De fato, merece sua atenção.

Para a ocasião do anúncio do mangá de “Gannibal” pela MPEG, e também porque absolutamente ninguém está falando da série, venho comentar a estreia do live-action de “Gannibal”, ou como está sendo lançado no Brasil, “Canibal”, disponível na Star+.

Sinopse: “Depois de causar um grande incidente, o policial Daigo Agawa leva sua esposa Yuki e sua filha Mashiro para morar na remota vila montanhosa de Kuge. Parece o lugar perfeito para a família se recuperar de um trauma, apesar do misterioso desaparecimento de um oficial que prestava serviços por lá. Tempo depois, o corpo de uma idosa é encontrado na montanha. A família Goto – dona da maior parte da vila – diz que foi um ataque de urso, mas Daigo percebe uma marca de mordida humana no corpo encontrado. Logo fica claro que nesse lugar nem tudo é o que parece.”


Quem acompanha o blog há algum tempo, sabe que esse definitivamente não é o tipo de série que eu comentaria aqui. Desde que eu assisto doramas e produções em live-action asiáticas (fim de 2019), nunca assisti nada que não fosse BL. Resolvi assistir essa série em boa parte por causa do meu trabalho na MPEG. Como trabalho com marketing, tenho que saber do que se trata o material que irei divulgar, e como “Gannibal” é a série que só se fala em outra coisa, achei pertinente assistir, ainda mais que as pouquíssimas pessoas que vi comentando que assistiram, recomendaram ela.

E antes de começar os comentários, importante dizer que, embora eu tenha visto o episódio de estreia para fins de trabalho, se a série fosse ruim, eu estaria criticando normalmente. Meu trabalho na editora em nada infere com o que faço aqui no blog. Serei eu sendo sincero, como de costume ^^.

Agora sim falando da série, o que achei? Foi uma ótima estreia, com texto, atuação e direção muito boas! O que posso colocar é que já nos primeiros minutos da série, a direção consegue estabelecer um ambiente estranho, um bocado hostil, com uma iluminação que utiliza um filtro saturado, causando estranhamento, incômodo e um leve mal-estar, que é estupendo. O primeiro minuto não tem diálogo e desde ali já é deixado claro que algo não está certo. Não demora muito a partir dali para vermos o policial Kano, que está entrando em uma residência gritando e não sendo nem um pouco condizente com os protocolos. É algo meio absurdo, um tanto exagerado e escrachado, mas que não só combina de certa maneira, como faz mais sentido ele estar agindo daquela forma no decorrer do episódio.

Passada essa introdução é que de fato entram os protagonistas da história: Daigo, o novo policial da cidade, Yuki, a esposa dele, e a Mashiro, a filha do casal. A família chega na cidade e rapidamente são abraçadas pelos nativos dali. Todo o clima inicial é para cima, com eles sendo muito receptivos, se dispondo, inclusive, para ajudar na mudança do Daigo e de sua família. Fazem um tour pela cidade, lhes oferecem comida, sempre com sorrisos no rosto. É tudo tão alegre, que naturalmente você desconfia e não demora para que todo esse ar positivo derreta e dê espaço para tensão e mais tensão.

Enquanto Daigo estava tendo seu tour, encontram uma senhora morta no meio da floresta. Essa senhora é da família Goto, que é uma das famílias mais tradicionais dali. Tudo inicialmente se mostra como parecendo um ataque de urso, no entanto, não parece ser meramente isso. O corpo está dilacerado, o que a certa altura, comprova a suspeita. Entretanto há uma marca de mordida que são de dentes humanos, o que levanta suspeita do Daigo. A indagação dele causa revolta e os membros da família da idosa alegam se sentirem ofendidos por pensarem ser uma alegação de maus-tratos à senhora. Mas será só isso? A reação tremendamente exagerada parece esconder algo por de trás, especialmente no andamento do episódio. Fato é que a partir daqui, todo aquele clima desmancha e nunca mais volta. Embora tenhamos algumas passagens de calmaria, não chega nem perto de toda a alegria propiciada pela receptividade das pessoas da cidade.


