Roteiro, nós já entendemos o que você quer nos contar, não precisa repetir toda hora!
Olá pessoas! Espero que estejam todos bem! Vamos comentar sobre “86”, ou “Eighty Six”, anime que nos apresentou um mundo intrigante, um ritmo narrativo muito bom, uma edição que sabe fazer ótimas transições, mas possui um roteiro que insiste em repetir o que ele irá tratar a cada 5 minutos no episódio, deixando a experiência do anime um tanto desagradável.
Sinopse: “A República de San Magnolia está sendo atacada pelo Império, mas está tudo bem. Nessa guerra sem mortes quem luta nos campos de batalha são drones ultramodernos pilotados remotamente… Ou pelo menos é nisso que a República quer que as pessoas acreditem.
Numa sociedade injusta, os Albas de sangue puro formam os 85 distritos da República e excluem os mestiços num distrito “inexistente”, o 86. E, nessa guerra contra o Império, são os mestiços do distrito 86 que formam as trincheiras dos campos de batalha e lutam até a morte ou, se sobreviverem, para serem aceitos na sociedade republicana. Lena é a jovem comandante que aceita a missão de comandar de longe o esquadrão problemático Spear Head, liderados por Shin, na linha de frente da batalha contra o Império.“
RUB: Alê, bora comentarmos mais uma estreia nesse temporada, só que falando de um anime começou bem nesse inicio. Estamos falando do anime 86 ou Eighty Six (aliás o nome do anime é horroroso, mas não vem ao caso nesse momento). Esse primeiro episódio nos introduziu a uma realidade utópica da república de San Magnolia. Ela é composta de 85 distritos e que vivem em constante conflito com os países vizinhos. Até aí tudo bem, porque é um anime de Sci-fi em usam drones e mechas insectóides como armas para o conflito internacional. Não temos muitas novidades aqui comparados a tantos animes já lançados. E meio que a escolha que fizeram no primeiro minuto do anime é nos jogar no campo de uma batalha para já pegarmos esse clima de combate bélico que irá ser daqui para frente. A ideia foi boa, mas podia ter retirado aquele soldado gritando no rádio e que ainda teríamos o mesmo impacto nessa introdução. Além de cafona, deixou a cena toda ‘OVER’ com o maluco gritando insanidades e xingamentos aleatórios. Se trocassem esse doido e botassem uma comunicação realmente de soldados trocando informações de batalha, deixaria a cena bem melhor, sem esses exageros dramáticos. E acho que esse foi o principal problema do anime 86, que são essas paradas nada sutis em construir um desenvolvimento das cenas, muitas vezes piorando algo que não precisava. Entretanto, depois de toda essa sequência de ação inicial, temos a protagonista aparecendo, Vladilena (estou vendo que vou me fuder para decorar esses nomes bizarros, porque não tem um personagem sequer com um nome fácil). Vou chamar de Lena para facilitar, pois até o autor viu que ninguém ia conseguir decorar, saiu dando apelidos para geral. Temos a princesa receosa e inconformada com a suposta paz que aquela nação vive. Entretanto teve outra parada que me chamou atenção, no mal sentido, foi que TODOS OS ALEATÓRIOS NAS RUAS TINHAM O MESMO DESIGN. Dá para pegar a ideia do autor em fazer um paralelo de PESSOAS BRANCAS acima das demais raças, subjugando os outros, porém não podia dar uma variada no visual? A cientista e a princesa são as mesmas pessoas para mim. Se não fosse o tamanho do cabelo, não daria para diferenciar ninguém. Tem um frame especifico de várias pessoas esperando atravessar a rua que deixa muito acentuado essa falta diversificação nos designs de todos. Sei lá, dá uma diversificação nos formatos dos rostos, da cor da pele, tamanho dos olhos, nas cores dos vestuários…qualquer coisa. Novamente são aqueles exageros que eu disse, em que fazer essa correlação das pessoas brancas se darem melhor na vida, só que de uma forma muito extrapolada e idiota. Faltou sutileza nesse momentos em estabelecer essa sociedade no primeiro momento.
