Um título muito denso, tocante e que te traz a sensação de esperança ^^.

Um título muito denso, tocante e que te traz a sensação de esperança ^^.

No dia 14 de dezembro de 2018, uma informação foi dada: a editora NewPOP faria 3 anúncios no dia seguinte ao Ressaca Friends. Chegado o dia, dentre os títulos anunciados, lá estava “My Lesbian Experience With Loneliness”, obra aclamada pela crítica e que acabou sendo o título mais comemorado pelos fãs (na ocasião, também foram anunciados “Zero no Tsukaima” e “Fireworks”). O tempo passou e em meados de 2019 a editora deu uma previsão de lançamento para a obra, que viria a ser publicada com o título de “Minha Experiência Lésbica com a Solidão”. Chegado o tão aguardado mês do lançamento da obra, adquiri o título assim que foi possível. Demorou um pouco, mas cá estou para comentar um pouco desse título ^^. No momento que estou começando a fazer esse post (às quase 18 horas do dia 14 de janeiro), eu sinto que não absorvi tudo que “Minha Experiência Lésbica com a Solidão” me contou, porém vou me esforçar. Então vamos falar desse título que é de extrema importância.

  • História e Desenvolvimento:

Falar desse título não será fácil, pois quanto menos detalhes você souber, melhor será sua experiência ao ler a obra. Pensando nisso, eu vou tentar comentar sobre a obra apenas por cima, sem revelar muitos aspectos e destacando apenas alguns pontos que me chamaram a atenção e que eu me identifiquei bastante.

Como eu imagino que vocês devam saber, o título é extremamente realista, vide que é uma autobiográfica que contará a vida da Kabi Nagata, autora da obra. É importante ressaltar que a obra lida com assuntos delicados tais quais depressão, Transtorno de Compulsão Alimentícia Periódica (TCAP) e auto mutilação. Caso você esteja passando por questões como essa e/ou ache que elas agirão como gatilho para você, não recomendamos de imediato a leitura da obra.

A obra trará um período específico da vida da autora, trabalhando com um intervalo de 10 anos da vida dela, em que ela se encontrava com diversos problemas sérios, que muitas vezes ela sequer podia perceber que os tinha. Acompanhamos a autora no decorrer desse tempo, enquanto ela assimila coisas, entende outras e luta contra tudo isso na solidão, no qual ela estava “sozinha”, ainda que tivesse pessoas ao seu redor.

Os problemas da autora começam no final do ensino médio, quando ela perde aquilo que ela chama de “lugar que pertenço”, onde ela tinha amigas e uma rotina para seguir. Isso é retratado logo nas primeiras páginas do volume e eu acredito que essa possa ser a realidade de muitas pessoas. Enquanto estamos na escola, nós seguimos uma rotina e, pelo menos para mim, a escola me trouxe uma certa “despreocupação” com o futuro, seguindo assim durante os anos até chegar no último ano do EM (também conhecido como ano passado rs). Me trouxe um medo de dar um passo à diante. “O que vem à seguir?”, “O que vou fazer agora?”, “O que me aguarda depois daqui?”. Essas foram algumas das questões que passaram pela minha cabeça no decorrer do terceiro ano e apesar de eu saber o que queria fazer da minha vida (ou mais ou menos), sempre me dava (e ainda dá) um frio na barriga. Para a Kabi, sair da escola não foi exatamente assim, mas o “estar na escola e frequentar aquele ambiente todo dia”, era o que mantinha uma base, quando aquilo acabou e essa estrutura desmoronou, começando seus problemas dela.

Em consequência disso, ela desenvolve transtornos alimentares, como o TCAP (Transtorno de Compulsão Alimentícia Periódica) e depressão, o que gera mais problemas com a saúde dela. Os problemas com alimentos chegavam no âmbito de sentir culpa ao se alimentar. Um exemplo disso é que em razão do distúrbio que a faz querer comer a toda hora sem parar, ela não acha que merecia comer, pois pensava que isso era incômodo para quem estava ao seu redor, gerando uma agonia interna.


