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Conversando sobre sentimentos e impressões do mercado nacional e sua relação com a demografia feminina.

Na noite do dia 18 de fevereiro, última terça-feira, ocorreu mais uma live da ‘Rodada de Lives’ do Fora do Plástico, em que eles convidam uma série de editoras para comentar o panorama geral do ano anterior, planos para este ano, dar previsões de lançamento e fazer anúncios. A live do dia 18 foi com a editora Taverna do Rei, que divulgou que anunciaria seu 1º mangá naquela noite.

O anúncio pegou a todos de surpresa, pois foi anunciado “Kimi no Yokogao wo Miteita”, mangá shoujo em publicação na revista Bessatsu Friend da editora Kodansha! A surpresa se deu tanto por ser um mangá da Kodansha, uma das maiores editoras do Japão (e que frequentemente se relata como é difícil se aproximar das editoras, mesmo que a Kodansha pareça mais aberta em relação a outras grandes editoras como KADOKAWA, Shogakukan, Shueisha…), como também foi uma surpresa pelo título anunciado ser um shoujo, vide que a demografia feminina é profundamente destratada no mercado nacional, e em boa parte do ocidente também.

Tendo isso em vista, decidi escrever esse texto, com algumas divagações, sentimentos, impressões e opiniões que tenho com relação ao mercado nacional 🙂


Começando pelo inicio, a Taverna do Rei era inicialmente uma loja especializada na venda de quadrinhos e colecionáveis, e que em 2024, deu seu início no ramo editorial como uma editora. Neste 1º ano, eles começaram na publicação de HQs ocidentais e anunciaram seu 1º mangá (Kimi no Yokogao wo Miteita).

Segundo o que a editora comentou durante a live do Fora do Plástico, a obra foi oferecida para eles pela própria Kodansha, o que rendeu boas surpresas, já que muito se fala sobre como as editoras são fechadas, especialmente as maiores do mercado nipônico. Alguns até se perguntaram se isso seria um sinal de uma maior flexibilização das editoras japonesas, mas eu particularmente acredito que não seja tanto por aí. Esse feito é algo concreto realmente, porém há editoras na França (um dos maiores, senão O maior mercado de mangás no Ocidente) que até hoje não consegue contato para licenciar obras da Kodansha. Lá, a naBan é uma editora independente, com anos de mercado, com um catálogo consolidado e que, no entanto, segue sem conseguir licenciar nada da editora.

Enfim, algo que gostei durante a live é que os próprios representantes dela brincam dizendo que por ser um mangá shoujo, talvez estivesse fora do que as pessoas esperariam para um mangá na editora (sendo o primeiro títulos deles) e ele não está errado! Temos um largo histórico de editoras começando na publicação de mangás com obras de demografia masculina. Mesmo a Devir que tem anos de publicação, veio a licenciar seu primeiro mangá de demografia feminina (blank canvas, da Akiko Higashimura) em meados de 2023 e só começou a publicá-lo no final de 2024. Ontem tivemos o anúncio de primeiro mangá da editora BAÚ com “Shoujo Shuumatsu Ryokou“, um Seinen. Essa aparente consciência de demografias, e sabendo que elas não são o primeiro pensamento das editoras que decidem começar a lançar mangás, pode render algo interessante no futuro da editora.

Quando digo que “pode render algo interessante no futuro da editora”, quero dizer que, por mais que essa licença tenha sido ofertada pela Kodansha, se Taverna do Rei tiver uma boa curadoria e que os aconselhe (sabiamente), e a Kodansha assim quiser, eles tem ouro na mão. A Kodansha tem um catálogo lindo e riquíssimo de mangás e autoras de demografia feminina com revistas de peso gigantes (Kiss, BE LOVE, Comic tint, Dessert, Nakayoshi, a própria Bessatsu Friend…) e que são completamente escanteadas pelas grandes editoras do mercado nacional (vindo só uma ou outra obra). Se a editora for sábia, eles tem rios de possibilidades e de obras excelentes para explorar, e que via de regra, não tem concorrência. Enquanto as editoras já estabelecidas estarão se digladiando para ver quem irá publicar o próximo ‘Shounen de Lutinha’ ou ‘Seinen psicológico’, eles estarão com um “passe livre” para trabalhar (com calma até) anos de publicações brilhantes, de autoras ignoradas por um mercado que prefere a mesmice a abraçar algo feito por e para mulheres.


Uns anos atrás, em 2021, eu escrevi um texto chamado “O mercado brasileiro de mangás e o shoujo” (linkado abaixo). Na época, eu escrevi esse texto porque a JBC tinha feito um de seus vídeos comentado sobre a possibilidade de lançar “Yona” e o take saiu muito errado, causando uma repercussão deveras negativa. Escrevi esse texto com raiva, confesso. E por mais que algumas coisas estejam datadas, que eu não tenha considerado algumas vertentes, e que o Kyon [Biblioteca Brasileira de Mangás] tenha até apontado no Twitter na época, eu ainda acho que algumas coisas ainda valem. Fato é que ano após ano, eu fico muito consciente e convicto de que por mais que um shounen ou um seinen possam parecer “impossíveis de serem lançados” (e aqui, vale para qualquer mercado ocidental), sempre haverá um esforço maior, uma tentativa, uma ponderação a respeito, ao se tratar de shounen e de seinen. Recentemente, nos Estados Unidos, a VIZ anunciou o lançamento de “Kingdom” por lá, o que causou revolta na comunidade Shoujosei estadunidense, porque a editora havia dado indicativos de que vinha um Shoujosei (pessoal estava acreditando muito numa reedição de “Basara”, da Yumi Tamura) e não teve nenhum anúncio nesse sentido, além de terem anunciado um Seinen com mais de 60 volumes (quase 70 já). Até comentei que no Twitter que “Nenhum mangá é grande ou longo o suficiente, desde que ele seja shounen“. Na França, um mercado que acompanho de perto, há muitas iniciativas em lançar mangás shounen/seinen longuíssimos. Cito como exemplo “Be Blues!”, em publicação pela Meian e que é completo em 49 volumes. Em contrapartida, um Shoujosei de 10-15 volumes automaticamente se torna “muito arriscado”.

Falta realmente alguém que pense e acredite na demografia feminina e que não tenha uma visão rasa como um pirex (e que por vezes, vai esbarrar SIM em machismo).


Bem, se eu fosse avaliar o panorama geral das editoras nacionais, posso dizer que as vejo dessa forma:

  • Panini: tem publicado mais obras de demografia feminina, mas aqui eu posso dizer que, assim como todo o restante do catálogo, é só uma desova de títulos no mercado. Mais e mais obras vem, e como tudo é um amontado, muita coisa passa por despercebido (e nesse caso, posso dizer o mesmo de alguns Shounens e Seinens). Para além disso, há um destrate e descaso (e até desrespeito, a meu ver) com as obras, vide que a Panini se encontra em uma avalanche de atrasos, onde TUDO atrasa, passa para meses posteriores e eles continuam a anunciar novas obras e a lançar novas pré-vendas, de forma que tem mangás com mais de 6 meses de atraso. Pegando caso de demografia feminina que é o que nos importa aqui: “O Homem de Gelo e sua Fria Colega de Trabalho“, da Miyuki Tonagaya, está em pré-venda desde meados de junho ou julho, com lançamento inicial previsto para setembro/2024. Foi adiado e agora está com os TRÊS primeiros volumes previstos para março. Se de fato sair em Março, serão 6 meses de atraso. “Meu Casamento Feliz“, de Akumi Agitogi e Rito Kousaka, está em pré-venda desde setembro, com previsão inicial para novembro. Agora, o volume #1 também está previsto para março, ou seja, quatro meses de atraso.
    Por mais que isso não se restrinja ao mangá feminino, quem acaba sendo mais prejudicado, se considerar o histórico, é a demografia. “Especializada ou generalizada, já são aclamados pela crítica, e seus mangakas celebrados […]”. Trago isso porque um mangá shounen que não funciona, está tudo bem; mas um mangá shoujo que não dá certo, automaticamente refletirá o “shoujo não vende”. Não seria a primeira vez que “shoujo não vender” foi usado para redução do número de títulos de demografia feminina em publicação pela editora.
  • MPEG: a MPEG surgiu ali no final de 2021 e com uma promessa forte: ter publicações com foco na demografia feminina. Com muitos problemas e gargalos, o início dos lançamentos da editora se deu em janeiro de 2023, com o lançamento de “Alter Ego“, um ‘mangá espanhol’ em volume único. A promessa de atenção ao mangá feminino foi o que me fez, Alê, trabalhar na editora (coisa que, felizmente, acabou em agosto de 2024) e no entanto, derreteu profundamente. Em live com o Fora do Plástico, na Rodada de Lives de 2024, a editora disse que não cumpriria o que foi dito e que lançaria de tudo (Shounen, Shoujo, Josei, Seinen, BL, Yuri…) e que não queriam ficar “presos em uma bolha”.
    Eles, de fato, estão com alguns títulos de demografia no catálogo: estão lançando “Girl Crush“, um Shoujo não muito conhecido, mas bem elogiado; estão publicando “Creamy Mami – A Princesinha Mimada“, um Josei; e licenciaram o grande “Nodame Cantabile“, da Tomoko Ninomiya; sem esquecer dos BLs “Como Conquistar um Alfa“, um manhwa e “O Fim das Minhas Noites de Solidão” (Hitori de Yoru wa Koerarenai), um mangá em volume único. O grande problema que envolve a editora, claro, foi a expectativa de algo que não se concretizou. Foi uma editora que surgiu com várias promessas e que não cumpriu quase nenhuma, incluindo o foco na demografia feminina, o que me atinge particularmente, já que eu fui trabalhar lá em grande parte por causa dessa promessa.
  • JBC: A JBC está no que eu considero como um tipo de “zona cinza”. Vez ou outra aparece algum mangá de demografia feminina por lá, sendo o maior destaque atualmente é “Não chame de Mistério“, da Yumi Tamura, e o anúncio de “11-nin Iru!“, da Moto Hagio, na última CCXP, porém, acho que há um problema de periodicidade (e que vale para todo o catálogo), mas principalmente uma impressão (e aqui, reforço que é uma sensação) de tudo estar meio “largado”, no sentido de pouca promoção ou visibilidade, e olha que no caso de “Mistério”, tem muito o que se dizer já que é um mangá excelente! Essa sensação de abandono e pouca promoção eu poderia generalizar para todas as principais editoras, e com a JBC, posso dizer que há séries que logo morrem quando são finalizadas, como é o caso de “Escamas Azuis – O Segredo da Cidade de Areia“, um Josei em 2 volumes da Youko Komori que foi lançado pela JBC em meados de setembro/2023.
  • Devir: A Devir eu acho um caso muito especial, porque levou anos até chegar o primeiro mangá de demografia feminina da editora (blank canvas, da Akiko Higashimura). Acho que nem Pipoca & Nanquim levou tanto tempo assim e vindo da editora que recomeçou a publicação do Junji Ito no Brasil. Publicando JUNJI ITO eles conseguiram licenciar apenas os trabalhos seinen dele. É um feito impressionante, realmente…
  • N**P**: preferia não ter que falar dessa editora, mas vamos lá… Acho que nem preciso ir muito longe para sinalizar que ela possivelmente representa o maior descaso com autoras de demografia feminina que temos no nosso mercado nacional atualmente. E faço isso resgatando dois títulos que adoro muito, de duas autoras que igualmente gosto: “Bom dia, Bela Adormecida” (Ohayou, Ibarahime), Shoujo em 6 volumes da Megumi Morino, e “Honnou Switch“, Josei em 9 volumes da KUJIRA. Ambos são trabalhos que foram anunciados em JUNHO de 2022 e que permanecem sem previsão de lançamento. “Bom dia, Bela Adormecida” é ainda pior, pois a capa nacional dos 2 primeiros volumes foram divulgadas em abril de 2024 (daqui 2 meses completa 1 ano). São obras e autoras que estão “aprisionadas” em um porão que nem se sabe quanto tempo mais irá levar até que essas obras vejam a luz do dia. E independentemente da hora que sejam publicadas, continua sendo um absurdo o espaço de tempo, principalmente considerando que “Bela Adormecida” que poderia ter sido publicada e concluída 2 vezes nesse período se fosse publicada de forma bimestral. O mesmo vale para a Robico, que tem duas obras anunciadas e sem qualquer previsão (“Tonari no Kaibutsu-kun” e “Boku to Kimi no Taisetsu na Hanashi“, ambos em 7 volumes).
