Apenas uma história de amor puro e desajeitado...

O blog celebra seu 5º aniversário em Agosto e para tal, estou escrevendo uma série de resenhas para publicar diariamente no site durante o mês. Na hora de fazer minha seleção, eu peguei tanto obras que eu gosto, obras que eu queria ler há algum tempo, bem como alguns mangás ruins (por que não, né?) e claro, daqueles meio emblemáticos que eu não tenho como fugir e preciso falar aqui. Um desses emblemáticos, de certa forma, é “Yarichin Bitch Club”, uma obra muito polêmica dentro do meio BL e que eu não podia deixar de fora dessa série de textos!

“Yarichin Bitch Club” (ヤリチン☆ビッチ部) é um mangá BL escrito e ilustrado por Ogeretsu Tanaka. A obra nasceu em 2012 como algo independente, com a autora publicando no seu pixiv (coisa que ela faz até hoje), apenas para descontrair e, no entanto, devido a popularidade, a autora foi contada pela Rutile (Gentosha) para que fosse publicado de forma oficial. Seu primeiro volume foi publicado em Março de 2016 e atualmente conta com 5 volumes publicado (o 5º lançado em Julho de 2022). A obra se consagrou como um grande sucesso, ultrapassando a marca de 1 milhão de cópias em circulação no Japão quando tinha apenas 4 volumes.

Sinopse: “Qual é a verdade…
Toono é transferido para um internato só para garotos que fica no meio das montanhas. Lá, conhece Yaguchi e começa a conversar com o rapaz de forma bem-humorada, fazendo dele seu único amigo. No entanto, como é péssimo em esportes com bola, resolve não entrar no clube de futebol com o colega e opta pelo de fotografia, que parece ser mais tranquilo. Entretanto, o clube, formado por veteranos de personalidade forte, era apenas uma fachada e é conhecido como “Yarichin Bitch Club”! 
À primeira vista, pode parecer uma história vulgar, mas aborda uma adolescência cheia de romance puro e desajeitado que deu origem ao tão aguardado volume, que traz uma história extra especial!!!”


  • História e Desenvolvimento

“Yarichin Bitch Club” há muito tempo é popular no Japão, porém, o que deu asas para ele no Ocidente foi a animação da obra feita em dois OVAs produzidas pelo estúdio GRIZZLY, lançadas em Setembro de 2018 e Abril de 2019. Além de uma animação muito bonita, com designs muito detalhados, tinha uma música de abertura MA-RA-VI-LHOSAMENTE viciante e contagiante (mal posso lembrar dessa música que já começa o “an, an, an, an i na kotoba ga iranai…”). Com essa grande alçada que a obra deu para os lados de cá, no Brasil em particular, “Yarichin Bitch Club” foi meio que eleito como uma espécie de totem por quem é anti-fujoshi e qualquer coisa que aconteça e que envolva esse público, rapidamente esse pessoal resgata “Yarichin” das profundezas para usá-lo como uma ‘arma’ para falar que fujo é “tudo fetichista”, “romantizam homossexuais/aquileanos” e ainda, fiscalizar o que cada um consome, já que segundo esse povo, “é muito estranho mulher gostar tanto assim de ver homens se pegando” e de quebra, ainda casam tudo com um toque de xenofobia, taxando a produção BL (e afins) asiática como problemática (esse pessoal definitivamente não sabe o que é problemático…). Em resumo, é tipo os bolsonaristas com a “ameaça comunista” (que não existe e oh deus, quem dera existisse), ou o “se fulano for eleito, esse país vai virar a Venezuela”, “você vai comer cachorro” e coisas do gênero.

O anúncio da obra no Brasil, como dá para imaginar, foi aquele show de horrores e um prato cheio para esse pessoal. Fato é que depois de um tempo do lançamento da animação, a maior parte da comunidade fujodanshi não lembra da obra, o que ficou mais foi a música, quem é o responsável por estar sempre trazendo a obra à tona, é quem é anti-fujo para destilar misoginia (disfarçado de progressismo barato), preconceito, além de xenofobia e orientalismo.