Um dos diversos pontos que a obra traz, é a auto mutilação. Acredito que você leitor, já deve ter se deparado com alguém dizendo, seja para você mesmo, ou para qualquer outra pessoa que quem se corta é idiota, que está fazendo drama, querendo atenção ou comentários desse gênero. Ou ainda, se você pensa assim. A Kabi Nagata talvez mude sua forma de pensar (assim eu espero). Ainda lá no começo da história, ela comenta como os machucados do coração são difíceis de entender/processar, porque eles não são visíveis, mas os machucados feitos na pele, são palpáveis, sendo assim, mais fáceis de entender e que trazem uma certa tranquilidade para a pessoa por ela conseguir ver e assimilar a situação.


Alguns dos problemas da Kabi estão associados a ela querer passar uma imagem daquilo que ela não é. Essa “necessidade” de representar essa imagem está relacionada aos seus pais. Ela diz que eles representam uma figura absoluta, então a aprovação e o reconhecimento por parte deles é uma coisa fundamental para ela. Eu “sei como é isso”. Já fiz muita coisa, ou me esforcei e me forcei a muita coisa para agradar aos meus pais, ou quem está a minha volta. Geralmente eu não conseguia aquilo que eu queria (ou não tanto quanto) e me sentia bem mal por isso. Acabou gerando medo de decepcionar quem está ao meu redor, quem faz parte do meu âmbito social, seja na escola, em casa ou com amigos.

Voltando à Kabi e seus pais, eu entendo que certos comentários deles ditos para ela, não são intencionais, mas por diversas vezes eles mais atrapalham do que ajudam. Em algumas situações, a Kabi tenta ajudar eles de algum modo e eles acabam recusando. O ato de ajudar os pais para ela, era como uma auto-ajuda e se eles rejeitarem essa ajuda, volta a despertar sensações ruins nela.

Em outros momentos, os pais dela acabam soltando falas que não ajudam em nada! Um exemplo é quando a Kabi está trabalhando e a mãe dela chega e diz “Mas é só um bico!”, porque para a mãe dela, o bico não tem valor de trabalho. O que tem valor é um emprego com carteira assinada. Esse tipo de dizeres não ajuda em nada. Pelo contrário, agrava ainda mais uma situação. Diversas vezes, os pais dela me passam sensação de que eles não tem noção dos problemas dela, por isso dizem essas coisas.


O tempo vai passando até que ela “percebe” a situação que se encontra e revolta-se com isso, Nessa situação que ela resolve tomar uma iniciativa. A motivação inicial dela acaba sendo um pouco peculiar, eu diria *risos*.

A partir dessa decisão dela, ela volta a “se mexer”. Aos poucos ela vai trabalhando algumas coisas e consegue reestabelecer uma rotina, se alimentar direito, dormir e acordar nos momentos certos e volta a procurar um emprego. No fim do relato sobre a procura por emprego, tem uma cena bem legal que acontece na última entrevista que ela vai. Não vou dizer o que é, mas saibam que ela vai ouvir, será a força motriz dela por um tempo e que vai servir como motivação para ela. Não dura para sempre essa motivação, mas não deixa de ser uma cena muito legal e bonitinha :).


A Kabi passa a procurar em livros e sites alguma pista para descobrir a fonte de todo esse sofrimento que ela sente, bem como alguma sola para isso. Uma coisa que acho legal nessa busca dela e que quando ela cita uma frase de um livro X, ou alguma matéria de site Y se tem uma nota comentando qual era essa matéria, ou o livro que ela está falando, isso é muito legal e me deixou curioso para procurar completo. Tem um trecho de um texto em específico que eu confesso ter ficado deveras chocado, porque eu não sabia que aquilo existia/acontecia (essa parte do texto em questão aparece na página 45), me fez pensar em algumas situações da minha vida, mas isso não convém.

É nessa busca que ela acaba fazendo uma relação aqui e ali, até que chegar no pensamento de que ela quer entender seus sentimentos e que queria se “investigar”, como uma forma de procurar algo que está oculto. Ela não tem coragem de pensar e assim que chega na questão da sexualidade dela. A Kabi Nagata não queria pensar nisso, porque envolvia questões ligadas aos seus pais serem absolutos. Então a questão do sexo era um tabu. Relacionando comigo, eu até entendo um pouco desse aspecto, na minha família. “Sexo” era como um tabu e não era um assunto que meus pais falavam. Então falar de sexo (literalmente qualquer coisa que tenha a palavra “sexo”) era algo que me deixava com vergonha. Ainda atualmente é, mas com menor intensidade do que no passado *risos*.

