A Temporada de Primavera está proporcionando descobertas variadas: animes com começo morno que melhoram depois, como “Kanpekisugite Kawaige ga Nai to Konyaku“, animes que começaram de forma interessante como “Kowloon Generic Romance“, animes que já se apresentaram excelentes desde o começo como “Anne Shirley” e temos “Gorilla no Kami”, que se apresentou extremamente divertido, juntando elementos “clássicos” do Shoujo de romance, ao mesmo tempo que traz um humor pastelão!
Sinopse: “Em um mundo onde indivíduos recebem bênçãos de vários deuses animais aos dezesseis anos, Sophia Reeler, filha de um conde tímido, recebe inesperadamente a bênção do ‘Deus Gorila’ — considerado o mais forte em combate. Embora anseie por uma vida escolar pacífica, sua habilidade rara e poderosa atrai a atenção dos Cavaleiros Reais, que a observam como aprendiz de cavaleira. Apesar de seus esforços para esconder sua força avassaladora, ela não consegue deixar de se destacar. Enquanto isso, os jovens cavaleiros promissores ao seu redor a observam com gentileza.”
Quando a adaptação em anime foi anunciada em setembro de 2024, lembro que fiquei fascinado pela sinopse e até foi algo que chamou atenção dos seguires do blog também, porque era uma enorme pataquada e poderia render uma farofa boa. Vendo aos dois primeiros episódios, posso dizer que ele não só cumpre bem a ideia de farofa, mas também é complementado por alguns acréscimos excelentes!
A protagonista, a Sophia, é uma estudante colegial, acho que dá para colocar assim, e neste mundo ao completar 16 anos, os estudantes são agraciados com uma bênção de um Deus animal. A Sophia já é vitima de algumas garotas da escola e tudo que ela mais deseja é uma vida pacata em que ela possa simplesmente não chamar atenção e para isso, ela deseja a todo custo que o Deus que a abençoe seja um que lhe conceda alguma habilidade não muito chamativa. Porém, contrariando todas as suas expectativas e para seu desespero completo, ela é abençoada pelo Deus Gorila. A reação da Sophia é de estranhamento, já que ela nunca tinha ouvido falar dele. No entanto, é dito a ela que a bênção desse Deus é extremamente rara, trazendo grande força e habilidade física para aqueles que a possuem, e pior ainda, as habilidades dela são extremamente cobiçadas pelos Cavaleiros Reais que prontamente chama (convoca, praticamente) para que faça o teste de admissão dos cavaleiros, sendo sinal do ruir da sua paz.
Graças à bênção, a Sophia adquiri grande força, o que é muito difícil de controlar, resultando em alguns pequenos incidentes. Mas o motivo de maior preocupação mesmo é o convite dos Cavaleiros Reais, do qual ela não pode simplesmente recusar, pois traria problemas à família. Não tem jeito senão ir. No trajeto, ela conhece um belo rapaz chamado Louis que é o responsável por orientar todos os participantes ali em questão e que claramente será o par romântico da protagonista nessa história toda.
Até a primeira metade do episódio #1, temos pequenas sketches de humor que são divertidas. Dá para dar uma risada, mas a parte principal da diversão começa quando inicia o teste para entrar na cavalaria, porque aí entra em cena uma figura importante: o Gorila! Embora ele não apareça como um personagem propriamente, porém ele aparece como uma manifestação (ou extensão) da protagonista quando ela vai usar suas habilidades, assim como a autora se aproveita dele para fazer piadas. Como ele é um animal totalmente diferente do que a gente está acostumado a ver sendo usado como um Deus, ele produz cenas maravilhosas.
Durante esse teste, ainda vamos conhecer outros dois personagens que vão ficar ali rondando a personagem feminina: o Isaac, que foi abençoado pelo Deus Cachorro (ele é claramente um Golden) e o Eddy, que se resguardou o direito de não dizer qual Deus animal o abençoou, mas julgando que o Isaac é a personificação de um Golden Retriever e o Eddy tem um jeito meio solitário e mais arisco, e julgo que seja um Deus Gato.
Voltando, os testes vão passando, a Sophia apenas não queria chamar atenção, porém no teste de corrida, ela acaba indo tão veloz que até arrebenta a parede da área de treinamento e ao descer de uma torre, ela salva o Isaac de cair com apenas uma mão, o que lhe rende a ‘lealdade’ do cachorrinho. Nesse segundo teste, por sinal, ela acaba machucando a mão e quem vai tratar dela, claro, é o Louis. O Louis é o típico protagonista de Shoujo, sendo o bonitão, gentil e acho maravilhoso que a produção brinca colocando uma moldura de rosas toda vez que ele fala ou faz alguma coisa charmosa.
O episódio 1 acaba super repentinamente. Eu não cheguei a pesquisar se os dois episódios foram lançados juntos, porque se não tiver sido, fica bem estranha a interrupção super do nada. Não tem nenhum gancho. O episódio só acaba no meio de uma cena da Sophia com o Louis. Em todo caso, mesmo que não tenha saído os dois juntos, como estou super atrasado para ver e comentar as estreias, eu vi os dois juntos, então não tive um real prejuízo. E entrando no episódio, é nele que o anime ganha o verdadeiro charme.
No segundo episódio, retomamos o teste. A Sophia não faz a última prova, o que ela jura acreditar que é um sinal de que ela foi reprovada, e voltando para casa, ela e o Isaac acabam ajudando o Eddy que estava sendo cercado por alguns dos outros participantes do teste. Ali eles estabelecem uma amizade realmente, apesar do Eddy manter um certo distanciamento que é o jeito dele na real. A parte importante vem no dia seguinte, porque os dois vão ir para a escola da Sophia e claro, acabam na turma dela. Eu comentei que a Sophia é meio que perseguida por algumas garotas. A protagonista não é de uma família tão rica ou importante, e acaba sendo discriminada, e com a chegada de dois garotos bonitos na escola que não só conhecem a Sophia como falam amigavelmente com ela causa muitos olhares de inveja. É nesse ponto (mais ou menos metade do episódio 2) que o anime fica mais divertido.
E como a vida da Sophia não pode ser fácil, ela ainda descobre que o Louis é um estudante da mesma escola que ela, só não o havia encontrado antes por causa do seu cargo na Cavalaria, o que o deixa livre das aulas, só precisando ir vez ou outra. O Louis assim que vê a Sophia vai falar com ela, o que causa um bafafá enorme quanto a como justamente ela conheceria ele, ainda mais para falar com certa proximidade. Como ele é ~ o maior crush da escola ~, claro, a piada se renova e temos mais olhares de inveja. Acho maravilhosa a cena em que ele chama a Sophia e entrega um docinho para ela dizendo que pegou só para ela e não para os outros dois, aí as garotas aparecem cobrando uma explicação do porquê daquilo tudo.
O que gosto no tom da comédia é que além do uso do Gorila para compor a piada, a produção sabe usar outros elementos como o mau-olhado das outras garotas e o fato dos garotos nem se darem conta disso, o Louis ser cercado de rosas e a direção usar e abusar disso. É sempre uma coisa alguns tons acima. É como se o anime tirasse sarro de si próprio, por isso exagera nos usos de recursos visuais e repete eles, brincando até com o que é tradicional dentro do mangá Shoujo escolar. E bem, fato é que o anime tem muito a explorar já que temos a Sophia tentando fugir de chamar atenção (e falhando miseravelmente). Tem ela tentando esconder que fará parte dos Cavaleiros Reais (porque passou no teste) e ainda temos os três garotos bonitos ao seu redor, que eventualmente vão dar em cima dela. Ou seja, o caos!
Eu acho um pouco triste que, pelo menos por enquanto, a autora não explora a dicotomia que existe na protagonista ser essa figura da garota calma e comedida, ao mesmo tempo que acaba sendo uma brutamontes por causa das habilidades do Deus Gorila. Por enquanto, ela está frequentemente atrás da figura dos personagens masculinos. Porém a OP mostra ela está com as roupas de Cavaleira. Espero que isso seja melhor trabalhado e ela consiga realmente agir quando for necessário, mesmo que essa não seja a proposta central da obra, até porque, essa dualidade existente pode gerar muitas cenas de comédia ainda, principalmente em se tratando de constranger a figura masculina e de quebrar a ideia de masculinidade por ela ser mais forte do que os outros ali.
Mas tirando esse detalhe, foi uma ótima estreia. Foi a que mais me diverti assistindo e a que mais dei risada. Pode não ser O anime de destaque da temporada, mas para quem gosta desse tipo de humor, é uma excelente pedida.
O anime está sendo feito pelo estúdio Kachigarasu (antigo Encourage Films) em parceria com a Diomédia (o estúdio de “Seijo no Maryoku”). Quem dirige o anime é o Fumitoshi Oizaki que é um dos fundadores da Kachigarasu e que tem um longo repertório de animes, fazendo várias pontas em várias produções ao longo de décadas e animes com gêneros variados entre si. Aqui, ele está mostrando um serviço competente! Não é uma produção que tenha algum destaque técnico com uma animação fluida ou mesmo uma direção acima da média, mas dentro do que me foi entregue, considero um resultado excelente! Fica a recomendação. ^^