ALÊ: A cena inicial com o cara gritando eu até entendo a função narrativa dela, porque esse cara que estava lá gritando “sozinho” é o operador, ou um dos operadores que surtaram com a divisão dos 86. Tanto que lá para o final do episódio, as crianças ficam brincando que o operador ficou gritando “Para! Não chega perto de mim!” no meio da luta. E a essa altura, nós já tínhamos o contexto de que se tem o “Ceifador” (Undertaker) na divisão 86 e que até um dos Operadores havia cometido suicídio. Tem uma ceninha bem sutil que eu adorei que foi enquanto a princesa caminhava na rua, ela vê um painel transmitindo o jornal e a repórter diz que não tiveram nenhuma morte registrada. Posteriormente você tem o general lá falando para a Lena parar de anotar o número de pessoas mortas nos relatórios, porque quem está ali, não são pessoas. Foi bem interessante. Sobre a cor branca, eu pensei exatamente isso. Assim que começam a mostrar as pessoas da cidade, todo mundo tem cabelo branco/prata. As roupas tendem a ser mais com tons de branco, azul e cinza, com os prédios e construções também trabalhados na cor branca. Tem até uma cena que mostram o vaso de flores da Lena com lírios brancos e depois lá no local do 86, você tem algumas outras flores, só que coloridas. Eu estou bem interessado em como o autor irá trabalhar isso. Todos ali estão de “igual para igual” seguindo a lógica daquela parte da sociedade, e do outro lado nós temos quem está abaixo. Então os olhos são variados, como as roupas e os cabelos. Tem como uma ideia de raça ariana no distrito 85. Ao menos eu espero que ele trabalhe isso. Pode ser algo completamente diferente do que estamos falando aqui, mas gostaria que fosse assim e fico animado para ver como será abordado esse aspecto. O que me incomoda é que o anime coloca justamente a PRINCESA como a pessoa “boa” da história. Ela que quer ver o outro lado, que quer ajudar e se importa com as pessoas que estão no campo de guerra. E tipo, colocam logo alguém da realeza nesse papel de “pessoa boa”. Ainda enfiam o falecido pai dela como esse alguém que também se importava com outros. Ambos indo na contramão dos demais ao seu redor e não acontece uma vez apena. Tem bem umas 3 trocas de diálogos que frisam que as pessoas dos batalhões não são pessoas, batendo sempre na tecla de extremos. É uma visão um tanto maniqueísta, porque sabemos que a realidade não é tão simples. A vida não é feita de completos extremos e as divisões são muito além de “bem” e “mal”, ou que existam pessoas “boas” e “ruins”. É muito além disso. Me incomoda um pouco, mas eu espero MUITO que seja apenas parte da introdução ou dos episódios iniciais e que essa ideia vá sendo descontruída ao longo dos episódios.
RUB: Sim, esse pedaço eu entendi dele ser o operador. Mas ainda acho exagerado demais, porque ele fica afirmando todo momento coisas do tipo: “Seus porcos, lixos, TATAKAE (referência de SnK xP)…”. Precisava ser “dark e edgy” dessa forma? Não podia ser só ele enlouquecendo apenas em vez dele gritando frases estereotipadas? Esse que é o meu ponto. O anime sempre passa do limite. Tem uma ideia legal, mas para formular esse pensamento, o roteiro tem que ir para um lado extravagante, coisa que a própria história não pede isso. Também temos a conversa da Lena com a cientista dando a entender que o operador se liga com os soldados do Distrito 86 através de uma conexão cerebral em que compartilham o sentido da audição. Então já temos a ‘explicação’ de como o operador pirou. Vai que o Undertaker acessa essa conexão e mexe emocionalmente com a outra pessoa que coordena a operação. Veremos se isso se confirma. Em seguida da cena de vários clones do Norman de Neverland andando nas ruas, temos mais generais de cabelos prateados indo para o exagero nos comentários inferiorizando o povo que está lutando, de novo. Além de repetir essa ideia a exaustão, diminuiu demais o impacto de nós mesmos, os espectadores, termos aquele choque de realidade. Imagina Alê se tudo fosse muito mais sutil do que foi nesse começo. Quando trocassem de núcleo na segunda metade para o Distrito 86, teríamos a surpresa da inversão de valores com os moleques tudo na guerra que o anime tanto quis demonstrar. Só que na medida que evoluía a trama, mas óbvio era o tema que seria debatido, cansando o assunto antes mesmo de sermos introduzidos para o esquadrão do Undertaker. Você falou de uma cena de um jornal aparecendo no telão e mentindo para população que estava tudo bem, eu cito um outro momento de como o anime acerta quando não tem exposição barata. Quando a Lena estava jantando com a mãe, não existe nenhuma troca de palavras ou olhares, mostrando o clima opressor familiar daquela casa, e é reforçado quando a Lena diz ao tio comandante que a mãe é muito exigente e que a obriga para fazer as coisas que não quer. Em apenas uma linha de fala dá para compreender a situação. Não precisa da mãe ser MÁ na tela. Tem também o momento que o Undertaker toma um susto com a panela batendo, ficando em prontidão, preparado para batalha. Nesse momento mostra que o jovem não descansa, que teve um treinamento absurdo e que sempre ficará com essas ‘sequelas’ da tantas batalhas vividas. Esses acertos que reforçam o que eu não gostei no anime. Quando tem exposição barata, o anime erra feio, mas quando decidi apostar nos detalhes e não indo no obvio, aí que ele brilha.
