Olha o que acontece com o corpo de vocês se não levam uma vida saudável.
Olá pessoas! Eu e o Alê comentamos sobre o Hataraku Saibou original em outro post, entretanto fomos surpreendidos com a qualidade do seu spin-off com um enredo mais denso e pessimista. E de maneira geral, gostamos do que vimos, principalmente relacionado ao tom adotado nessa adaptação. Fiquem com a nossa conversa sobre as impressões que tivemos depois dessa estreia.
SINOPSE: Álcool, fumo e estresse – no corpo submetido aos vícios, as células responsáveis por manter a vida do corpo humano parecem travar uma guerra que nunca termina em um loop infinito. Devido a uma grande escassez de trabalhadores, o glóbulo vermelho precisa aprender rapidamente a fornecer oxigênio e coletar dióxido de carbono, mesmo em condições perigosas. Enquanto isso, o glóbulo branco tem que fazer sua parte ao lidar com germes e vírus durante situações de risco. Em meio a essas crises, eles têm que trabalhar juntos para manter o corpo saudável, apesar de não saberem se valerá a pena seus sacrifícios. Hataraku Saibou Black tem uma abordagem diferente, mostrando o lado mais corajoso das tarefas que nossas células executam diariamente. FONTE: Animes Vision.
RUB: Alê, é estranho falar de novo de Hataraku nessa temporada. Já fizemos o post do projeto original da franquia e agora retornamos para comentar sobre a estreia do spin-off mais “pesado” da obra. Iremos falar agora sobre Hataraku Saibou Black. E a introdução do anime nem enrola para mostrar o tom que a série irá ter dali em diante. Esqueça o lado positivo do funcionamento de um corpo humano. Também não considere mais a comédia aqui ou a fofura presente na obra principal. Não considere a união ou a amizade no enredo, sendo tudo como as piores condições de trabalho que se possa ter em uma “empresa” (no caso aqui, no corpo). O espectador tem que desapegar a imagem que o primeiro Hataraku Saibou estabeleceu e comprar a ideia totalmente contrária a história original. A cena inicial logo mostra várias células sanguíneas mortas dentro dos vasos sanguíneos e o protagonista totalmente desesperado por não saber o que fazer. Esse que vai ser o clima do Hataraku Saibou BLACK.
E tem uma coisa que achei muito boa. Nos minutos iniciais, retrocedemos algumas horas mostrando a escola das células. Lá temos toda a propaganda enganosa de que unidos venceremos, que aquele corpo é uma maravilha, que NÃO TEM HORAS EXTRAS, TEMOS DIREITOS TRABALHISTAS… lembrou muito aquelas empresas que fazem propaganda na hora de contratar funcionários, porém quando é presenciado a realidade, é totalmente um trabalho escravo de remuneração baixa e várias horas trabalhadas em péssimas condições de exercer sua função. Também é possível fazer o paralelo com o TERROR mercado de trabalho japonês ou daquelas propagandas de governos totalitários afirmando que o esforço da população vai salvar o país da miséria. Podemos ir longe com apenas 5 minutos do anime. Aquele corpo em que se passa a história do anime é uma realidade para a maioria dos japoneses. A vida atribulada e estressante, gera consequências graves por todo o corpo.
ALÊ: Após assistir esse episódio de “Hataraku Saibou BLACK”, eu posso dizer: ainda bem que não vi os dois Hataraku’s seguidos! É uma quebra total de um para o outro que eu não estava preparado! Sabia que a obra se passa dentro de um corpo completamente ferrado, cheio de problemas de saúde, porém não sabia qual o tom narrativo que a série teria porque eu não leio o mangá e não vi os trailers. Eu terminei o BLACK quase chorando hahahahah. É um completo caos aquele corpo. Mataram o carinha/célula de cabelo roxo e eu fiquei tão triste com a morte de células. Eu achando que chorar por um câncer tinha sido meu ápice XD.
Eu adorei a estreia e tudo que foi apresentado. A forma que fizeram os momentos iniciais foi precisa, porque te induzem a um pequeno gosto do que veremos dali em diante. Logo em seguida voltamos no tempo para a graduação dos Glóbulos Vermelhos e é exatamente como você disse. Os “superiores”, por assim dizer, criam uma imagem completamente fantasiosa do trabalho que os novos funcionários terão a partir dali. Uma das células até pergunta sobre horas extras. O ‘instrutor’ dá uma resposta otimista para logo em seguida a realidade do serviço ser completamente desumana (meio estranho usar o termo pensando que são células). E até fazendo um pequeno paralelo com a série principal, você pega a Glóbulo Vermelho trabalhando num corpo saudável. Ela carrega apenas uma caixa de oxigênio, enquanto que aqui o cara tem que carregar duas por falta de pessoal que entregue o oxigênio. Enquanto todo mundo trabalha com certa folga e tranquilidade em Hataraku Saibou, em Black não acontece. Não há pausas ou companheirismo/amizade entre eles, porque literalmente não há tempo para isso. São duas realidades bem interessantes quando você vê as condições de trabalho de cada um desses corpos humanos.