A série tem um ambiente excelente e até tradicional para quem assiste muito filme de terror. A vila pacata, poucos habitantes, um grupo de amigos ou família se muda… Tudo muito “clichê”, o que para mim, desde que seja feito de forma decente, é sempre bem-vindo. O que me faz gostar desse cenário em particular é que você não sabe exatamente de onde o perigo vem. Se sabe que há canibais naquela cidade. Os personagens principais não sabem disso. Há um homem bizarro na floresta que com certeza é uma dessas pessoas, mas quem é ele? A família da idosa que morreu no começo do episódio é muito suspeita, mas isso representa algo? Há tradições naquela região, mas elas têm alguma ligação direta com os que realmente cometem canibalismo? São tantas perguntas que, mesmo o público sabendo que há pessoas que comem humanos (e que estão dispostas a matar pessoas para isso), o espectador se sente tão perdido quanto os personagens principais da série, porque há várias pistas sendo colocadas, sejam elas para o público ou para os personagens pegarem. Como tudo é muito disperso, há várias linhas de possibilidades sendo criadas que todos parecem suspeitos.

“Fuja”

Trabalho fenomenal da direção que sabe como criar esses momentos de apreensão e de introduzir essas pistas de maneira muito natural para os personagens e para o público. Essas dicas são jogadas nesse imenso ar de mistério que sempre te deixa apreensivo, especialmente quando pessoas estão comendo carne. A direção gosta de mostrar os pratos, pessoas segurando comida e bebendo. Reparem nos cachorros ao longo do episódio também.


Eu li o 1º capítulo do mangá (que é a obra original) e o primeiro episódio da série adapta esse capítulo em 30 minutos. O mangá é bem mais ágil e frenético do que na série, o que combina para a mídia, porque o mangá precisa te prender mais rapidamente. Os eventos ocorrem com maior agilidade e todo o ambiente de tensão que, na série é desenvolvido aos poucos, no mangá é estabelecido nas primeiros páginas e que escala rapidamente ao longo do capítulo. O autor não deixa a peteca cair e fico curioso para saber o que ele vai fazer ao longo de 13 volumes.

Na série, o ritmo é diferente, mas eu gosto bastante da maneira que foi feita. O diretor remontou toda a estrutura desse começo do mangá e foi dando volume, preenchendo algumas lacunas que existem no inicio do mangá. Montaram uma introdução com o policial, estabeleceram algumas relações entre personagens, realocaram algumas informações… Todas mudanças que tornaram o conteúdo mais rico. Mangá e a série são mídias diferentes, e ambas funcionam perfeitamente dentro daquilo que estão se mostrando. Cada uma adotou uma postura e filosofia diferente e as duas acertam muito bem na maneira que discorreram. Não sei como nenhuma delas seguirá, no entanto, seja pela série, seja pelo mangá, no momento estou recomendando.

E no que tange produção e atuação, acho que está tudo muito bem. Os efeitos da série alternam entre MUITO BONS (como os órgãos do urso) e “ok, isso está estranho” (como um certo dedo), mas nada muito bizarro ao ponto de não passar. Cria uma média boa, apesar da discrepância entre algumas partes. Os personagens por enquanto não precisaram entregar além do necessário, mas o Daigo, interpretado pelo Yagira Yûya, está particularmente ótimo. A Mashiro, interpretada pela Kokone Shimizu, tem um ar de mistério maravilhoso. A personagem não fala, mas ela por si só consegue dar um tom sombrio e de incógnita que é muito bom. O grande destaque no momento, ao meu ver, vai para a direção que consegue criar excelentes momentos de tensão e te prende logo no começo do episódio. Estou animado para saber o que vai acontecer daqui para frente e torcendo para o roteiro não desandar.

Um ator lindo, diga-se de passagem

Optei por não falar muito do miolo do episódio, porque parte da graça é descobrir os mistérios da série ao longo do episódio. Gostei da estreia e no momento, recomendo bastante. Pelo que vi, serão 7 episódios ao todo. O mangá original chega ao Brasil em Maio/2023.

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