ALÊ: Ah sim, nessa parte eu concordo. Acredito que entre novamente na questão de extremos, porque o anime quer reforçar constantemente dentro do episódio que você tem Lado A x Lado B. O A odeia o B, por ele se achar superior aos demais. Dá até uma certa sensação de “Muahahahaha” nessas partes por justamente ficarem reforçando isso à cada 5 minutos. Parece que o anime fica te dizendo: “Olha, tá vendo esse lado aqui? Esse lado não presta, você precisa ver como eles são maus!”. A questão dessa cena acaba ficando mais no mistério de como esse Operador (e os anteriores a ele) ficaram doidos daquela forma. O Undertaker que é o vetor e que faz essas pessoas pirarem, mas ninguém entende como acontece de fato. Tanto que na conversa da Lena com a sua amiga, o batalhão diz que não sabe o que aconteceu e do lado deles, também não tem rastros do que poderia ter acontecido, ficando apenas no mistério e rumores, como fosse uma história de terror. “Em seguida a cena de vários clones do Norman de Neverland andando nas ruas” HAHAHAHAHAHAHA. Ai deus, mas concordo com você. Se por exemplo tivessem deixado, sei lá, só aquela cena da repórter e mais alguma outra nesse episódio, deixaria bem mais sutil e mais interessante. Valorizaria o próprio episódio por ter uma apresentação dessa forma. De fato esses trechos que você citou são momentos muito bons. A direção acerta muito nesses detalhes. O que fode é essa repetição da ideia que o anime já deixa claro que vai trabalhar ao longo do episódio. Se você tira toda a exposição e o insistente reforço do tema, o episódio teria sido ainda melhor do que foi. Cara, a montagem desse episódio foi ótima. Eu até revi o episódio para pegar mais detalhes. Começa o episódio no meio da guerra, parecendo que é uma cena aleatória, depois corta para a Lena e vai fazendo transições. Conforme o tempo vai passando, as informações vão sendo complementadas e é excelente ver tudo se encaixando muito bem. Nesses detalhes que a direção brilha demais e por ter esse brilho que o episódio fica valorizado para mim. Então apesar de todo esse exagero, o todo ainda se sobressai e eu fico muito feliz por isso, porque tem potencial. Só que o roteiro precisa se ajudar nisso, porque já entendemos qual o feeling da obra.
RUB: Essa é minha preocupação. Nessa estreia já temos tudo o que precisamos saber do anime e qual a mensagem passada. O que resta agora é saber a FORMA que irão apresentar essa história para nós. Se ficarem batendo no mesmo assunto, esse anime vai ficar chato lá para o meio da season. Espero que o autor tenha expandindo os tópicos do enredo em vez de focar no óbvio. E de fato a montagem é muito boa. Ela é ágil e deixa o episódio mais dinâmico. Porém teve uma coisa que se eu fosse diretor da adaptação eu tiraria, que foi aquela cena da Lena e a cientista almoçando. Toda essa parte está perdida ali no episódio. Compreendo que o propósito foi de ressaltar esse aspecto de uma sociedade high tech e que até a comida é feita artificialmente, servido de contraponto a realidade do Distrito 86 que comem alimentos naturais (toda vez que eu escrevo Distrito, logo me vem a cabeça o Hunger Games xP). Só que é um clima de comédia para na cena seguinte ser um momento mais pesado, com a Lena lamentando as mortes do esquadrão que ela comandava. Não casa nem fudendo essa sequência. Aliás essa alternância te tira totalmente do desespero dela no momento seguinte. Vou dar um outro exemplo desse mesmo tipo de cena que faz mais sentido a mudança abrupta de situações graças a montagem. Lá no Distrito 86, todo mundo está almoçando e se divertindo, tendo um personagem falando o seu objetivo de proteger a todos os amigos na batalha. Repare que no momento que ele fala isso, o gato pula, mostra o prato caindo, revelando algo fora de ordem, cortando a cena para um tiro dos canhões dos mechas aracnídeos, cortes frenéticos e desespero. Nessa transição evidencia que algo saiu de errado e que teremos mortes. Em 2 segundos ‘setaram’ e prepararam o espectador para o pior. Apesar que o moleque era um Death Flag ambulante, então posso dizer que foi como o esperado. Olha como a edição acerta quando faz uma composição de cena direito. E até para não deixar passar em branco, o CG está bem feito no anime. Não é um primor e os designs dos mechas insectóides não são marcantes, porém não é feio. Ao menos isso, porque parece que o anime vai ter um grande foco em batalhas de robôs aranhas, então uma dedicação nessa parte era necessária.