    Mesmo quando forem efetivamente lançados, ainda podem encontrar problemas com a completa inconstância da editora, podendo ter uma publicação ágil, ou ficar meses parada, sem ter um volume lançado, como ocorre com várias séries da editora; ou ter problema com texto e revisão, vide “Amor Imaturo“, da Yone Kurachi, que depois de anos anunciado, quando foi finalmente lançado, tinha um texto medonho de mal feito logo na quarta capa do volume 1; ou ainda, assim como as demais editoras, sofrer com a “morte prematura” de séries curtas que logo são esquecidas (oi, “Coelacanth“), problemas de divulgação, etc., etc., etc.
  • Pipoca & Nanquim e Comix Zone: eu coloco as duas editoras junto, porque acho que elas representam muito bem a mesma linha editorial, bem como a linha de pensamento. O que vou dizer agora pode gerar reações de ódio em algumas pessoas, mas eu sinto o puro suco do homem hetero vindo dessas duas, especialmente da P&N (você pode ver isso como algo bom ou ruim, fica a seu critério). É um catálogo (e uma construção de catálogo, caso da Comix Zone) que representa muito a ideia de “por homens e para homens”. Se for ao resgate de algumas autoras do catálogo da Pipoca & Nanquim, o que temos é: Kan Takahama, que veio por ser muito aclamada na França; o mesmo para a Keum Suk Gendry-Kim (e que pelo menos nesses dois casos, eles exploram o catálogo delas); e no caso de autoras de demografia feminina, temos a Yumi Sudo, que só veio com “Confins de um Sonho” (Josei Yuri) e por uma indicação da Shodensha; e a Hideko Mizuno, com o clássico “Fire!“. De obras de demografias feminina, podemos contar nos dedos de uma mão se excluir as obras do Junji Ito (que como sempre digo, é importante reforçar que ele é um autor de demografia feminina, mas que não representa um sinal de diversidade, porque o nome do autor virou algo muito maior que a obra), de número de autorAs. Creio que ainda conseguimos contar com os dedos de uma mão. As maiores tentativas de explorar a bibliografia de autores, são majoritariamente de autores homens.
    O discurso, que às vezes, gosta de empregar em defesa desses casos é o das “obras de qualidade”, como se autoras mulheres não produzissem obras boas (ótimas!), mas engraçado que vieram umas obras que por deos, como o “Crônicas da Era do Gelo”, do Jiro Taniguchi, que meio mundo fala mal; ou por vezes, como se todas as obras tivessem “as mesmas chances” (desde que sejam boas, hein?!), mas é sempre curioso como essas “mesmas chances” nunca chegam nas mulheres, ou tardam a chegar, contemplando uma aqui ou ali, enquanto que a gama maior é de obras feitas por e para homens. E de novo, não é algo estritamente restrito do P&N. Tantos casos de autoras abandonadas por editoras brasileiras (Aya Nakahara [Lovely Complex] na Panini, Riyoko Ikeda [Rosa de Versalhes] na JBC, Keiko Iwashita [O Florescer do Amor] na NP e assim por diante), mas creio que eles acabam por serem muito representativos, até pelo tipo de público com a qual eles conversam.
    Coloco o Comix Zone no mesmo balaio, porque me soa como estivessem seguindo o mesmo caminho. A ver se concretiza realmente…
  • Galera Record: embora ela só tenha um título no catálogo – Minha História de Amor com Yamada-kun Nível 999 – achei bom colocar ela aqui, porque mesmo sendo um shoujo, ela é um caso de completo horror. Tudo que envolve a edição de “Yamada” e sua publicação é um completo desastre. O anúncio foi recebido com muito entusiasmo inicialmente (assim como o da Taverna), por justamente ser o primeiro mangá japonês da editora e um muito popular, com anime e sendo muito pedido. O anúncio foi feito em março de 2024, com previsão de lançamento para julho. Foi adiado, ficou meses sem notícias e quando entrou em pré-venda, passou por adiamentos, até ser lançado no começo de 2025. O que foi fruto de muita comemoração, não tardou para decepção, pois divulgaram a capa e ela era baseada na edição estadunidense que é horrorosa. Não obstante, quem traduziu o mangá é a Angélica Andrade, uma tradutora de inglês, o que também sugeria que a tradução seria feita a partir da edição dos EUA (que por sinal, é muito criticada). E para completar, ainda tem o preço de R$ 49,90 que não é nem um pouco amigável.
    O anúncio da Galera parecia promissor por estar em condições semelhantes ao de agora: uma editora (nesse caso, consolidada e parte de um grande grupo editorial) adentrando no mercado de mangás e com um Shoujo. Soava como uma esperança que tão logo, derreteu. Até comentei no Twitter e no Blue Sky do blog que o mangá parecia ter dado uma “flopada” (e aqui vale o adendo de que uso a palavra não no sentido mais literal dela, porque não temos como saber suas vendas e seria precoce afirmar algo, tendo em vista que só saiu 1 volume), porque já tinha algum tempo que o volume #1 tinha sido lançado e praticamente não tinha visto ninguém comentando, seja bem ou mal. E talvez, acho que a Galera contava que não precisasse fazer muita coisa, que a própria ‘galera do mangá’ se movimentaria, porque a editora quase não fez divulgações do mangá, nem da pré-venda, nem do lançamento do 1º volume. Talvez tenha sido um tiro deles que saiu pela culatra, ainda mais com o tanto de reclamações que surgiram entorno dessa edição. Até o presente momento, não há sinal de pré-venda do(s) próximo(s) volume(s).

