“Doukyusei” (同級生) é um mangá escrito e ilustrado pela Asumiko Nakamura. A obra foi anunciada no Brasil pela JBC em Julho de 2022, na ocasião do Anime Friends daquele ano. O mangá começou a ser lançado pela editora cerca de um ano depois, em meados de Julho de 2023. A editora lançou 5 volumes até o momento. Eu adquiri meu volume #1 em pré-venda e fui lê-lo só em Junho de 2024 (época em que estou escrevendo esse post), sendo o mangá um dos selecionados para ser resenhado durante o mês de Agosto/2024, mês o qual o blog está completando seu 5º aniversário ^^
Sinopse: “A comovente história de amor dos meninos que inspirou um filme de animação de sucesso. Hikaru sempre pensou que seu colega de classe Rihito era meio esnobe, até que ele se depara com Rihito praticando secretamente uma música em uma sala de aula vazia. Hikaru concorda em se tornar o professor de música de Rihito e, a cada aula, os dois meninos ficam mais próximos. Mas quando Hikaru percebe que está apaixonado por Rihito, eles continuarão sendo colegas de classe ou se tornarão algo mais?”
- História e Desenvolvimento
O mangá aqui no Brasil está sendo publicado em forma de série, mas na verdade, a obra nasceu como um volume único (chamado “Doukyusei” e que aqui foi traduzido para “Colegas de Classe”) e com o passar dos anos, foi recebendo uma série de continuações, passando por todo a vida colegial dos personagens até chegar na vida adulta e casório dos personagens principais. A série é composta por:
- Colegas de Classe (volume 1);
- Formandos (volumes 2 e 3);
- Sora & Hara (volume 4 [spin-off da série]);
- Jovens Adultos (volumes 5 e 6);
- blanc (volumes 7 e 8);
A obra ainda está em andamento no Japão e o volume mais recente da série é “home”, que deve vir a ser o 9º volume do mangá no Brasil. A autora está publicando mais um spin-off atualmente intitulado “Sajou Rihito no Chichi to Sono Buka“, focado no pai do Sajou e que ainda não se sabe quantos volumes terá ao total.
Isso posto, podemos falar do volume 1 agora. Sendo claro, a história não tem muitos segredos: são dois estudantes que estão na mesma sala, um com o tradicional perfil delinquente (Kusakabe) e o outro com o também perfil tradicional de estudante modelo (Sajou). Os dois acabam tendo contato por uma coincidência, que no caso, é uma apresentação musical que a escola está organizando e o Kusakabe pega o Sajou treinando a letra da música e se oferece para ajudá-lo com isso, eles se aproximam e o romance começa a surgir entre eles.
Considerando que essa história foi pensada para ser um volume único, é muito comum que nesse tipo de caso, as coisas precisem ser corridas pelo espaço curto de tempo. Alguns autores passam um volume inteiro sem conseguir dar química para um casal, ou mesmo séries longas que não conseguem ou demoram até conseguir esse feito, mas é impressionante que com 30 páginas, literalmente 30 páginas, a autora consegue te convencer da paixão do Kusakabe pelo Sajou e com 60 páginas, eles praticamente já se entenderam romanticamente! É um espaço de tempo muito curto, que passa muito rápido e, no entanto, parece ter muito mais conteúdo do que a quantidade de páginas pode aparentar. São páginas com espaços muito bem usados e não é como se tivesse uma enorme quantidade de texto – embora sim, algumas páginas sejam mais carregadas – são páginas que fluem muito bem, as vezes com 2 balões de fala, páginas inteiras só com desenho.
É um amor que surge de pequenas coisas, pequenos detalhes e quando você menos espera, pimba, está lá, está acontecendo e é absolutamente envolvente! O volume segue mais ou menos entre encontros e desencontros entre os personagens (não necessariamente físicos) e que eles resolvem pelo diálogo. Existe um problema, esse problema acaba respingando, eles ficam chateados, com raiva, brigam, mas logo que em sequência ou mesmo durante o ato, eles já se arrependem e tentam consertar a merda que fizeram. É um relacionamento bem adolescente, com eles fazendo burradas e se arrependendo por isso.
