequenas pontas em episódios isolados, confundindo ainda mais o espectador sobre o que ela quer ou é de fato. Na real, desenvolvimento de personagens em Youkoso é nulo. A temporada termina e a única coisa que sabemos do misterioso protagonista é que ele foi criado em um orfanato com metodologias de ensino iguais a quartéis militares de ditaduras. SÓ. Sabemos que ele é calculista e usa as pessoas para benefício próprio, mas nada além disso. A Horikita é a personagem mais próxima que podemos afirmar que ela tem algum tipo de crescimento. Só que temos que nos esforçar muito para tirarmos pontos de evoluções do que a personagem passou, visto que o roteiro deixa claro que esses aspectos pouco importam e que o foco é completamente no Ayanokouji. Não dá para simpatizar com ninguém desse elenco, Alê. Pelo próprio roteiro do anime criar esse distanciamento dos espectadores com os personagens, não dá para ter nenhuma empatia ou torcer para que algum deles consiga o que quer. Isso que não entrei em outros pormenores, como o arco da Sakura. Qual finalidade de termos aquilo? Para inserirem o conceito de harém? Sério mesmo que uma história que tenta se vender como algo ‘sério’, me coloca uma figurante (sim, ela é figurante, pois ela só aparece nesses 2 episódios e é outra que desaparece na narrativa) que fica encantada com o grande herói INEXPRESSIVO Ayanokouji? Sério, o maluco é zero simpatia e carisma, mas que POR ALGUM MOTIVO, todo mundo quer ficar perto dele. É a Kushida, é a Sakura, Sudou, os amigos retardados que querem ver garotas peladas (já vou comentar desse episódio), o líder da turma… tipo, GERAL. Se eu estivesse na mesma classe que o protagonista, ele seria uma das últimas opções que eu escolheria para fazer amizade ou confiar segredos. Alê, em nenhum momento é mostrado para nós e para todos os outros personagens o Ayanokouji como confiável. Não faz sentido essa porra.

ALÊ: No próprio primeiro episódio já fica bem claro que nada está casando. O roteiro não é muito sutil e a direção é PIOR ainda. Eles não conseguem esconder absolutamente NADA! Vai soar meio “roubado” dizer isso, porque já vi o anime 5 anos atrás e eu lembro do plot twist do episódio 1. Só que vendo agora, ele “tenta” te dar dicas de que está muito bom para ser verdade, de que algo não vai bem, só que ao invés de pistas, ele te entrega tudo mesmo. A direção não sabe fazer as cenas sem levantar muita suspeita a respeito disso. Quando chega no momento de virada, você sabe que algo vai dar merda e que tem relação com os pontos, porque eles reforçam exaustivamente que “Nossa, é muito dinheiro todo mês!!”. E para completar, temos um take com uma paleta super quente, com cores vívidas, usando laranja e rosa, para no dia seguinte, o dia está nublado e as cores agora estão acinzentadas. Pronto, acabou ali todo e qualquer resquício de surpresa que poderia ter. Todo o potencial de grandeza que o episódio poderia ter pelo ponto de virada se perde. O segundo episódio (e mais alguns outros episódios) são muito desconexos do texto com o que está sendo passado na tela. Os alunos estão com um problema, está lá o Ayanokoji fazendo uma filosofia barata, enquanto tem cenas de peito e bunda se movendo na tela. E quando não, acontece de deixarem os personagens que estão conversando de segundo plano e em primeiro plano, tem uma garota passando com roupa curta, ou descaradamente algum take sugestivo. Fazem muitas vezes e em muitos momentos que deveriam ser sérios. É muito perdido. Os produtos grátis que você menciona entram naquilo que acho de entregar o ponto de virada, porque como você disse, não serve para mais nada. Os alunos gastam tudo ou quase tudo que tinham e fica por isso mesmo. Não vimos ninguém realmente passando por uma situação precária. Eles reclamam que estão sem dinheiro, mas termina por aí. E como os dois protagonistas têm pontos sobrando, é um belo foda-se, dado que grande parte do que a trama trata como importante, é na perspectiva deles. Eu comentei contigo em off, mas assim, mesmo eu sabendo do twist da Kushida, junto com toda a maneira de agir dela, essa história de querer ser amigo de todo mundo, antes mesmo de sabermos de como realmente funcionava o sistema de pontos, me soava absurdamente falso. Não consegui ver que não tinha nada ali. Desde que comecei a rever o anime, o discurso dela não me convencia. E de novo, a direção não disfarça. Chega no episódio 3 e tem diversas cenas no mínimo suspeitas envolvendo a personagem. Quando acontece a virada, não chega a ser uma grande surpresa. A personagem é fragmentada, com diversas nuances e que poderia ser abordada para entender o que ela realmente quer. O Ayanokoji até se pergunta sobre qual dessas duas versões da Kushida é ela de verdade. Mas e se não for “só” duas? Ela apresenta variações de sentimentos, de apego e abandono. Isso poderia ser interessante de ver, mas a trama trata com um belo foda-se, então só não importa em dado momento. Ela acaba sendo só mais uma personagem. E mais uma que aparentemente se apaixonou pelo protagonista. O roteiro trabalha TODO MUNDO como um estereótipo. Na sala você tem a Kushida, que finge ser amiga de todo mundo, a Horikita é meio tsundere, o Ayanokoji ser o apático, você tem o encrenqueiro, os que não gostam de estudar e que potencialmente, são assediadores, você tem as gurias que servem de enfeite, tem o narcisista que só pensa nele, tem a garota tímida, tem o cara que gosta de manter tudo na paz e é o líder e você tem a namorada dele… Todo mundo encaixado num estereótipo. Até seria interessante ir quebrando essas ideias, como ele tentou fazer com a Kushida. Teve uma pontinha lá no final da série com o líder da turma ao qual esqueci o nome, que ele pira e fica se questionando que só queria que as coisas dessem certo, mas não importa. Não tem serventia alguma e o anime piora a situação, porque tudo gira em torno do Ayanokoji. As pessoas não tem razão alguma para conversar com ele ou confiar nele tanto assim, mas tudo gira em torno do personagem. A Horikita conversar com ele é funcional, porque até certo ponto, ambos apresentam semelhanças comportamentais. Porém tem um personagem que sequer está na sala dele e vai de encontro aos dois, como a Ichinose que brota DO NADA e pede um favor para ele. Não tem lógica. E quase qualquer garota que chega perto dele, se apaixona. Aparentemente foi assim com a Kushida, foi assim com a Sakura e até um pouco com a Horikita, que aliás, mudou muito (PARA PIOR) em relação ao começo do anime. Eu acho o protagonista bonito? Sim. Mesmo inexpressivo, mas me fazer acreditar que trocando meia dúzia de palavras, as gurias já caem de amores é do caralho, ainda mais que ele não sabe nem conversar direito.

RUB: Alê, pensa em como é a estrutura desses “relacionamentos” entre os personagens. Temos o Ayanokouji como peça central, em que a Horikita até faz sentido dela estar próxima ao garato. O lance é que todo o resto só brota na tela e foda-se. Até mesmo a professora tem uma espécie de ligação com o protagonista muito mal explicada. Ela sabe de uma porrada de segredos dele, mas não acontece nada além disso. Só que tem uma parada nesse contexto que me tira do sério que são os estereótipos exagerados. Além do enredo ser maniqueísta ao extremo ao mostrar os vilões dessa história, temos aquele velho preconceito masculino ultrapassado em que as mulheres são simples objetos, ou que pessoas diferentes merecem serem excluídas, em que pessoas negras devem ser serviçais bombados para antagonistas esquisitos e sem relevância para terem destaque algum na trama principal. Alê, os alunos da Turma C mais NEM FUDENDO são menores de idade. O Kakeru tem uns 30 anos, fácil. Não só pela aparência, mas pelo modo em como o autor trabalha o personagem. A primeira aparição dele é em um “clube de strip”, em que está rolando uma balada e ele critica a bebida e a comida local. Apareceu esse personagem, pensei que eu tinha ligado a TV por engano e estava vendo o Canal Viva passando alguma novela antiga, pois não dá para acreditar que temos um aluno/vilão sendo apresentado dessa maneira, de uma forma tão CAFONA. MEU DEUS, COMO É RUIM ESSA PORRA! Isso que nem estou considerando o segurança negro dele, que deve ter tomado Whey desde os 2 anos de idade. Tem também o fortão da Turma A, ou mesmo os malucos que provocam briga com o Ken. NINGUÉM como antagonista parece a idade que dizem. Porra, não é tão difícil assim criar um personagem jovem escroto, e não um adulto que veste roupas de colegiais. E isso piora quando temos os “peões” figurantes dos chefões. Foi com esse trio que citei, foi com o maluco que trabalha para revelar as fotos (que tem ainda a ver com mais sexualização e com violência sexual envolvida), foi com a guria que se infiltrou na Turma D para roubar o cartão. Tudo é muito exagerado e previsível. Essa parada puxa outro assunto que é de como as ideias ou os planos do protagonista é muito idiota e simplista. O roteiro tenta te vender como um personagem CEREBRAL, tipo um prodígio, mas que vendo como o Ayanokouji pensou na sua tática, só mostra que qualquer pessoa poderia ter chegado em tal raciocínio. Aconteceu quando ele armou para o maluco colocando câmeras falsas na escada e o ameaçando, foi quando ele armou para a Horikita assumir a responsabilidade dos planos, ou do lance das câmeras do vestiário em que ele pede auxílio para a Horikita em distrair geral e tirar os aparelhos do banheiro, ou de como ele assumiu a liderança no arco da ilha. Tudo é muito destacado sobre qual caminho o Ayanokouji iria seguir. Só que o autor, realmente acredita que é um PUTA MISTÉRIO a dedução ALÉM DA COMPREENSÃO do protagonista. Para mim só é muito previsível e chato de ver. Até mesmo os embates entre o Light e o L em Death Note, eram melhores de assistir do que ver o Ayanokouji fingindo estar tramando algo SUPER COMPLEXO. Isso que eu nem contei na mania do autor em antecipar as coisas que ele não irá usar no momento. Foi com o irmão da Horikita, foi com o conselho escolar, foi com a guria de muleta da turma A, foi com a Kei e sua ojeriza com o Ayanokouji, ou com a Kushida e a Ichinose, que também já citamos. Tudo é para depois ou mais lá para frente. Se não é para agora e esses personagens não terão relevância, POR QUE TODO O DESTAQUE NA TEMPORADA??? É só perda de tempo.

ALÊ: O anime tenta se passar por misterioso, jogando coisas no ar, mas só é falho mesmo. É falho com os personagens, da ligação entre eles, com a construção de suspense e instigação do público, com o próprio andamento da história, esquecendo de diversos aspectos que foram introduzidos e que no fim, não servem para nada. Os homens que são vilões simplesmente não parecem adolescentes, como o cara da Turma A parece ter saído direto de um filme de ação estadunidense. Até se você pegar a ideia de que adolescente faz merda, já dá para você criar personagens escrotos. É o que mais acontece na vida real e em diversos sentidos. Me irrita profundamente todo o arquétipo de vilania. A obra quer tratar de aspectos sociais, mas trata as pessoas como intrinsecamente más. Isso não seria um problema se o anime não fizesse isso com todos que era confrontam a Turma D. A escola age de uma forma muito estranha, para dizer o mínimo. Você mencionou lá a festa, você tem as garotas servindo, os personagens bebendo, quase um cabaré mesmo. No navio, tinha gente bebendo vinho. Isso poderia ser trabalhado como uma sátira, no sentido de “Enfim, a hipocrisia” (manter as aparências para quem é de fora, mas a realidade é muito diferente), mas não, é super normal. É naturalizado, como algo legal. O único personagem preto é um segurança bombado que sequer abre a boca ao longo do anime (ele fala como fosse um gringo). Só faltou o estereótipo do pauzão para fechar o combo. E aliás, uns dias atrás até comentei no meu Twitter que Classroom of the Elite tem a incrível proeza de fazer ter mais ranço de homem e até apareceu um otaku do bueiro para me chamar de mulher e “feminazi”. Enfim, realmente me fascina o quão irritante a obra consegue ser, ao ponto de personagens 2D me fazerem sentir mais ódio de homem na vida real (Não estou generalizando, mas expondo a minha percepção e sentimentos). Para fazer tudo girar ao redor do Ayakouji, o autor faz TODO MUNDO ser absurdamente BURRO. NINGUÉM, principalmente na Turma D, consegue ver um passo à sua frente. Todo mundo, direta ou indiretamente, vai recorrer ao Ayanokouji. A Horikita no começo até fugia um pouco disso, mas depois do episódio 3 mais ou menos, o roteiro vai deixando ela mais de auxiliar, ingênua e burra, até o ponto que o autor dá uma rasteira nela e terminar de matar a única personagem que eu conseguia simpatizar e que era minimamente decente, muito contrário a todos os outros personagens com um mínimo de destaque no roteiro. E é muito isso que você falou. O anime fica se adiantando constantemente. Não existe surpresa alguma quando acontecem os twists. Lá pela metade do anime, já estava extremamente claro que o Ayanokouji estava usando todo mundo para não chamar atenção para si, enquanto vai mantendo a sala minimamente estável para algum objetivo, que até o fim da 1ª temporada do anime, não fica exatamente claro. Quando estamos lá na cena final que ele começa a pensar que nunca pensou na Horikita como aliada, eu fiquei meio “??? É isso??? Acabou mesmo?”. É totalmente anti climático. COMPLETAMENTE diferente daquele “final épico” que eu tinha construído quando assisti ele anos atrás. O final não é NADA perto daquilo que eu idealizei e reproduzi sempre que me perguntavam sobre ele. O anime se auto sabota demais. O texto não é bom, a direção está perdida e a montagem das cenas é pior ainda. Junta com isso de ficar adiantando assuntos que deveriam ser surpresas futuras, e fecha o combo. Não resta nada de proveitoso.

RUB: Se pensarmos melhor em como a primeira temporada foi montada, é bem claro que o roteiro não foi elaborado de uma forma que potencializa a história. Tanto que temos 4 arcos nessa season, e eles parecem desconexos entre si, tanto narrativamente quanto racionalmente. O próprio episódio da piscina é um símbolo disso. É um arco que simplesmente aparece, não se tem contextualização, é algo pouco importante e que não afeta nenhum desenvolvimento da história posteriormente, com grandes consequências que modificam algum tema trabalhado anteriormente. A única relação direta entre os episódios fica mais coesa nos 6 primeiros episódios, quando o autor cria um arco introdutório, seguido pela situação da briga armada pela classe C para prejudicar a classe D. Essa primeira metade, analisando somente a estrutura que o enredo se propõe, é bem montada. O lance são os eventos que preenchem os episódios. O abuso que a Sakura sofre por um maluco, ou o que você comentou comigo na live, tendo a Kushida ameaçar o protagonista de acusação de estupro, ou o momento da piscina, ou a comédia romântica na obra que parece super deslocada (sério, é muito ruim todo o lance de venderem o protagonista como pegador). As piadas (e que são várias) não funcionam. Tanto que nem sei como categorizar qualquer relacionamento dentro da história, além de que o protagonista está usando geral para benefício próprio. Como não temos um contraponto para as atitudes do Ayanokouji, visto também que 99% do resto elenco são pessoas chatas ou detestáveis, não tem como termos simpatia com qualquer um que esteja nessa merda de escola. E como não temos apego por ninguém (exceto a Horikita), só estamos acompanhando a jornada no piloto automático. É bizarro isso Alê, pois o enredo depende total da galera comprar ou gostar de algum dos personagens, principalmente em relação ao protagonista. O terceiro arco mesmo é sobre isso, em entendermos os sentimentos de boa parte da turma D, e ficarmos ansiosos sobre o que irão fazer ou o que vai acontecer naquela prova CÓPIA do programa televisivo NO LIMITE. Tanto que estava na cara que existia traidores da classe C infiltrados, mas sequer me passou na minha cabeça qualquer sentimento positivo enquanto assistia, além de tédio e marasmo. Foi o arco que tem o TWIST que revela a “VERDADEIRA” personalidade do Ayanokouji, entretanto são 5 episódios que nada de relevante ocorre. Aquela parada do sumiço das calcinhas, discussão sobre os banheiros públicos, conversas com outras turmas, as reflexões da Horikita sobre a maldade humana em situações extremas, o Ayanokouji só olhando o circo pegar fogo, mais discussões sobre calcinhas ou de como as gurias da classe D são muito bonitas e tal… Só inflam esses 5 episódios de forma exagerada, sem conteúdo para preencher sua duração. No final, além de uma dedução SUPER ÓBVIA, não existem mudanças que afetam o grupo ou cenário que o protagonista está. A Horikita já tinha a fama de ser a planejadora no arco anterior por causa do Ayanokouji. O arco da ilha só reforçou o que já estava sendo trabalhado. Sabe Alê, tranquilamente essa prova de sobrevivência podia ser resumida ou retirada no roteiro, que NÃO FARIA FALTA ALGUMA. Só pensar um pouco e somente considerando os personagens principais desses últimos episódios, a Horikita e Ayanokouji. Teve algum desenvolvimento envolvendo eles? Existe alguma discussão sobre situação ou ação feita pelos dois? O status quo foi alterado? A percepção dos demais personagens para com eles dois, foi algo substancial ou marcante? É uma análise simples, porém é notável que esses cinco episódios foram para nada. No máximo, NO MÁXIMO, podemos considerar que a Horikita começou a desenvolver algum sentimento para o protagonista, mas foi SÓ. Em resumo, foi uma puta encheção de linguiça para pouca recompensa no final para o espectador. E novamente, como já comentei, PARECE QUE FOI UM PUTA PLANO do Ayanokouji, mas que é explícito essa informação ENQUANTO ERAM DITAS AS REGRAS, que poderiam mudar de líder por força maior, questão de saúde e tal. Ninguém da outra turma pensou nessa possibilidade? Ou em outras, como forjar uma doença no líder para ficarem trocando da posse do card para garantir o sucesso da turma. Sabe, todo mundo fica muito burro para o Ayanokouji ser o fodão, porém no final, ele é só um personagem vazio, sem características marcantes.