Eu disse e repeti várias vezes ao longo do texto que isso ou aquilo dos problemas do mercado nacional não se restringem a apenas demografia feminina. O grande problema é que ela é a que sempre será a prejudicada. O shounen e o seinen que não vendem, sempre serão vistos ou tratados como casos pontuais, que “poxa, não deu certo, tentamos na próxima”, enquanto que o Shoujosei já é profundamente estigmatizado com uma imagem de que “não vende”. Aliás, lembro que a Deirdre (Pro Shôjo Spain) comentou que não tem como o Shounen não dar certo, por causa do quanto se investe em marketing, produtos e ações. Ela disse isso em uma ocasião de ação entre a Shueisha e a Netflix, provendo obras da revista (algumas as quais nem tinham anime ainda)…

O motivo da alegria com o anúncio feito pela Taverna é bem simples: foi uma editora que não prometeu nada e entregou tudo. É provável que a editora foque em demografia feminina? Eu duvido muito. É provável que o catálogo da editora fique ao menos balanceado? Eu também tenho minhas dúvidas. Mas pelo menos foi uma editora que está tentando algo interessante. Quem está traduzindo o mangá, aliás, é a Drik Sada, uma das melhores tradutoras (ela trabalha traduzindo os mangás da Pipoca & Nanquim, por exemplo). Então podemos contar com um bom texto e revisão. O mangá também será lançado no formato 14 x 20 cm, com sobrecapa e está previsto para ser lançado ainda no 1º semestre desse ano, a tempo para Bienal do Livro no Rio de Janeiro (junho). A editora ainda comentou que o mangá será concluído em 6 volumes (atualmente, são 4 lançados) e não há preço definido por ora.

A editora também disse que já tem outro(s) mangá(s) assinado(s), mas que não irá anunciar por agora, para não dar um passo maior que a perna.


Bem, essas foram minhas divagações sobre o assunto. Estou feliz com o anúncio, de uma forma que fazia tempo que não ficava (fiquei feliz com o anúncio de “Odekake Kozame” pela JBC, mas mais por eu não esperar o título, pois sendo um mangá colorido, não irei comprar por ser caro) e dessa forma, pretendo comprar o mangá assim que possível, preferencialmente no lançamento.

Esse não foi um texto que escrevi pensando em ser “uaaau, grandes críticas”, algo extremamente pensado, articulado etc., mas mais como sentimentos que tenho com o mercado vindo de uma pessoa que é bem desanimada com ele. O texto vai chegar na editora? Eu duvido muito. E mesmo que chegue, provável que assim o ignorem. De toda forma, como não custa nada, deixo meu recado: pensem com carinho na demografia feminina. Há um público que clama por uma melhor representação e por maior espaço, nichos pouco ou completamente inexplorados e que abarcam um público que nem sabe que precisava desse tipo de obra. É um mundo enorme de possibilidades, indo desde obras curtas a séries que passam dos seus 10 ou 15 volumes. De todos os tipos e gêneros que se possa imaginar.

Eu realmente acredito que vá ter uma atenção à demografia feminina? Não. Mas é aquilo, um caminho de possibilidade está aberto e dentro de tudo o que temos no cenário atual, acho que é uma ideia legal de se ter. No entanto, sempre bom ter expectativas muito contidas, afinal, a editora não prometeu nada e entregou tudo nesse anúncio, se continuarmos não esperando nada, pode ser que tenhamos boas surpresas no futuro 🙂

Por fim, acho que vale como um “recado” para o público em geral. Como disseram uma vez na comunidade Shoujosei da França: “A razão pela qual eu não falo sobre mangás Shounen e Seinen tanto quanto faço sobre mangás Shoujo é porque eles não precisam de vozes adicionais para defendê-los. […] Mas como categoria, os mangás Shounen e Seinen já estão presentes na mídia especializada ou generalizada, já são aclamados pela crítica, e seus mangakas celebrados […]“. Esse trecho é de um texto que defende a ideia de falar de Shoujo. Então, por favor, falem de Shoujo!

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