O Sajou acaba sendo muito ansioso, sempre se preocupando com coisas de muito lá na frente ou mesmo coisas que não existem, o que por vezes acaba sendo um limitante ou algo que “o segura”, acabo me identificando bastante com ele, aliás. Enquanto que o Kusakabe é muito mais impulsivo, com aquele ar rebelde, um “rebelde” de um jeito gostoso, de que aproveita bem a vida e no entanto, acaba perdido no que quer, ele até diz que não definiu o que quer da vida e que ele pode se arrepender depois, mas ele não pensa muito nisso e de certa forma, está tudo certo para ele. Forma um contraste clássico, mas bem legal entre os dois ^^
Tem um personagem na história que aqui não é tão importante, mas fica sondando os personagens que é o Hara, professor do Sajou e do Kusakabe e que é homossexual. Uma parcela do público não gosta dele, especialmente por causa da história que será contada em “Sora & Hara”, spin-off protagonizado por ele, mas tenho que dizer que achei um personagem muito curioso. A autora dedica para ele um capítulo nesse volume e o que ela apresentou para o personagem é bem interessante, genuinamente interessante. Ele é um homem gay de 35 anos, que não teve relacionamentos e é uma pessoa muito sóbria sobre a realidade que vive. A autora até brinca com isso e coloca diálogos em que ele não mistura profissional com pessoal, não fica de olho nos alunos e que na escola basicamente você tem gente burra ou feia, ou os dois. Porém, o Sajou acaba sendo uma pessoa diferente de todos o que atrai os olhos dele, mas mais no sentido de “Vou esperar ele se formar e aí quem sabe…”.
As pessoas acabam não gostando do personagem por ser aluno professor x aluno, mas acaba nem chegando perto disso nessa história, pois sequer tem espaço para o professor cogitar intervir. Ainda que eu não goste desse tipo de história normalmente – depende muito da forma e o propósito narrativo – aqui eu gostei do tom do personagem, que é uma pessoa mais velha, que não teve oportunidade de se relacionar com ninguém e vê num gesto de gentileza, um carinho que ele nunca teve até então com alguém do mesmo sexo. Até fiquei curioso para (re)ver como será em “Sora & Hara”, já que faz muito tempo que li.
Agora, algo que muito me impressionou enquanto lia esse primeiro volume de “Doukyusei” é o quão jovem ele parece. Esse volume começou a ser publicado no Japão em 2007 e o impresso foi sair em 2007, ou seja, já estamos quase no seu 20º aniversário e no entanto, ele parece ter sido lançado ontem! Tem materiais que são profundamente reflexo de sua época, dando uma impressão mais “retrô” quando lidos anos mais tarde, outros envelhecem mal mesmo e outros ficam completamente esquecidos pelo tempo (ainda mais considerando a quantidade de obras que saem no Japão anualmente), mas “Doukyusei” não só resiste ao tempo como toda vez que revisito essa história, seja no filme animado ou no mangá mesmo, a história parece ter vindo de uma publicação muito recente. A Asumiko Nakamura é uma mangaka muito potente em vários sentidos e logo no seu primeiro BL (coisa que eu não sabia, fui descobrir lendo o posfácio do volume) ela conseguiu criar uma história que eu arrisco dizer ser atemporal. Um feito realmente impressionante e merecido, dado o espetáculo que é a mangaka.
- Arte
A arte da Asumiko Nakamura é muito notável! Ela da distorção do próprio design de personagens para passar movimento e o próprio estilo dela é não dar formas perfeitas aos corpos dos personagens e fazer eles de uma forma mais “molenga” e até mais simplificada das extremidades dos corpos (mãos, braços e pernas). O resultado é uma composição excelente, com páginas absolutamente lindas, seja nesse modelo mais “”largado”” (em que ela deforma o design e o corpo dos personagens) como nos momentos em que ela carrega nos detalhes dos designs.
- A Autora
Asumiko Nakamura nasceu em Kanagawa, em 1979 e está publicando há quase 25 anos. Ela começa sua carreira em 2000 lançando a história “Coffee Satouri Koisuru Madobe“. Em 2002, ela publica contos curtos na revista Manga Erotics F, da editora Ohta Shuppan. Por ser uma revista com menos apelo comercial, ela dava maior liberdade a seus autores, o que foi muito importante para a autora explorar temas diversos como luxúria, sexo, amor proibido… Essas histórias foram reunidas no volume “Toriniku Kurabu“. Ainda 2002, na mesma revista, ela começa sua primeira série: “Coponicus no Kokyuu“. O mangá foi publicado entre 2002 e 2003 e foi concluído em 2 volumes. Em 2004, ainda na Manga Erotics F, ela lança “J no Subete“, um dos seus trabalhos mais emblemáticos, e completo em 3 volumes. Em 2006 ela começa “Doukyusei” na revista OPERA, da Akaneshinsha. Embora “J no Subete” e “Coponicus no Kokyuu” sejam obras que explorem homossexualidade, eles foram publicados numa revista que é mais generalista, sendo uma revista Seinen. “Doukyusei” é, portanto, o primeiro trabalho dela a ser publicado em uma revista BL e seu maior sucesso até hoje. Devido a popularidade, o mangá ganhou continuações: “Formandos” (2008-2009), “Sora & Hara” (2009-2011), “Jovens Adultos” (2012-2013), “blanc” (2018-2020), “home” (2020-2022) e “Sajou Rihito no Chichi to Sono Buka” (2022-).
Em 2006, ela também começou a adaptação em mangá de “Nokemono to Hanayome“, um trabalho escrito por Kunihiko Ikuhara (Sarazanmai; Utena) e que se tornou seu mangá mais longo até hoje, com um total de 8 volumes (em 2022 o mangá ganhou uma reedição em 4 volumes). Foi publicado na revista Kera, da editora Index Communication. Em 2008 ela retorna para a revista Manga Erotics F para lançar “Utsubora“, mangá Seinen de 2 volumes e com ele, a autora ganhou o Prêmio Eisner em 2014. No mesmo ano da estreia de “Utsubora”, ela publica o BL “Kaori no Keishou” na revista BE x BOY (Libre Shuppan), sendo completo em 2 volumes. Há muitos outros trabalhos, mas destaco outros 2: “Oukoku Monogatari“, um Seinen de fantasia publicado na Ultra Jump (Shueisha) desde 2017, está em andamento com 5 volumes; e “Mejirobana no Saku“, um Josei Yuri publicado também desde 2017 na revista Rakuen Le Paradis (Hakusensha), está em andamento com 4 volumes.
A Asumiko Nakamura sempre foi marcada pela experimentação, desde o começo e até hoje, isso é refletido tanto pelas temáticas que ela aborda em seus mangás, como também na sua própria arte ^^
- A edição nacional
A série “Doukyusei” está sendo lançada no Brasil pela JBC no formato 12,8 x 18,2 cm, capa cartonada fosca com orelhas. O mangá é impresso no papel Pólen Bold 90g e tem uma página página colorida impressa no mesmo papel. O volume 1 tem 184 páginas e preço de R$ 40,90. Abaixo, vocês podem ver um vídeo mostrando a edição nacional em detalhes:
Um breve comentário sobre a tradução: essa em particular, eu achei tão boa! Gostei bastante do texto e das adaptações que fizeram no texto, ficou muito melhor do que a tradução/adaptação de “Cherry Magic”, que eu não gostei (explico melhor no link que coloquei).
- Conclusão
“Doukyusei” me soa, pelo menos nesse primeiro volume, como daqueles casos que não importa quanto tempo passe, a história permanecerá completamente intacta! É uma ótima pedida para leituras mais tranquilas, com um BL mais leve e uma arte para lá de linda! É uma série que está em andamento com 9 volumes já, eu particularmente não sei se iria continuar, meu plano inicial era ter só esse volume 1, mas depois que li, fiquei com uma vontade genuína de ter o restante. Ainda não decidi, mas acho que vale pegar esperando por promoções. Enfim, recomendo darem uma olhada ao menos nesse 1º tomo ^^
Fiquem de olho no blog, pois ao longo de todo o mês de Agosto/2024 (mês que o blog completa 5 anos), estaremos publicando resenhas diárias, bem como reviews de animes, posts de publicação pelo mundo e mais algumas coisinhas! Obrigado por lerem e até a próxima!
- Ficha Técnica
- Título original: Doukyusei (同級生)
- Título nacional: Doukyusei – Colegas de Classe
- Autora: Asumiko Nakamura
- Serialização no Japão: OPERA
- Editora japonesa: Akaneshinsha
- Editora nacional: JBC
- Quantidade de volumes: Volume único/Série em andamento com 9 volumes
- Formato: 12,8 x 18,2 cm
- Quantidade de páginas: 184
- Papel: Pólen Bold 90g
- Preço de capa: R$ 40,90
- Compre em: Amazon