RUB: Até as plaquetas estão no limite. A criançada toda estressada, longe da fofura que apresentaram no primeiro Hataraku. E Alê, além do trabalho dobrado para cada célula, teve uma cena muito boa. Uma outra célula pergunta quando irá chegar o oxigênio e nutrientes para eles. A célula vermelha novata não responde por não fazer ideia. Aí aparece uma célula vermelha veterana e MENTE para a outra que semana que vem estaria melhor as condições de entregas e chegaria só produtos de qualidade. E o motivo FAZ TODO SENTIDO biologicamente falando. Quando existe escassez de oxigênio no corpo, a prioridade passa a ser entregar dos gases essenciais para os órgãos. Foda-se canela ou os dedos, por exemplo. Centraliza o bagulho para onde tem demanda e entregar o mínimo para as demais células.
Ainda tem a justificativa que não existe ouvidoria e que as células vermelhas precisam ser FRIAS, se não vão pirar e morrer de depressão. E é exatamente o que acontece com um corpo debilitado emocionalmente. A produção das células sanguíneas caem drasticamente, piorando ainda mais uma realidade que não estava das melhores. Ainda tem o brilhantismo do roteiro dar indícios que também tem algo de errado na produção do oxigênio. Por que TEM TÃO POUCO? Por que poucas células estão nascendo? Mais tarde veremos que esse corpo é de um fumante, novamente fazendo TODO SENTIDO CIENTIFICO com as dúvidas do protagonista. Como a porra do cigarro diminui a passagem do oxigênio para os alvéolos pulmonares, destruindo esses tecidos receptores, resulta em menor captação e troca de gases no sistema respiratório. Olha que foda esse roteiro. Com apenas algumas falas, o roteiro entrega um aprofundamento nos conceitos científicos sobre a biologia humana e de uma maneira tão orgânica e didática, que transforma esse aspecto em um ponto a ser exaltado pela sua excelência na abordagem de um vicio tão perigoso como o do cigarro. Se nem com fotos bizarras e fortes atrás da carteira desestimula os fumantes a largarem o troço, talvez fazendo-os entender como seu corpo fica possa ajudar essas pessoas a pararem de consumir essa droga. Temos até ‘contrabando’ de gordura…SENSACIONAL.
ALÊ: SIM! É GENIAL!!!! Eu acho muito interessante essa questão de humanidade que deram aos personagens (até por isso fiquei triste no fim do episódio), porque tipo, da perspectiva real, células nascem, morrem, reproduzem e é isso. Tudo “seco” e apenas seguindo o sentido natural de qualquer coisa viva. Mas aqui eu gosto muito que deram uma noção mais humana. O Glóbulo Vermelho ter que enganar a outra célula dizendo que logo chegará um carregamento grande oxigênio, é não só uma perspectiva de que muito provavelmente aquela célula vai morrer por falta de oxigênio, mas também muito provável que ela continue trabalhando seguindo esse sentimento de que vai melhorar, porque se cria o positivismo a partir disso. A célula ficou muito feliz quando soube que as condições de vida dela iriam melhorar.
Além de ainda essa célula veterana falar que contrai os sentimentos, porque dentro daquele tipo de trabalho, sob aquela pressão, com tudo desmoronando (literalmente), trabalho exaustivo, se você não mantém os sentimentos “presos”, é quase certo que você quebra. Depois o novato até vê que os olhos do cara estão “vazios”, sendo apenas um sorriso ‘falso’. Ele basicamente virou uma casca vazia que só sabe trabalhar… É muito boa essa noção humana de sentimentos. Achei maravilhoso você ter a personificação do colesterol ruim colocando gordura no chão (que no caso são veias e artérias). Eu já comentei no post de primeiras impressões da 2ª temporada de Hataraku, mas não custa repetir que há todo um trabalho de pesquisa e de criatividade que é impressionante de tão bom. E aproveitando que você levantou a questão das drogas (tabaco), vou te dizer que o anime funciona MUITO BEM como uma mensagem antidrogas ou de conscientização. Você tem células humanoides no anime e o que pode ser mais correlacionável para as pessoas tomarem ciência do que estão fazendo com seus corpos? Essa mensagem consegue ser passada de forma tão clara e eficiente, que é algo excelente! Em 1 episódio de poucos minutos, Hataraku Saibou BLACK conseguiu construir e passar uma mensagem muito mais eficiente do que TUDO que “Ikebukuro West Gate Park” tentou fazer na sua narrativa e não conseguiu. Para quem não conhece esse anime que mencionei, ele é da temporada passada (Outono/2020) que basicamente era um PROERD muito piegas. Fora que Hataraku BLACK ainda tem a vantagem de servir como alerta para cuidar do corpo no geral. Alimentação, exercícios, colesterol… Tudo!