Ao ver que talvez a questão principal era a sexualidade, serviu como uma nova força motriz para a Kabi. Como eu posso dizer…no momento que ela resolve “abandonar o absolutismo” dos pais dela, é quando decidi que vai tentar encarar a questão da sua sexualidade. Eu diria que esse é um ponto de virada. É realmente a partir dali que ela vai entender melhor as coisas sobre ela e sobre se conectar com as pessoas.

Daqui para frente na história seria spoiler demais, então eu vou parar por aqui, afinal minha função aqui é apenas instigar vocês a comprarem e lerem a obra. Espero conseguir convencer vocês ^^.

Uma das últimas coisas que queria falar é sobre o desenho da autora. Eu acho lindo, sim. É simples, o que pode ser empecilho para alguns, mas eu amo o desenho dela. Lendo a obra, o traço é extremamente expressivo. A autora consegue passar diversas emoções com seus desenhos. A cena bonita lá na entrevista da Kabi é um bom exemplo disso. Eu acho bonito aquela cena bonita mais por causa do desenho dela. O que o entrevistador diz para ela, pela cara dele, dá para ver como parece sincero. É difícil de explicar e só lendo para saber (ou não, vai que vocês não sentem isso…).

O leve tom de comédia da obra. Eu gosto dele e acredito que ele dê uma característica própria para a obra que não a torna algo mais pesado do que já é. O traço mais chibi/cartunesco da obra também ajuda nesse aspecto. Eu dou risadas com algumas das situações que autora viveu. Por outro lado, vi muitos que não conseguiram dar uma risada com a obra, então acho que irá muito do seu sensor de humor.


  • Conclusão:

“Minha Experiência Lésbica com a Solidão” é um título muito importante que trata de diversos assuntos muito delicados. É uma recomendação forte minha e foi um grande acerto da NewPOP em trazer essa obra para o nosso mercado. Pelo que parece, a obra está indo muito bem em suas vendas, então já quero sonhar com os outros títulos da autora sendo anunciados e publicados no futuro (que eu espero que não esteja tão distante). Aproveitando a oportunidade, eu queria pedir para você leitor e se alguém da NewPOP estiver lendo esse texto, acho legal vocês ficarem de olho na obra “My Father Abusing me a lot has Died at Last”. Algo que pode ser traduzido como “Meu Pai Abusivo Finalmente Morreu“. O mangá é de autoria de Arai Piroyo. A obra aparenta ser um mangá bem “semelhante” ao que “Minha Experiência Lésbica com a Solidão” se propõe a contar.

“My Father Abusing me a lot has Died at Last” conta a história real de uma pessoa que sofreu com a violência doméstica e sexual feitas pelo seu pai na sua infância, ela traz o impacto psicológico por causa dessa violência constante na infância. Se ficaram interessados na obra, por favor peçam por ela no Cantinho de Sugestões da editora ^^.

Por fim, acho que todos nós temos alguma coisa para aprender com “Minha Experiência Lésbica com a Solidão”, seja a compreender melhor como uma pessoa com depressão, “encarar” nossa sexualidade (porque é importante, não finjam que essa questão não existe, é MUITO pior), ou até mesmo, servir de motivação para procurar ajuda. E mais. Vou usar as palavras do Capitão Onigiri aqui, se você leu a obra e não conseguiu continuar, ou se você leu e se sentiu mal em algum momento, tente entender o porquê daquilo estar te fazendo mal. Tente entender os seus sentimentos. É difícil mexer com certos pensamentos. Eu sei muito bem disso, mas é uma coisa necessária para não gerar ainda mais problemas no futuro. Façam terapia se estiver com problema e se não tiver, melhor ainda. O ideal é fazer terapia quando se está BEM, para entender seus sentimentos e tentar os encarar. Assim, você não vai ficar mal com eles.


  • Ficha Técnica:
  • Nome original: さびしすぎてレズ風俗に行きましたレポ (Sabishisugite Lesbian Fuzoku Ni Ikimashita Report) 
  • Nome nacional: Minha Experiência Lésbica com a Solidão
  • Autora: Kabi Nagata
  • Serialização no Japão: Pixiv
  • Editora japonesa: East Press
  • Editora nacional: NewPOP
  • Data de lançamento no Japão: 17/06/2016
  • Data de lançamento nacional: dezembro de 2019
  • Formato: 15 x 21 cm
  • Miolo: papel offset 2 cores
  • Número de páginas: 144
  • Preço: 26,90