Mas afinal, do que trata “Yarichin Bitch Club”? Vai falar do Toono, um garoto de Tóquio (que estranho escrever “quio” ao invés de “kyo”) que se muda e vai para uma escola só para garotos que é isolada no meio das montanhas. Já triste com isso, ele ainda é forçado a entrar em algum clube escolar e dentre as opções disponíveis, a maioria não são do perfil dele, a que parece menos pior, no entanto, é o clube de fotografia. Ele entra no clube sem saber que o clube também é conhecido como “Yarichin Bitch Club”, um clube que bem… faz sexo.

O clube é composto pelos membros: Keiichi Akemi, do 3º ano e presidente do clube; Itome, também do 3º ano e namorado do Akemi; Shikitani do 3º ano; Tamura (REI) e Yuri são do 2º ano. Além do Toono, quem também chegou como novato é o Yuu Kashima. Cada um ali tem uma personalidade bem forte e marcante, além de já serem apresentados com suas posições sexuais: Akemi, Itome e Kashima são ativos, Tamura e o Yuri são versáteis e o Shikitani é passivo. O Toono, embora não dito, é bem evidente como passivo (ele só não sabe ainda). Dentro desse clube, há uma meta mensal de transas que devem ser feitas (pelo menos três) e eles até fazem ranking de quem transou mais (com direito a recompensa para aquele que mais transou no mês) e para os novatos, eles precisam transar pelo menos uma vez dentro do período de um mês, se não cumprirem, eles obrigatoriamente participarão de uma orgia.

Quando se fala e descreve o que é “Yarichin” passa mesmo a sensação de que o que rola dentro daquela escola é um crime por metro quadrado e de fato é, tanto que até os professores transam com os alunos, mas x da questão com a obra é que não dá e não se pode levar o que está sendo contado de forma séria. Não tem COMO você levar a sério o que está sendo mostrado para você, porque é o absurdo do absurdo. É meio difícil de por em palavras e explicar a sensação, mas quando você pega e LÊ o mangá, é muito evidente que o que a autora quer que você faça é rir do quão surreal é a situação daquela escola.

As pessoas que não entendem o cerne da história tendem a pegar e falar que “oh meu deus, criminoso” e que a autora estaria defendendo o que acontece ali dentro do mangá, mas basta você pensar um pouco em elementos da própria narrativa para ver como isso não bate. O Toono sai de Tóquio e vai para uma escola cercada por montanhas e que não tem contato com nada, é como se o personagem tivesse ido para uma realidade paralela (tipo um isekai) em que aquele tipo de prática foi normalizado e ele mesmo não consegue aceitar em momento algum. Ele passa o volume inteiro embasbacado, indignado e não crendo no que ele presencia dentro daquela escola, especialmente dentro daquele clube. Ele é como a figura do leitor, é como se a gente tivesse sido jogado naquele ambiente, ele representa quem está lendo, então não tem como levar a sério. “Yarichin” é muito diferente de algumas obras como “Mushoku Tensei” ou, indo para um lado mais extremo, “Kaifuku“, que defendem as ações e pensamentos de seus personagens. Aqui é apenas um mundo alternativo, doido, que o mais absurdo é tido como normal e o protagonista é o estranho por estranhar. Se você for ver, o Kashima serve como um contraponto ao Toono, porque enquanto ele está lá gritando a torto e a direito o quão surreal é tudo aquilo, o Kashima leva numa boa, na maior naturalidade possível. Tem até uma genialidade por parte da autora na construção de tudo.

Não dá para levar como algo sério, tanto que própria autora, ao final do volume 1, conta que ela só fez essa história de palhaçada mesmo, ela não esperava que fosse ganhar uma publicação oficial e mais ainda, que viria a se tornar sua obra mais famosa e a mais vendida. A Ogeretsu Tanaka é muito famosa pelas suas obras dramáticas e ela faz dramas muito carregados normalmente, são trabalhos bem sofridos e até um pouco densos, então aqui, ela faz uma pataquada sem tamanho. É um absurdo tão grande, mas tão grande, que ele dá a volta e fica bom, mas não é só uma volta, são voltas e mais voltas nele mesmo.

Voltando a história, ela segue nessa tentativa do Toono de não perder a virgindade, num clube que é cheio de gays e bissexuais que querem tirar isso dele a todo custo. Não é uma história com grandes aprofundamentos, embora do que me lembro, a autora ainda vai trabalhar alguns temas um pouco mais sérios nos próximos volumes e dar um aprofundamento maior para alguns personagens. No geral, é uma grande história à moda besteirol.