RUB: Essa explicação da gordura é formidável. E quando a gordura entope as veias, não passa mais nada e toda a circulação é prejudicada. Foda. Para mim a parte mais interessante foi quando o CO rompeu e invadiu a corrente sanguínea. Sinal de AVC, infarto ou derrame… Ver aquela cena de ‘filmes de zumbis’ também fez sentido, porque os glóbulos vermelhos perdem sua função e se tornam veneno para o próprio corpo quando inundado de CO. Lembrando que CO2 é o que deve ser transportado no sangue para o pulmão, enquanto o CO é gás gerado pelo cigarro ou poluição das grandes cidades. Aquelas consequências e a glóbulo branco reagindo contra as próprias células do corpo humano foi uma sacada muito boa.
E toda a cena é bem dramática, parecendo trecho de filmes de guerra. Ainda tem todos os clichês do gênero, como personagem que se sacrifica, mulher fodona, protagonista covarde… teve de tudo nessa estreia. Estou para dizer Alê que esse começo foi melhor que a série original teve. Ter um corpo nada saudável abrem para várias possibilidades de histórias bem interessantes, além de analogias com a nossa sociedade. Em seguida temos o segmento final do protagonista e da Glóbulo Branco indo para os pulmões para investigar os motivos de ter CO no sangue. Temos a confirmação que a pessoa fuma, não dorme direito, não come bem, bebe para caralho e ter princípios de células cancerígenas em diversas partes do corpo. Só vai ter desgraça daqui para frente. Além disso, eu sei de outras doenças que serão abordados na história. Por exemplo, a pessoa desse corpo também sofre de disfunção erétil. Não sei o que vai acontecer exatamente, entretanto será interessante acompanhar esses detalhes. E para não esquecer, as células disseram que antes era tranquilo e mudou de uns tempos para cá. Eu entendi que essa pessoa era criança no passado e virou um adulto merdeiro que não se cuida.
ALÊ: Foi uma cena excelente. Justamente aí que fiquei bem triste. Foi bem emocionante e por mais clichê que seja, me pegou de jeito. Acho que em parte por eu não estar devidamente preparado e não sabendo exatamente o que a obra abordaria no seu tom narrativo. Hataraku BLACK tem uma abertura para tratar de assuntos que a série principal não tem, porque enquanto a outra série trabalha com coisas mais cotidianas e mais leves como um calo, gripe e algumas adversidades, esse daqui tem chance de falar de coisas realmente mais sérias e os riscos que certos comportamentos alimentares trazem ao nosso corpo. Eu gosto que o título do episódio dá as carta do que ele irá tratar. Esse primeiro se chama “Cigarro, bactérias e o começo do fim” (bem dramático). O 2° tem o título: “O fígado, o álcool e o orgulho”.
Nessas condições que o corpo está, provavelmente devem falar de princípios de cirrose devido à ingestão exacerbada de álcool. Estou curioso para saber quais temáticas irão trabalhar e como será feito. Essa estreia me animou para um caralho com a série. Uma coisa que preciso elogiar é a direção e a ambientação. A direção soube conduzir perfeitamente toda a série. Estava com um pezinho atrás, porque o diretor iria ser diferente da série principal e tinha medo desse daqui não conseguir acertar a mão igual ao da outra obra,. Felizmente a direção está ótima. Na parte ambientação, não só temos todo o cenário sujo, engordurado e caindo aos pedaços, como a paleta de cores das roupas é mais escura e as sombras são mais carregadas. Há traços em cima das sombras que deixam elas mais escuras e eu gosto muito disso. Tudo feito para trazer esse negativismo da situação toda. Fora que toda a produção, pelo menos nessa estreia, está melhor do que eu esperava. A LIDEN FILMS está com 4 animes nessa temporada, incluindo Hataraku BLACK e achei que ele fosse ser o prejudicado da vez. Mas até aqui está bem melhor do que eu esperava. Vamos ver se o estúdio consegue segurar a produção até o fim.
RUB: De fato o Hataraku Saibou Black foi um anime bem surpreendente na sua proposta. Fiquei bem empolgado e espero que essa qualidade se mantenha até fim da temporada. Dedos cruzados para a Liden Films não cagar a produção, pois o anime tem tudo para ser um dos destaques da temporada.
ALÊ: Uma última coisa só para finalizar aqui: quando terminei o episódio, a única coisa que consegui pensar foi no fim da série. Que fim levará esse corpo e, consequentemente, essas células? Será que há uma chance do cara mudar seus hábitos alimentares e salvar a si mesmo? Ou estão fadados à sucumbir diante dos problemas? Não consigo parar de pensar nisso, porque só consigo imaginar um fim trágico para essa obra.
Assistir “Hataraku BLACK” está sendo isso daqui: