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O otakinho já está incomodado...

O otakinho já está incomodado…

E lá vou eu me aventurar em mais um anime que peguei para fazer comentários semanais, ou eu espero conseguir fazê-lo semanalmente rs. Eu ainda não terminei de comentar “Runway de Waratte”, anime da temporada passada que eu optei por fazer impressões semanais. No momento que esse post vai ao ar, falta apenas o episódio final de Runway para ser comentado. Não fiz antes por estar extremamente ocupado esses últimos dias. Tirando Runway e Arte, eu tenho mais 6 animes para fazer primeiras impressões, então está tudo bem corrido. Não só para mim, mas para o blog como um todo que vai ficar bem movimentado nesses dias. Mas enfim, vamos falar de Arte que foi uma das estreias que mais me agradaram até agora :).

Sinopse: “Nascida de uma família rica, Arte tem uma paixão pela arte. Após a morte de seu pai, ela é confrontada com duas escolhas: Largar sua maior paixão, conseguindo um dote para que continuasse seu estilo de vida e casando com um nobre; Ou seguir seu sonho de ser uma artesã.”


Geralmente nesses posts de primeiras impressões, eu dou uma geral na minha expectativa com relação a ele e conto “minha história” com o anime. No caso, minha história com Arte é bem simples. Eu conheci a obra inicialmente por causa de uma editora francesa, a Komikku, que publica a obra na França. Salvo engano, na época que vi a postagem da editora falando sobre o mangá, eles iam publicar o oitavo ou nono volume, achei a capa linda. Pouco tempo depois, eu vi a capa do volume 12 que seria lançado em breve no Japão. Fui pesquisar sobre a obra e descobri sobre o que se tratava. Pouco tempo depois, vi que a obra receberia uma adaptação para anime na Temporada de Primavera, e pensei: “Essa é minha hype e aclamação da próxima temporada”. E cá eu estou para primeiras impressões. E impressões semanais desse anime.

Vocês devem ter reparado, mas os animes que eu decido comentar semanalmente vão ser bem “fora da curva”. Enquanto todo mundo vai estar olhando para os mais populares da temporada, eu provavelmente estarei com os mais “esquecidos” que geralmente é o tipo de anime que meus olhos se atraem. Podem dar poucas views, mas eu vou dar palco SIM, para esses animes haha. Enfim, já falei demais aqui, vamos falar de Arte.


Eu começo dizendo que AMEI Arte! O que ele apresentou nesse episódio foi algo maravilhoso. Adorei cada pedacinho do episódio e vamos destrinchar o porquê. O anime se passa no século XVI, época da Renascença. Não precisamos conhecer muito de história para sabermos um pouco de como era aquela sociedade. O Renascimento já havia começado, com isso, se teve o desenvolvimento de diversos tipos de ferramentas; a criação de grandes embarcações; efervescência cultural; o aprimoramento de técnicas de arte e diversas outras coisas. O Clero ainda tinha grande influência (têm até hoje, falemos a verdade), e em meio a tudo isso estava a mulher. Para elas, as coisas não tinham mudado de grande forma. Continuava tendo sua figura associada à bruxaria, ainda era a mulher de casa que cuidava dos filhos, enquanto o homem era quem trabalhava.

Nesse contexto que Arte nos contará a história de… Arte, nossa protagonista. Antes de começar a série de elogios, eu quero ressaltar um ponto que o Rub comentou durante o episódio. Eles falam DEMAIS a palavra “arte”, tanto como forma de substantivo, como sendo o nome da protagonista, tudo graças a uma coincidência linguística. Pode ser irritante para alguns. Para mim, eu acabei não me importando muito, pois eu estava maravilhado com o que eu estava assistindo. Todavia, acredito que alguns dos usos da palavra poderiam ter sido facilmente trocados, em um dado momento. A Arte diz algo como: “… Materiais para produzir arte.”. Nesse caso, eu acho poderiam ter usado um sinônimo. O problema é que “arte”, é mais abrangente no que pode ser produzido, mas enfim, vamos ao roteiro e o que trouxe.

“Arte”, por esse primeiro episódio, irá trazer discussões bem interessantes sobre as normas da sociedade, o papel do gênero nela, o machismo, bem como o feminismo. A “cena inicial” mostra bem em como a mãe dela está fortemente inserida nas normas daquela sociedade, valorizando as tradições e destruindo o que é importante para a filha dela, em “prol do futuro” da garota. Eu gosto de como eles começam a apresentar a sociedade, começando com dentro de casa, para depois começar a mostrar o exterior. Uma cena que gosto bastante nesse início, é quando a mãe dela diz que o dote deles não é tão bom/alto, então o que resta fazer é deixar a Arte aos agrados do futuro pretendente.

Outra cena que é bem rápida, é quando ela está desenhando na janela. A postura dela, o jeito que ela estava sentada, indo contra as normas de “seja comportada e recatada”. E mais para frente ela corta o cabelo sem exitar. O cabelo que é tido como símbolo de ser feminina, que naquela época era bem valorizado, sendo usado até de inspiração para pintores. Esse corte de cabelo, também traz a própria cultura do período histórico.

Prosseguindo, a Arte vai até a cidade procurar um local para trabalhar. E ali que fica maior evidenciado como a mulher é vista naquele contexto social. A oficina de artesão não é lugar para mulher. Na verdade, QUALQUER lugar que não seja ficar em casa e cuidar de filhos, não é um local para a mulher. Alguns dos artesãos chegam a considerar ofensa ela querer entrar na oficina, ela é agredida e empurrada no chão. Nisso vem a cena dela cortando os cabelos e mais uma vez, ela querer abandonar o papel dela como mulher para ser homem, pensando até em cortar os seios. Eu acho isso muito interessante. Se ser mulher é o “problema”, ela está disposta a abandonar tudo para conseguir fazer o que ela deseja.

Os eventos seguintes são o Leo “”aceitando”” ela como aprendiz. Ele foi um sacana na verdade. Ele colocou uma tarefa pesada de propósito porque achou que uma mulher não iria conseguir fazer (se fodeu otário). Ele não é tão ruim quantos outros, mas faz parte do mesmo lixo. A diferença é que, como a própria Arte disse, ele ao menos olhou para o trabalho dela seriamente. Mas novamente ele se mostra um filho da puta, colocando ela para passar a noite/viver em um local precário, no pensamento de: “Ela é uma mulher, não vai aguentar passar por tudo”. O que gosto na personagem é ela enfrenta as coisas, tenta, tenta, tenta de novo, tudo para conseguir fazer arte.

Uma coisa legal também é a Arte desacatando a mãe dela, indo de frente. Determinada a ir para o ateliê, não importa como. Ao meu ver, ela renuncia a família dela, e como a mesma diz, é melhor se arrepender tentando fazer o que gosta, do que se arrepender por não fazê-lo. Maravilhosa ela.

Eu gosto bastante dos momentos cômicos do anime. Tem dois momentos muito bem colocados ali, uma na cena inicial com a mãe dela queimando seus desenhos. E a segunda é ali no final do episódio, me trouxe o sentimento que tenho com a comédia de “Runway de Waratte”, muito bem encaixada.


Passando para aspectos técnicos, a produção é precária. Porém, consegue se manter nesse episódio. Tem muitos quadros estáticos, mas não vejo como um problema, ainda mais que eles conseguem manter esses quadros com uma qualidade decente. O que acaba pesando é a na hora de ambientar a cidade. Como a produção é limitada, eles não conseguem ambientar e trazer toda a riqueza do local para a tela. Gostaria de uma produção melhor para o anime, porque ele merece, mas é o que temos para hoje.

A direção é competente, mas eu dou destaque para um nome nessa staff: Reiko Yoshida. Uma mulher que está à cargo da composição de série do anime. O anime não poderia estar em mãos melhores!!! Ela é compositora de série de obras como “Koe no Katachi”, “Hakumei to Mikochi”, “Liz to Aoi Tori”, “Kimi to, Nami ni Noretara”, entre vários outras obras. Fiquei muito feliz de saber que ao menos a composição do roteiro está em ÓTIMAS mãos ^^.


Em considerações finais, eu lanço a pergunta: “ARTE é clichê?”. Sim, bastante parando para pensar. Mas acredito muito que ele vai saber como trabalhar esse clichê. A ideia de correr atrás dos seus sonhos e superar os desafios que aparecerem no caminho, é algo bem batido. Runway usa muito disso, mas tanto ARTE como Runway, conseguem trazer ideias bem interessantes em cima desses clichês.

Com ARTE, só de você ter uma mulher, no século XIV, enfrentando a sociedade e indo contra TUDO que ela tem como o papel da mulher, já é algo louvável e eu estou MUITO ansioso para o que virá nos próximos episódios.

Lembram-se da editora que mencionei lá no começo? No dia Internacional da Mulher, a editora fez uma postagem no Instagram e nela, eles mencionava ARTE. A descrição dada foi algo que gostei bastante. Fiquem com o trecho:

ARTE, de Kei Ookubo.

A heroína nos seduz em todos os pontos pela sua determinação em se tornar uma mulher que vive da sua arte em uma época que isso era inconcebível. A história feminista de uma jovem motivada, talentosa, corajosa, que procura fazer reconhecerem os seus direitos, que age em vez de reclamar, que nunca desiste.

Eu adorei a fala da editora. A postagem original está linkada no parágrafo acima.


Passando para uma outra coisa. ARTE acabou causando uma revolta no meio otaku, pelo simples fato do anime levantar a bandeira feminista. Vi muitos acusando o anime de ser maniqueísta, dizendo até que o anime reduz a mentalidade do homem para apenas sexo… Vamos lá, o anime é feminista? SIM. Mas (ao menos por enquanto), ele passou MUITO longe daquilo que falaram dele! No contexto que o anime se passa, os homens são daquele jeito SIM! As mulheres não tem direitos, elas não tem voz, isso foi uma realidade e durante MUITO tempo isso não mudou. As mulheres começaram a ter voz muito mais recentemente.

O anime trabalha como os homens daquela forma, e agiam na época. “Reduz a mentalidade deles para apenas sexo.”, e tá errado? A figura mulher era tida como “instrumento” de reprodução e prazer do homem. Tinha que ser submissa, cuidar da casa, gerar descendentes e cuidar deles. Era essa a vida dela e acabou. Sem mas! Além disso, ela ainda corria o risco constante de ser tachada como bruxa, ser torturada e morta. Vou pegar um trecho de um trabalho feito na UNIFAL – MG (Universidade Federal de Alfenas, Minas Gerais), para ilustrar um pouco sobre como era a mulher nesse século.

CAPÍTULO I – A SITUAÇÃO DA MULHER NA EUROPA MODERNA

A criação de um padrão da mulher perfeita resultou nas
formas de controle daquelas que eram consideradas
desordeiras e subversivas. Estas eram levadas aos conventos
para treinamento religioso e para que pudessem ser
controladas e impedidas de pensar e de idolatrar figuras mal
vistas, como Joana d’Arc, mulher que desafiava a sociedade
com sua posição de dominadora, algo assustador para os
religiosos, pois iam contra o ensinamento que as mulheres
“comuns” recebiam: devem ser submissas aos homens e eles
devem sempre estar em posição dominante.
A mulher era incapaz de ocupar papéis importantes na
sociedade por sua instabilidade mental e por não serem
consideradas capacitadas como os homens eram. Os homens
eram possuidores da força e da determinação de líderes, coisa
que as mulheres não possuíam em sua formação biológica.
Elas passaram a ser cada vez mais excluídas do ambiente de trabalho, muitas delas abandonavam os negócios familiares por falta de espaço.

E mesmo agora, ainda estamos MUITO LONGE DE UM PATAMAR DE IGUALDADE! Mas ter uma mulher levantando e dizendo o que quer fazer, mexe com o ego do jovem otaku (adendo: não estou dizendo que são todos), assim como mexe com os homens que aparecem no anime. E outra, a mentalidade do homem não é apenas sexo, mas a figura feminina é CONSTANTEMENTE sexualizada na mídia das animações. E na hora que alguém, seja homem ou mulher, reclama disso, o otaku vai e reclama dizendo que era politicamente correto, que não pode, essa geração MIMIMI. A hipocrisia veio totalmente! Por fim, se temos muitos estereótipos para a figura feminina, ou outros que são vistos como algo bom para o homem, mas quando passam para a mulher, se torna algo ruim (EX: homem pode ser “pegador”, mulher se faz o mesmo é puta, vadia). Então porque ARTE não poderia reduzir homens?

Já tinha decidido fazer impressões semanais de ARTE antes do anime fazer sua estreia, agora mais ainda!!! Vou dar palco para ARTE e o seu final! Nos vemos na próxima semana ^^.

O @rubnesio fez um outro post em que “ARTE” está envolvido, recomendo a leitura :).

Belíssima e continue afrontando!
Eu ri haha.
CERTÍSSIMA!