Falando dos personagens, a grande maioria não teve lá muito destaque no primeiro volume, focando mais na comédia e só começamos a conhecer um pouco de cada, mas falando de alguns deles que tiveram maior atenção, começamos pelo Toono, que é o protagonista e é um porre de personagem. Eu li o começo do mangá há alguns anos e já vi os dois OVAs, mas eu não lembrava que ele era TÃO CHATO! Meu deus, que personagem MALA. Ele fica o tempo todo repetindo as mesmas coisas, toda hora soltando uma homofobia e coisas do tipo “oh meu deus, mas são dois homens” e é um saco. No começo até vai e tal, mas chega num ponto que haja paciência… Mas assim, não é como se fosse um personagem ruim, no fim das contas, só é meio chatinho…

O Kashima, o outro primeiranista e membro novato do clube, por sua vez, faz o estilo de personagem meio bobão, que topa de tudo um pouco, está sempre pra cima, tenta ser acolhedor e é legal com o protagonista. Bem mocinho. O Yacchan, que vem a ser o 1º amigo do Toono é aquele tipo de personagem com uma faceta amigável, fofinho, coisa e tal e além disso, ele gosta do Kashima, que é primo dele. Tem um twistzinho com esse personagem mais para frente, nada inovador, mas não deixa de ser divertido. Agora o Akemi é totalmente gay tóxica. Deus que personagem podre. Eu não cheguei no ponto em que a autora explora mais do personagem – se é que ela já começou a fazer isso -, mas tem uma coisa na forma como ele trata o namorado dele que é bem… deprimente. O Itome é mais fechado, de poucas palavras e no entanto, parece ser amorzinho de pessoa. O Yuri é completamente doido, mas um doido fascinante, realmente. Não sou muito fã do personagem, no entanto, tenho um pouco mais de dificuldade para comprar ele.

Por fim, tenho que falar do melhor personagem da obra que claro, é o Tamura! Ele é o típico delinquente, mas ele é tão fofo, tão adorável! Ele é muito comprometido com aquilo que promete e nunca esquece daquilo que prometeu, sempre honrando sua palavra e retribuindo os favores que lhe dão, e no entanto, ele é péssimo em se expressar como se sente. Ele gosta do Yacchan, acha ele adorável e o vê de uma maneira diferente de todo mundo que ele fica naquela escola, é alguém realmente especial para ele, mas como ele não sabe/consegue se expressar, toda vez que ele chega perto para conversar com ele, o que o Tamura faz é falar as piores ofensas possíveis, além de agir de forma bem agressiva. Ele fica tão triste consigo mesmo por causa disso e isso é tão fofo nele. Ele é muito neném, adoro muito ele!

Ele não é adorável?!!

Na época do anúncio do mangá no Brasil, para dar uma maquiada na proposta e conseguir publicar ela nas redes sociais, a Panini precisou pisar em ovos para amenizar e abstrair ao máximo a história, o que rendeu a pérola “mas aborda uma adolescência cheia de romance puro e desajeitado“. Embora tenha rendido ótimas risadas na época, eu acho que a Panini não está tão errada na colocação. Eu não chamaria de “romance puro”, porque eu acho que de fato não é, mas lendo o volume 1, ele tem seu ar de inocência nas ações de alguns personagens. Acho que não é por você ser uma puta, vadia, piranha que você não pode idealizar romances (falo por experiência própria 🙂), não chegam a ser antônimos ou uma antítese, afinal, Pabblo Vittar já cantava: “Piranha também ama, piranha também chora”. E a parte do desajeitado, acho que combina bastante no fim das contas, o Toono é completamente desajeitado e deslocado daquela escola, não sabe se gosta e com certeza, desgosta de muita coisa, ele é muito inconstante naquilo que sente. Agora, desajeitado mesmo é o Tamura, na forma como tenta se aproximar do seu crush hahaha.