ALÊ: Acho que pode ficar chato até antes, principalmente se ficarem se repetindo como foi nesse episódio de estreia. Quando chegar lá para o episódio 6, já vamos estar saturados do assunto. Espero muito que o roteiro deixe isso de lado para explorar outros temas, destrinchar eles, como os motivos por trás da guerra, a formação da sociedade, como ela é dividida… Deixaram bem fixado o assunto principal nesse episódio. É hora de explorar o resto. Realmente aquela cena do almoço fica avulsa. Tipo, acho que nem precisaria cortar ela de vez, mas deixasse para um segundo ou terceiro episódio, porque é interessante a questão de não terem alimentos “de verdade” para quando pudesse abrir mais esse ponto na narrativa. Siiiim, exatamente. A cena com a morte do cara é muito bem feita e a transição dela é excelente. É um ótimo preparo e ilustra a vida das pessoas que vivem ali, porque eles literalmente podem morrer a qualquer instante. O próprio Undertaker no momento que se assusta com o som da panela batendo perto dele. É um sinal de alerta constante, porque nunca se sabe quando o pior pode acontecer. O cara falou em proteger quem estava ali e logo depois morreu. Ainda tem o ponto de que os próprios colegas tem que finalizar o sofrimento do companheiro caso seja ferido. Anteriormente os personagens ainda dizem que ninguém desses distritos costuma durar/viver por muito tempo. É todo um preparo para a apresentação da vida diária dessas pessoas. Eu achei que o CG estaria pior por alguns momentos rápidos que vi em um PV do anime (não tinha visto todo), mas está bem competente. Como as cenas em que eles aparecem é basicamente só robôs, não tem aquele contraste enorme entre 2D e o CG. Só um momento ou outro que eu achei que não estava tão polido, mas pouca coisa. A animação em si está boa. Eu só espero que o A1-Pictures aguente o tranco para todo o anime. Se fala em ser 24 episódios, só não se sabe ainda se vai ser tudo de uma vez, ou partido em 2 em duas seasons. Portanto, espero que eles estejam com um bom cronograma nas mãos.
RUB: Bem, apesar de eu ter reclamado de alguns pontos, eu gostei dessa estreia. Vi potencial no anime do que outros dessa temporada ainda não fizeram até o momento. Torço para que a adaptação do 86 se aprofunde nos temas levantados e trabalhe certas temáticas para deixar mais rico essa narrativa. Recomendo para geral darem uma olhada no anime, visto que existe a possibilidade de sair algo bom daqui.
ALÊ: Digo o mesmo. Vejo muito potencial na série. Apesar desses deslizes no episódio, ainda há coisas interessantes e que funcionam como um bom chamariz para o que pode acontecer daqui para frente. Estou esperançoso quanto à obra e torço para que os elogios que vi para o original sejam mesmo reais (e que o anime consiga fazer uma boa adaptação).
Não entendi se realmente acham que a Lena é uma princesa ou se só tão chamando ela assim pela posição de nobre, mas ela é da nobreza, não realeza
É intencional também todos os personagem serem assim iguais, quase todos que são da mesma etnia são extremamente semelhantes, tem inclusive uma narrativa sobre isso posteriormente
Boa tarde. Essa série pode ser abordada como repertório da redação o tema foi da redação do Enem de 2021″ invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil??
Eu acredito que sim, poderia ser uma ótima menção por sinal.