Depois de comentar as estreias de “Spice and Wolf” (a nova animação) e “Hananoi-kun to Koi no Yamai“, agora volto para falar de “Tadaima, Okaeri”, baseado em mangá BL e o primeiro anime omegaverse (explicações mais abaixo). E o que dizer dessa estreia? É absolutamente uma graça!
Sinopse: “Masaki Fujiyoshi é um marido e pai que fica em casa. Ele lutou muito contra sentimentos negativos por se sentir um fardo para seu amado marido, Hiromu, devido ao seu status como ômega, e também às dificuldades que enfrentaram nessa vida doméstica. Quando o filho deles, Hikari, nasceu, a família se mudou para uma área mais adequada para criar crianças. Apesar da nova felicidade na vida doméstica do casal, os laços da família com o passado estão em pedaços. Eles acabaram deixando pessoas para trás quando saíram na busca de formar sua família feliz, e quando começam a retornar, Masaki e Hiromu não têm certeza se essas pessoas têm boas intenções…”
Antes de falar do anime propriamente, uma explicação breve sobre o que é um omegaverse e como funciona (bem simplificadamente) esse universo. Omegaverse é uma criação ocidental que chegou no oriente, sendo um trupe de história bem recorrente em mangás (manhwas e manhuas também) BL, mas também tem aparecido em mangás Shoujoseis. Basicamente, a sociedade está organizada em 3 tipos de pessoa (aqui independe de gênero): alfa, beta e ômega. Betas são pessoas comuns, enquanto que alfas e ômegas que tem atributos diferenciados. Como posso explicar… como base, homens ômegas podem engravidar nesse universo e tem períodos de ‘cio’ (sim, como cachorros). E nesses períodos, é mais fácil que consigam engravidar, sendo esse o período fértil deles. Alfas, por sua vez, tem uma maior propensão a conseguir engravidar ômegas e se sentem atraídos pelos feromônios que eles liberam.
Eu preciso colocar isso aqui, porque assim, para nós que acompanhamos mangá BL há algum tempo, regra de omegaverse é uma coisa básica (e nem é difícil, porque ele não se propõe a isso), mas preciso colocar aqui, porque vi gente que não entendeu bem vendo o episódio e teve contato pela primeira vez, e o anime não explica para os iniciantes, o que eu acredito que seja para ir diluindo ao longo da história e não ficar muito expositivo. Dito tudo isso, o anime é a coisa mais fofa e preciosa que vi nos últimos anos.
A história não tem segredo: é o cotidiano de um casal com seu filho (muito fofo) chamado Hikari. Masaki é dono de casa e cuida do Hikari, enquanto que o Hiromu trabalha em uma empresa (e aparenta ter um cargo mais alto, de gerente, talvez). Eles passam os dias em uma rotina relativamente tranquila e assim é o episódio inteiro. O anime mostra o que ele quer ser logo nos primeiros minutos com uma breve introdução do local e dos personagens, com o 1º minuto sendo a coisa mais adorável que vi em anos.
Eu li o começo do mangá há muitos anos atrás e não lembro direito do que li, mas você tem muito que embarcar no clima da obra, porque ele é feito para ser algo EXTREMAMENTE fofo. Creio que ele lembre um pouco, para quem conhece, “Gakuen Babysitters“, que teve anime alguns anos atrás. Acho que a direção consegue caminhar bem com o que tem nas mãos e faz muito bem. O Shinji Ishihara (diretor) trabalha com BLs há muito tempo e praticamente só volta para a DEEN para fazer BLs (ou Shoujo gay), tendo sido o diretor de “Super Lovers” e “Sasaki to Miyano” no estúdio. Gosto muito do trabalho dele nessas adaptações, porque é um tipo de material que ele se dá muito bem e que é um prato cheio para ele brincar com o clima. É sempre de muita satisfação ver ele no estúdio fazendo BL, porque se o material original é bom, certamente a animação também será! ^^
Quando o Hikari balançou a árvore e a estrela caiu quebrando um pedaço, quase chorei junto dele (por sinal, ótimo trabalho da seyuu na dublagem). Talvez eu esteja um pouco emotivo esses dias? Talvez, sim… mas fato é que acho o ambiente do anime como um todo muito adorável e se você entende as concepções básicas do mundo e compra aqueles personagens, acho muito fácil de criar apego por eles. E praticamente metade do episódio é essa criança falando de uma estrela e chorando por causa dela e que coisa mais maravilhosa de acompanhar. É um feito e tanto.