  • A Autora

A Ogeretsu Tanaka começa suas publicações com Doujinshis, principalmente de “Kuroko no Basket”, no começo dos anos 2010. Em 2012 ela começa a lançar “Yarichin Bitch Club” de forma independente no pixiv e é a partir de 2014 que ela começa a ter suas primeiras publicações em revistas, sendo 2014 e 2015, anos de intensa atividade para a autora. Em 2014, ela lança: “Chi-chan to Eno-kun“, “Dokuzetsu no S na Ore ga Jimi Riman ni Kuwaresou Desu” e “Sakasa Moji nara Suki da to Ieru“, one-shots publicados em edições da revista BE x BOY (Libre Shuppan). “Koi to wa Baka de Aru Koto da” foi seu primeiro coletado em volume, sendo uma coletânea de histórias publicadas entre 2013 e 2014 na revista BE x BOY (Libre Shuppan). Na sequência, entre 2014 e 2015, ela publicou “Renai Ruby no Tadashii Furikata” e “Sabita Yoru demo Koi wa Sasayaku” na Dear+ (Shinshokan). 2015 é o em que a maioria de suas obras mais conhecidas começa a ser publicada, com “Neon Sign Amber” (volume único) na Dear+, “Scape Journey” (3 volumes) na BE x BOY e “Hadakeru Kaibutsu” (2 volumes) na Chéri+. 2016 é o ano do lançamento de “Yarichin” pela Gentosha e depois disso, há 2 obras de destaque: o volume único “Daisy Jealousy” (2019-2020) publicado na BE x BOY e “Happy of the End” (2020-2023), publicado na revista Qpa, da editora Takeshobo.

Recentemente, ela começou um novo mangá chamado “Mermaid♡Prince“, publicado na Dear+ (Shinshokan) e o 1º volume foi lançado dias atrás, em 1º de Agosto ^^

Eu não li todos os mangás da autora, mas tive contato com boa parte e além dos designs marcantes (o traço dela é bem reconhecível), a autora trabalha muito com drama, dramalhão mesmo. É o que ela mais faz e o que ela sabe fazer de melhor.


  • A edição nacional

“Yarichin Bitch Club” está sendo lançado no Brasil pela Panini no formato 13,7 x 20 cm, tem capa cartonada fosca com verniz localizado, papel Off-white 66g e página colorida no papel Couché. O primeiro volume tem 242 páginas e inclui um marca página magnético de brinde. O mangá foi lançado ao preço de R$ 36,90 dos volumes 1 a 4 e o 5º saiu por R$ 40,90. Abaixo, vocês veem o vídeo da edição nacional:

Restringimos o vídeo para apenas maiores de 18 anos, por motivos óbvios…

Dois pontos problemáticos: a encadernação do volume (pelo menos o meu) está bem ruim. Ela está engolindo alguns balões de fala, então para conseguir ler algumas páginas, só forçando muito o mangá. E o outro aspecto – esse sendo mais um ‘tic’ meu – é que a diagramação dos balões da borda, creio que por terem medo de na impressão cortar e acabar ficando com palavra cortada, deixaram o texto mais longe possível, o resultado é que vários balões ficam muito tortos. Alguns estão mais oks, mas outros ficam muito ruins (visualmente).


  • Conclusão

“Yarichin Bitch Club” é daquelas obras com humor rasgado, com comédia do mais absurdo possível (e um pouco mais além). Acho que mais do que gostar ou não, é ver de onde está vindo a comédia da obra, entender o ponto e seguir. Se você não gosta, beleza. Só não seja burro (e preconceituoso) na internet, por favor. Não acho que seja um mangá para todo mundo, mas quem embarcar nessa loucura absurda, pode se divertir ^^

Romântico

  • Ficha Técnica
  • Título original: Yarichin Bitch Bu (ヤリチン☆ビッチ部)
  • Título nacional: Yarichin Bitch Club
  • Autora: Ogeretsu Tanaka
  • Serialização no Japão: pixiv/Rutile
  • Editora japonesa: Gentosha
  • Editora nacional: Panini
  • Quantidade de volumes: Em andamento com 5 volumes
  • Formato: 13,7 x 20 cm
  • Quantidade de páginas: 254
  • Papel: Off-white
  • Preço de capa: R$ 36,90 (1 a 4)/R$ 40,90 (5)
  • Compre emAmazon/Loja Panini

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