ALÊ: A impressão que tenho é que o anime teve uns 7 meses de execução, porque ele é muito mal pensado. Sei lá, parece que quem bancou o anime deu um prazo muito apertado, aí tiveram que fazer todo o roteiro e storyboard o mais depressa possível. Se perdem em diversos momentos, incluindo aquele episódio horroroso da piscina que eles fizeram baseado em um dos volumes extras da novel e que não tem uma importância para os eventos principais da série. É aquilo que temos dito: o anime até tem seus pontos interessantes, mas todo o preenchimento dessa estrutura é precário, ruim, mal feito ou ofensivo. Aliás, aquela ameaça da Kushida é PÉSSIMA. Sério, TANTAS COISAS, TANTAS POSSIBILIDADES de coisas que o autor poderia usar para fazer uma chantagem ou ameaça, e o cara vai e usa estupro para isso… Às vezes o autor me passa a impressão de ser um esquerdomacho, com a ideia de criticar o capitalismo, mas o machismo está ali. Ou até mesmo parece um liberal de merda e misógino. É péssimo demais. E sobre o terceiro arco, eu estava indo no automático mesmo. Essa parte é o que menos tinha lembranças (basicamente só lembro da cena final) e estava completamente foda-se. Eu nem estava pensando no que poderia vir a seguir. Só não me importava e queria que terminasse logo, principalmente porque era um arco excessivamente longo e que dava voltas em diversas coisas, muitas delas que não faziam diferença alguma para o andamento da história. E quando chega no final, se você pegar a cena isolada, sem contexto e tal, ela é até boa. Mas depois de 5 episódios com um grande acumulado de nada, calcinhas e discussões que não chegam em conclusão alguma, se torna nada demais. Como você disse, fazem parecer algo totalmente mirabolante e complexo, quando não é. E sobre a Horokita, além do sentimento, dá para forçar que ela entendeu que no fim, ter amigos é algo bem-vindo. Uma pena que isso está perdido no roteiro.

RUB: Esse lance da Horikita e de seu desenvolvimento, é muito avulso no roteiro. Estamos nos esforçando para tirar algo do anime, pois gostamos da personagem. A própria narrativa deixa ela de lado em boa parte da história. Ela que seria o par do protagonista nas discussões de ideias, acabou virando apenas escada para o Ayanokouji crescer seu lado niilista sobre a sociedade. É um desperdício inacreditável fazerem isso com a guria, visto que tinha muito potencial ali a ser trabalhado, principalmente nesse aspecto dela não acreditar em viver em sociedade e somente crendo no próprio potencial, sem depender de ajuda para crescer. Mas enfim, finalizando os meus comentários, ‘Youkoso Jitsuryoku Shijou Shugi no Kyoushitsu e’, são daquela leva de animes que são bons quando você assiste quando é mais novo, entretanto, mais velho, e revendo a obra, sua abordagem temática em sua crítica ao capitalismo e meritocracia, é bem rasa e artificial. Como a obra não acerta em nenhum outro ponto, acaba gerando em apenas desperdício de oportunidades sobre trabalhar um tema em cima de um sistema falho, tão difundido nas culturas das empresas por aí. Ainda temos a segunda temporada pela frente, e já sabemos que teremos muito mais assuntos para discutirmos posteriormente quando retornarmos para mais um post, reclamando da segunda temporada de Youkoso.

ALÊ: Pois é. Acho que foi mais triste essa parte da Horikita, porque era a personagem que eu mais gostava, mas que a gente já sabia que lá na frente, ia ser diminuída sua importância. Ver a decadência e o roteiro diminuir a personagem, tratar ela como ingênua e burra, foi triste. “Youkoso” funciona melhor quando se tem 15 anos, idade que eu assisti. Mas depois que se cresce um pouco e se pensa melhor no que está vendo, definitivamente não é aquelas coisas… Em breve voltaremos para fazer a review da segunda temporada.

Deixe um comentário