Para além disso, gosto de uns pormenores que a obra traz, como o preconceito contra casais formados por um alfa e um ômega, sendo considerado um declínio social para os alfas, já que nesse universo e dentro da obra, o sistema ABO é quase um sistema de castas e que o próprio Masaki sofreu bastante com esse preconceito, fazendo com que o casal tivesse que se mudar de onde eles moravam e recomeçar em outro local. Tanto que virou motivo de gatilho quando descobrem que ele é ômega e isso gera reações de surpresa entre os subordinados do Hiromu. Naquela ocasião, não são exatamente comentários maldosos, mas que tocam nele em um ponto muito sensível. E também tem o ‘estranhamento’ ou a necessidade de apontarem que os dois formam um casal de homens, o que também vai refletir a realidade que vivemos.
É muito recorrente (e agora com uma adaptação em anime, será muito mais) que algumas pessoas falem que o universo omegaverse é transfóbico pela sua concepção, sendo que sei lá, ele nunca partiu do princípio de que não possam existir pessoa trans. Ele nunca diz isso. O que essa realidade cria para si é a possibilidade de homens cis engravidarem, só. Além disso, esse arquétipo cria um outro tipo de discussão que é interessante, já que a forma de hierarquia social se dá de uma forma diferente, em que pessoas alfas (homens ou mulheres) estão no topo da pirâmide tendo mais prestígio e melhores oportunidades em geral, betas ocupam o meio e são a maior parte da população, sendo as pessoas comuns, enquanto que os ômegas normalmente são a base da pirâmide, mais estigmatizados, tendo menos oportunidades e é a parcela da população que mais é marginalizada (varia de obra para obra, mas em geral, é bem parecido com isso).
Não vou lembrar nomes, mas já vi obras omegaverses falando de solidão, de abandono, de novas oportunidades, de relacionamentos tóxicos e estar atrelado a uma pessoa tóxica… já vi obras que discutem, a partir do sistema do universo, a questão de castas sociais, outras em que há uma inversão desses valores com ômegas no topo e alfas na base ou equiparados a betas, outros que brincam com o gênero e fazem alfa x alfa, ômega x ômega… e claro, tem obra que é muito purista e só traz o básico que ela se propõe: ter homens engravidando e constituindo família… uma infinidade de tipos e variações dessas obras partindo dessas regrinhas básicas do mundo.
Eu gosto de omegaverse, porém até alguns anos atrás, era beeem difícil você achar um BOM, interessante ou competente em termos de roteiro (dentro daquilo que tive acesso). Mas claro, como tudo na vida, essas coisas vão mudando e evoluindo. Está mais fácil achar narrativas boas, desde as mais softs como “Tadaima, Okaeri” a obras mais dramáticas como “2ban-me no Alpha”, que fala de um ômega que perdeu seu marido.
Mas independentemente de ser bom ou ruim, eu acho muito complicado ter um pessoal TÃO vocal na internet querendo problematizar omegaverse (especialmente nessa obra que é tão safe), algo que sequer existe na realidade e compõe algo tão de bolha, enquanto deveria estar mais preocupado com o fato de entre janeiro e março de 2023 ter havido um projeto de lei antitrans POR DIA no Brasil. Enfim, prioridades…
“Tadaima, Okaeri” é um anime beeeeeeeeem leve, com uma boa direção e ritmo, com situações extremamente fofas. Do que me lembro, a maior pretensão dele é ser isso, mas pela OP acredito que teremos alguns momentos dramáticos futuramente na trama. No momento, recomendo bastante. ^^
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